Luca Signorelli, capella de San Brizio. 'Predica e punizione do Anticristo' (clique sobre a imagem para vê-la ampliada) |
“...Quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a Terra?"
(Lc 18,8)
Quanto à primeira afirmação, – "Deus não castiga", – está total e simplesmente equivocada. É contrária a toda doutrina cristã e ao Catecismo da Igreja Católica (veja o leitor os nºs 1031; 1038; 2006; 2061 e 2090 do manual cristão), assim como às próprias Sagradas Escrituras (consulte-se as seguintes passagens: Zc 14,19 Ez 14,10; Os 5,9; 2Ts 1,9; Ap 3,19; etc). Sempre que ouvirmos tal afirmação, é dever de todo fiel cristão católico corrigir, com fraterna caridade e de modo suave, a pessoa que o diz; se esta não aceitar a correção, devemos então ignorá-la e advertir aos outros ouvintes, quanto nos for possível, do erro da afirmação. Quanto aos parágrafos do Catecismo e às passagens bíblicas sugeridas acima entre parênteses, é importante consultá-los, compreender seus conteúdos e procurar memorizá-los, tanto quanto possível.
Já a segunda afirmação, – de que a misericórdia de Deus é infinita, – está corretíssima. Todo o conjunto dos livros do Novo Testamento confirma esta verdade fundamental da fé, e apenas a título de exemplo poderíamos citar Ef 2,4; Tt 3,5; Hb 4,16. Todo cristão sabe que a humanidade merecia o castigo, porque pecou, mas Deus enviou seu Filho para nos libertar e salvar para a vida eterna. Logo, Deus é misericordioso. E por que dizemos que a misericórdia de Deus é infinita? A lógica humana pode sugerir que, se há castigo, então a misericórdia divina não é infinita, mas parcial. Existem dois pontos que, se bem analisados, fazem-nos compreender bem esta questão aparentemente complexa ou de difícil compreensão. O primeiro ponto é o fato de que a Misericórdia divina age concomitantemente com a sua Justiça. Deus é Amor; Deus é Justo: ambas as afirmações são precisas, e inclusive se integram e se complementam de muitos modos. Sem justiça dificilmente há verdadeiro amor e verdadeira misericórdia, pois às pessoas que amamos naturalmente desejamos educar na justiça: dar a um filho, por exemplo, a total "liberdade", – inclusive para se drogar, prostituir e se perder nos desatinos da adolescência e juventude, – seria o gesto de um pai que ama verdadeiramente? Por amarmos realmente aos nossos filhos não precisamos às vezes agir com severidade, chamando-lhes a atenção, aplicando castigos, forçando-os a estudar, a cumprir os seus deveres, a respeitar a autoridade, os mais velhos, etc., dando-lhes, enfim, a disciplina que lhes será tão necessária no correr de suas vidas, para que sejam felizes e dignos, e conquistem coisas boas em suas vidas?
Muito bem, este é um ponto para entender porque dizemos que a Misericórdia divina é infinita, mesmo existindo o Castigo para os pecados: em Deus, sua Misericórdia é uma força que age sempre em conjunto com a sua Justiça. Uma coisa não funciona sem a outra.
O outro ponto é a necessária compreensão de que o pecado contra Deus é um crime de gravidade infinita. Ora, Deus é infinitamente Bom, infinitamente Amoroso e infinitamente Justo. É o sumo Bem e o sumo Ser. Assim sendo, nossos crimes contra Deus são infinitamente graves; logo, merecedores de uma pena proporcional, isto é, sem fim. Portanto, sendo Deus infinitamente Bom, e os crimes contra Ele infinitamente graves e dignos de um castigo proporcional, a misericórdia necessária para perdoá-los também precisa ser absolutamente infinita. Tal realidade se revela de modo ainda mais claro no fato de que Deus volta sempre a nos perdoar, ainda que diariamente, por mais que voltemos a pecar contra Ele (crime de gravidade infinita), todos os dias, sempre que admitimos o nosso erro, arrependemo-nos e confessamos o pecado, pedindo perdão. Não há limite, não há um número de vezes que Deus estabeleça para nos perdoar, até dizer: "Se passarem deste limite, não perdoarei mais, porque a minha misericórdia acaba nesta linha". Ao contrário, Deus perdoa sempre, de novo e de novo, e ainda que tenhamos vivido uma vida inteira de crimes e só de maldades, se nos arrependermos e nos confessarmos no leito de morte, seremos perdoados.
Assim, em resumo, estamos falando de um Bem e uma Bondade infinitas; por isso é que os pecados contra este Bem e contra esta Bondade são de gravidade proporcionalmente infinita; logo, para perdoar pecados de ilimitada gravidade, é necessária a misericórdia sem medidas: infinita misericórdia. Tal é a Misericórdia de Deus para conosco.
Voltando ao triste relativismo que hoje impera no mundo, desgraçadamente inclusive entre os filhos da Igreja, trata-se uma tendência muito em voga nos tempos atuais, sobretudo no que diz respeito aos valores inegociáveis da fé cristã e católica e às perseguições que a Igreja sofre. Ao invés de se indispor com o mundo, prefere-se não tomar partido de nenhum lado, numa tentativa de se agradar a todos, mesmo que isso signifique negar a verdade. O Catecismo da Igreja Católica, mais uma vez, denuncia que essa é uma atitude genuinamente diabólica: “A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne" (CIC 675).
