“Na mente lhes imprimirei as minhas Leis, assim como no coração lhas escreverei."
(Jr 31,33)
Por exemplo, um homem que enfrentasse grandes dificuldades para sustentar a sua família, mesmo trabalhando muito, poderia achar que é certo roubar um outro que tenha muito dinheiro, bem mais do que precisa. E se você discorda disso, então, quem é que tem razão? Se nós não temos um ponto seguro de referência moral, porque deveria se considerar aquilo que alguém pensa – ou mesmo aquilo que a maioria pensa – mais certo ou mais justo do que o que eu penso?
Caímos no relativismo moral, que prevalece na cultura atual e levanta uma questão importante e que já foi matéria da reflexão de muitos dos maiores pensadores da humanidade. Haverá uma Lei Moral Universal?
De onde vem essa noção, esse código moral comum, natural e universal, que influencia não apenas o nosso comportamento, mas também a maneira como nos sentimos ao agirmos de determinada maneira? É o que ocorre om um pai que, por estar nervoso, grita com os filhos ou bate neles sem uma razão justa, e depois se arrepende, percebe que exagerou, talvez peça desculpas.
Os Dez Mandamentos do Antigo Testamento, assim como os dois grandes Mandamentos de Jesus Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo) representam o ápice e o resumo perfeito de tudo aquilo que a humanidade já conseguiu desenvolver, até hoje, como regra de conduta social, mas o dito método científico dominante em nossos dias simplesmente não pode responder à questão da Lei Moral Universal, assim como jamais poderia ser a fonte de todo o conhecimento.
Cientistas céticos e ateus ativistas tentam convencer seus pares de que as unidades fundamentais do mundo vivo não estão os organismos, mas nos genes. Embora a biologia geralmente entenda a seleção natural como um processo que atua essencialmente ao nível dos organismos, sendo os genes simples veículos através dos quais se reproduzem, Richard Dawkins, por exemplo, quer convencer o mundo de que todos nós, organismos individuais, somos apenas máquinas de sobrevivência dos genes, como "robôs" cegamente programados pela seleção natural e que devem a sua sobrevivência à capacidade de preservar essas moléculas egoístas, especializadas em imortalizar-se através da criação incessante de cópias de si próprias. É esta, em linhas gerais, a tese do seu livro mais famoso, intitulado justamente "O gene egoísta".
O problema que ele não consegue resolver é que os seres humanos, movidos por essa noção interior de certo e errado que é o que chamamos Lei Moral Universal, doam-se altruisticamente uns pelos outros, o tempo todo e de muitas maneiras. Seres humanos doam sangue para ajudar outros seres humanos que sequer conheceram ou vão conhecer algum dia. Seres humanos ajudam-se mutuamente, cuidam dos mais frágeis, dos debilitados, dos necessitados – sejam vítimas, incapazes ou mesmo indolentes! Seres humanos cuidam de animais. Seres humanos chegam a pôr suas vidas em risco, e em alguns casos até a literalmente sacrificar as suas vidas, apenas pelo bem do próximo! Fazem-no apenas porque entendem, íntima e profundamente, que é a coisa certa a fazer. Essa realidade vai muito além da mera empatia ou fria cooperação entre iguais e infinitamente além do que se esperaria da ação de supostos "genes egoístas".
A Lei Moral Universal encontra expressão não apenas nos textos sagrados de todas as grandes religiões – já que é presente em todas as culturas humanas porque é presente no interior de cada ser humano –, mas também no mais profundo das nossas consciências. Tal Lei é um sinalizador que aponta para a existência de um Criador, de uma Força Inteligente por trás do Universo físico.
“Temos duas fontes fontes de evidências para a existência do Criador: uma é o Universo que Ele criou (...) a outra é a Lei Moral que Ele pôs nas nossas mentes."
(C. S. Lewis )
“A lei moral é obra da Sabedoria divina. Podemos defini-la, em sentido bíblico, como uma instrução paterna, uma pedagogia de Deus. Ela prescreve ao homem os caminhos, as regras de procedimento que o levam à bem-aventurança prometida e lhe proíbe os caminhos do mal, que desviam de Deus e do seu amor. E, ao mesmo tempo, firme nos seus preceitos e amável nas suas promessas.
A lei é uma regra de procedimento emanada da autoridade competente em ordem ao bem comum. A lei moral pressupõe a ordem racional estabelecida entre as criaturas, para seu bem e em vista do seu fim, pelo poder, sabedoria e bondade do Criador. Toda a lei encontra na Lei eterna a sua verdade primeira e última. A lei é declarada e estabelecida pela razão como uma participação na providência do Deus vivo, Criador e Redentor de todos. 'Esta ordenação da razão, eis o que se chama a lei'1.
'Entre todos os seres animados, o homem é o único que pode gloriar-se de ter recebido de Deus uma lei: animal dotado de razão, capaz de compreender e de discernir, ele regulará o seu procedimento dispondo da sua liberdade e da sua razão, na submissão Àquele que tudo lhe submeteu'2".
(Catecismo da Igreja Católica, §1950-1951)
__________
1. Leão XIII, Enc. Libertas praestantissimum: Leonis XIII Acta 8. 218: Sto. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, 1-2, q. 90. a. 1: Ed. Leon. 7, 149-150.
2. Tertuliano, Adversus Marcionem, 2, 4, 5: CCL I. 479 (PL 2, 315).
ofielcatolico.com.br
Excelente artigo. Parabéns Henrique
ResponderExcluirLembrando ainda que a Lei Moral, muito bem explicada neste post, compõe aquilo que costumamos chamar de "Direito Natural", que impede a arbitrariedade das decisões em torno das leis. Este é o principal alvo daqueles que querem "moldar" a sociedade através da propaganda marxista, uma vez que depois de derrubado este conceito, garantirão o consenso para impor qualquer abominação sobre a sociedade.
Abraço Fraterno
Ha vários anos, pedi a Deus que me desse de presente o Espírito Santo como guia da consciência e do pensamento. A resposta foi: "Tem certeza? Esse é um presente muito caro e de muita responsabilidade". Eu não hesitei, disse que assim desejava. Desde lá, não tem falhado, nunca. A consciência aprova o que é certo, e desaprova o que é errado. Até me persegue, quando está errado.
ResponderExcluir