O desejar algo prejudicial/pecaminoso já é um fruto da concupiscência. Mas apenas se a pessoa consente no pensamento e/ou pratica o que pensou de ruim, aí cai no pecado. Um mal pensamento que vem à mente não é pecado, nem ser tentado é um pecado, até que a pessoa se entregue a esse pensamento, desfrute dele, entretenha-se propositalmente com ele. Quem resiste e supera a tentação, não peca: venceu o mal em Cristo! A concupiscência é, então, ocasião para “combater o bom combate e guardar a Fé”, como disse o Apóstolo Paulo (2Tm 4,7).
Assim, o cristão, apesar de ser nova criatura, não mais vivendo no pecado, experimenta ainda situações de pecado: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8).
O pecado é infidelidade e injúria a Deus: somente Deus pode perdoá-lo. Mas Jesus, que é Deus e tem o poder de perdoar os pecados (Mc 2,7-12) concedeu à sua Igreja este poder, para ser exercido em seu Nome: “O que ligares na Terra será ligado no Céu, e o que desligares na Terra será desligado nos Céus”, está dito clara e categoricamente, mais de uma vez, nos Evangelhos (Mt 16,19; 18,18; Jo 20,22ss). E os Apóstolos confirmaram que receberam esta missão diretamente do Senhor Jesus, como vemos na Escritura: “Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos confiou o Ministério da Reconciliação” (2Cor 5, 18).
Para alguém que realmente crê e observa a Bíblia, não há como negar algo dito e confirmado assim, tão claramente, nas Escrituras. Espantosamente, porém, alguns insistem em procurar subterfúgios, apelando para os maiores "malabarismos mentais" na tentativa de negar esta realidade concreta, esta ordem divina explícita que é fundamental para todo cristão; o Cristo, que pode perdoar os pecados, deu à sua Igreja o poder de perdoar os pecados em seu Nome: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes (não perdoardes), serão retidos” (Jo 20,22ss).
Se eu me converti, fiz a conversão, isto é, mudei o sentido da jornada da minha vida. Mas se num determinado momento olhei para trás ou voltei atrás, retomando a direção anterior, é preciso retomar a minha conversão. É para isso que serve o Sacramento de que estamos tratando. - É enquanto convertido que eu confesso os meus pecados, os meus erros, os meus desvios do Caminho que escolhi, que é o próprio Cristo, porque escolhi ser fiel, porque fiz um pacto com Deus e comigo mesmo, que é para toda a vida. - Se eu pequei, se rompi este pacto, é preciso reatá-lo, a não ser que eu não o queira mais. Assim, confessar-me é um gesto de profunda humildade, no qual eu me prostro diante de Deus, na pessoa de um sacerdote, e digo: "Errei. Perdoa-me, e eu me esforçarei ao máximo para nunca mais cometer o mesmo erro novamente".
Confesso os meus pecados também como uma forma de reconhecimento, para dizer que eu assumo aquela culpa, pois sem isso não é possível uma verdadeira conversão, isto é, uma mudança de direção autêntica: o Mea Culpa. O que vem a ser isto? Quer dizer que, depois do exame de consciência, - que é quando eu me coloco diante de Deus para examinar como vivi, se fui realmente fiel e em quais ocasiões eu falhei, e como falhei, - eu preciso assumir os meus erros, para que possa verdadeiramente me comprometer a não repeti-los. Se eu não assumo que errei, se não aceito a responsabilidade por aquelas falhas, como poderei dizer que não errarei novamente? Ora, se não há nada de errado com o que eu fiz, porque não voltaria a fazê-lo?
Confessados os meus pecados, é hora de cumprir a penitência. Normalmente o sacerdote prescreve algumas orações, ma a penitência vai muito além disso. A contínua conversão e reconversão pela penitência é o remédio para o pecado. A penitência, falando do modo mais simples possível, é um conjunto de atitudes e gestos que buscam e revelam a mudança interior, a conversão do coração.
“A conversão interior impele à expressão exterior, com gestos e sinais visíveis, gestos e sinais de penitência (...) A penitência interior é a reorientação de toda a vida, um retorno, uma conversão a Deus, de todo o coração, a ruptura com o pecado, a aversão ao mal, juntamente com a reprovação das más ações cometidas.” (CIC §1421; §1430)
É por meio, portanto, da Confissão e da Penitência que se dá a Reconciliação com Deus, que precisa ser praticada diariamente, todo o tempo. O ato da confissão dos pecados é parte da penitência, que é necessária para a reconciliação. Daqui por diante, portanto, para facilitar a leitura, usaremos o termo "Sacramento da Reconciliação", que nos parece, de algum modo, mais abrangente, embora não exclusiva nem necessariamente.
