Seria verdadeiro o argumento dos que se intitulam, a si mesmos, "evangélicos"? Muitos dentre estes também afirmam que a Missa católica é uma "invenção" humana, que Deus não ouve nem aceita, e que, é claro (só para não variar), não teria "base bíblica". Alguns chegam ao extremo de dizer que se trata de um "sacrifício paganizado".
Para descobrir a verdade dos fatos, analisemos brevemente, juntos, a história da Igreja, para descobrir que tipo de culto e quais ritos os primeiros cristãos prestavam a Deus. Pelo testemunho bíblico, sabemos que a Igreja primitiva seguia a doutrina e a sagrada Tradição dos Apóstolos, observando o Mandamento direto do Senhor: "Fazei isto em memória de mim. Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a minha Morte, e confessareis a minha Ressurreição" (1 Cor 11,26).
Adverte também Jesus no Evangelho segundo S. João “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” (Jo 6,53).
Na Comunhão do Pão e na oração perseveravam os primeiros cristãos após a Ressurreição do Cristo, que formavam o corpo da Igreja primitiva (conf. At 2,42), já celebrando os santos Mistérios Sacramentais. Sabemos que no inicio do século II usavam a Disciplina do Arcano[1], com os Mistérios sendo celebrados secretamente para que não se paganizassem e se mantivessem vivos e puros no seio da Igreja. O serviço litúrgico era realizado em casas de membros da comunidade ou em lugares ocultos, como porões e catacumbas, devido à perseguição romana: nos tempos primitivos, muitos Apóstolos ministraram a Liturgia em suas casas, edificações conhecidas como Domus Eclesiae, que mais tarde viriam a se tornar Domus Dei, isto é, edifícios construídos exclusivamente para o culto cristão.
No primeiro dia depois do sábado, o "Dia do Senhor" (Ap 1,10), quando S. Paulo diz para partir o Pão (At 20,7), os cristãos cultuavam a Deus mais frequentemente. Faziam a leitura dos Profetas e das Epístolas, as cartas dos Apóstolos às primeiras comunidades da Igreja, suas primeiras paróquias e dioceses. Essas leituras eram explicadas e meditadas em grupo: tratava-se da homilia, do latim, que deriva do grego ὁμιλία e quer dizer discurso, instrução ou conversa, e se traduz numa pregação em estilo simples e quase coloquial do Evangelho e das leituras do dia. Vejamos o que dizem os Pais Apostólicos da Igreja, em registros dos séculos I e II dC:
– “No chamado 'Dia do Sol'[1], todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as coisas, por Jesus Cristo, seu Filho, e pelo Espírito Santo. (...) Lêem-se os escritos dos profetas e os comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos exemplos. Em seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e oferecemos pão, vinho e água. O sacerdote pronuncia claramente várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a aclamação Amem! Distribuem-se os dons oferecidos, comunga-se desta oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam esta Comunhão aos ausentes. Os que possuem bens e riquezas dão uma esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o encarregado de aliviar todas as necessidades. Celebramos nossas reuniões no 'Dia do Sol', porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos.”(S. JUSTINO MÁRTIR, nascido em 103 dC, filósofo pagão convertido, tornado sacerdote e martirizado, contemporâneo de Simeão – que viu Nosso Senhor Jesus Cristo – e de Sto. Inácio, Clemente – companheiro do Apóstolo Paulo – de Potino e de Irineu, discípulos de Policarpo. Apologia II)
Outro atestado é o de Sto. Inácio de Antioquia, (†110) terceiro bispo de Antioquia, sucessor de S, Pedro e de Evódio, contemporâneo dos Apóstolos quando criança, que declarou ter visto Nosso Senhor ressuscitado; ele conheceu pessoalmente S. Paulo e S. João Evangelista. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma, onde morreu devorado por leões, no Coliseu. A caminho de Roma, escreveu cartas às comunidades da Igreja em Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo São Policarpo de Esmirna. Apresenta alguns detalhes sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de Esmirna (leia aqui). Nesta, ficou registrada por escrito, pela primeira vez (ao menos num documento que tenha chegado ao nosso conhecimento), a expressão “Igreja Católica”.
