"Charlie Charlie" e a fé católica


Por Padre Geraldo Trindade, Arquidiocese de Mariana

 Padre Geraldo Trindade
O QUE TEM ACONTECIDO com as brincadeiras? O que significa o "desafio Charlie"? Nos últimos dias a prática dessa “brincadeira” tem preocupado pais, professores e a Igreja. 

Essa prática tem sido muito recorrente no meio dos adolescentes e tem como propósito invocar espíritos maus através da invocação de “Charlie”, um suposto espírito mexicano, a responder se está ali ou não. Há várias controvérsias sobre este espírito na cultura mexicana ou de povos antigos. Porém, a grande preocupação está na proximidade com o mal, o ocultismo, a invocação de espíritos e demônios. 

O grande mal está em abrir as portas do coração para a ação do mal e do demônio na vida das pessoas em uma prática real e concreta Quem participa de tais rituais atrai, além de danos espirituais, danos psicológicos e morais. Tais práticas advém da curiosidade e da falta de fé cada vez mais frequente entre as pessoas. Quando se invoca o mal acaba-se renegando a Deus, deixando-se de amá-Lo sobre todas as coisas e pedindo o auxílio de forças maléficas para a vida. Deve-se tomar cuidado! O demônio quer mesmo que se o invoque, mesmo que seja numa “brincadeira”. 

Invocar as forças ocultas do mal é pecar contra o primeiro Mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas. O próprio Deus proíbe que se procure adivinhações, feitiçaria, mágica, invocação de mortos (Dt 18, 10-12; Lv 19,31; 2 Rs 17,17; Mq 5,11). Estes que buscam segurança nestas coisas serão renegados por Deus.
O mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O ‘diabo’ (‘diabolos’) é aquele que ‘se atira no meio’ do plano de Deus e de sua ‘obra de salvação’ realizada em Cristo. (Catecismo da Igreja Católica, 2851) 

O Papa Francisco, no dia 30 de outubro de 2014, alertava em sua Missa na Casa Santa Marta: “Fizeram crer a esta geração, – e a tantas outras, – que o diabo era um mito, uma figura, uma ideia, ideia do mal, mas o diabo existe e nós temos de lutar contra ele”. A luta contra o demônio é se armar com o escudo da fé. Não é um simples confronto, mas um contínuo combate. Por isso é preciso buscar a Deus, rezar, ouvir e colocar em prática a Palavra de Deus, receber a Eucaristia, a fim de que se possa "ser santo (separado) como Deus é Santo" (1Pe 1, 15-16; Mt 5,48).

Cristo venceu o príncipe do mundo quando se entregou na cruz. Rezando o Pai Nosso ('livrai-nos do mal'), pede-se a libertação de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais o demônio é autor e instigador.

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos; e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.
(Papa Leão XIII)
A Cruz Sagrada seja a minha luz, não seja o dragão meu guia. Retira-te Satanás! Nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo o teu veneno!
(Oração da Medalha Sacramental de São Bento)
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Grande e amado São Filipe Neri


SÃO FILIPE NERI, o chamado “santo da alegria”, disse sim para a Glória e para a Vontade de Deus, elevando-a como primeira e única prioridade de sua vida. Iniciou assim a belíssima obra do Oratório do Divino Amor, dedicando-se aos jovens no testemunho de sua alegria em viver constante e intensamente a Comunhão com Nosso Senhor Jesus Cristo. Vivia da Divina Providência, indo aos lares dos ricos pedir pelos pobres. Homem de oração, penitência e adoração, São Filipe Neri partiu para o Céu aos 80 anos de idade, deixando-nos o testemunho fundamental: renunciar a si mesmo, tomar a Cruz a cada dia e seguir Jesus é o maior motivo de alegria.

São Filipe Neri, rogai por nós!


São Filipe Neri, o santo da alegria

Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr.


• Assista ao filme "Eu prefiro o Paraíso" – parte 1
• Assista ao filme "Eu prefiro o Paraíso" – parte 2


Oração de São Filipe Neri
MEU JESUS Cristo,
quero a Vós servir
e não encontro o caminho.
Quero fazer o bem
e não encontro o caminho.
Quero a Vós encontrar
e não encontro o caminho.
Quero a Vós amar
e não encontro o caminho.
Ainda não Vos conheço, meu Jesus,
porque não Vos procuro.
Procuro-Vos e não Vos encontro.
Vinde até mim, meu Jesus.
Nunca Vos amarei,
se não me ajudardes, meu Jesus.
Cortai as minhas amarras
se quiserdes que eu seja Vosso.
Jesus, sede para mim Jesus. Amém!
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Dom Edmilson Amador Caetano, Bispo de Guarulhos, e a ideologia de gênero

RECEBEMOS DO EXMO. e Revmo. Sr. Bispo Diocesano de Guarulhos, Dom Edmilson Amador Caetano, uma missiva com o conteúdo de seu discuso para a Câmara daquele município, com um pedido de divulgação, o qual prontamente atendemos, agradecendo pela confiança em nosso singelíssimo apostolado. O texto de Dom Caetano é um tocante desabafo, cujo objetivo é nos tornar mais atentos, cada um de nós, cristãos e sociedade em geral, à (extremamente) preocupante situação social e política que vivemos hoje em nosso país e no mundo, com enfoque na questão da famigerada ideologia da gênero. Sege abaixo.


† Dom Edmilson
Amador Caetano
Fui convidado para falar na Audiência pública do último dia 20 de maio (015), na Câmara Municipal de Guarulhos. Antes de (começar a) falar e duas vezes, no início da minha fala, fui interrompido por vaias de um pequeno grupo favorável à inserção da chamada 'ideologia de gênero' no Plano de Educação do nosso município.

Acabei comparando o grupo que só gritava a um bando de cachorros. Não os chamei de cachorros. Mas quando você se encontra diante de cachorros que latem e avançam, não adianta falar, os cachorros não se acalmam. Não queriam me ouvir, então não falei. Entretanto, disponho de outros canais para falar para quem quer ouvir, como a nossa Folha Diocesana. Abaixo, então, o texto do que deveria ter pronunciado na Câmara Municipal.


'Senhoras, Senhores, irmãos e irmãs,

Agradeço a oportunidade de poder falar nesta audiência pública.

Não tenho competência para falar de todos os pontos do PNE. Entretanto, aquilo que nos preocupa enquanto Igreja é a questão da chamada educação sexual. Não tive contato com o argumento próprio para o nosso município, mas como o PNE foi passado à responsabilidade dos Estados e municípios já com o conteúdo que vinha sendo proposto a nível federal, achamos por bem abrir um espaço para a reflexão. Esta audiência pública é uma boa oportunidade.

Primeiramente estou aqui por causa da minha fé em Jesus Cristo e a missão que Ele deixou à sua Igreja. A minha fé não está em contraste com a razão e a ciência. Na fé cristã, acreditamos que Deus criou o homem à sua imagem, homem e mulher. O Criador não tem sexo, mas Deus é Comunhão de Pessoas (a Trindade). Assim, a diferenciação dos sexos é para que o ser humano possa perfazer esta sua vocação de ser imagem de Deus: comunhão de amor.

Uma das formas sublimes deste amor se manifestar, amor este que é espiritual, é na união sexual que não está voltada para si mesma, mas aberta à doação para o outro e aberta à vida que pode ser gerada. Na fé também acredito que esta obra maravilhosa de Deus foi danificada pelo pecado que inverte todas as coisas e é contrário ao amor.

Peço desculpas por usar certas categorias filosóficas que não fazem parte do nosso falar cotidiano. Por causa desta fé acredito que a essência precede a existência. Ser masculino ou feminino é algo essencial, seja do ponto de vista fisiológico, bioquímico e psicológico. Não há como ser neutro. Se aparece na existência algum acidente, ele é posterior à essência. Muda, sim, o concreto da existência, mas é posterior. Em alguns pontos da educação sexual, pretende-se mudar esta ordem, de modo que caberia à pessoa escolher a sua orientação sexual. Por detrás desta configuração existe um aspecto da corrente do existencialismo ateu sartriano que propaga que a existência precede a essência.

Ser masculino ou feminino nos dá uma identidade. Ser masculino ou feminino não difere na dignidade. Como vivenciar o ser masculino ou feminino acarreta consequências morais e éticas. – Grande parte da natureza manifesta esta dupla de identidade de gênero, não como pobreza, mas como riqueza.

Ainda que a chamada ideologia de gênero não trate especifica e exclusivamente da questão da homossexualidade, quero inserir aqui uma breve reflexão. Acredito que nenhum de nós, aqui presente, tenha escolhido a própria orientação sexual. Acredito também que, não somente por questões culturais e sociais, as pessoas com orientação homossexual tenham se sentido angustiadas, mas na vivência da própria existência travaram e travam conflitos consigo mesmas. Este conflito existe exatamente porque não se trata de uma escolha pessoal, mas um ou vários acidentes tornaram assim a situação.

Quero também afirmar que a pessoa humana é muito, muito mais que a sua orientação sexual. Neste sentido é importante educar para a grandeza da dignidade da pessoa humana, que encontra sua plena realização no amor. Amor que significa ser para o outro, não buscando simplesmente a si mesmo. Compreender a orientação sexual como uma situação e não como uma opção ajuda e muito a respeitar o outro e desbaratar tantas atitudes chamadas homofóbicas que tem feito muitas pessoas sofrerem. Acredito que todos estamos concordes em não aceitar a violência contra pessoas.

Peço que o PNE em nosso município saiba encontrar estruturas que eduquem não só para o respeito, mas principalmente para amor-doação. A nossa sexualidade é dom de Deus e o sermos seres sexuados é que nos faz capazes de amar. Educar para virtude da castidade também é importante, pois esta virtude libera o amor de manifestações egoístas. Peço que se tenha cuidado para não reduzir a educação sexual a educação genital. A nossa sexualidade é muito mais que genitalidade.

Obrigado pela atenção.

†Edmilson Amador Caetano, O.Cist.
Bispo diocesano de Guarulhos'"
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A perniciosa ideologia de gênero


Por Igor Andrade de Maria

DEUS CRIOU o homem e a mulher como realidades complementares. Isso pode ser observado simplesmente olhando-se para o corpo do homem e o corpo da mulher. Mas não é só fisicamente que homem e mulher se diferenciam: o homem é diferente da mulher também na alma.

