George Lucas |
Mas o que ele declaradamente queria, antes de tudo, é que "Star Wars" se tornasse uma nova mitologia que proporcionasse a toda uma nova geração, – que já enveredava pelos caminhos do consumismo materialista á época em que foi produzido e lançado o primeiro episódio (na realidade o quarto da série), – a introdução para uma autêntica espiritualidade, a noção do bem e do mal, da honra, as bases dos bons valores que construíram a nossa civilização. Ele deliberadamente se utilizou, entre outras fontes, de temas comuns das histórias bíblicas e da tradição cristã, além das novelas de cavalaria medievais e sua mitologia. Algo semelhante ao que fizeram, antes dele, – talvez com mais propriedade e cada um ao seu modo, – J. R. R. Tolkien com "O Senhor dos Anéis", e C. S. Lewis com suas "Crônicas de Nárnia ('O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa')".
É claro que existem problemas na obra de Lucas, e as interpretações negativas são sempre possíveis. Não estamos aqui recomendando assistir o filme como se fosse uma obra de piedade ou um exercício de santidade. Nada disso. Apenas admitimos que a saga não deixa de trazer uma reflexão válida, – ainda que superficial e permeada por cenários, personagens e situações fantasiosas, – sobre o que nos torna vulneráveis à tentação do egoísmo, do medo e do ódio. Na história, a fé e o altruísmo fazem a diferença: Han Solo, por exemplo, um dos personagens mais queridos, começa como um incrédulo mas acaba "se convertendo" e transmitindo sua fé para uma nova geração que pensava que as velhas histórias fossem apenas mitos e contos de fadas.
O padre Roderick Vonhögen, sacerdote da arquidiocese de Utrecht, Holanda, autor de "Geekpriest, confessions of a new media pioneer", elaborou um a lista de sete temas espirituais fundamentais que podem ser encontrados na saga imaginada por George Lucas, a qual apresentamos abaixo:
Luke é um simples garoto de fazenda vivendo uma vida simplérrima em um planeta remoto. Assim como o filho pródigo da parábola de Cristo, mesmo tendo sangue nobre vive como um pobre servo, sem grandes esperanças ou possibilidades de alçar a uma vida melhor. Tudo muda quando ele encontra o velho Obi-Wan, que o chama para aprender os caminhos da misteriosa "Força", – um princípio orientador que traz esperança para quem lhe abre coração e mente. – Luke num primeiro momento se recusa, mas, finalmente, resolve deixar tudo para trás e seguir seu mestre (que mais tarde será Yoda) para se tornar um cavaleiro "Jedi".
O aprendiz de Jedi precisa aprender a se abrir a este poder superior que irá guiá-lo e que lhe poderá conferir capacidades especiais: “Use a força, Luke”, dizem-lhe seus mestres.
A realidade do Mal que se origina a partir da escolha em se recusar o Bem e a opção deliberada para a escuridão tem consequências tremendas para o indivíduo e para o universo que o cerca. Alguns personagens em Star Wars parecem encarnar este Mal de modo pessoal, como Darth Maul, com sua aparência diabólica, e especialmente Darth Sidious, o Imperador Palpatine.
Não há maior amor do que dar a vida pelo bem do próximo. Às vezes, a busca por salvar pessoas da escuridão pode levar ao sofrimento e exigir sacrifício. Obi-Wan se deixa matar por Darth Vader para que Luke, Leia e Han Solo possam se salvar (em vários sentidos).
Apesar do poder que a escuridão tem sobre as almas, há sempre um chamado do bem em algum lugar profundo dentro do ser humano. A conversão, o perdão e a redenção continuam a ser possíveis até o fim. No episódio 6, Luke diz a Darth Vader: “Eu sinto o bem em você”. Bem que finalmente vence, e Vader se torna de vilão a grande herói, superando a influência do nefasto Imperador e salvando o universo.
A morte física não é o fim; uma vida bem vivida pode continuar gerando bons frutos mesmo após a morte. Obi-Wan, Anakin e Yoda aparecem a Luke após mortos.
A obra Star Wars é, ou ao menos pode ser, uma metáfora para os nossos tempos, já que tantos de nossos jovens se esqueceram de nossa herança religiosa, das histórias que nortearam as escolhas dos nossos avós, dos bons valores e costumes.
Ainda que por caminhos tortuosos, de muitos modos as Verdades eternas se manifestam continuamente no mundo e ao mundo, pois Deus não deixa de se revelar, já que dotou os homens da capacidade de reconhecê-lo. "Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar" (1Rm 1,20).
• Os 7 temas apresentados neste artigo foram elaborados pelo padre Roderick Vonhögen, da arquidiocese de Utrecht, Holanda, e autor de 'Geekpriest, confessions of a new media pioneer'.
Parabéns Henrique, sempre ví os filmes star wars dessa forma!
ResponderExcluirRicardo.
O episódio I contém um aspecto adicional: o cumprimento de uma profecia, e o surgimento de um menino que é concebido sem que haja um pai natural. Obviamente, não se pode traçar um paralelo entre Anakin e Jesus Cristo, mas é algo que chama a atenção.
ResponderExcluirEis que esse mesmo padre Roderick está indiretamente ligado a uma história de conversão de um protestante à fé da Igreja de Cristo!
ResponderExcluirMe deparei com o testemunho do blogueiro que se intitula "O Católico Cordial" na semana passada, e ele relata como o podcast de assuntos nerds desse padre holandês ajudou a destruir seus preconceitos acerca da Igreja Católica.
Recomendo a leitura, mas fique avisado que é em inglês:
http://www.patheos.com/blogs/albertlittle/slow-road-rome-part-4/