Bono Vox, do U2: "O capitalismo tira mais pessoas da pobreza do que doações!"


O PROF. GEORGE AYITTEY (foto), pesquisador do Independent Institute, conheceu há alguns anos o astro do rock irlandês Bono Vox, da banda U2, durante uma conferência TED. E lembra-se bem da conversa que tiveram, e da impressão que as ideias do artista lhe causaram.

O Prof. Ayittey estava discursando e, ao saber que Bono estava na plateia, disse: “Fiz um esforço especial para demolir a instituição da ajuda externa"… Conta ele: "Mais tarde, Bono disse que havia gostado do meu discurso, mas não concordava comigo que a ajuda externa não é eficaz para acabar com a pobreza. Então, dei-lhe um exemplar do meu [brilhante] livro "Africa Unchained: The Blueprint for  Africa's Future” ('África Desacorrentada: Plano para o Futuro').


Bono com o livro e seu autor, à sua esquerda

Bono Vox (o nome de batismo é Paul David Hewson) é vocalista de uma das bandas de rock mais bem sucedidas da história, e se tornou um grande defensor da expansão da ajuda externa dos EUA e de outros programas do governo (como o cancelamento da dívida) para aliviar a situação de sofrimento no mundo, seja relacionado às epidemias de AIDS e malária e à pobreza extrema, entre outras questões.

Bono foi ainda co-fundador e Diretor Executivo da empresa de capital de risco Elevation Partners, e tornou-se um dos músicos mais ricos do mundo (talvez o mais rico) depois de investir no lançamento das ações do Facebook, o que rendeu mais de US$ 1,5 bilhão(!) para a empresa.



Bono também é declaradamente cristão (veja aqui, aqui e aqui), filho de pai católico e mãe protestante. Seu encontro com São João Paulo II tornou-se famoso, quando o Papa fez questão de experimentar os célebres óculos personalizados do "cheio de estilo" Bono Vox (foto). O músico declarou ainda em seu livro "Bono on Bono" (p. 201): "Quanto mais velho eu fico, mais encontro conforto no catolicismo romano".

Admirador da obra de C. S. Lewis1, Bono usou trechos de sua obra "The Screwtape Letters" ('As Cartas do Inferno'), no vídeo para a música "Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me", tema do filme "Batman Forever". Recentemente, ele deu a entender em uma entrevista a Jim Daly, na "Focus on the Family", que Lewis poderá inspirar também o próximo álbum do U2. Segue:

Bono: É muito chato seguir esta Pessoa de Cristo em todo lugar (rindo), porque Ele exige muito da sua vida.

Daly: É muito difícil...

Bono: E é impossível tentar manter-se à altura.

Daly: Na verdade, Bono, C. S. Lewis tem uma citação que eu adoro: “Quando um homem está ficando melhor, ele compreende cada vez mais claramente o mal que restou nele. Quando um homem está ficando pior, ele entende a sua própria maldade cada vez menos”. Isso é forte, não é?

Bono: Sim, pode até ser que isso venha a ser o próximo álbum do U2, mas não vou dar crédito nenhum a ele nem a você (risos).

+ + +

Recentemente, baseando-se em sua fé cristã (e possivelmente sob a influência econômica do Professor Ayittey?), em um discurso na Universidade de Georgetown, Bono mudou seu ponto de vista econômico e político e declarou que só o capitalismo pode acabar com a pobreza (reconhecendo que, dentre os sistemas político/econômicos de que o ser humano dispõe, o melhor ou no mínimo o 'menos pior' ainda é o capitalismo).

“A ajuda assistencial é apenas um paliativo”, disse o artista. – “O comércio e o capitalismo empreendedor tiram mais pessoas da pobreza do que a mera ajuda. Precisamos que a África se torne uma potência econômica".