Essa realidade, aparentemente óbvia, está sendo destorcida pela “ideologia de gênero”. A palavra “gênero” é perigosa por não explicitar muito bem o que quer dizer. Por isso, as pessoas de bom-senso devem exigir uma definição do que vem a significar. O senso comum identifica “gênero” como sinônimo de “sexo”, masculino e feminino. Contudo, essa simples palavra carrega uma grande (e perigosa!) carga ideológica. Gênero, na linguagem marxista, – leia-se todos os movimentos de esquerda, – significa uma construção social, que tende a contrariar o sexo biológico.

Quando nasce um menino, – com o seu devido órgão reprodutor, cromossomo XY, etc. – ele nasce um ser humano do sexo masculino e para se tornar homem, necessariamente. Explico-me: durante o processo de formação no útero da mãe, quando o feto é masculino, com apenas oito semanas, uma grande quantidade de testosterona destrói algumas células cerebrais destinadas à comunicação, enquanto crescem células destinadas ao impulso sexual e à agressividade – biologicamente falando, é isso que torna o homem, homem1. – Contudo, ser homem ainda requer um esforço pessoal, e esse esforço pessoal é ajudado pelos aspectos biológicos adquiridos no processo de formação durante a gravidez.

O mesmo, evidentemente, vale para a mulher em seus aspectos físicos e psicológicos. Os adeptos da ideologia de gênero, porém, têm como meta aniquilar com os conceitos de homem e mulher, substituindo-os por algo neutro. Querem forçar toda uma sociedade a aceitar essa quimera como sendo algo bom. Acontece, simplesmente, que na realidade objetiva não é assim que as coisas funcionam. O ser humano tem, intrínseco ao seu ser, o conhecimento daquilo que é verdadeiro e falso. Uma mulher que toma hormônio masculino para ficar musculosa (e ter barba!) nunca chegará a ser homem, porque nasceu para ser mulher.

Entre as décadas de 1960 e 1970, o psicólogo Dr. John W. Money realizou uma macabra experiência envolvendo Bruce Reimer, na qual mudou o seu sexo cirurgicamente, quando ainda era um bebê de dois anos, com autorização dos pais. Haviam transformado o corpo do menininho num corpo de menina, e conforme ele crescia davam-lhe hormônios e criação feminina. A experiência resultou num desastre: a “cobaia” se recusava a brincar com bonecas, exigia urinar em pé, queria desesperadamente se vestir e ser visto como homem, mesmo sem saber que era, de fato, um menino. Após toda uma vida de sofrimento, terminou cometendo suicídio2.

Hoje, está se fazendo uma experiência parecida com as nossas crianças, feminilizando os meninos e masculinizando as meninas. Isso acontece porque, para os ideólogos de gênero, ser homem e ser mulher depende apenas de uma construção social. Por isso, os valores são invertidos ainda na infância e se trocam os papéis do homem e da mulher. – Como é possível observar no Cântico dos Cânticos, o amado é aquele que vai atrás da amada, é aquele que a chama, é aquele a quem pertence a realidade ativa. Já a amada é comparada a uma fonte lacrada que contém preciosas águas e que merece ser buscada. O homem é o doador da vida, a mulher é o receptáculo.

“Por isso, o homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à sua esposa; e já não são mais que uma só carne.” (Gn 2,24) A questão do celibato é assunto para outra conversa; mas notamos que, por exemplo, um sacerdote católico deve portar-se como homem, tal qual Deus quer. O homem é aquele que se entrega de corpo e alma. O Padre se entrega de corpo e alma pelo povo de Deus, como o pai de família se entrega de corpo e alma por sua esposa e seus filhos. Uma mulher que opta pela vida consagrada a Deus O recebe como uma esposa recebe seu marido: com amor e ternura.

Termino esta breve exposição alertando: a perniciosa, assassina e injusta ideologia de gênero já está sendo implantada: sutilmente, disfarçadamente, sem que se perceba, nas mentes das nossas crianças. Justiça é dar a cada um aquilo que lhe compete e agir conforme a natureza nos dispôs. No fundo, é simples: o homem deve ser homem nos atos e nas aspirações, nos desejos e nos sentimentos; a mulher deve agir, desejar e sentir como mulher.

Portanto, qualquer coisa que contrarie isso é inimiga da natureza querida por Deus.


A Ideologia de gênero ressurge
um adendo de Vanderlei Lima

A ideologia de gênero, varrida do Plano Nacional de Educação (PNE), no ano passado, não descansa em paz como algumas pessoas menos avisadas possam pensar. Ao contrário, diabólica como é, – para usar as palavras do Papa Francisco, – visa agora entrar na vida de nossas crianças e adolescentes não mais pela esfera federal, mas, sim, municipal: cada município fica responsável por implantar ou recusar esse sistema de ideias nefasto e antinatural em seu plano de ensino.

Ao fiel católico leigo, – bem como aos demais cristãos e pessoas de boa vontade em geral, – cabe colocar em alerta os mais próximos e, sobretudo, perguntar aos políticos profissionais que conhece (especialmente vereadores) qual a sua postura sobre ideologia de gênero. Se disserem que estão desinformados, indique-lhes o artigo "Reflexões sobre a ideologia de gênero", do Cardeal Dom Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, publicado no site da CNBB, em 28/03/14, a fim de que esses representantes do povo se posicionem ante a subversão dos planos do Criador. Afinal, diante de Deus, todos somos responsáveis – em maior ou menor grau – pela delicadíssima questão em foco.

________
1. COX, Michael & O’DONNEL, Jennifer A. Biologia Molecular: Princípios
e Técnicas. Porto Alegre: Artmed, 2012, pp. 37-40. 271. 836.
2. COLAPINTO, John. As Nature Made Him, N. York: Harper Perennial, 2000.
• Mais informações sobre o caso Reimer na internet: aleteia.org
* Não deixe de assistir: “O Paradoxo da Igualdade de Gênero”, documentário.

• O adendo final é do blog "Refletindo 7", disponível em
refletindo7.blogspot.com.br/2015/05/a-ideologia-de-genero-ressurge.html

Acesso 25/5/015
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A Bíblia Sagrada e as mitologias pagãs

"Jesus ensina (as Escrituras) no Templo, aos 12",
por Heinrich Hoffmann (1824-1911), .

PARA REFUTAR a autoria divina e a inerrância das Sagradas Escrituras, utiliza-se por vezes o argumento de que certas passagens bíblicas do Antigo Testamento seriam cópias ou adaptações de mitologias pagãs mais antigas. Desse modo, entre os antigos textos profanos e os textos bíblicos não haveria diferença, uma vez que os segundos seriam apenas cópias ou adaptações dos primeiros. Assim como a cópia ou resumo de um texto falso também é falsa, e na Bíblia há textos que são cópias ou resumos de fontes profanas, repletas de erros e/ou fantasias, seguem-se que os textos sagrados dos cristãos são errôneos e/ou fantasiosos.

    Como resposta a esse tipo de acusação, o papa Pio XII já havia dito que "se pode certamente conceder" que os autores sagrados tenham colhido algo das antigas tradições populares, mas evidencia que, quando agiram dessa forma, foram ajudados pelo sopro da divina Inspiração, que os tornavam imunes de todo erro ao escolher e julgar aqueles documentos (Humani Generis, Dz 3898).

    A Inspiração divina acompanha a redação do texto, mas também a seleção do que é verdadeiro quando se utiliza uma fonte profana. Por exemplo, um texto da Sagrada Escritura que é declaradamente um resumo é o Segundo Livro dos Macabeus, onde o autor sagrado diz: "Eis o que Jasão de Cirene narra em cinco livros que vamos tentar resumir em um só" (2Mc 2,23). A Inspiração divina, nesse sentido, fez com que o autor sagrado selecionasse e organizasse o que há de verdadeiro e útil para os desígnios de Deus numa obra preexistente.

    Por conseguinte, quando o autor sagrado utiliza das antigas tradições populares, seleciona o que nelas há de verdadeiro e rejeita o que é fruto da imaginação. Por isso, "aquilo que foi colhido das narrações populares para se inserir na Sagrada Escritura de modo algum é comparável às mitologias e outras narrações de tal gênero, que procedem mais da imaginação do que daquele amor à simplicidade e à verdade que tanto resplandece nos livros sagrados (...) a tal ponto que os nossos hagiógrafos devem ser tidos neste particular como claramente superiores aos antigos escritores profanos" (PIO XII. Humani Generis Dz 3899).



Elementos da Verdade nas tradições profanas

Como as antigas tradições populares poderiam conter alguma verdade sobre a criação do mundo por Deus e acerca da formação do primeiro homem e da primeira mulher, além da queda de ambos? Isso pode ser explicado pela chamada Revelação Primitiva, transmitida de geração em geração. A Revelação Primitiva refere-se à comunicação gratuita de Deus ao primeiro homem, isto é, Adão, como disse Santo Tomás de Aquino:

E para o governo próprio e dos demais, não só é necessário o conhecimento natural, pois a vida humana se ordena a um fim sobrenatural, do mesmo modo que a nós, para governar nossas vidas, nos é necessário conhecer os conteúdos da fé. Por isso, o primeiro homem recebeu conhecimento do sobrenatural tanto quanto lhe era necessário para o governo da vida humana naquele estado”.  (Suma Teológica I, q. 94, a. 4. rep.)

    Depois da queda, Adão transmitiu aos seus descendentes o que tinha recebido do próprio Deus. Com o suceder das gerações, foram-se acrescentando novos e diferentes elementos à história original que mesclaram o verdadeiro e o falso, o real e o fantasioso. Assim, se o autor sagrado recorreu a uma dessas fontes, selecionou, por Inspiração divina, aquilo que é verdadeiro e deixou o que é falso. O mesmo tratamento deve ser dado às histórias do dilúvio ou da torre de Babel, só que aqui, em vez de uma Revelação Primitiva, têm-se fatos reais que foram transmitidos por tradição em diferentes povos e, com o suceder das gerações, acabaram com várias versões em diversos povos.