– “Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por que não reconhecem que a Eucaristia é Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, Carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua Bondade, ressuscitou.”(Epístola aos Esmirnenses: Cap. VII; Santo Inácio de Antioquia)
Sto. Ireneu de Lião, (130-202) eminente teólogo ocidental, confirma-nos o Sacrifício que era prestado pelos primeiros cristãos figurado no Sacrifício de Cristo. Em outra obra ele ressalta a importância e a transubstanciação na Eucaristia:
– “(Nosso Senhor) nos ensinou também que há um novo Sacrifício da Nova Aliança, Sacrifício que a Igreja recebeu dos Apóstolos, e que se oferece em todos os lugares da Terra ao Deus que se nos dá em Alimento como Primícia dos favores que Ele nos concede no Novo Testamento. Já o havia prefigurado Malaquias. (...) O que equivale dizer, com toda a clareza, que o povo primeiramente eleito não havia mais de oferecer sacrifícios, senão que em todo lugar se ofereceria um Sacrifício puro, e que seu Nome seria glorificado entre as nações.”(Adversus Haereses)
Outro registro é o Didaqué (leia na íntegra aqui), catecismo cristão escrito por volta do ano 120 aD, antes do Evangelho segundo João e de outros livros no Novo Testamento da Bíblia, um dos mais antigos registros do cristianismo. Este também trata do culto cristão e da celebração dos primeiros crentes após transcrever regras a respeito da celebração da Eucaristia. Diz:
– “Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em Nome do Senhor, pois sobre isso o Senhor disse: 'Não dêem as coisas santas aos cães'.”(Didaqué, Cap. IX, Nº 5)
Também diz sobre a reunião dos crentes:
– “Reúnam-se no Dia do Senhor para partir o Pão e agradecer, após ter confessado seus pecados, para que o Sacrifício seja puro.”
(Didaqué, Cap. XIV, nº 1)
O que têm em comum estes testemunhos do I e do II séculos? Por meio deles podemos observar que os primeiros cristãos perseveravam na Comunhão e na Celebração Eucarística, e todos comprovam a Liturgia católica como única herdeira da liturgia dos primeiros cristãos em suas reuniões, que no mínimo a partir do séc. III passou a ser conhecida pelo termo "Missa", que procede do latim “mitere”, e significa "enviar". Missa é o particípio que adquire sentido de substantivo: "missão”.
E como ficam os cultos daqueles alegados "cristãos" que atacam a santa Missa, que não passam de simples reuniões para a leitura da Bíblia, com a sua interpretação particular, que as próprias Escrituras condenam (2Pd 1,20), seguida de cantos, louvores e orações espontâneas? Como demonstrado, estes sim, são totalmente carentes de embasamento histórico e bíblico.
_______
[1] Pela necessidade de salvaguardar o Sagrado, a Igreja, do segundo para o terceiro século, instaurou a Disciplina do Arcano, para proteger a Eucaristia daqueles que não tinham fé. Nessa época de perseguições, com o império dominado pelos pagãos, era preciso controlar o acesso ao Sacramento, primeiro convertendo e formando as almas que, aos poucos, aderiam à Igreja, para só depois permitir-lhes o contato com o Sagrado. Arcano, significa segredo. Essa disciplina consistia em que a primeira parte da Missa, a Liturgia da Palavra (leituras e homilia) fazia-se aberta para todos. Em seguida, após orações, como ocorre ainda hoje no rito bizantino, procedia-se à despedida dos catecúmenos, os não batizados e, então, iniciava-se a Missa dos fiéis propriamente ditos.
Fontes e referência bibliográfica:
• STONE, Darwell. A History of the Doctrine of the Holy Eucharist, Oregon: Aeterna Press, vol.s 1/2, 2014.
• CECHINATO, Luiz. A Missa Parte por Parte, São Paulo: Vozes, 1991.
• PRADO, Alexandre de Castro. Considerações Sobre A Missa No Séc. II segundo S. Justino, São Paulo: USP, 2011.
www.ofielcatolico.com.br
"Portanto, a Igreja Católica é a única que retém o verdadeiro culto. Esta é a fonte da verdade; esta, o domicílio da fé; o templo de DEUS. Quem quer que não entre nela ou não saia daqui é um alienado em termos de esperança de vida e salvação. Porque, , ao contrário disso, todos os vários grupos de hereges têm confiança de que são os Cristãos, e pensam que a Igreja Católica é deles. Que se saiba que a verdadeira Igreja é na qual há confissão e penitência, e que cuida de maneira salutar dos pecados e das mágoas aos quais os fracos na carne estão sujeitos.
ResponderExcluirLactantius, As Instituições Divinas, 304 A.D.
"Levemos em conta que a própria tradição, ensinamento e fé da Igreja Católica, desde o princípio, dadas pelo Senhor, foi pregada pelos Apóstolos e foi preservada pelos Pais. Nisto foi fundada a Igreja; e se alguém se afasta dela, não é e nem deve mais ser chamado Cristão."
Santo Atanásio, Carta a Serapião de Thmuis, 359 D.C..
