Estamos diante de algo que as pessoas sempre procuraram, talvez mais do que a própria salvação de suas almas, – o que é lamentável. – Assim como Esaú trocou a benção paterna e divina, com os direitos de filho herdeiro, por um prato de lentilhas (Gn 25,29-34), muitos preferem prazeres e posses materiais à vida eterna. Vemos anúncios de supostas “orações de poder” e “novenas milagrosas” de todo tipo. Em praticamente toda igreja encontramos folhetos com as mais variadas (algumas absurdas) devoções a santos “de causas impossíveis”, que no imaginário popular seriam como que agentes infalíveis para dar tudo que pedirmos. Alguns contém até ameaças àqueles que “quebrarem a corrente”! Tais pessoas não imaginam como se afastam de Nosso Salvador, dando voltas em torno da Fonte ao invés de beber direto do inesgotável Rio de Água Viva. Pois foi Ele mesmo Quem nos prometeu que estaria conosco todos os dias, até o fim do mundo.
Já entre os ditos “evangélicos”, é comum o uso da passagem de João (13,13-14) como uma espécie de muleta verbal para toda e qualquer situação: em praticamente tudo o que dizem, acrescentam ao final da frase o complemento “em nome de Jesus”. A dona de casa diz que vai preparar o almoço de hoje “em nome de Jesus!”. O vendedor diz que vai cumprir sua meta mensal “em nome de Jesus!”. A filha diz que vai tirar um “A “na prova de matemática “em nome de Jesus!”... Qualquer afirmação, sobre qualquer assunto, é seguida de uma invocação ao nome do Senhor, mesmo que seja uma fofoca sobre a vida do vizinho, por exemplo, e até para contar ou rir de uma piada, muitos deles finalizam com um inevitável e impensado “em nome de Jesus”. Foi filmado e noticiado, há alguns anos, que até os deputados corruptos da “bancada ‘evangélica’” andaram agradecendo pela roubalheira “em nome de Jesus!”...
Existe, porém, como dissemos, uma oração que é sempre infalível. – Deixando de lado as interpretações equivocadas das Sagradas Escrituras, é importantíssimo saber que existe, sim, um jeito de pedir a Deus infalivelmente. O Santo Evangelho mesmo nos dá esta garantia. Em Mateus (7,7-8), o Cristo diz: “Pedi e se vos dará, buscai e achareis, batei e vos será aberto...”, e, um pouco mais adiante, reafirma: “Tudo o que pedirdes com fé, na oração, vós o alcançareis”. – No seu discurso de despedida, no Evangelho de João, Jesus volta a insistir: “Tudo o que pedirdes ao Pai, em meu Nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Tudo o que pedirdes em meu Nome, vo-lo darei” (14,13-14). E mais uma vez: “Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15,7).
Diz ainda mais o Salvador: “Naquele dia não me perguntareis mais coisa alguma. Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará. (...) Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita” (Jo 16,23-24).
A fórmula da oração infalível: as quatro exigências
2. Que se peçam coisas necessárias
3. Que se peça piedosamente;
4. Que se peça com perseverança.
Assim, Santo Tomás diz que, em primeiro lugar, sua oração será atendida infalivelmente se você pedir para si mesmo. Esta exigência pode em princípio surpreender; alguns poderão ver aí uma aparência de egoísmo, tão contrário a tudo que Jesus pregou. Mas não se trata disso. Deus nos abençoa conforme a nossa disposição, entrega, desejo sincero e fé. Isto é, Deus quer derramar sua Graça sobre nós, e quer derramá-la abundantemente, mas é preciso que estejamos dispostos.
Quando pedimos pelo outro (e devemos fazê-lo), não temos a garantia de que a oração será atendida, porque Deus respeita a nossa liberdade. Nem sempre adianta rezar por uma pessoa que não está aberta ou disposta para receber a Graça. Podemos e devemos pedir pelo nosso próximo, e Deus pode nos atender por sua infinita Misericórdia. Mas esta não é uma oração infalível, porque a Graça depende, em parte, daquele que a recebe, e nós não podemos nos comprometer pelo outro, já que não podemos interferir na sua liberdade.
A segunda condição é que você precisa pedir coisas necessárias à sua salvação, o que por sua vez vai auxiliar na salvação dos outros. Se pedimos algo como uma cura, o fim de uma dificuldade ou que uma dívida seja sanada, por exemplo, não temos necessariamente a garantia divina para estas orações, porque nada disso é intrinsecamente necessário à nossa salvação.