    Também a Comissão Bíblica de 27 junho de 1906 chegou às mesmas conclusões, quando tratou da autoria mosaica do Pentateuco (ou partes dele):

Pode-se conceder, sem detrimento da autenticidade mosaica do Pentateuco, que Moisés, para compor sua obra, se valeu de fontes, ou seja, de documentos escritos ou de tradições orais, das quais, segundo o fim peculiar a que se propusera e sob o sopro da Inspiração divina, colheu algumas coisas e as inseriu em sua obra, ora literalmente, ora resumidas ou ampliadas quanto ao sentido.” (Dz 3396)

    Notamos, assim, que uma coisa é reconhecer o fato de que os textos das Sagradas Escrituras, em certas passagens, contêm citações ou referências a antigas tradições pagãs, e outra completamente diferente é afirmar, por falsa ilação, que este fato se constituiria numa espécie de prova ou evidência de que os textos sagrados seriam tão falsos ou fantasiosos quanto aqueles a que fortuitamente alude.

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Ref. bibliográfica:
DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas; Edições Loyola, 2007.
II MACABEUS. In: Bíblia Sagrada. 103. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1996.
MERCABA. Revelación primitiva. Disponível em: http://mercaba.org/Mundi/6/revelacion_primitiva.htm Acesso em: 21 out. 2013.
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Disponível em: http://hjg.com.ar/sumat/index.html Acesso em: 21 out. 2013.
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São Luís Maria de Montfort ensina como rezar o santo Rosário


O SANTO ROSÁRIO, na forma como é rezado presentemente, foi inspirado à Igreja, dado pela Santíssima Virgem a São Domingos no ano 1214, para converter os albigenses e os pecadores, conforme relato Do Beato Alano de la Roche. São Domingos, inspirado pelo Espírito Santo, instruído pela Santíssima Virgem e por sua própria experiência, pregou o Rosário por todo o resto de sua vida.

Desde o estabelecimento do Rosário por São Domingos, até o ano 1460, quando o Beato Alano o restabeleceu por ordem do Céu, ele foi chamado de "Saltério de Jesus e da Virgem", porque contém 150 Ave-Marias — o mesmo número dos Salmos de Davi.


As orações vocais do Rosário

1. Credo, ou Símbolo dos Apóstolos, é rezado na Cruz do Rosário. Contém ele um resumo das verdades cristãs e é uma oração de grande mérito, porque a fé é o fundamento e o princípio de todas as virtudes cristãs e de todas as orações que agradam a Deus. “Creio em Deus” contém os atos das três virtudes teologais, a fé, a esperança e a caridade, e têm uma eficácia maravilhosa para santificar a alma e aterrorizar o demônio.

2. O Pai Nosso, ou Oração Dominical (Dominus, Senhor), tira sua primeira excelência de seu Autor, Jesus Cristo, o próprio Rei dos Anjos e dos homens. “Era necessário, diz São Cipriano, que Aquele que nos veio dar a vida da graça como Salvador, nos ensinasse como Mestre a maneira de rezar”.

O Pai-Nosso contém todos os deveres que nós temos em relação a Deus; contém ademais os atos de todas as virtudes e os pedidos para todas as nossas necessidades espirituais e corporais. É um resumo do Evangelho, como diz Tertuliano. Ele ultrapassa, diz Tomás de Kempis, todos os desejos dos Santos; compreendia todas as doces sentenças dos salmos e dos cânticos; pede tudo o que nos é necessário; louva a Deus de modo excelente; e eleva a alma da terra ao céu, unindo-a estreitamente a Deus.

Devemos recitar a Oração Dominial na certeza de que o Pai Eterno a atenderá, pois é a oração de seu Filho, que Ele sempre atende. Santo Agostinho assegura que o Pai-Nosso bem rezado apaga os pecados veniais. Dizendo: “Pai nosso, que estais no Céu”, formulamos atos de fé, de adoração e de humildade. Desejando que seu Nome seja santificado e glorificado, manifestamos zelo por sua glória.
Pedindo-Lhe que venha a nós o seu Reino, fazemos um ato de esperança. Desejando que sua vontade seja feita na terra como no céu, fazemos um ato de perfeita obediência. Pedindo-Lhe o pão nosso de cada dia, praticamos a pobreza de espírito e o desapego dos bens terrenos. Pedindo que nos perdoe as nossas ofensas, realizamos um ato de arrependimento; e perdoando aqueles que nos ofendem, exercitamos a misericórdia na sua mais alta perfeição. Pedindo seu socorro para não cairmos em tentação, fazemos atos de humildade, de prudência e de fortaleza. Esperando que Ele nos livre do mal, praticamos a paciência.

Enfim, pedindo todas essas coisas, não somente para nós, mas também para o nosso próximo e para todos os membros da Igreja, cumprimos o dever de verdadeiros filhos de Deus, pois O imitamos na sua caridade, que abarca todos os homens, e cumprimos o mandamento do amor ao próximo.

c) A Ave Maria, também conhecida como “Saudação Angélica”, é tão sublime e elevada, que o Beato Alano de la Roche julgou que nenhuma criatura pode compreendê-la e que somente Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, pode explicá-la. Ela tira principalmente sua excelência da Santíssima Virgem à qual foi dirigida; da finalidade da Encarnação do Verbo para a qual foi trazida do céu; e do Arcanjo São Gabriel, que a pronunciou pela primeira vez. A Saudação Angélica resume toda a teologia cristã sobre Maria Santíssima (São João Paulo II salientou que o centro da Ave-Maria, a palavra que faz a ligação primeira e a segunda parte da oração, é o santo Nome de Jesus).

A Santíssima Trindade revelou a primeira parte da Ave Maria; Santa Isabel, iluminada pelo Espírito Santo, acrescentou a segunda; e a Igreja, no I Concílio de Éfeso (ano 430), pôs a conclusão, após ter definido que Nossa Senhora é verdadeiramente Mãe de Deus. Esse Concílio ordenou que Ela fosse invocada com as seguintes palavras: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”. Deus Pai é glorificado quando honramos a mais perfeita de suas criaturas. Deus Filho é glorificado porque louvamos sua puríssima Mãe. O Espírito Santo é glorificado porque admiramos as graças com as quais Ele cumulou sua Esposa.

Assim como a Virgem, em seu belo cântico Magnificat, remeteu a Deus os louvores e as bençãos que Lhe dirigiu Santa Isabel, assim também Ela remete prontamente a Deus os elogios e as bençãos que Lhe damos pela Saudação Angélica. No momento em que Santa Isabel ouviu a saudação que lhe deu a Mãe de Deus, ela foi comulada pelo Espírito Santo, e a criança que levava no seio estremeceu de alegria. Maria é a nossa Mãe e nossa amiga. Ela é a Imperatriz do universo, e nos ama mais do que todas as mães e rainhas juntas amaram um homem mortal. Pois, diz Santo Agostinho, a caridade da Virgem Maria excede todo o amor natural de todos os homens e de todos os Anjos. Tenhamos sempre a Ave Maria no coração e nos lábios para honrar a Santíssima Trindade, para honrar a Jesus Cristo, nosso Salvador, e sua santa Mãe.

Ademais, no fim de cada dezena acrescentemos: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém”.



A oração mental (meditação) – os quinze Mistérios do Rosário

Mistério é uma coisa sagrada, difícil de compreender. As obras de Jesus Cristo são todas sagradas e divinas, porque Ele é Deus e Homem ao mesmo tempo. As da Santíssima Virgem são santíssimas, porque Ela é a mais perfeita de todas as puras criaturas. Chamam-se mistérios as obras de Jesus Cristo e de sua santa Mãe, porque são repletas de maravilhas, perfeições e instruções profundas e sublimes, que o Espírito Santo revela aos humildes e às almas simples que Os honram.

São Domingos dividiu a vida de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem em quinze mistérios que nos representam suas virtudes e suas principais ações, como quinze quadros, cujas cenas devem nos servir de regra e de exemplo para conduzirmos nossa vida. Nossa Senhora ensinou a São Domingos esse excelente método de oração e lhe ordenou que o pregasse, a fim de reacender a piedade dos cristãos e de fazer reviver em seus corações o amor de Jesus Cristo.

O Rosário sem a meditação dos mistérios sagrados de nossa salvação não seria senão um corpo sem alma, uma excelente matéria sem a forma que é a meditação. A primeira parte do Rosário contém cinco mistérios, o primeiro dos quais é a anunciação do Arcanjo São Gabriel à Santíssima Virgem; o segundo, a visitação da Virgem a Santa Isabel; o terceiro, o nascimento de Jesus Cristo; o quarto, a apresentação do Menino Jesus no Templo e a purificação da Virgem; o quinto, o encontro de Jesus no
Templo, entre os doutores. Chamam-se esses mistérios gozosos por causa da alegria que deram a todo o universo.

A segunda parte do Rosário se compõe também de cinco mistérios, que se chamam dolorosos, porque nos representam Jesus Cristo acabrunhado de tristeza, coberto de chagas, sobrecarregado de opróbrios, de dores e de tormentos.

O primeiro desses mistérios é a oração de Jesus e sua agonia no Horto das Oliveiras; o segundo, sua flagelação; o terceiro, sua coroação de espinhos; o quarto, o carregamento da Cruz; e o quinto, sua crucifixão e morte sobre o Calvário.

A terceira parte do Rosário contém cinco outros mistérios, que se chamam gloriosos, porque neles contemplamos a Jesus e Maria no triunfo e na glória. O primeiro é a ressurreição de Jesus Cristo; o segundo, sua ascensão ao céu; o terceiro, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos; o quarto, a assunção da gloriosa Virgem; e o quinto, sua coroação. Essas são as quinze flores perfumadas do Rosário místico, sobre as quais as almas piedosas pousam como sábias abelhas, para colher o néctar admirável e dele compor o mel de uma sólida devoção.

Nossa vida é uma guerra e uma tentação contínuas, na qual não temos que combater inimigos de carne e de sangue, mas as próprias potências do inferno. Armai-vos, pois, com a arma de Deus que é o santo Rosário. Esmagareis assim a cabeça do demônio e permanecereis inabaláveis diante de todas as suas tentações. Santo Agostinho assegura que não há exercício mais frutuoso e mais útil para a salvação do que pensar frequentemente nos sofrimentos de Nosso Senhor.

Santo Alberto Magno, mestre de Santo Tomás de Aquino, soube por revelação que a simples lembrança ou meditação da paixão de Jesus Cristo é mais meritória ao cristão do que jejuar a pão e água todas as sextas-feiras de um ano inteiro, ou recitar todos os dias os cento e cinquenta Salmos.
Ah! qual não será, em consequência, o mérito do Rosário que rememora toda a vida e paixão de Nosso Senhor?