Bravo! Um expoente do pop, um ícone da música, um artista  reconhecido e "antenado" com o mundo finalmente percebeu o óbvio! Bono encorajou os alunos de Georgetown a pensar no que podem fazer para apoiar efetivamente as pessoas na África e em outros países em desenvolvimento (como o Brasil) que têm necessidade de justiça e conforto. E refez a velha questão usando de outras palavras: o que ajuda mais? Dar um peixe ou ensinar a pescar? O que leva mais dignidade ao ser humano em situação de miséria? Capacitá-lo, dar-lhe condições para que se erga, torne-se produtivo e construtor de sua própria história, ou mantê-lo cativo de verdadeiras esmolas estatais, na forma de doações governamentais que, além de tudo, lhe tornam refém de determinados partidos políticos?

Em sua fala, Bono comparou o esforço pelo crescimento, seja temporal ou espiritual, ao comprometimento de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, em servir aos outros. – “Isso é o que estou esperando que aconteça aqui em Georgetown com vocês”, disse ele.  – "Porque quando você aceita, de fato, que as crianças em algum lugar distante da aldeia global têm o mesmo valor que você aos olhos de Deus, ou até mesmo apenas aos seus olhos, então a sua vida muda para sempre, você vê algo que não poderá mais deixar de ver".

C. S. Lewis compreendeu bem a falácia e mesmo o mal do estatismo ao abordar as dores e o sofrimento de nosso mundo, e que o paternalismo estatal não é capaz de sanar o mal da pobreza, ao contrário: acaba por perpetuá-la. Congratulamo-nos com a nova percepção de Bono Vox sobre o assunto. O trabalho marcante do Professor Ayittey também pode ser encontrado no livro "Making Poor Nations Rich: Entrepreneurship and the Process of Economic Development" ('Tornando Ricos os Países Pobres: o Empreendimento e o Processo do Desenvolvimento Econômico'], do Independent Institute, editado por Benjamin Powell.

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1. Pensador cristão de forte influência no século passado. Apesar de não ter abraçado o catolicismo, Lewis paradoxalmente tem sido responsável por um grande número de conversões de protestantes ao catolicismo, em especial de pentecostais, devido ao praticamente perfeito alinhamento de suas ideias com a doutrina católica. Sheldon Vanauken compara Lewis com Moisés: conduziu o povo à terra prometida sem que ele próprio entrasse nela. Segundo Christopher Derrick, seu grande amigo e discípulo, os leitores de Lewis, seguindo suas percepções e princípios teológicos, são muitas vezes capazes de perceber algo que o próprio autor, em razão de problemas de natureza psicológica não enxergou por si mesmo.

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• Ref.: este post contém trechos do artigo "
Bono: o capitalismo tira mais pessoas da pobreza do que as doações", do website do Instituto Liberal, disponível em:
institutoliberal.org.br/blog/bono-o-capitalismo-tira-mais-pessoas-da-pobreza-do-que-as-doacoes/
Acesso: 29/4/014.

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Católica e protestante: por que existem Bíblias diferentes?

O ESTUDO QUE ORA apresentamos vem sendo solicitado desde o início deste nosso trabalho: traz respostas para perguntas que, de tempos em tempos, sempre nos fazem, e que já foram dadas em outras páginas católicas competentes, mas que faltavam aqui. Procuramos condensar e aprofundar estas respostas. Que sejam úteis a todos aqueles que, de boa vontade, procuram a Verdade.


Qual a diferença entre a Bíblia católica e a protestante?

A diferença entre a Bíblia católica e a protestante está no Antigo Testamento (AT). O Novo Testamento (NT), que constitui o eixo e o cumprimento de toda a fé cristã, é exatamente igual, tanto para católicos quanto para protestantes, contendo os mesmos 27 livros, que vão do Evangelho de Mateus até o Livro do Apocalipse. – A diferença, então, está no cânon dos livros do AT. Em outras palavras, a diferença está na lista dos livros que compõem o AT: para os católicos, são 46 livros; na Bíblia protestante, são 39, sendo que faltam os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Carta de Jeremias e os livros dos Macabeus, além de partes de Daniel e Ester. Estes livros são os chamados "deuterocanônicos", e veremos o que isso significa mais adiante. Veja a lista completa dos livros da Bíblia católica neste link.