Assim, por exemplo, você pode pedir pelas virtudes; por uma graça que fortaleça o seu espírito para seguir Jesus; pode pedir por fortaleza ou prudência para não cair em pecado; pode pedir a graça de não morrer em pecado grave; pode pedir a libertação de determinada tentação... Coisas como essas, quem pedir receberá infalivelmente, desde que o pedido se enquadre também nas outras três condições.
Além disso, a oração piedosa é feita com firme confiança: “Peça com fé, sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila assemelha-se à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro. Não pense, portanto, tal homem que alcançará alguma coisa do SENHOR, pois é um homem irresoluto, inconstante em todo o seu proceder. Mas que os irmãos humildes se gloriem de sua elevação” (Tg 1,6-9).
A oração piedosa é, portanto, confiante. Interessante notar, neste ponto, que o próprio Senhor Jesus Cristo, por diversas vezes, antes de conceder alguma graça, perguntava antes a quem lhe pedia se confiava nEle, como vemos na passagem de Mateus: “E, partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando, e dizendo: ‘Tem compaixão de nós, filho de Davi!’. E, quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: ‘Credes vós que eu possa fazer isto?’; disseram-lhe eles: ‘Sim, Senhor!’. Tocou então os olhos deles, dizendo: ‘Seja-vos feito segundo a vossa fé’. E os olhos se lhes abriram” (Mt 9,27-30). – Os cegos confiaram e, por confiarem, foram atendidos. Pedir crendo, sem vacilação: eis aí a segunda exigência.
Sobre a quarta e última exigência da oração infalível, a perseverança, falamos no início, no exemplo do vizinho inoportuno, da viúva e do juiz, da mulher cananeia... E podemos usar também o exemplo direto do próprio Jesus: o capítulo 6 do Evangelho de Lucas, por exemplo, narra como Jesus passou a noite orando a Deus Pai. No Horto das Oliveiras, antes de se entregar em Sacrifício, deu o exemplo de perseverança, cheio de angústia e pedindo com insistência.
Temos, assim, quatro exigências, quatro características básicas da oração que é sempre infalível. Se a sua oração possuir estas quatro, será atendida. Não ponha a sua confiança em “orações de poder” ou “novenas infalíveis”, nem pense que a intercessão de algum santo de “causas impossíveis” vai fazer com que você receba o que pede. Sem essas quatro condições, seu pedido poderá ser atendido, sim, pela Misericórdia de Deus, que é infinita; mas a sua oração não se enquadrará na Promessa infalível de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ref.:
Homilia do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., dispon. em
Gostei muito do post e da explicação, porque nos ensina a rezar melhor, com mais fé, mais humildade e pedindo sempre a Deus que no seu infinito amor, lembre-se de nós na eternidade.
ResponderExcluirSanta Teresa de Jesus, em seu livro denominado: Castelo Interior ou Moradas, afirma que a oração é a porta para entrarmos em nosso Castelo Interior (Alma). Porém, ela mesma afirma que não é qualquer oração que abre a porta, mas uma oração bem feita, ou como ela mesma diz: com advertência!!!. Ela vai ainda mais fundo nos demais capítulos mostrando que a oração é necessária para obter as graças da alma (eternas) e não as temporais, como vemos tantos católicos à fazerem por aí.
ResponderExcluirParabéns pelo artigo!!
Post muito esclarecedor. Vou fazer de tudo para divulgar.
ResponderExcluirUm boa semana.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, como eu estava precisando ler isso. Parabéns a todos que trabalham na elaboração desse apostolado.Deus abençoe a todos
ResponderExcluirAlguém me explica o item 1 e 3?
ResponderExcluirÉ se eu pedir pra ser rico como Deus atende?
É se eu pedir algo q preciso mas não é da salvação?
Acabei de começar a pesquisar sobre uma novena que minha mãe recebeu de uma amiga e achei muito estranha (novena da misericórdia, Santa Paulina), mas não encontrei comentários sobre ela, mas acabei chegando aqui pelo google, ja conheço seu site a cerca de um ano e meio. Fiz comentários em várias postagens que não me lembro quais foram,embora outros leitores tenham me respondido não tive suas respostas(até o tempo em que eu acompanhava) não sei se hj em dia estão respondido pq não lembro mais onde exatamente publiquei meus comentários. Me sinto uma católica herege, fiquei afastada do catolicismo 6 anos, e há um ano venho fazendo visitas nas missas. Vim aqui te pedir alguns esclarecimentos pois vc parece ter grande conhecimento da doutrina. Acho que eu deixei a impressão de ser uma protestante 'disfarçada'e segundas intenções. Pq minhas dúvidas são as mesmas que as dos evangélicos. Por favor converse comigo, pode ser por email,wattsapp. Mas preciso de alguém pra me ajudar.lucafesa20@hotmail.com
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