Como se deve rezar o Rosário

Não é o prolongamento de uma oração que agrada a Deus e lhe conquista o coração, mas o seu fervor. Uma só Ave-Maria bem rezada tem mais mérito do que cento e cinquenta mal rezadas.
Em primeiro lugar, é preciso que a pessoa que reza o Rosário esteja em estado de graça, ou pelo menos na resolução de sair do seu pecado, porque a Teologia nos ensina que as boas obras e as orações feitas em pecado mortal são obras mortas, que não agradam a Deus nem podem merecer a vida eterna.

Deus ouve antes à voz do coração que à da boca. Rezar a Deus com distrações voluntárias seria uma grande falta de respeito, que tornaria os nossos Rosários infrutíferos. Para isso, colocai-vos na Presença de Deus, pensando que Ele e sua santa Mãe têm os olhos postos sobre vós.

Pensai que vosso Anjo da Guarda está à vossa direita, colhendo as Ave-Marias que rezais, quando elas são bem rezadas, como se fossem rosas, para com elas tecer uma coroa para Jesus e Maria; e que, pelo contrário, o demônio está à vossa esquerda e ronda em torno de vós para devorar vossas Ave-Marias e as anotar no seu livro da morte, se elas são rezadas sem atenção, devoção e modéstia.

Sobretudo, não deixeis de fazer os oferecimentos das dezenas em honra dos mistérios, e de vos representar na imaginação a Nosso Senhor e à sua Santíssima Mãe no mistério que estais honrando.
Se for preciso combater, durante o Rosário, contra as distrações, combatei valentemente de armas na mão, ou seja, prosseguindo o Rosário, ainda que sem nenhum gosto nem consolação sensível. É um combate terrível, mas é salutar à alma fiel.

Quem é fiel nas pequenas coisas também o será nas grandes (Lc 16,10)

Coragem pois, bom e fiel servidor de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, que tomastes a resolução de rezar o Rosário todos os dias! Que a multidão das moscas (chamo assim as distrações que vos fazem guerra enquanto rezais) não vos faça deixar covardemente a companhia de Jesus e de Maria, na qual estais quando dizeis vosso Rosário. A partir daqui indicarei os meios para diminuir as distrações.
Invocai inicialmente o Espírito Santo para bem rezar o vosso Rosário, e colocai-vos em seguida um momento na presença de Deus.

Antes de começar cada dezena, parai um pouco para considerar o mistério que estais celebrando, e pedi sempre, pela intercessão de María Santíssima, uma das virtudes que mais ressaltam naquele mistério ou da qual tendes mais necessidade.

Tende, pois, sempre em vista, ao rezar o Rosário, alguma graça a pedir, alguma virtude a a imitar ou algum pecado a evitar. É importante rezar o Rosário com atenção e devoção. Deve-se rezar o Rosário com modéstia, tanto quanto possível de joelhos e com as mãos postas, tendo o Rosário nas mãos.

Pode-se rezá-lo na cama, se está doente; se em viagem, pode-se rezá-lo caminhando. Pode-se até mesmo rezar o Rosário trabalhando, quando não se pode deixar o trabalho por causa dos deveres profissionais; pois o trabalho manual nem sempre é contrário à oração vocal. Se não tendes tempo para rezar o terço do Rosário de uma só vez, rezai uma dezena aqui, uma dezena acolá, de tal forma que, apesar das vossas ocupações e negócios, tenhais o Rosário inteiro rezado antes de vos deitardes à noite.

De todas as maneiras de rezar o Rosario, a mais gloriosa a Deus, mais salutar á alma e mais terrível ao demônio, é salmodiá-lo ou rezá-lo publicamente em dois coros. O Rosário cotidiano tem tantos inimigos, que eu considero um dos mais assinalados favores de Deus a graça de perseverar nele até à morte. Perseverai nele e terei a coroa admirável que está preparada nos ceus para a vossa fidelidade: “Permanece fiel até à morte e te darei a coroa” (AP 2,10).

† † †

• Os mistérios luminosos foram acrescentados ao Terço (que a partir daí, na realidade, tornou-se um 'quarto', mas pelo costume e tradição continuou sendo chamado Terço) na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, de São João Paulo II: (Leia aqui).

** Reze o santo Terço com o Papa Bento XVI

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Fonte:MONTFORT, Luís Maria Grignion de. A eficácia maravilhosa do Santo Rosário. São Paulo: Artpress, 2000
Com "O Camponês", em
ocampones.com/?p=14569
Acesso 21/5/015
www.ofielcatolico.com.br

Padre Alessandro de Savoia e a ostensão do Santo Sudário


PARA MINHA GRANDE satisfação, tive a oportunidade de conversar pessoalmente com o Revmo. Padre Alessandro de Bourbon Savoia Aosta, descendente direto da nobre família Savoia, que por séculos foi a proprietária do Santo Sudário (até 1983, quando a relíquia foi doada ao Vaticano por desejo de Umberto II, após sua morte), que prestou a maior parte das informações contidas em nosso artigo em duas partes sobre o assunto (veja aqui)1. Ele cresceu ouvindo histórias sobre o tema, inclusive a respeito de sua bisavó, que chegou a cerzir o tecido sagrado, assistida por freiras e de joelhos, em oração e usando agulhas de ouro.

Para o digno sacerdote, o Sudário é uma mensagem para a nossa época; a revelação da qualidade de negativo da imagem, que desencadeou todo o grande interesse, ocorreu exatamente no período histórico em que o materialismo e o cientificismo tomavam conta dos corações e mentes, e reverteu as atenções para as coisas santas. O sacerdote lembra que é assim que Deus costuma agir: deixa pistas, mas não se mostra claramente. É missão de cada ser humano encontrá-Lo, oculto por trás das aparências.

† † †

O Santo Sudário está em ostensão (exposição) este ano, dede o domingo, 19 de abril, em Turim (Itália). O arcebispo da cidade, Dom Cesare Nosiglia, presidiu a Missa de abertura da exposição da relíquia aos fiéis, que vai até 24 de junho. “O importante é que, quando os fiéis estejam perante o Sudário, sintam no coração o que Jesus fez por todos nós”, disse o Arcebispo. O Papa Francisco viajará a Turim entre 21 e 22 de junho para venerar a relíquia, junto com um milhão de pessoas que já se inscreveram para ver o pano sagrado. Como em 2010, quando atraiu 2 milhões de pessoas, o Sudário está exposto na catedral de Piemonte, com acesso gratuito (a última ostensão aconteceu em 2013). Os organizadores esperam que a visitação deste ano supere os recordes de público.

O Santo Sudário é uma provocação à inteligência humana. Ele requer, antes de tudo, o empenho de cada homem, em particular do investigador, para captar com humildade a mensagem profunda enviada à sua razão e à sua vida. O fascínio misterioso exercido pelo Sudário impele a formular interrogativos sobre a relação entre o Linho sagrado e a vicissitude histórica de Jesus. (São João Paulo II)

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1. Este mesmo estudo, em forma condensada, foi publicado nas páginas centrais do jornal oficial da Arquidiocese de São Paulo, 'O São Paulo' (n°3053 – 2015).

• Com informações da Radio Vaticana

www.ofielcatolico.com.br

O Sudário de Turim – conclusão

La Santa Sindone, obra atribuída a Giulio Clovio (1948-1578)

** Leia a primeira parte deste estudo

Secondo Pia
A COMUNIDADE CIENTÍFICA reagiu rapidamente à divulgação da descoberta do fotógrafo Secondo Pia em 1898, acusando-o de ter criado uma fraude. – Naquela época já se acreditava que o tecido era oriundo da Idade Média ou de época anterior, pois existiam registros históricos mencionando sua existência desde pelo menos 1536, quando um cruzado chamado Geoffroy de Charny o entregou aos cônegos de Lirey, cidade próxima a Troyes, França1. Segundo os registros, Geoffroy declarou, à época, que a relíquia estivera por três anos sob seus cuidados. – Uma peça tão antiga não poderia, portanto, conter um negativo fotográfico como Pia alegava.



Giuseppe Enrie
E os cientistas, é claro, estavam certos nesse ponto. Uma peça tão antiga não poderia, de fato, conter um negativo fotográfico, a não ser... que a imagem tivesse sido formada miraculosamente(!). Foi exatamente essa possibilidade extraordinária que acabou por atear fogo em toda a discussão acerca do Sudário. Nos anos seguintes, a partir de 1931, foi permitido a Giuseppe Enrie fotografar novamente o Sudário, com equipamento mais avançado e sem ter que bater as chapas através de um vidro protetor. Suas fotografias enfatizaram com mais detalhes e ainda mais dramaticamente o homem crucificado que as imagens obtidas por Pia. E confirmaram que a imagem, realmente, possuía todas as características de um negativo fotográfico.

Anos depois, autoridades médicas que efetuaram avaliações com o auxílio de análises de cadáveres constataram que as imagens eram perfeitamente consistentes com a crucifixão. Em 1973, o Vaticano permitiu que se extraísse uma minúscula amostra do tecido para avaliação. As análises microscópicas confirmaram que o Sudário era feito de puro linho, tecido em padrão espinha-de-peixe 3x1, perfeitamente compatível com a época de Cristo, e que só poderia ter sido adquirido por um homem rico (assim como José de Arimateia nos relatos dos Evangelhos). Somando-se a tudo isso às pesquisas do Dr. Max Frei-Sulzer, que ao analisar partículas de pó e pólen extraídas da superfície do Sudário encontrou material exclusivo das regiões em torno do Mar Morto (conf. visto na postagem anterior), os cientistas, finalmente, se convenceram de que valia a pena aprofundar os estudos a respeito do chamado Santo Sudário.

Assim foi formada a equipe do "Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim", o PPST, num esforço para avaliar o Sudário sistematicamente e segundo a metodologia científica avançada. Os resultados finais dos estudos do PPST foram publicados em 1981. As conclusões oficiais daquele relatório foram as seguintes:

Não foram encontradas pinturas, tinturas ou manchas nas fibras. Radiografia, fluorescência e microquímica aplicadas às fibras excluíram a possibilidade de pintura como método de criação da imagem. Avaliação por raios ultravioleta e infravermelhos confirmaram estes estudos.

A definição da imagem por computador e as análises pelo analisador de imagem VP-8 revelaram que a imagem tem codificada, em si, informação tridimensional, uma característica sem paralelo em nenhum outro artefato submetido a análise científica até o dia de hoje.