A diferença vem de longe e tem uma longa história. Como foi acontecer, quando e por quê? É o que veremos a seguir.


Qual a origem da diferença? O começo da história...

O povo católico, ao longo do tempo, sempre observou a orientação do Magistério da Igreja, isto é, a orientação dos Apóstolos escolhidos diretamente por Jesus e seus sucessores, que dão testemunho de que o Evangelho transmitido e a fé confessada são os mesmos ensinados pelo Cristo. Somente no século XVI é que surgiu o grupo denominado protestante, que renegou a autoridade do Magistério da Igreja. Esse grupo acreditava, entre outras coisas, que a Igreja Católica havia se corrompido e que eles deveriam retomar os costumes da "igreja primitiva"; – evidentemente, conforme eles imaginavam que seriam esses costumes.

Nesse processo, os protestantes acabaram descobrindo que os judeus tinham uma lista diferente de livros sagrados. Depois de Lutero, o pai do protestantismo, sobreveio um período de intensas disputas, de uma rivalidade que crescia, e tudo servia como pretexto para aprofundar ainda mais o abismo da separação entre os que confessavam a fé em Jesus Cristo. Era uma questão de tempo até que os protestantes deduzissem que a "terrível" Igreja Católica tinha acrescentado livros à Bíblia.

Muitos pensam que foi Lutero quem retirou os sete livros da Bíblia cristã, o que é um engano bem primário. Na realidade, a mudança foi um processo lento, e foi somente no século XIX que os protestantes decidiram abolir de vez os sete livros chamados deuterocanônicos de sua lista.

O AT foi escrito originalmente em hebraico e aramaico: seus livros compõem a Bíblia judaica, chamada Mikrá ou, mais popularmente, Tanakh. Esta é constituída dos livros da Lei (Torá ou Chumash, os cinco primeiro livros da Bíblia cristã, o Pentateuco), os livros dos Profetas (Neviim) e os livros chamados Escritos (Ketuvim). Interessante notar que o processo de canonização desses livros, pelos judeus, também foi muito lento. Primeiro foram canonizados os livros da Torá, depois os dos Profetas e, somente muito tempo depois os dos Escritos. Para que se tenha uma ideia, na época de Jesus o cânon (a lista 'oficial') da Bíblia judaica ainda não estava fechado: os judeus contemporâneos de Jesus ainda debatiam sobre quais seriam os verdadeiros livros sagrados(!). Os saduceus, por exemplo, só aceitavam os livros da Torá; os fariseus aceitavam também os Profetas e os Escritos, mas não totalmente, entendendo que a inspiração dos Escritos ainda não estava concluída.

Nosso Senhor Jesus Cristo deu a ordem que todo cristão conhece bem: os Apóstolos deveriam ir pelo mundo a evangelizar todos os povos. Ocorre que a língua mais falada no mundo daquela época era o grego. Logo, os Apóstolos começaram a pregar o Evangelho em grego, e passaram a utilizar a tradução das Escrituras denominada Septuaginta ou Tradução dos Setenta, que havia sido elaborada em Alexandria antes do tempo de Cristo (no séc. III aC).

A Septuaginta contém os sete livros que permanecem até hoje na Bíblia Sagrada católica, e todo biblista competente (inclusive muitos conhecidos doutores protestantes) é capaz de perceber que, em diversas citações que o NT faz do AT, a tradução utilizada é a da Septuaginta. Esse era, portanto, o conjunto dos livros sagrados utilizado pelos Apóstolos. A Igreja Católica, como única Igreja que procede diretamente de Jesus Cristo e dos Apóstolos, adotou essa mesma versão da Bíblia, e não haveria como ser diferente.

Ocorre que nos primeiros tempos da Igreja, quando os judeus perceberam que os Apóstolos pregavam o Evangelho, expulsaram-nos das sinagogas. Esse fato contribuiu para que os judeus fechassem de uma vez o cânon dos seus livros sagrados, rejeitando tudo o que era cristão. Assim, no final do século I, decidiram pela exclusão definitiva dos sete livros que constavam da Septuaginta.