"A Igreja é Santa, a Única Igreja, a Verdadeira Igreja, a Igreja Católica, lutando sempre contra todas as heresias. Ela pode lutar, mas não pode ser derrotada. Todas as heresias são expulsas por Ela, como os galhos pendentes são arrancados de uma vinha. Ela permanece presa à sua raiz, em Sua vinha, em Seu amor. As portas do inferno não prevalecerão contra ela"
Santo Agostinho de Hipona, Sermão aos Catecúmenos sobre o Credo, 6,14, 395 D.C
"Todo vocês devem seguir a liderança do bispo, como Jesus Cristo seguiu a do Pai; seguir o presbitério como seguiriam os Apóstolos; reverenciar os diáconos como reverenciariam os mandamentos de Deus. Não permitam que ninguém toque na Igreja, a não ser o bispo ou alguém enviado por ele. Onde está o bispo, é onde o povo deve estar, assim como onde Jesus Cristo está, igualmente está a Igreja Católica. Sem a autorização do bispo, não é permitido batizar ou organizar um culto; mas tudo que ele aprova é também agradável a Deus. Se agirem assim, tudo que fizerem será isento de perigo e válido."
Santo Inácio de Antioquia, Carta aos Cristãos de Esmirna, 107 A.D.
"Um homem Cristão é Católico enquanto vive no corpo; decepado deste, torna-se um herege. o Espírito não segue um membro amputado."
Santo Agostinho.
Senhor Jesus, perdão por todas as vezes em que eu não fui seu amigo, mesmo sabendo que o meu único amigo era você!
ResponderExcluir- Seria possível que Deus desse de sua própria carne e sangue para os seus fiéis no sacramento da eucaristia? Sim, afinal Ele é o Deus do impossível.
ResponderExcluir- Mas Ele, como Deus, sujeitaria por sua carne e seu sangue sagrado em mãos humanas, que por vezes profanariam esta doação? Ora, a resposta está na história: Ele já fez isso. Entregou-se de forma cordeira, foi ultrajado, zombado, crucificado. E assim, o faz hoje, entregando-se muitas vezes em mãos impuras, pronto a ser humilhado de novo, desprezado.
- Penso que a dificuldade na crença na eucaristia está atrelada a uma dicotomia: crer no Deus do impossível, mas o restringindo as possibilidades do nosso entendimento. Explico: uma cura humanamente impossível é possível para o Deus do impossível, afinal, é algo que não fere a nossa compreensão. Porém, uma transubstanciação humanamente impossível seria também impossível para Deus, pois, é algo que fere o nosso entendimento. Assim, para muitos haveria: “o Deus do impossível, limitado às possibilidades entendimento humano”.
Sugiro que leiam o lindíssimo Sermão do Pe. Antônio Vieira sobre a eucaristia, disponível em: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=35251
Este é mais um magnífico post que comprova como era realizado o culto a Deus dos primeiros e verdadeiros cristãos, que até hoje “ subsistere” (subsiste) na verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Católica, Apostólica e Romana, que “extra quam (Ecclesiam) non est salus”.
ResponderExcluirOs anos passam, mas a esperança da Vida Eterna permanece viva, conserva-se na Santa Eucaristia, celebrada desde estes primórdios.
“Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”!
Caríssimo Henrique Sebastião, irmão em Cristo Jesus!
ResponderExcluirEis um maravilhoso vídeo/áudio de uma palestra do Dom Henrique Soares aos seminaristas sobre o uso da Batina e dos sacramentais da nossa Santa Igreja.
Como seria bom se todos os seminaristas, sacerdotes e Bispos pudessem ouvir esta pregação:
1 - https://www.youtube.com/watch?v=cYO0fJVVHJU
2 (texto) - http://www.domhenrique.com.br/index.php/doutrina-catolica/344-pensamentos-sobre-o-sacerdocio
Pax et bonum!
A igreja de Jesus Cristo procura ser fiel ao seu santo ensinamento
ResponderExcluiradoro publicações assim históricas! obrigada por esta riqueza de informação que me ajuda a sedimentar a minha fé
ResponderExcluirCaros,acrescentem os comentários de Plínio, o jovem, a Trajano, imperador romano, sobre os cristão. "...[os cristãos] têm como hábito reunir-se em um dia fixo, antes do nascer do sol, e dirigir palavras a Cristo como se este fosse um deus; eles mesmos fazem um juramento, de não cometer qualquer crime, nem cometer roubo ou saque, ou adultério, nem quebrar sua palavra, e nem negar um depósito quando exigido. Após fazerem isto, despedem-se e se encontram novamente para a refeição... (Plínio, Epístola 96). Fraternalmente. Osmar
ResponderExcluirMuitos se escandalizaram e deixaram de seguir Jesus pois não conseguiram aceitar que O Corpo de Jesus é verdadeiramente comida e Seu Sangue verdadeiramente bebida, conforme relatado em João 6,48-69; e hoje, os protestantes continuam agindo como aqueles discípulos "desertores".
ResponderExcluir