ESTA É EXCLUSIVAMENTE para indicar, com muita ênfase, a leitura de um pequeno (224 páginas) e despretensioso livro que "dormia" em minhas prateleiras já há alguns bons meses, e que somente há dois dias resolvi tomar em mãos para ler. – E já finalizei a leitura, absolutamente encantado, mesmo com todo o trabalho e estudos acumulados que se amontoam sobre minha mesa. – O livro não é novo; foi publicado em 1993 nos EUA e traduzido e lançado em 2002 pela editora Diel (Portugal) para países de língua portuguesa, mas somente em 2013 passou a ser distribuído no Brasil pela
Cléofas.
Muito popular nos EUA e em outros países, já é relativamente bem conhecido também no Brasil. É do tipo que se quer ler de um só fôlego; daqueles que, quando começamos a ler, não queremos mais parar. Refiro-me à obra autobiográfica que em português foi intitulada "Todos os Caminhos Levam a Roma" (
'Rome, Sweet Rome'), escrita a quatro mãos pelo ex-pastor e ex-professor de seminário protestante Scott Hahn e sua esposa, Kimberly, mestra em Teologia protestante e ex-pregadora anticatólica.
Dr. Scott Hahn, mestre e doutor, Ph.D em Teologia Bíblica, é considerado um dos maiores especialistas em Bíblia do mundo, – sendo exatamente esta a razão (seus profundos conhecimentos) que o levou a converter-se num católico fervoroso, antes de sua esposa, que depois de anos de relutância acabou por se enveredar pelo mesmo caminho. – Atualmente, ele é professor de Teologia e Sagrada Escritura na Universidade Franciscana de Steubenville, EUA (desde 1990). Em 2005, foi designado pelo Papa Bento XVI como Catedrático de Teologia Bíblica da Liturgical Proclamation, no Seminário St. Vicent, Latrobe (Pensilvânia). É autor de grande quantidade de livros, que são altamente recomendados pelas autoridades eclesiásticas, especialmente nos EUA, entre os quais o Arcebispo de Denver, Dom Charles J. Chaput; o Arcebispo de Milwaukee, Dom Timothy M. Doulan; o Arcebispo de Chicago, Cardeal Francis George; o Arcebispo de Washington, Dom Donald W. Werl, o Arcebispo de Nova York, Cardeal Edward Egan; etc...
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Dr. Scott Hahn |
Síntese
O livro é a autobiografia de um casal presbiteriano convertido ao catolicismo mediante o atento e apurado estudo das Sagradas Escrituras e a análise histórica, teológica e também bíblica da Sagrada Tradição e do Magistério da Igreja Católica.
Com muita seriedade, empenho e persistência, primeiro o marido, Scott, e depois sua esposa, Kimberly, passam a descobrir, entender e confirmar que tudo o que lhes mantinha afastados da Igreja Católica estava fundamentado em preconceitos infundados. Ao mesmo tempo, averiguaram e passaram a confirmar, passo a passo, que as duas pilastras essenciais do protestantismo: somente a fé (Sola Fide) e somente a Escritura (Sola Scriptura), carecem de qualquer fundamento na própria Bíblia. Diante da conversão do marido, a esposa fica desolada; com muito amor e boa vontade, porém, e empreendendo imenso esforço para romper a colossal barreira de preconceitos que lhe haviam sido incutidos na alma contra o catolicismo, acaba por abraçar a mesma fé do esposo.
Já há algumas décadas que se vêm registrando numerosas conversões do protestantismo ao catolicismo, com a Graça de Deus, por meio do estudo cada vez mais embasado e realmente aprofundado das Sagradas Escrituras, comparado ao da História da Igreja, especialmente da Patrística. – E, importante que se diga, a impressionante conversão deste casal ocorreu apesar da mentalidade progressista que tomou conta do clero católico em nível mundial: apesar de tantos padres, bispos e leigos católicos que praticamente não se empenham em converter mais absolutamente ninguém. – O próprio Scott Hahn relata como, no início de sua longa jornada de retorno a Casa do Pai, procurou padres de paróquias próximas, e como ficou desorientado ao perceber como não faziam a mínima questão de recebê-lo, sendo que um certo Pe. Jim chegou a lhe dizer: "Creio que na verdade você não precisa se converter. Depois do (Concílio) Vaticano II não é muito ecumênico converter-se. O melhor que você pode fazer é simplesmente ser o melhor presbiteriano que puder".