Cardeal G. Biffi |
Não está cada vez mais comum encontrar "cristãos" que pregam o "amor", mas que são incapazes de protestar contra o aborto? Pessoas que se indignam, movem campanhas e propõem duras punições para os agressores de animais, mas que sequer se importam com a criança abandonada na porta de sua casa, ou com o idoso largado em um asilo próximo, com quem ninguém se importa ou lembra de visitar?
Não é cada vez mais comum a figura do "católico" que diz amar Jesus e chora com cantos religiosos emotivos, mas é negligente para com os seus pecados, sem perceber que com isso são também responsáveis pelas Chagas de Cristo na cruz?
Denunciou o então Cardeal Joseph Ratzinger, na Via-Sacra de 2005: "Não se pode continuar a banalizar o mal, quando vemos a imagem do Senhor que sofre". Todavia, o mal se pratica hoje por pessoas que se declaram cristãs. Sim, o Anticristo parece estar solto no mundo e tem feito muitos discípulos. São servos do maligno aqueles que relativizam a verdade e propõem a apostasia como alternativa à perseguição à Igreja.
Enquanto os mártires do passado entregaram suas vidas para que a fé católica fosse preservada e professada hoje, muitos seguidores do Anticristo têm servido a Cabeça da Igreja numa bandeja para o "Príncipe deste mundo" (Jo 16,11). Falam de amor, preocupam-se com a natureza, pregam a paz, mas não se incomodam quando a fé em Jesus Cristo é ultrajada, enquanto a Igreja é profanada pelas hostes infernais. É o "mistério da iniquidade" predito pelo Senhor quando perguntou aos Apóstolos: "Quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a Terra?" (Lc 18, 8).
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Baseado no artigo 'O mistério da iniquidade e a apostasia dos cristãos', da equipe Christo Nihil Praeponere, disp. em:
https://padrepauloricardo.org/blog/o-misterio-da-iniquidade-e-a-apostasia-dos-cristaos
Acesso 30/11/015
www.ofielcatolico.com.br
Perfeito! Assim como é vantajoso para um vírus ou bactéria que as pessoas não acreditem em sua existência, pois aí não vão se vacinar, tomar remédios, evitar situações de risco para a saúde etc, também é vantajoso para o diabo que ninguém acredite ele ou na existência do pecado ( ou diminua a sua real importância).
ResponderExcluir"Quando começarem a acontecer estas coisas, tomai ânimo e levantai a cabeça porque vossa libertação está próxima” (Lc 21,28). Amém!
A paz de NSJC!
Uma pergunta: o Anticristo dever ser compreendido como um conjunto de forças hostis à Igreja, como sugerem alguns intérpretes, ou como um indivíduo específico? Percebi que essas duas interpretações estão presentes em diversos sites católicos.
ResponderExcluirParece que alguns Padres da Igreja sugerem a segunda interpretação (um homem), em contraste com a ideia de um conjunto de forças operantes e inimigo da Igreja.
Qual interpretação seria a, digamos, "mais correta"?
Há uma confusão aí, Silva. O ANTICRISTIANISMO é sim um conjunto de doutrinas (e os anticristãos são um conjunto de forças) hostis à Igreja. Já o Anticristo (ou homem da perdição), obviamente, é um indivíduo específico. A paz de NSJC!
ExcluirÉ preciso ser profeta nos dias de hoje
ResponderExcluirQue texto maravilhoso.
ResponderExcluirA paz de Cristo! Visito sempre este site católico que muito me ensina e me agrada. Às vezes fica difícil entrar aqui, trava. Seria bom que fosse verificado se não há algum problema com o site. Indo ao que interessa: já falei para muitos católicos que não se deve relativizar, como bem ensina o texto acima. Quem é católico não pode simplesmente afirmar que " Jesus é só amor", em um sentido que, na opinião dessas pessoas desinformadas, Jesus perdoa tudo, mesmo as faltas, pecados repetidos à exaustão em com consciência. Estes católicos jujubas afirmam sem nenhum rubor na face que não é necessário mudar, se converter de fato, já que " Jesus tudo perdoa..". Ora, se não precisamos pedir perdão e mudar de atitude, logo, não há inferno, penas, pecados. E Jesus morreu em vão. Só que não, oras! Isso é totalmente absurdo! Quando digo isso, sou chamado de radical, que julgo, pois " não se deve julgar...", e toma católicos jujubas defendendo abordo, liberdades sexuais de todos os tipos, porque, afinal, na visão destes, tudo será sempre perdoado. Isso me irrita muito, ver que os ensinamentos de Jesus e antes, no Antigo Testamento, tudo que foi dito por Deus pelas bocas dos profetas, é agora mudado, com sentido totalmente deturpado pelos ditos cristãos jujubas! Ou se é cristão católico ou não! Não existe relativismo, meio termo. Oremos para que Maria Santíssima interceda e se mostre para estes ditos católicos. E oremos para que Jesus perdoe estas crianças perdidas numa fé relativa. Mas façamos a nossa parte em evangelizar e combater essas heresias! Pai, tende piedade de nós! Sigam firmes neste abençoado apostolado! Salve Maria! :)
ResponderExcluirA paz de Cristo! Parabéns pelo texto preciso, claro, evangelizador. Não é possível que cristãos católicos sigam relativizando os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo! Seu Evangelho é claro, não deixa margem para entendimentos pessoais, fora do que Jesus nos ensinou. Oremos! Salve Maria!
ResponderExcluirPeçamos a Jesus Que aumente a minha fé
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