Resumindo a história, portanto, vemos que o AT da Bíblia católica, com a lista completa, da Septuaginta, foi adotado e canonizado pelos Apóstolos de Cristo e seus sucessores, desde o início da Igreja; o AT da Bíblia protestante foi canonizado pelos rabinos judeus, cerca de um século depois de Cristo.

Antes e além de qualquer debate, a mais simples realidade dos fatos é esta: os protestantes, ao aceitarem o cânon da Bíblia judaica, estão aceitando a autoridade dos rabinos judeus depois de Cristo, e negando a autoridade dos Apóstolos, a quem o próprio Cristo deu autoridade sobre a Igreja.

Lembramos, por fim, que os 27 livros do NT, que os protestantes aceitam e adotam normalmente, foram definidos e canonizados pela mesma Igreja Católica que definiu e canonizou os livros do AT. Aceitam, portanto, a autoridade da Igreja para definir os livros do NT, mas não a aceitam quanto à definição dos 46 livros do AT.



Informações muito importantes

Até o terceiro século de nossa era, o cânon do NT não estava ainda definido. Haviam muitas listas de livros, entre canônicos e apócrifos (não autênticos/não inspirados). E havia muita discussão sobre quais livros deveriam integrar as Sagradas Escrituras. Assim, vemos facilmente que não há fundamento algum na  "espinha dorsal" da doutrina protestante da sola Scriptura, que afirma que "a Bíblia é a única regra de fé e prática do cristão", simplesmente porque a Igreja, nos seus primeiros quatrocentos anos (no mínimo), simplesmente não tinha a Bíblia que nós temos hoje para observar, sendo sua principal regra de fé e prática a condução do Magistério da Igreja e a observância da Tradição dos Apóstolos.

Dentro dessa realidade histórica, devemos compreender bem: a Bíblia é a Tradição dos Apóstolos por escrito, e é nesse sentido que se constitui num dos fundamentos da fé cristã, ao mesmo tempo em que depende da Igreja para ser corretamente compreendida. Como diz sempre meu colega e irmão em Cristo Lucas Henrique (Firmat Fides): "Ler as Escrituras sim, em sintonia com o pensamento do sujeito que a confeccionou: a Igreja Católica", inspirada pelo Espírito Santo.

O primeiro documento da Igreja que fez referência ao cânon da Bíblia Católica atual (46 livros do AT e 27 livros do NT) foi o do Concílio de Hipona, da época de Santo Agostinho (354-430). O Decretum Damasi, publicado no ano 382, diz: "Agora tratemos das Escrituras divinas, do que a Igreja Católica universal deve acolher e o que deve evitar". E o Catecismo da Igreja Católica (§120) atesta:

Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir quais escritos deveriam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados. Esta lista completa é denominada 'cânon' das Escrituras". Como disse Santo Agostinho: "Ego vero Evangelio nos crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas" – "Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica."


Por que "Deuterocanônicos"?

Em cerca de 300 ou 400 anos antes do nascimento de Jesus, muita gente imigrou da Palestina para o Egito. A primeira geração desses imigrantes falava o hebraico e o aramaico, que são línguas semelhantes. Seus filhos, porém, começaram a falar o idioma usado na terra em que viviam, e os seus netos já não entendiam mais a língua dos seus antepassados. – Algo muito parecido como o que vemos acontecer hoje com os netos de imigrantes italianos, por exemplo, que chegaram à cidade de São Paulo em inícios do séc. 20, que hoje já não falam mais a língua de seus avós.

Então sentiram a necessidade de uma tradução das Escrituras. Essa tradução foi feita aos poucos, e foi muito demorada: começou em torno do ano 250 antes de Cristo e levou quase 100 anos até ficar pronta. Foi assim que se formaram duas versões da Bíblia: uma em língua hebraica, para os judeus da Palestina, e outra em língua grega, para os judeus que viviam no Egito. Durante esse tempo, os judeus do Egito escreveram mais alguns livros em grego, e por isso a Bíblia deles ficou maior. – Num certo momento, os judeus da Palestina confrontaram as duas Bíblias e fizeram uma lista dos livros que para eles eram sagrados. Deixaram fora da lista os livros que os judeus do Egito haviam escrito, em grego. Os do Egito souberam disso, mas continuaram usando sua lista maior.