Sua esposa, Kimberly, então uma protestante e anticatólica convicta, além de talentosa pregadora, cujo maior sonho era ser "esposa de pastor", dizia ao marido: "Talvez a Igreja sobre a qual você está aprendendo e lendo [tão perfeitamente coerente com as Escrituras e alinhada com tudo o que entendemos por cristianismo], simplesmente já não exista mais".
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Pe. Shenan J. Boquet e Henrique Sebastião |
Mesmo assim, apesar de tudo, – apesar dos maus padres e maus bispos, do mau exemplo de tantos e tantos maus católicos, de todo o desvio da sagrada Liturgia, do desleixo quase total para com a catequese, das interpretações estapafúrdias de um tal de "espírito do concílio", que hoje parece ser mais adorado do que o próprio Espírito Santo de Deus, apesar do grande descaso na salvação das almas... O fato é que, ainda assim, mesmo contra tamanha e tão medonha torrente de misérias, não cessam de aumentar os casos de conversões à Igreja Católica, de modo especial nos EUA (maior país protestante do mundo) como me confirmou pessoalmente inclusive o Pe. Shenan Boquet, presidente da
Human Life International, por ocasião do II Congresso Internacional pela Verdade e pela Vida (Mosteiro de São Bento de São Paulo, 11/2011).
Apresento abaixo uma coletânea de trechos do livro em questão, rogando a Deus que muitos de meus leitores se sintam motivados a adquirirem-no e, com muito prazer, desfrutar de sua tão saborosa quanto edificante leitura.
Preconceitos
Como já dito, e como geralmente acontece entre os protestantes, também Scott e Kimberly eram marcados por profundos preconceitos contra a Igreja Católica. Assim diz Scott:
"No Seminário encontrei um colega chamado Gerry Matatics. Entre os alunos presbiterianos, nós dois éramos os únicos suficientemente inflexíveis no nosso anticatolicismo para defender que a Confissão de Westminster devia conservar uma tese que a maioria dos reformados estava disposta a abandonar: o Papa era o Anticristo. Embora os protestantes – Lutero, Calvino, Zwingll, Knox e outros – tivessem muitas diferenças entre si, todos eram unânimes na convicção de que o Papa era o Anticristo e que a Igreja de Roma era a rameira da Babilônia".
Scott e sua esposa se colocaram no rol daqueles que odiavam uma falsa imagem da Igreja Católica e não a verdadeira imagem (que eles ignoravam). O próprio Scott Hahn comenta em sua autobiografia que "o falecido Arcebispo Fulton Sheen escreveu um dia: 'Talvez não haja nos Estados Unidos uma centena de pessoas que odeiem a Igreja Católica; mas há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõem que é a Igreja Católica'.".
Sola Fide – Somente a fé
Scott Hahn era, então, um ministro presbiteriano, casado com Kimberly, também presbiteriana. Em virtude de suas funções como pregador, ele teve que estudar com afinco os grandes princípios do credo protestante, a começar pela sua primeira coluna: "Somente pela fé" somos salvos.
"Pouco a pouco chegamos a nos convencer de que Martinho Lutero deixou que suas convicções teológicas pessoais contradissessem a própria Bíblia, à qual supostamente tinha decidido obedecer em vez de obedecer à Igreja Católica. Tinha declarado que a pessoa não se justifica pela fé atuando no amor, mas que se justifica apenas pela fé. Chegou mesmo a acrescentar a palavra 'somente' depois da palavra 'justificado' na sua tradução alemã de Romanos 3,28, e chamou à Epístola de Santiago 'epístola falsificada' porque Santiago diz explicitamente: 'Vedes que pelas obras se justifica o homem e não apenas pela fé'."
"Uma vez mais, e por muito estranho que nos parecesse, a Igreja Católica tinha razão num ponto fundamental da doutrina: ser justificado significa ser feito filho de Deus e ser chamado a viver a vida como filho de Deus mediante a fé com obras no amor. Efésios 2,8 esclarecia que a fé – que temos que ter – é um Dom de Deus, não por causa das nossas obras, pelo que ninguém se pode vangloriar, e que a fé nos torna capazes de realizar as boas obras que Deus quer que realizemos. A fé é ao mesmo tempo um Dom de Deus e a nossa resposta obediente à misericórdia de Deus."