Assim, no exame de consciência, é bom questionar-se principalmente sobre três áreas: minha relação com Deus, minha relação com os outros e minha relação comigo mesmo. Quanto mais cuidadoso for o exame de consciência e mais sincera e profunda a contrição, mais frutuosa será a Reconciliação. Se não há um exame de consciência cuidadoso, não se chega a um sincero arrependimento. Atenção: nesses casos, o Sacramento pode ser inválido. Sacramento não é “mágica”, é encontro entre o SENHOR, que concede a Graça, e o ser humano, sedento da Misericórdia e da vida que vêm de Deus. Existem alguns bons livrinhos que orientam muito bem sobre a prática do exame de consciência e a confissão. Recomendaria a obra do Padre Rafael Stanziona de Morais, cujo título é: "Por que confessar-se?" (Quadrante, 52 pág.s, esgotado na editora mas pode ser encontrado em livrarias especializadas ou secretarias de paróquias) e o "Orações do Cristão" (Quadrante, formato de bolso, 120 pág.s, adquira aqui), que da página 76 até a 94 trata do assunto, com muita competência.
Note que o Catecismo esclarece que os pecados que devemos confessar são os nossos próprios, e não os pecados de outras pessoas. O momento da confissão não é para desabafar mágoas nem para acusar defeitos de ninguém. É o momento para aliviar e purificar a sua própria alma.
"O Filho Pródigo" - Pompeo Batoni (1708-1787) |
“Dada a delicadeza desse ministério e o respeito devido às pessoas, todo confessor é obrigado, sem exceção alguma e sob penas muito severas, a guardar o sigilo sacramental, ou seja, segredo absoluto acerca dos pecados conhecidos na confissão.” (CIC §1467)
Não é preciso ter receio algum, por mais grave ou constrangedor que seja o seu pecado, de confessá-lo, pois absolutamente ninguém ficará sabendo dele, além do sacerdote, na condição exclusiva de ministro da Reconciliação, a Aquele que já conhecia muito bem as suas faltas: Deus. Agora, se você se sente realmente muito envergonhado, talvez seja o caso de procurar um padre de uma paróquia mais distante, que não a sua, alguém que possivelmente você não tornará a ver nesta vida. Mas saiba que o padre não está preocupado em saber quais foram os seus pecados, por curiosidade ou interesse pessoal. Logo após ouvir o que você disse, ele como que "deleta" tudo o que ouviu, - o que, aliás, é sua obrigação: seu único objetivo é ser um canal entre quem confessa e o Perdão de Deus.
A belíssima fórmula de Absolvição Sacramental revela, de modo admirável, o sentido do Sacramento da Reconciliação: “Deus Pai de Misericórdia, que pela Morte e Ressurreição de Seu Filho reconciliou o mundo consigo e infundiu o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo Ministério da Igreja, o perdão e a paz. Eu te absolvo dos teus pecados, em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!”, e todo cristão fiel sabe quanto peso sai de suas costas logo após ouvirmos estas santas palavras!
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Fontes e referência bibliográfica:
1. OPPERMANN, Aloísio Roque, scj. Confissão: prática mais do que moderna. Disponível em:
http://comshalom.org/formacao/exibir.php?form_ id=2918
Acesso em: 20 abr. 2012.
• COSTA, Henrique Soares da, Dom. O Sacramento da Penitência. Disponível em:
http://padrehenrique.com/index.php/sacramentos/penitencia
Acesso em: 20 abr. 2012.
• MIRANDA, Mário de França. Sacramento da Penitência. 5ª ed. São Paulo: Loyola, 1996.
• MORAIS, Rafael Stanziona. Por que confessar-se?. São Paulo: Quadrante, 2012, pp. 76-94.
Deixo aqui minha lembrança da 1 confissão...
ResponderExcluirLEMBRO QUE APOS CONFESSAR SENTI UM ALIVIO MUTO GRANDE E UMA FELICIDADE MAIOR AINDA RECEBI COMO PENITENCIA LER O EVANGELHO DE MATEUS INTEIRO E ACABEI POR LER A BIBLIA INTEIRA
FOI UMA MARAVILHA OBRIGADO DEUS POR TÃO SUBLIME SACRAMENTO.