Também os cristãos adotaram a Bíblia (AT) que segue a lista dos judeus do Egito, que se espalhou por todo o mundo desde aquele tempo, pois a língua mais falada era o grego. – Por volta do ano 400 dC, o Papa Dâmaso pediu a S. Jerônimo que traduzisse a Bíblia para o latim, pois naquele tempo era a língua mais usada, e era preciso uma nova tradução que todos pudessem entender. S. Jerônimo concordou, mas não conhecia hebraico. Procurou um velho rabino judeu de Belém para ter aulas, e os dois acabaram se tornando muito amigos. Trocaram ideias sobre a Bíblia, e Jerônimo parece ter sido influenciado pelo rabino quanto às ideias dos judeus ortodoxos.

Jerônimo então denominou os 7 livros que não constavam da Bíblia hebraica como “deuterocanônicos”: deutero significa segundo; cânon significa lista. Até hoje a Igreja define com esse termo esses livros, porque foram escritos numa segunda fase da história sagrada do AT.

Durante o Concílio Ecumênico de Florença, no ano de 1439, os bispos se pronunciaram oficialmente e atestaram por documento oficial que a Igreja Católica reconhece como Escritura Sagrada todos os livros da lista usada pelos Apóstolos e adotados pela Igreja primitiva: a versão completa que temos hoje, com 46 livros do AT e 27 do NT.

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Fontes e referência:

• Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., em
http://padrepauloricardo.org/episodios/qual-e-a-diferenca-entre-a-biblia-catolica-e-a-biblia-protestante
Acesso 12/8/013 (Contém trechos do artigo do site).
• Pe. Lucas de Paul Almeida, CM (Diocese de Bauru), em
Acesso 12/5/013.
• LIMA, Alessandro Ricardo. O Cânon Bíblico, 
Brasília: DeGarcia, 2007.
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Os Documentos da Igreja e o verdadeiro desenvolvimento da Doutrina

UM LEITOR deste site, que se identifica como Kelson Vieira, enviou-nos a seguinte mensagem:

"Paz e bem!
Deixa eu ver se entendi uma coisa. Sobre os documentos da Igreja (vindos do Vaticano), estes são tão verdadeiros quanto as sagradas escrituras? Do contrario até que ponto são verdadeiros? E sobre escritos dos Doutores da Igreja, o que podemos afirmar?

São perguntas importantes. A Igreja ensina que certas compreensões da Sã Doutrina, que ela guarda e proclama, tornaram-se possíveis através de uma Revelação gradual, dada por Deus através dos tempos. Podemos dizer que esse processo vem desde o tempo do Antigo Testamento, pois Deus se comunica com o seu povo desde antes da Vinda de Cristo.

    Jesus Senhor, único Salvador da humanidade, trouxe e anunciou o Evangelho final e definitivo, mas a compreensão deste mesmo Evangelho se baseia na Revelação que se dá progressivamente no correr da História. Por isso, necessitamos sempre de constante estudo, reflexão, oração, meditação.

    Essa compreensão gradativa da Revelação, no entanto, permanece sempre fiel à Tradição, e é sempre orientada pelo Magistério da Igreja à qual foi confiada a autoridade sobre a Sã Doutrina, diretamente por Nosso Senhor. Aqui é que se encaixam os documentos da Igreja, e onde sua fundamental importância fica evidente.

    Alguns têm certa dificuldade com esta realidade, imaginando que a afirmação de que a doutrina se desenvolve com o passar do tempo é contraditória, se a Igreja Católica também afirma que sua doutrina é idêntica àquela que os Apóstolos já tinham. Existiria aí uma dicotomia?