A avaliação microquímica não indicou qualquer evidência de especiarias, óleos ou elementos bioquímicos conhecidos. Está claro que houve um contato direto do Sudário com um corpo humano, o que explica certas características, como marcas de açoite e de sangue .

Entretanto, enquanto este tipo de contato poderia explicar algumas das características do torso, é totalmente incapaz de explicar a imagem da face com a alta resolução amplamente demonstrada através de fotografia.

O problema básico, do ponto-de-vista científico, é que algumas explicações sustentáveis do ponto-de-vista químico são impedidas pela Física. Ao reverso, certas explicações físicas que seriam consideradas adequadas são impedidas pela Química. Uma explicação satisfatória para a imagem do Sudário tem que ser cientificamente razoável dos pontos de vista físico, químico, biológico e médico. No presente, esse tipo de solução não está ao alcance da equipe que estuda o Sudário. As experiências realizadas em física e química com linho velho não foram capazes de reproduzir adequadamente o fenômeno do Sudário de Turim. O consenso científico é que a imagem foi produzida por algo que resultou em oxidação, desidratação e conjugação da estrutura polissacarídica das microfibras do próprio linho. Tais mudanças podem ser reproduzidas no laboratório por certos processos químicos e físicos. Um tipo semelhante de mudança em linho pode ser obtido com ácido sulfúrico ou calor intenso. Porém, nenhum método químico ou físico conhecido pode responder pela totalidade da imagem, nem o pode qualquer combinação de circunstâncias físicas, químicas, biológicas ou médicas adequadamente.

Assim, a resposta para a pergunta de como a imagem foi produzida ou o que produziu a imagem permanece um mistério. Podemos concluir, por ora, que a imagem do Sudário é a real forma humana de um homem açoitado e crucificado. Não é o produto de um artista. As manchas de sangue são compostas de hemoglobina e também foram positivadas em teste para albumina de soro. A imagem é um mistério contínuo e até que sejam feitos estudos químicos adicionais, talvez por este mesmo grupo ou por cientistas do futuro, o problema permanece não solucionado."2


Depois dessas conclusões no mínimo espetaculares, não havia como a comunidade científica não mudar a sua postura. Muitos céticos declarados passaram a se interessar pelo Sudário: estavam, no mínimo, diante de um dos maiores enigmas de todos os tempos.

O fato de haver questões religiosas envolvidas, o que em princípio afastou muitos cientistas agnósticos e/ou ateus, já não era mais suficiente para impedir a curiosidade e o interesse numa pesquisa tão importante. Muitos especialistas ateus de diversas áreas se interessaram na pesquisa do Sudário, alguns com o objetivo de desmistificá-lo ou de tentar derrubar a hipótese de autenticidade. Um desses cientistas céticos e profundamente agnóstico era o Dr. Raymond Rogers, que acabaria assumindo importância fundamental nessa história, como veremos mais adiante.

O fato de haver soro invisível a olho nu ao redor das manchas de sangue no Sudário, por exemplo, era algo que não poderia ter sido produzido por nenhum falsificador do período medieval. – Ocorre que, sob tortura, as paredes dos glóbulos vermelhos do sangue se rompem, liberando bilirrubina, presente nessas áreas do tecido. – Como explicar isso? Assim como concluiu o Dr. Barriem Schwortz, membro da equipe PPST, absurdo maior do que considerar o Sudário autêntico seria imaginar que um falsificador da Idade Média esconderia manchas invisíveis no tecido para que cientistas, 700 anos depois, a encontrassem utilizando equipamentos que ele nunca poderia sonhar existir.

As evidências em favor da autenticidade do Sudário eram muitas, e tudo parecia caminhar para a inacreditável comprovação, não só da veracidade das narrativas evangélicas, como também (mais impactante) do caráter supernatural de algum fato inexplicável ocorrido após a morte daquele crucificado.

Essa expectativa permaneceu até o malfadado teste de datação por Carbono 14 realizado em 1988. Ainda hoje, é esta a maior "pedra no sapato" dos que defendem a autenticidade da relíquia. Como já visto, os testes de datação concluíram que o linho do Sudário só poderia ter sido produzido numa data entre 1260 e 1390 dC. Ateus ativistas festejaram, porém muitos cientistas respeitados ficaram perplexos. Como conciliar tantas evidências a favor com uma única, – porém contundente, – prova contra a autenticidade da mortalha? O mundo científico estava diante de um enigma gigantesco. E cientista que é cientista ama desafio.

A partir daí, as mais estapafúrdias hipóteses passaram a ser levantadas. Até a teoria de que algum pobre coitado teria sido capturado, torturado e submetido aos mesmos sofrimentos de Jesus, espancado, flagelado, coroado com espinhos, crucificado e morto, sendo depois o corpo perfurado com uma lança, tudo para depois ser envolvido num tecido, na produção de uma relíquia falsa. O fato é que, apesar de altamente improvável, essa hipótese não poderia ser considerada impossível, se não fossem as incríveis particularidades da relíquia em questão. Por exemplo, a perfeita conformidade entre o tamanho da lança que perfurou o flanco do crucificado e as que eram usadas pelos soldados romanos na época de Jesus. Ou as feridas perfeitamente condizentes com as que seriam provocadas pelo flagelum romano no mesmo período histórico. Ou inúmeros outros detalhes que o Sudário revela (como veremos adiante), e que ninguém, nem mesmo o maior de todos os gênios poderia conceber, na Idade Média.


O maior dos enigmas: o Sudário é uma prova física da Ressurreição de Cristo?

De todas as questões trazidas à baila pelo estudo do Sudário, sem dúvida o que mais impressiona é o fato de a sua "impressão", que não apresenta nenhum sinal de produção por mão humana, ser superficial: a coloração que forma a imagem não penetra os fios. A imagem toca apenas as fibrilas (camada superior) da trama do lençol, sobre uma profundidade de aproximadamente 40 microns2. Isso exclui qualquer aplicação de líquidos e qualquer técnica de impregnação de imagem. Toda a impressão é composta apenas por "fibrilas amarelas", e a coloração que compõe a imagem é produto de uma desidratação da celulose de origem desconhecida; em outras palavras, é uma espécie de queimadura, que só poderia ter sido provocada por calor intenso ou pela exposição à uma fonte de luz extremamente intensa(!).

Explicando melhor: a imagem visível do Sudário é uma espécie de chamuscado sem impregnação, como somente uma queimadura poderia provocar. É esse queimado aparente do tecido que constitui a imagem, principal característica visual do Sudário, que não chegou a afetar as fibras dos fios, mas apenas, e de maneira seletiva, as fibrilas. Mais: essa marca da Imagem não existe sob as partes manchadas de sangue, como se o sangue tivesse protegido o tecido da impressão por calor ou luz muitíssimo intensa. Assim, a imagem não atravessa a "tela" de lado lado. Sobre uma única face do Sudário é que está a imagem frontal e dorsal de um homem em rigor mortis. De fato, ali se encontram, – e isso não é matéria de fé, – registros até hoje inexplicados de uma forma de "radiação" ou energia desconhecida, gerada misteriosamente no momento exato da formação, por inteiro, da imagem no Sudário.

Por mais céticos que sejamos, por mais contestador que alguém seja, não há como deixar de reconhecer que uma explicação perfeita para a formação da imagem seria o fenômeno descrito pelos evangelistas como "Ressurreição". As Sagradas Escrituras dizem que Jesus, quando se manifestava em Glória divina, "brilhava mais do que o sol". Um brilho assim intenso seria a mais perfeita (e talvez única) explicação possível para a imagem visível no Sudário de Turim(!).



Elaborações de como seria a face do "Homem do Sudário"
(clique sobre as imagens para ampliar)

Mas ainda restava o problema da datação por carbono 14

Antes da divulgação dos resultados dos testes por C-14, os ateus e céticos procuravam todo tipo de "explicações" para a imagem. Depois dela, não demoraram a pipocar por toda parte as mais diversas tentativas de explicação da parte de devotos inconformados. Crentes do mundo inteiro se recusavam a admitir a hipótese de uma simples falsificação.

Muitas pessoas "precisavam" crer no Sudário, e não seria um grupo de antipáticos metidos em jalecos brancos que iria desencorajá-los. De fato, esse pode ser um problema com as pessoas de fé cega. A fé verdadeira não pode "fazer escolhas" ou fazer acreditar naquilo que "faz bem" à alma, que dê conforto ou esteja em conformidade com aquilo que se "acha". A fé autêntica não aceita nem mesmo o que diz o bom senso. – A pessoa de fé simplesmente aceita o que é, e a fé verdadeira não depende de milagres ou evidências físicas. – Não é a Verdade que se adapta ao que pensa o crente, mas sim o crente deve se aperfeiçoar na arte de se moldar à Verdade, "ser um com" a Verdade (que para o cristão é o próprio Cristo).

Como a serenidade da fé, entretanto, não é uma virtude assim tão comum, não faltaram tentativas ridículas de desacreditar os testes do C-14: disseram, por exemplo, que as amostras retiradas estavam impregnadas por uma grande quantidade de poeira, acumulada no decorrer dos séculos, o que poderia ter comprometido os resultados. Tolice. Os testes por C-14 não são prejudicados nem alterados pela poeira, e materiais ainda mais antigos já foram perfeitamente datados por esse método. Além disso, antes de submeter as amostras ao teste, elas foram devidamente tratadas por um meticuloso processo de remoção de impurezas.

Disseram também que o calor a que o Sudário fora submetido, por ocasião do incêndio de 1532 na Capela de Chambery, teria provocado alterações no resultado dos testes. Mais uma tentativa frustrada: de fato, esse tipo de calor não seria suficiente para confundir o teste por carbono.

Quanto às amostras de pólem encontradas pelo Dr. Frei-Sulzer, a única coisa que essas amostras poderiam comprovar definitivamente é que o linho do Sudário provinha da região da Palestina onde Jesus foi sepultado. Uma constatação impressionante e importante, sem dúvida, mas o falsificador poderia ser alguém extremamente meticuloso.


Vitória definitiva dos céticos? Tudo indicava que sim, até ocorrer uma grande reviravolta

Joseph Marino e Susan Benford
Graças te dou, ó Pai, porque revelastes estas coisas aos pequeninos e as escondestes dos doutores e entendidos... – Jesus Cristo (Mt 11,25)

No ano 2000, um casal de leigos sem nenhuma formação científica fez a descoberta de algo que até então nenhum dos muitos doutores e homens de ciência envolvidos nos projetos de estudo do Sudário havia percebido.