"A rigor, deve-se distinguir entre 'ser justificado' e 'ser salvo'. Ser justificado é tornar-se justo, amigo de Deus, passando do estado de pecado para o estado de graça. É o que São Paulo tem em vista nas suas cartas. Ser salvo é perseverar na graça recebida até o fim da vida terrestre. Esta perseverança não é possível se o fiel cristão não manifesta a sua fé através de boas obras. – É o que São Tiago tem em vista na sua carta."
Sola Scriptura – Somente a Escritura
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Scott & Kimberly Hahn |
A outra coluna fundamental do credo protestante é o princípio "Somente a Escritura"; é regra de vida. Também esta desmoronou mediante o estudo realmente sério e descomprometido das doutrinas humanas sobre a Bíblia Sagrada, como também narra Scott em seu livro.
Profº Hahn ensina que a doutrina da Sola Fide simplesmente não é bíblica, e que esse grito de guerra da Reforma não se sustenta quando confrontado com as Cartas de Paulo.
Como bem se sabe, o outro grito de guerra da Reforma foi a Sola Scriptura: que a Bíblia é a nossa única autoridade, em lugar do Papa, dos Concílios ou da Tradição. Um belo dia, um de seus alunos protestantes lhe perguntou: "Professor, onde é que a Bíblia ensina que 'a Escritura é a nossa única autoridade?'". Scott conta o que aconteceu depois:
"Fiquei a contemplá-lo e comecei a sentir um suor frio. Disse-lhe: 'Vejamos primeiro Mateus 5,171 e depois 2 Timóteo 3,16-17: 'Toda a Escritura inspirada por Deus é útil para ensinar, para rebater, para corrigir e para formar na justiça, de modo que o homem de Deus seja perfeito, e preparado para toda obra boa'. E depois podemos ver também o que diz Jesus acerca da Tradição em Mateus 152. Mas a sua resposta foi cortante: 'Mas, professor, Jesus não estava condenando toda a Tradição em Mateus 15, e sim só a tradição corrupta. E quando 2 Timóteo 3,16 menciona 'toda a Escritura' não diz 'só a Escritura' é útil. Também a oração, a evangelização e muitas outras coisas são essenciais. E o que dizer de 2 Tessalonicenses 2,15? – 'Ah, sim... Tessalonicenses...', – balbuciei debilmente, – 'o que é que se diz aí?' – 'Paulo diz aos Tessalonicenses: Portanto, irmãos, mantende-vos firmes e guardai as tradições que haveis aprendido de nós, de palavra ou por carta'."
"Saí pela tangente: 'Ouça, John, estamos nos afastando do tema. Avancemos um pouco mais e já voltaremos a falar sobre isto na próxima semana'. Posso assegurar que ele não ficou satisfeito. Nem eu. Quando voltei para casa naquela noite, contemplei as estrelas e murmurei: 'Senhor, o que está acontecendo? Onde é que a Escritura ensina a doutrina da sola Scriptura?'. Foram duas as colunas sobre as quais os protestantes basearam a sua revolta contra Roma. Uma já tinha caído, e a outra estava a cambalear. Senti medo. Estudei toda a semana. Não cheguei a nenhuma conclusão. Telefonei então a vários amigos. Sem êxito. Finalmente, telefonei a dois dos melhores teólogos da América, e também a alguns dos meus ex-professores."
"Todos aqueles que consultava se surpreendiam de que lhes fizesse essa pergunta. E sentiam-se ainda mais perturbados ao verem que não ficava satisfeito com as respostas que me davam. A um professor eu disse: 'Talvez eu esteja sofrendo de amnésia, mas esqueci-me das simples razões pelas quais nós, protestantes, cremos que a Bíblia é a nossa única autoridade. Dr. Gerstner, creio que a questão principal é o que a Bíblia ensina sobre a Palavra de Deus, já que em nenhum lugar reduz a Palavra de Deus apenas à Escritura. Pelo contrário, a Bíblia diz-nos em muitos lugares que a autorizada Palavra de Deus deve buscar-se na Igreja: na sua Tradição (2 Ts 2,15; 3, 6), assim como na sua pregação e ensino (1Pe 1, 25; 2Pe 1, 20-21; Mt 18, 17). Por isso penso que a Bíblia apoia o princípio católico Solum Verbum Dei, 'só a Palavra de Deus', em vez do princípio protestante Sola Scriptura, 'só a Bíblia'."