    A resposta é não. Ocorre que existem duas categorias distintas no desenvolvimento da Doutrina: a propriedade objetiva do que é a mesma doutrina e a compreensão subjetiva desta propriedade objetiva. Uma comparação simples pode facilitar a compreensão: olhemos para os primeiríssimos cristãos: é bem provável que eles não tivessem – ao menos não formalmente –, a formulação do conceito de Trindade para falar de Deus. Todavia encontramos, nas Sagradas Escrituras, inúmeras afirmações que não deixam margem para dúvida de que já se entendia Jesus como Deus, assim como também o Espírito Santo, além de Deus Pai, e do mesmo moco é nítido que as Três Pessoas são Um só Deus. 

    Possivelmente, a evidência máxima nesse sentido esteja no Evangelho segundo S. Mateus, na passagem em que o Cristo manda batizar os conversos em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (28,19). Mesmo assim, não é dito explicitamente, em nenhuma parte das Escrituras, que Deus é Trindade, nem que Deus é Um em Três Pessoas coexistentes. A palavra “Trindade” não se encontra na Bíblia, e o conceito formal da doutrina da Santíssima Trindade não foi formulado nem definido formalmente pelos Apóstolos. Mesmo assim, nós sabemos muito bem que eles confessavam Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Logo, a Doutrina da Santíssima Trindade já estava presente na Revelação trazida por Nosso Senhor Jesus Cristo desde sempre, mas foi desenvolvida no correr dos tempos, por filhos eminentes da Igreja. Ela não foi “inventada” por um teólogo, pensador ou doutor, apenas compreendida e desenvolvida. Desenvolver a Doutrina é perscrutá-la, dissecá-la, observá-la para notar suas nuances, e transmiti-las aos irmãos de fé, os outros membros do Corpo do Senhor, que é a Igreja.

    Isso significa que os conceitos por trás das declarações dogmáticas que surgiram depois do período apostólico já eram essencialmente possuídos pelos Apóstolos, embora, em alguns casos, não formulados por eles. Eles conheciam e confessavam estas verdades, embora de modo elementar, ainda não formal. Em outras palavras – outro exemplo – os termos e sentenças dogmáticas que descrevem a Consubstanciação de Cristo ao Pai como “Homoousios” (uma só Substância) não foram explicitamente definidos pelos Apóstolos, mas o conceito por trás da verdade objetiva lhes foi dado “de uma vez por todas” por Cristo, ainda que esses conteúdos talvez não fossem possuídos conscientemente por eles, ao menos no formato dogmático com que o Concílio de Niceia os professou.

    Assim, o desenvolvimento da Doutrina acontece pelo conhecimento cada vez mais claro de certos pontos da Revelação, que entretanto sempre foram os mesmos e sempre afirmaram a mesma verdade objetivamente, seja no século I ou no século XXI. Todavia é fundamental entender que o aperfeiçoamento de nossa compreensão da Doutrina não, pode, de modo algum e em nenhum tempo, nos levar à contradição com o que já foi dito e definido: assim, nenhum Papa pode contrariar o que outro tenha ensinado sobre a moral e a doutrina. Se a Igreja definiu que só há uma religião verdadeira e que fora desta ninguém se salva, ninguém, nem a máxima autoridade eclesiástica, poderá ensinar o contrário, e se o fizer, é anátema, quer dizer ex-communio, fora da comunidade dos cristãos, está excomungado, não faz mais parte do Corpo Místico que é a Igreja. Plenamente conscientes dessa realidade, os Apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, advertiram-nos solenemente nas páginas das Sagradas Escrituras:

Ainda que nós mesmos [ainda que seja uma máxima autoridade da própria Igreja, portanto] ou um Anjo do Céu [nenhuma revelação particular, ainda que acompanhada por grandes prodígios e aparentes milagres] vos ensine um evangelho diferente do que já pregamos, seja anátema. (Gl 1,8)


    Uma analogia válida para essa questão, embora imperfeita, é a dos estudos da ciência oceanográfica: a civilização humana conhece há muitas gerações, por exemplo, o Oceano Atlântico. Ainda assim, o nosso conhecimento do Oceano Atlântico têm aumentado desde que nossos ancestrais descobriram que ele simplesmente existia. O conhecimento gradual do que é o Oceano Atlântico – sua temperatura, movimento, topografia, fauna e f.lora, etc. –, mas isso não modifica a realidade imutável do próprio Oceano, que permanece o mesmo de sempre, como já era desde o começo. Nosso conhecimento subjetivo do Oceano Atlântico é que sofre crescimento. Nossa percepção do Oceano Atlântico, entretanto, mesmo que cresça, nunca poderá nos levar a afirmar que não é oceano, e sim uma montanha.