Os norte-americanos Joseph Marino e Susan Benford, através do simples exame visual em imagens do Sudário disponibilizadas pelo PPST na internet, notaram que havia uma espécie de "remendo invisível" exatamente na parte do Sudário recortada pelos cientistas para análise. Aprofundaram-se então na pesquisa e descobriram que esse tipo de remendo era muito utilizado na Idade Média para reforçar tecidos de valor, e que era conhecido como "retecelagem francesa".

Maravilhados, perceberam que estavam diante de uma grandiosa descoberta: a análise por C-14 poderia ter sido feita numa parte remendada do tecido, o que sem dúvida alteraria completamente o resultado da datação! Procuraram então o "Beta Analytic", – o maior laboratório de datação por Carbono-14 do mundo, – que sustentou que uma mistura próxima a 60% de remendos do ano 1500 ou posterior, com cerca de 40% de tecido do século I, causaria uma falsa datação, e para o século XIII(!). Era exatamente este o resultado obtido pelo PPST. Mais ainda: o casal de pesquisadores sabia que o período entre 1500 e 1600 foi a época em que mais comumente se usou a técnica da retecelagem.

Dr. Raymond Rogers
Tudo se encaixava. Marino e Benford mal podiam acreditar em sua incrível descoberta. Resolveram então procurar a ajuda direta dos membros do PPST, mas foram prontamente rechaçados e até ridicularizados por cientistas céticos como o respeitado paleontólogo Dr. Raymond Rogers, citado acima. Como dois leigos sem formação acadêmica poderiam contestar os resultados obtidos por uma equipe científica tão abalizada? Depois de muita insistência, porém, e depois de apresentarem diversas e fortes evidências em favor de sua teoria, conseguiram a preciosa colaboração de um outro membro do PPST: o Dr. Barriem Schwortz em pessoa.

O próximo passo foi submeter reproduções ampliadas das fotografias das amostras do Sudário que haviam sido datadas pelo C-14 à apreciação de diversos especialistas em tecidos antigos, sem revelar que se tratava da trama do tecido do Sudário. O resultado foi a opinião unânime de que aquela amostra parecia ter sido retecida(!).

Dr. Barriem Schwortz
Tais evidências levaram o Dr. Barriem Schwortz a reexaminar as imagens das amostras microscopicamente, e foi assim que ele comprovou que ali, diferente de todo o tecido do Sudário, havia sinais de algodão com pigmentação e resina. Além disso, as fotografias com ultrafluorescência que ele havia tirado décadas antes mostravam que naquela área específica havia um contraste completamente diferente de todo o restante do material, o que demonstrava uma clara adulteração. Dr. Barriem começava mais uma vez a se empolgar com a incrível e real possibilidade de o Sudário ser mesmo a mortalha que envolveu o corpo de Jesus de Nazaré. Tal fato, independente de questões religiosas, seria a mais inacreditável descoberta arqueológica de todos os tempos.

Resolveu ele então, pessoalmente, pedir ajuda ao seu irascível colega, que ainda tinha em seu poder alguns preciosos fios do material coletado do Sudário: ninguém menos que o cético convicto Dr. Raymond Rogers.

O Dr. Rogers, conhecido pela truculência e ironia com que costumava receber as contestações aos resultados obtidos pelo C-14, mal pode acreditar no que lhe pedia o colega cientista. Segundo Dr. Barriem, foi assim que o Dr. Rogers reagiu ao seu telefonema: “Essa é mais uma tolice dos crédulos que não aceitam a simples verdade dos fatos. Eu não acredito que você esteja me perturbando com essa história. Dê-me quinze minutos e eu lhe provo que essa história não passa de mais baboseira”3. Ainda segundo seu próprio relato, Dr. Barriem apenas respondeu: “Fique à vontade, Ray...”3.

E assim, muito à contragosto, o Dr. Raymond Rogers localizou os pequenos fragmentos de fios que tinha guardado da amostra do Sudário de Turim, para examiná-los sob o potente microscópio de seu laboratório particular. E o que descobriu o deixou pasmo: esse breve exame fez com que, a partir dali, mudasse completamente sua atitude cética e se tornasse um dos maiores defensores da necessidade de um novo teste de datação. O que Dr. Rogers viu, sob a poderosa lente de aumento, naquele fio do chamado Santo Sudário, foi a presença inequívoca de microfragmentos de algodão, juntamente com vestígios de pigmentação e resinas(!), – elementos que não existem em nenhuma outra parte da relíquia, toda feita de puro linho(!); – uma prova incontestável de que, sim, a parte do tecido retirada para a datação estava contaminada por material não original, o que certamente alterou os resultados. Em outras palavras, ele acabava de comprovar por si mesmo que a tese da retecelagem era não só perfeitamente plausível, como também evidente(!).

Levando-se em conta a hipótese da retecelagem, todas as lacunas encontradas no estudo do Sudário passariam a ser perfeitamente preenchidas, como por exemplo, a margem de erro de praticamente 200 anos entre os resultados que compõem o teste. A saber, os resultados da datação foram os seguintes:

• Universidade do Arizona, teste 1: datou a amostra como sendo do ano 1238;

• Universidade de Oxford: datou a amostra como sendo do ano 1246;

• Instituto Tecnológico de Zurich: datou a amostra como sendo do ano 1376;

• Universidade do Arizona, teste 2: datou a amostra como sendo do ano 1430.

Os resultados obtidos por C-14 costumam ser específicos (a margem de erro aceitável é de 30 anos para mais ou para menos), mas nesse caso em particular, estranhamente, há uma variação de 192 anos entre um resultado e outro. Esta anomalia é também perfeitamente explicada pela tese da retecelagem, pois em diferentes partes da amostra retirada haveria maior ou menor quantidade do tecido de remendo misturado ao tecido original, pela própria maneira como a técnica é empregada.


Mistérios que envolvem a história do Sudário

Tudo o que envolve a história do Santo Sudário é envolto por fatos marcantes e também intrigantes, como os estranhos incêndios que ocorreram nos lugares onde é guardado. – Além do incêndio na Catedral de Chapelle (Chambery, França) em 4 de Dezembro de 1532, também no dia 11 de Abril de 1997 a Catedral de Turim, onde a relíquia estava guardada, pegou fogo: o Sudário foi salvo espetacularmente por um bombeiro devoto e muito corajoso; fato este que, por si só, está cercado de particulares mistérios: na ocasião do incêndio, o Sudário estava protegido por um ultra-resistente vidro à prova de balas e ataques, mas foi facilmente quebrado pelo valente oficial, que salvou o manto do perigo, levando-o nas costas até o exterior do templo.

Outro fato marcante é que o Dr. Rogers, que agora havia voltado a acreditar, nessa época lutava contra a morte, acometido por um câncer fatal, e cada novo dia de vida era para ele uma batalha. A essa altura, ele desejava muito vir a conhecer a confirmação ou não da autenticidade do Sudário, antes de morrer. Logo após a sua incrível descoberta, enviou seus fragmentos de fios ao seu colega microscopista, Dr. Robert Vilarreal, que tinha acesso a equipamentos mais avançados para análise do material. Mas, quando o resultado saiu, Dr. Rogers já havia falecido, vencido pelo câncer. – Assim como Moisés, que conduziu o povo hebreu à Terra Prometida mas não pode entrar nela, ele nunca soube que as amostras do fiapo demonstraram que ele era constituído, de fato, por duas fibras de materiais diferentes entrelaçadas, coladas e tingidas para tornar o remendo invisível. Estava definitivamente derrubado, afinal, o polêmico resultado da datação de 1988.


Então, o Sudário é mesmo santo (autêntico)?

Ainda não podemos ter absoluta certeza sobre a autenticidade do Sudário, até que novos testes com C-14 sejam realizados, dessa vez com material válido. Susan Benford, a simpática pesquisadora independente que fez a maior descoberta da História conhecida a respeito do Sudário, diz que "sente" que a relíquia é autêntica. Mas isso é só uma opinião, e ela pode se enganar. Sabemos, porém, que é assim que Deus costuma agir sempre: deixa pistas, mas não se mostra claramente. Acho que faz parte da missão de cada ser humano encontrá-Lo, oculto por trás das aparências.

Se o Sudário não for o pano que envolveu o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo após a morte, isso não muda em nada a nossa fé. Mas, se for, então estamos sem dúvida diante do objeto mais sagrado do mundo em todos os tempos. Principalmente porque ele pode ser a prova viva de que um fenômeno supernatural aconteceu àquele corpo, guardado num túmulo escuro há dois mil anos. A imagem do Sudário é feita por marcas de queimadura que só poderiam ter sido provocadas por um intenso calor ou por um brilho extremo. Isso não é pouca coisa.

O problema é que, como há correlação com a figura de Jesus, sentimentos religiosos e emocionais sempre afetam a pesquisa. Os crédulos querem acreditar e se recusam a aceitar qualquer explicação que não seja miraculosa. Enquanto isso, os céticos insistem em fechar os olhos para todas as muitas e sólidas evidências em favor da autenticidade. (Joseph Marino)



Imagens tridimensionais do Sudário obtidas com o analisador V-P8. Nenhuma outra imagem bidimensional analisada por esse equipamento obteve resultados semelhantes (clique sobre as imagens para ampliar).

Algumas curiosidades sobre o Santo Sudário

# Em duas décadas de estudos, 23 cientistas do PPST e de outros grupos de pesquisa morreram precocemente. O último deles foi Raymond Rogers, do Laboratório Nacional de Los Alamos, em 2003.

# O trabalho do Dr. Rogers foi publicado (2005) no periódico científico Thermochimica Acta, que emprega o sistema peer review (revisão por pares, uma espécie de controle de qualidade feita por especialistas independentes dos autores do estudo em causa).

# O "Homem do Sudário" foi coroado com uma espécie de "chapéu" completo feito de espinhos. Todas as imagens da Idade Média retratavam a coroa de espinhos em forma de aro. Além disso, as marcas de pregos estão localizadas nos pulsos e não nas palmas das mãos, como nas imagens clássicas. Tais características são mais evidências em favor da autenticidade, pois um falsificador jamais iria contrariar algum detalhe popularmente aceito como certo.