Se alguém quer viver bem com Deus e consigo mesmo, diante do reconhecimento de seus pecados,o caminho é a confissão. A lembrança constante do pecado cometido, é como uma ferida que não para de doer, e cada vez mais cresce dentro de nós chegando a parecer exposta aos olhos dos outros. A culpa, o arrependimento, o desejo de voltar no tempo antes do ato cometido, e nem mesmo ações que supostamente compensaria de alguma forma o erro cometido contra Deus, alivia a nossa culpabilidade interior. A confissão é o único remédio para curar o mal do pecado.
ResponderExcluirHenrique, sempre me perguntei sobre o que acontece se o pecado confessado for um crime para a lei civil. Já que o padre não pode denunciar o fiel, eu gostaria de saber que providências ele pode tomar. A paz de NSJC!
ResponderExcluirSimples, no livro confesai-vos bem, tem esse mesmo exemplo mais ou menos assim: um padre foi preso, sentenciado por homicídio, encontraram uma arma na sua cela. Muitos anos mais tarde perto de morrer na prisão foi receber os últimos sacramentos, confessado, o seu confessor lhe perguntou: e o homicídio, não vai confessar? Ele disse: já confesei todos os meus pecados. Essa é a resposta. Não importa o quanto eu quão grave seja o pecado, ele é impedido de falar.
ExcluirOi anônimo, obrigado por me responder e ainda mais hoje, dia em que me confessei para receber o Sacramento da Crisma, me preparando para ser um verdadeiro combatente do exército de Nosso Senhor.
ExcluirMas acho que o seu exemplo não respondeu muito bem a minha pergunta, se entendi bem (se não entendi, peço desculpas): Você citou um padre que não quis confessar um pecado, igualmente crime perante a lei dos homens, antes da morte, sendo que ele já havia pagado por esse crime na cadeia. A minha dúvida é o que o confessor deveria fazer no caso de o pecado confessado ser um crime para a lei civil pelo qual a pessoa que confessou não respondeu, ou seja, se alguém matou outra pessoa e se confessou por exemplo, havendo uma investigação policial ou não, sem nem ter ido para a cadeia, que medidas o confessor deveria tomar, não podendo revelar o pecado? A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Pelo que entendi do relato, é que no fim das contas o padre era inocente. Mas não poderia justificar a arma encontrada em sua cela sem com isso revelad a confissão que o o verdadeieo assassino fez a ele. Com isso aceitou o suplício do cárcere ainda que inocente. Ou seja, não importa o pecado, ainda que seja crime no ordenamento jurídico do país, o sacerdote não pode quebrar o sigilo da confissão.
ExcluirEntendi Gustavo, não sabia que o padre era inocente. A dúvida havia me surgido quando li um livro sobre a Confissão que falava desse impedimento sacerdotal de revelar os pecados dos fiéis. A Paz de NSJC!
Excluirhá um filme do alfred hitchcock sobre esse tema. no fim tudo macaba bem. vale a pena ver. Acho que o título é "testemunha de acusação".
ExcluirO padre deve orientar a pessoa a se entregar para justiça haja visto que perante Deus ele ja esta perdoado mediante o sacramento da confissão.
Excluirmuito bom
ResponderExcluirMuuito bom
ResponderExcluirConfessar-se é se conhecer.
ResponderExcluir"Conhce-Te a tí mesmo e conhecera mundo e o reino de Deus" - Sócrates (Adaptado)
Existe muita importância em se confessar, pois isto é assumir o erro.
Infeliz é o homem que sabe o que é errado, e persiste no erro.
Um sinônimo de "Confissão" é "Desabafo", desabafar, é sempre bom, perdemos assim a culpa que destrói por dentro.
O padre é o homem mais confiável que pode existir para se confessar.
"Confiaça" é só possível quando tem "Honestidade".
Em geral, o padre, é um amigo e "Pai" (Padre). Que te ajuda a se auto-conheçer e assim, evoluir.
Por estas e outras se confessar é importante. Além de ser um ato nobre.
Meus irmãos enquanto temos a vida, devemos aproveitar pedir a reconciliação de Deus porque o
ResponderExcluiramanhã pertence a Ele.
Me confessei hoje pela primeira vez, mas o padre não me passou nenhuma penitência. O que devo fazer? Buscar voluntariamente penitências a cumprir?
ResponderExcluirNão me lembro onde li, o Papa confessa de 15 em 15 dias.
ResponderExcluirÉ muito bom confessar sempre que tiver a oportunidade. Assim também a missa, se possível todos os dias.