    Partindo dessa analogia, vemos a Revelação como é objetivamente. Foi-nos dada de uma vez por todas e é imutável: é o que é. Ainda assim, rezando, meditando, contemplando, estudando e a vivenciando honestamente, vão-se percebendo certas facetas deste precioso diamante, que antes não havíamos notado. Esse crescimento em conhecimento nada adiciona à Revelação no sentido objetivo, mas demonstra que a nossa compreensão a seu respeito se desenvolve subjetivamente.



    A Revelação, imutável e definitiva, é transmitida pela Igreja sob a forma da Tradição: a Sã Doutrina cristã e católica está expressa e resumida no Credo e também nos documentos da Igreja, que ao longo da história cresceu na fé e produziu a Teologia. Dessa maneira foram criadas diversas formas de comunicação dessa compreensão da Revelação, destinadas a toda a Igreja (clero e leigos). Assim é que surgiram os documentos, as diretrizes e as normas baseadas na experiência e na observância da prática cristã e da Doutrina da Igreja. Logo, tudo que até hoje foi publicado válida e oficialmente pela Igreja (documentos) têm grande importância para a compreensão da autêntica Fé cristã.

    Se o Magistério da Igreja extrai da Revelação Divina todo o ensinamento que dá aos fiéis – que se compõe da Tradição oral que veio dos Apóstolos e da Tradição escrita, e se é sobre essa Tradição (escrita e oral, com igual importância nas duas formas), que o Magistério assenta seus ensinamentos infalíveis –, podemos dizer que sim, os documentos da Igreja são tão verdadeiros quanto a Sagrada Escritura. E como sabemos, sem a Revelação oral, que chegou até nós por meio da Sagrada Tradição, a Bíblia não existiria, já que ela foi redigida, canonizada e preservada pela mesma Igreja através dos séculos. As Sagradas Escrituras, portanto, são a Sagrada Tradição da Igreja por escrito.




Documentos oficiais da Igreja, tipos e classificação

Muitos se preocupam em saber qual o peso, a autoridade e/ou a importância de cada tipo de documento da Igreja e, nesses tempos de crise, isso se dá especialmente porque desejam saber se lhe devem obediência obrigatória ou não... Qual a autoridade e qual a hierarquia dos documentos pontifícios? Resposta: todos os pronunciamentos do Papa exigem respeito e obediência. Todos os seus documentos são importantes, porém, no geral, uma Bula tem mais peso que uma Encíclica. Todavia, para uma mesma definição o Papa pode usar documentos diferentes; por exemplo, Pio IX definiu o dogma da Imaculada Conceição com a Bula Ineffabilis Deus em 1854, enquanto que Pio XII definiu o dogma da Assunção de Maria pela Carta Apostólica Munificentissimus Deus em 1950. 

    Para resumir essa questão complicada, dizemos que não é preciso que o leigo comum se preocupe tanto com isso, porque basta saber que os documentos que obrigam a obediência precisam ser claros nesse sentido, conforme já explicamos em nosso estudo especial sobre a infalibilidade do Papa (acesse aqui).

    Se um documento é oficial, geralmente aparece na Acta Apostolicae Sedis. Abaixo, a classificação dos documentos pontifícios.

Carta Encíclica:

a) doutrinal,

b) exortatória,

c) disciplinar;

Epístola Encíclica;

Constituição Apostólica e Dogmática;

Exortação Apostólica;

Carta Apostólica;

Bula;

Motu Proprio.
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