# Os Evangelhos falam dos panos que envolveram o corpo de Jesus, às pressas, para não quebrar o descanso sabático judaico. Os judeus envolviam os cadáveres com bandagens, mas com Cristo não tiveram tempo, porque morreu às três horas da tarde e era necessário terminar a sepultura antes da noite, quando era proibido qualquer tipo de trabalho. José de Arimatéia deveria pedir autorização a Pilatos para levar o cadáver, obter instrumentos e descer Jesus da cruz. A tarde terminava e deveriam enterrá-lo rapidamente. Seria mais rápido e prático cobri-lo com um sudário. É por isso que, segundo os Evangelhos, após o sábado foram as mulheres terminar a sepultura e prestar suas últimas homenagens, quando encontraram no sepulcro apenas os panos e faixas.

# O Sudário apresenta sangue que corresponde ao grupo AB, o mais frequente entre o povo judeu.

# Segundo legistas, todas as feridas visíveis no Sudário foram produzidas em vida, com exceção da lançada no flanco direito, que chegou a aurícula direita do coração.

# A Bíblia Sagrada menciona explicitamente o Sudário. O evangelista S. Mateus diz que José de Arimatéia "tomou o Corpo de Jesus e o envolveu num lençol limpo", colocando-o num túmulo novo (Mt 27,59-60). Marcos e Lucas referem-se também ao fato, usando a expressão "envolveu-o no lençol" (Mc 15,46; Lc 23,53).


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Fontes e bibliografia:
1. ZACCONE, Gian Maria. Nas pegadas do Sudário, São Paulo: Loyola, 2001, p. 9.
2. MENEZES, Eurípedes Cardoso.O Santo Sudário à Luz da Ciência, São Paulo: Loyola, 1987 - p. 41.
3. Inf. disponível no documentário "O Mistério do Santo Sudário" - Discovery Channel (2009).
4. Idem.
Shroud of Turim Research Project (STURP)
Especialistas recriam, em 3D, a face da imagem do Sudário de Turim
A cronologia do Sudário
Fórum Santo Sudário
National Geographic
Turin Shroud

O Santo Sudário de Turim

Parte do "Santo Sudário de Turim" que mostra a imagem frontal
(clique sobre a imagem para ampliar)

A EXPOSIÇÃO DO SANTO Sudário teve início no domingo, 19 de abril, na cidade italiana de Turim. Também chamado Sindone, o Sudário é o pano em que Nosso Senhor Jesus Cristo teria sido envolto, após a deposição da cruz, e sepultado. Além de símbolo da Ressurreição, é um mistério que a ciência não consegue explicar. – Estamos falando de uma possível prova física da Ressurreição de Cristo.

O arcebispo de Turim, Dom Cesare Nosiglia, presidiu a Missa com que foi aberta a exposição aos fiéis, que vai até o dia 24 de junho. “O Santo Sudário, que guarda os sinais do sofrimento de Cristo, é também o anúncio da Ressurreição e, portanto, da esperança que nos diz que o bem vence o mal. (...) O mais importante para os peregrinos e para a Igreja é que quando estejam perante o Santo Sudário, sintam no coração o que Jesus fez”, declarou o Arcebispo. O Papa Francisco viajará a Turim nos dias 21 e 22 de junho para venerar a relíquia, e um milhão de pessoas já se inscreveram para ver o tecido de linho sagrado. Como ocorreu no ano 2010, o Sudário estará exposto na catedral da capital de Piemonte. Desta vez, poderá ser visitado pelo público durante dois meses, quase um mês e meio a mais que da última vez. O acesso ao local da exposição é gratuito.

A Igreja não se pronunciou oficialmente sobre a autenticidade do Sudário, que há anos é submetido a exames científicos. Inúmeros estudos vêm sendo realizados no decorrer dos tempos, e todos os resultados levantaram objeções.

A peça de linho na qual, segundo a tradição, ficou gravada a imagem do corpo de Cristo com as marcas da crucifixão, foi (re)descoberta em meados do século XIV na igreja colegial de Nossa Senhora, em Lirey, próxima de Troyes (França). A família real de Saboya, que havia reinado na Itália até 1946, presenteou o Vaticano com o Santo Sudário em 1983. Em 2010, sua exposição ao público durante 43 dias na Catedral de Turim atraiu 2 milhões de pessoas, incluindo o Papa Bento XVI, que o descreveu como um "ícone extraordinário" que corresponde "totalmente" ao relato da morte de Cristo do Novo Testamento. Para proteger a peça, uma delicada operação foi montada (vídeo abaixo). Os organizadores esperam que a visitação neste ano supere os recordes anteriores.



A palavra sudário provém do latim sudarium, e na sua origem aludia tanto ao lenço que se usava para enxugar o suor do rosto quanto o pano com que se cobria a face dos mortos. Posteriormente, passou a designar o lençol que na Antiguidade era comumente usado para envolver cadáveres ou mortalha.

O "Sudário de Turim" ou "Santo Sudário" é um manto retangular de 4,36 m de comprimento por 1,10 m de largura. O tecido, firme e encorpado, é feito de puro linho e atualmente apresenta cor levemente amarelada. A espessura do tecido é de cerca de 34/100 de milímetros; é macio e fácil de dobrar. O peso avaliado é de aproximadamente 2,450 Kg. O linho usado na tecedura do Sudário foi fiado à mão, sendo que cada fio do tecido composto de 70-120 fibras tem um diâmetro variado e torcedura em "Z", no sentido horário. No ano de 1532, ocorreu um grande incêndio na Capela do Castelo de Chambéry, onde o Sudário estava guardado, dobrado e encerrado numa caixa de prata. Com o calor do fogo, a prata derreteu e gotejou sobre o Sudário, causando queimaduras por todo o lençol, que estava dobrado duas vezes no sentido da largura e quatro vezes no sentido do comprimento, formando 48 sobreposições. Quando foi desdobrado, viu-se que estava danificado de modo simétrico (como se vê na imagem do topo).

Além disso, a água usada para apagar o incêndio e esfriar a caixa incandescente deixou muitos halos (marcas) em forma de losango, as quais são sutilmente visíveis sobre as áreas que permaneceram secas. Os triângulos irregulares mais claros que se vê são ao longo do Sudário são os remendos dessas partes queimadas, feitos pelas irmãs clarissas de Chambéry.


Por que tanto interesse no Sudário

Obviamente, a Imagem no tecido é tudo o que realmente interessa quando se fala no Sudário. Quem observa o tecido estendido pode ver a figura, esmaecida mas impressionante, de um corpo humano em tamanho natural. De fato, são duas imagens do mesmo corpo: numa se vê o corpo de frente, na outra de costas. Elas se prolongam cabeça contra cabeça, em frente e verso. A imagem mostra claramente que o Sudário foi posto longitudinalmente em torno do corpo: o cadáver que deixou as marcas foi deitado sobre uma metade do lençol, o qual depois foi passado por cima da cabeça e estendido até os pés. A figura humana é formada, basicamente, por manchas de dois tipos, que apresentam colorações diferentes. Dois estudiosos norte-americanos, o engenheiro Kenneth E. Stevenson e o Filósofo Gary R. Habermas, sintetizaram assim a descrição do "Homem do Sudário": "A imagem é de um homem barbado, de aproximadamente 1,80m de altura. A idade é calculada entre 30 e 35 anos, e o peso em cerca de 80 Kg. É um homem bem constituído e musculoso".


Imagem com o contraste aumentado e
escurecida para facilitar a visualização

O exame dos sinais visíveis

1. O exame da imagem demonstra que o homem do Sudário é muito semelhante à imagem clássica de Jesus Cristo, e que foi espancado, flagelado e crucificado. Na imagem vista de frente, o rosto apresenta sinais bastante claros de traumas múltiplos: na testa, nas arcadas superciliares, nos zigomas, nas faces e no nariz, – que traz uma escoriação na ponta, – existem deformações típicas do inchaço causado por fortes pancadas. Apesar de tudo, no conjunto, o rosto traz um aspecto composto e sereno.

2. Os ombros estão erguidos, como se o corpo tivesse permanecido suspenso pelos braços até o momento da morte. Nota-se uma grande equimose no nível da omoplata esquerda e uma ferida no ombro direito, indicando fricção contínua com um objeto pesado e áspero, – exatamente como ocorreria se o homem tivesse carregado um patibulum (travessão da cruz romana) no ombro.

3. Os joelhos, especialmente o esquerdo, estão escoriados, com ferimentos muito semelhantes aos que seriam provocados por quedas violentas.

4. Fios de sangue estão presentes em todo o crânio, mais evidentes na nuca e na testa, como se algum tipo de capacete ou coroa feita de espinhos tivesse sido cravado em sua cabeça.

 5. São bem visíveis os antebraços e as mãos, – cruzadas sobre o abdômen, esquerda sobre a direita. – No pulso mais visível, o esquerdo, há uma grande mancha de sangue causada por uma ferida grave. Embora a mão direita esteja parcialmente oculta pela outra, o fio de sangue que escorre pelo antebraço indica que também este pulso tem uma ferida semelhante: ferimentos esses que se encaixam perfeitamente com as lesões que seriam provocadas por grandes cravos. Os dedos, bem visíveis, são alongados. Nota-se que os polegares não aparecem na imagem, – o que é particularmente interessante, já que a lesão do nervo mediano, provocada por cravos atravessando os pulsos na altura do espaço de Destot (imagem) obrigaria os polegares a se contraírem e se oporem às palmas das mãos.

6. No lado direito da caixa torácica (no Sudário é o lado esquerdo, porque a imagem é especular: como em um espelho, o lado direito da imagem é o lado esquerdo do corpo e vice-versa), nota-se uma ferida perfeitamente compatível com a que seria causada por uma ponta de lança romana: a chaga do lado direito do supliciado tem uma forma elíptica de 4,4 cm por 1,4 cm, que seria o diâmetro exato de um ferimento causado por uma lança romana do primeiro século, sem ganchos que alargariam a ferida e sem nervuras de reforço, tal como as que se utilizavam em motins para ferir depressa e mortalmente, de modo a retirar a arma e visar imediatamente outro adversário.