O Governo da Igreja
Completando sua afirmação de que as Escrituras não bastam, Scott apresenta a seguinte imagem:
"Desde a época da Reforma, foram surgindo mais de vinte e cinco mil diferentes confissões protestantes, e os especialistas dizem que na atualidade surgem cinco novas por semana. Cada uma delas afirma seguir o Espírito Santo e o sentido autêntico da Escritura. Deus sabe que devemos precisar de algo mais."
"O que eu quero dizer, Dr. Gerstner, é que quando os fundadores da nossa Nação nos deram a Constituição, não se contentaram só com isso. Imagine o que teríamos hoje se a única coisa que nos tivessem dado fosse um documento, por muito bom que fosse, junto com a recomendação 'Que o espírito de George Washington guie cada cidadão'? Teríamos a anarquia, que é precisamente o que temos entre os protestantes no que se refere à unidade da Igreja. Em vez disso, os nossos pais fundadores deram-nos algo mais do que a Constituição; deram-nos um Governo - formado por um Presidente, um Congresso e um Senado - todos eles necessários para aplicar e interpretar a Constituição. E, se isso é necessário para governar um país como o nosso, o que é que será necessário para governar uma Igreja que abarca o mundo inteiro?"
"É por isso, Dr. Gerstner, que começo a acreditar que Cristo não nos deixou apenas com um livro e o Seu Espírito. Aliás, o Evangelho não diz uma única palavra aos apóstolos acerca de escreverem; além disso, só menos de metade deles escreveram livros que foram incluídos no Novo Testamento. O que Cristo disse realmente a Pedro, foi: 'Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja... e as portas do inferno não prevalecerão contra ela'. Por isso parece-me mais lógico que Jesus nos tenha deixado juntamente com a Sua Igreja - composta por um Papa, Bispos e Concílios -tudo o que é necessário para administrar e interpretar a Escritura."
A Eucaristia
Nos trechos abaixo, Scott se refere às aulas que dava sobre João 6, 22-66:
"Comecei imediatamente a pôr em causa o que os meus professores me tinham ensinado - e o que eu próprio andava a pregar à minha congregação - acerca da Eucaristia como um mero símbolo, um símbolo profundo, certamente, mas apenas um símbolo."
"Depois de muita oração e de muito estudo, acabei por reconhecer que Jesus não podia estar a falar simbolicamente quando nos convidou a comera Sua carne e a beber o Seu sangue. Os judeus que O ouviam não teriam ficado ofendidos nem escandalizados com um mero símbolo. Aliás, se tivessem interpretado mal Jesus, tomando as Suas palavras à letra - quando Ele queria que as palavras fossem tomadas em sentido figurado - teria sido fácil ao Senhor esclarecer esse ponto. Na verdade, já que muitos dos discípulos deixaram de O seguir por causa deste ensinamento (vers. 60), teria estado moralmente obrigado a explicar que falava apenas em termos simbólicos. Mas nunca o fez."
Em consequência das convicções adquiridas pelo estudo sincero e sistemático, Scott houve por bem abraçar o catolicismo, mesmo à revelia de sua esposa, a qual só mais tarde se converteu. É muito interessante observar a caminhada dos convertidos até a fé católica: a graça os impele a superar hesitações, obstáculos, comentários.
Os pontos abordados por Scott interessam a todo cristão desejoso de encontrar a Verdade religiosa. Sua experiência vem a ser escola para outros. Os argumentos são claríssimos e irrrefutáveis . O protestante que afirma serem 66 os livros da Bíblia, não o pode provar pela Bíblia; recorre à tradição dos judeus de Jâmnia, embora diga que segue somente a Bíblia, e do mesmo modo ocorre em inúmeros outros pontos.
...Creio que a amostra que acabamos de apresentar é suficiente para dar uma ideia da grande contribuição que traz este livro nos estudos de todo homem ou mulher de boa vontade, que esteja honestamente empenhado em conhecer, simplesmente, a Verdade que liberta.
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1. Mt 5, 17: "Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento".
2. Mt 15, 3: Disse Jesus: "Porque violais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?".
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Síntese adaptada do artigo de Dom Estêvão Bettencourt (OSB) "Todos os Caminhos vão dar a Roma", disponível em
http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?head=0&num=1750
Acesso 27/8/014
• HAHN, Scott & Kimberly. Todos os Caminhos Levam a Roma, Lorena: Cléofas, 2013.
ofielcatolico.com.br