Na parte superior da mancha sanguínea se distingue nitidamente uma mancha oval com o eixo maior oblíquo de dentro para fora e de baixo para cima, que dá nitidamente a impressão da chaga do lado de onde saiu este sangue. Aí distingue-se uma dupla mancha no tecido: uma de sangue e outra, quase incolor, que só se tornou visível quando se usaram raios ultravioleta na observação. Os dois líquidos correram abundantemente até formarem uma espécie de círculo em torno dos rins. Como sabemos, o quarto evangelista afirma que da ferida saiu sangue e água. O sangue na imagem do Sudário procede do coração e talvez de hematomas causados por hemorragias internas. Quanto ao que João chama "água" e que corresponderia à mancha incolor observada no pano, é muito provavelmente uma mistura de soro sanguíneo, – resultante dos hematomas, – e de líquido pericárdico, situado dentro da bolsa pericárdica que envolve o coração. Esse líquido é tanto mais abundante quanto maior for o sofrimento da vítima; constitui inclusive uma prova usada em medicina legal para saber se a vítima foi seviciada antes da morte.

7. No torso das figuras, anterior e posterior, notam-se decalques de sangue em formas bastante regulares por todo o corpo. O sangue se coagulou em lesões lácero-contusas de modo diferente, muitas vezes aos pares e em sentido paralelo, indicação clara de que foram causadas por chicotadas repetidas, sendo que estudos demonstraram que foram cerca de 120. É evidente, ainda, que os golpes foram produzidos por dois homens posicionados um de cada lado do "Homem do Sudário", e que um destes era bem mais alto.

8. Percebe-se que o pé direito do crucificado foi apoiado diretamente no madeiro da cruz; o esquerdo foi posto sobre o direito; ambos foram pregados juntos nessa posição, e assim os fixou a rigidez cadavérica.


Como um negativo fotográfico!

Foram as primeiras fotografias tiradas do Sudário que determinaram a grande reviravolta que ocorreu nos anos seguintes: um grande progresso nos conhecimentos a seu respeito e, consequentemente, um grande e sempre crescente interesse popular e científico pela relíquia, que até então era considerada apenas mais um simples objeto de devoção católica.

Tudo começou em 1898, quando o fotógrafo e advogado Secondo Pia obteve autorização para fotografar o Sudário. Ele o fez, obviamente com a aparelhagem técnica da época, e logo levou as chapas à câmara escura para a revelação. O que aconteceria a seguir seria a maior surpresa e o maior acontecimento de toda a sua vida: diante de seus olhos estupefatos, foram aos poucos surgindo os primeiros contornos, e depois, as definições cada vez mais perfeitas, evidentes e ricas em pormenores. Trêmulo, Secondo Pia percebeu que a imagem da chapa era muito mais vívida e nítida do que a que se podia ver diretamente no Sudário. Como fotógrafo, ele imediatamente percebeu que a imagem gravada no Sudário era na verdade uma espécie de negativo fotográfico!

Ao contrário do que Pia poderia imaginar, no negativo surgiu a imagem positiva perfeita, mais nítida e real do que a imagem fotografada: "Fechado em minha câmara escura e absorto em meu trabalho, senti uma emoção fortíssima quando, durante a revelação, vi aparecer pela primeira vez, na chapa, a Sagrado Face, com tal clareza que fiquei aturdido!" (declaração de Secondo Pia em 1898).

Aquela primeira fotografia revelou esse imprevisível e inacreditável segredo. Desde então, o Sudário passou a ser estudado como um dos mistérios mais apaixonantes da Antiguidade, pois obviamente não haveria como um falsificador reproduzir, há centenas de anos, uma imagem com características de um negativo fotográfico moderno. Muitos anos depois, com o uso de computadores e técnicas cada vez mais avançadas, seriam feitas descobertas cada vez mais impressionantes a respeito da imagem presente no Sudário.

Em 1973 nomeou-se uma comissão para autenticar outras fotografias tiradas em 1969. Era membro dessa comissão um conceituado cientista suíço, o Dr. Max Frei Sulzer, protestante, perito em micro-vestígios e criminólogo de fama internacional, fundador e diretor, durante 25 anos, do serviço científico da polícia de Zurique (Suíça). Ele encontrou no Sudário uma notável quantidade de pó atmosférico muito fino, e retirou doze amostras usando fitas adesivas especiais para coletar material microscópico do tecido sem danificá-lo.

Dessa maneira, Frei identificou 58 espécies de pólen no Sudário: 17 delas eram provenientes da França ou da Itália, locais onde o Sudário fora exposto muitas vezes durante sua longa existência; As demais amostras, porém, vinham de plantas encontradas exclusivamente na Palestina, e muitas delas típicas de Jerusalém e arredores(!). Uma comprovação incontestável de que o Sudário estivera em Jerusalém, e um ponto a favor de sua autenticidade como verdadeira mortalha de Jesus Cristo.

Mais averiguações científicas foram realizadas em 1978, quando foi certificado que a imagem do Sudário não apresenta nenhum sinal de direção, isto é, não foi pintada nem desenhada. Durante os anos seguintes, muitos outros estudos foram feitos, e milhares de fotografias foram produzidas, com as mais diversas e mais avançadas técnicas, além de macrofotografias, radiografias, termografias, reproduções por transparência, fluorescência, etc, etc...


O polêmico teste de datação

Em outubro de 1988, um pedaço de 7 por 1,2 centímetros foi recortado do Sudário, dividido ao meio e uma das metades novamente dividida em três. O objetivo era submetê-las ao teste do Carbono 14, considerado o mais avançado sistema de datação de artefatos antigos. Se o Sudário era a mortalha de Jesus Cristo, ele teria que ter, no mínimo, aproximadamente 2 mil anos de idade. O carbono, sendo a base de toda matéria orgânica da Terra, é chamado de "traçador radioativo", pois o acompanhamento da sua degradação pode ser utilizado para medir a idade de qualquer matéria orgânica. - Como o linho do Sudário.

O teste foi aplicado aos três pedaços por equipes independentes: Universidade de Oxford, Inglaterra; duas equipes da Universidade de Tucson, Arizona (EUA) e Instituto de Tecnologia de Zurique, Suíça. O Museu Britânico de Londres supervisionou, analisou os três pareceres e elaborou o relatório final e definitivo, que enfim determinou: "Idade não superior a 723 anos. Data entre 1260 e 1390. Século XIII"...

No mundo inteiro parecia se ouvir um desapontado "Ooohh"... Vitória definitiva dos céticos? Estava batido o martelo, definitivamente? Para milhares de entusiastas ao redor do mundo, que viam na imagem do Sudário a melhor e mais concreta prova possível não só das narrativas dos Evangelhos como também da sua ressurreição, por razões que veremos a seguir, representava esse resultado um triste e definitivo ponto final?

Na época, o então Cardeal Arcebispo de Turim, Dom Anastacio Ballestrero, revelou ao mundo que o Sudário não era de fato uma relíquia dos tempos de Cristo, como até então acreditava tanta gente dentro e fora da Igreja, mas apenas uma reprodução medieval.

Então era isso. Uma impressionante obra de arte, de um período em que as relíquias religiosas estavam em moda, eram falsificadas às centenas e comercializadas indiscriminadamente.

Mas havia um problema. Alguma coisa não se encaixava na história toda. Não era possível que esse resultado não provocasse, no mínimo, espanto, não só na comunidade religiosa como também na científica. Acontece que esse único resultado contrariava todos os resultados de todas as muitas análises e exaustivos estudos científicos realizados até então. Como explicar?


Reprodução do rosto visível no Sudário de Turim;
imagem escurecida para facilitar a visualização.

Negativo fotográfico da mesma imagem:
inexplicavelmente esta é a imagem positiva

Além do carbono 14

a. A imagem do Sudário, comprovadamente e acima de dúvidas, não é uma pintura. Não há vestígios de pigmentos ou tintura de nenhuma espécie nele, além de a imagem não apresentar sentidos de direção.

b. Nas marcas do Sudário foram encontrados elementos químicos presentes no sangue humano. Os responsáveis pelos estudos de sangue no Sudário, Dr. John Heller e Baima Bollone, comprovaram a presença de hemoglobina, ferro, proteínas, porfirina, albumina e sangue tipo AB, fator RH positivo, na trama do linho.

c. A hipótese de alguém fazer uma pintura usando sangue humano também foi descartada, pois o exame de espectrometria de frequência da imagem digitalizada do Sudário revelou a total ausência dos picos que seriam causados por uma produção humana. Mais: o linho possui diversas camadas de fibras, e o estudo do sangue existente nessas fibras comprova ter sido este absorvido por contato, pois apenas as camadas mais superficiais estão impregnadas. - O que não ocorreria em caso de fraude.

d. A análise feita através de fotografias com luz ultravioleta fluorescente revelaram que ao redor das manchas de sangue presentes no Sudário há uma forte presença do soro que é produzido pelo corpo humano em casos de tortura, - como aquela a que foi submetido Jesus segundo os Evangelhos.

e. Os cientistas Eric Jumper e John Jackson, na década de 1970, transferiram fotos do Sudário de Turim para um supercomputador da Nasa, o VP-8, que colocou em relevo as imagens, transformando-as em 3D, e assim puderam recriá-las em terceira dimensão. Assim demonstraram que, no Sudário, a maior ou menor proximidade do corpo com o pano é que fez com que a imagem ficasse em alguns pontos mais clara e em outros mais escura. Os mesmos testes foram repetidos à exaustão com uma infinidade de imagens de pinturas de alguns dos maiores gênios impressionistas, e até com fotografias. Em nenhum caso o efeito obtido com a imagem do Sudário foi repetido(!). A imagem de Turim é única em toda a história da humanidade: em lugar algum, em nenhuma época, nada igual jamais existiu!


Reprodução artística de Jesus
a partir da face visível no Sudário

O fato concreto é que ninguém conseguia (como não se consegue até hoje), mesmo com todas as novas tecnologias que surgem sem cessar, explicar e nem reproduzir a imagem do chamado Santo Sudário de Turim. A produção daquela imagem seria algo absolutamente impossível para qualquer falsificador ou artista da Idade Média. Como descartar tantas evidências em prol da autenticidade em razão de uma única evidência contra ela? Não demorou para que pesquisadores e cientistas retomassem o estudo da famosa relíquia.

** Ler a continuação

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Fontes e bibliografia:

STEVENSON, Kenneth E. / HABERMAS, Gary R., A Verdade Sobre o Sudário, 2a. Edição, Paulinas, São Paulo, 1983.
PICKNETT, Lynn e PRINCE, Clive. O Sudario de Turim. 1 ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.PRENEY, Júlio Marvizón. O Santo Sudário: milagrosa falsificação?. 1 ed. São Paulo: Mercúrio, 1998.
MOURA, Jaime Francisco. Apostolado Veritatis Splendor.
www.ofielcatolico.com.br
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