NASCIDO EM FLANDRES, Bélgica, Damião cedo desejou a vida religiosa, tendo se radicado no Havaí onde, cumprindo a missão que lhe fora designada, exerceu frutífero ministério em uma colônia de leprosos, mesmo sabendo que viver lá significaria inevitavelmente tornar-se também um deles.
"Adeus, mamãe! Até o Céu!": foram estas as palavras de despedida do jovem religioso Damião (Damian) de Veuster, ao aproveitar um transporte que inesperadamente surgiu no caminho que trilhava a pé após uma peregrinação ao santuário mariano de Montaigu, acompanhado justamente de sua mãe e de uma cunhada. Era o início de sua viagem sem retorno para o longínquo então Reino do Havaí.
Quem deveria ir para o Havaí em missão religiosa era seu irmão mais velho, Panfílio, que o precedeu ingressando na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e Adoração ao Santíssimo Sacramento do Altar. A viagem de Panfílio fora cancelada por motivo de doença, e assim Damião, que almejava ser missionário, aproveitou-se do imprevisto e pediu ao superior que o permitisse partir como substituto.
Infância e adolescência
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O jovem Damião envergando o hábito religioso |
Seu nome de nascença era Jozef (carinhosamente reduzido, na intimidade, para 'Jef'), nascido aos 3 de janeiro de 1840 em Tremelo, região flamenga da Bélgica. Batizado no mesmo dia em que nasceu, era o penúltimo de uma série de oito filhos do casal Jan Frans e Catherine, que trabalhavam na área rural. A feliz família, – da qual alguns membros demonstraram vocação religiosa, – guardava respeitosamente os domingos e dias santos, nos quais nem mesmo a costura era permitida: Missa pela manhã, vésperas à tarde, e também descanso e recolhimento. Às refeições, a oração era conduzida pela mãe zelosa, em latim.
A vocação religiosa pouco a pouco desabrochava no pequeno "Jef". Certa vez, ele e seus irmãos, Paulina e Augusto, resolveram passar um dia inteiro em oração e penitência na solidão de um bosque. Foi na adolescência, porém, que o chamado tornou-se cada vez mais forte, apesar da vontade contrária dos pais, a quem chegou a dizer: "Deixem-me entrar no convento, ou Deus os castigará!".
Recebe o hábito da Congregação dos Sagrados Corações
Aos dezoito anos, a vocação religiosa já estava profundamente enraizada na sua alma. Em janeiro de 1859, acompanhando o pai em uma visita a seu irmão Augusto (já ingresso na Congregação dos Sagrados Corações), em Louvain, foi deixado por algumas horas no convento enquanto o Sr. Franz tratava de outros assuntos na cidade; quando este retornou à casa religiosa para buscá-lo, Jozef pediu para ficar, pois isso evitaria a dor das despedidas no lar. A permissão foi então dada pelo pai, que já entendia que o ingresso do filho à vida religiosa seria inevitável. Em menos de dois meses, recebeu o hábito religioso, passando a chamar-se Damião, iniciando assim o noviciado.
No ambiente religioso, surgiu em Damião a vocação para missionário, e passou ele a rezar diariamente nessa intenção junto à figura de São Francisco Xavier, apóstolo da Índia, pintada em uma janela. Posteriormente, quando ordenado presbítero, passou a usar as palavras "sacerdote missionário" após sua assinatura, hábito que manteve por toda a vida, pois era assim que se definia.
Protagonista de um simbólico funeral
Findo o noviciado, chega o momento dos votos solenes e perpétuos de pobreza, castidade e obediência. A cerimônia deu-se em 7 de outubro de 1860, na casa principal da Congregação, em Paris. Após as palavras do superior, Damião renunciou a qualquer propriedade pessoal, à constituição de família carnal e aos seus destinos. Teve então estendido sobre si um tecido mortuário sustentado por quatro religiosos professos, enquanto outros quatro portavam velas acesas caracterizando aquele momento como um enterro: era cantado o hino fúnebre Miserere, feita a aspersão do "defunto" com água benta, enquanto em voz baixa era recitado o Pai Nosso e outras preces, ao fim das quais sua "morte" simbólica foi selada, e em seguida o alegre e solene hino de ação de graças Te Deum.
Sacerdote missionário no longínquo Oriente
Ao contrário do irmão mais velho, Damião não tinha inicialmente esperança de se tornar sacerdote: seus estudos secundários se reduziam a poucos meses, e só lhe sobravam duas opções: irmão converso e irmão de coro. Os irmãos conversos podiam partir em missões, sendo geralmente destinados a construções de capelas ou residências para os missionários, e os irmãos de coro atuavam como encarregados da capela e da sacristia do convento, e por vezes ajudavam em algumas atividades nas escolas da congregação. Mas os superiores perceberam que Damião se destacava intelectualmente, e assim lhe permitiram preparar-se para o sacerdócio, tendo cursado um ano de Filosofia, latim, grego e francês em Paris; depois foi enviado de volta a Louvain, na Bélgica, para estudar Teologia, o que fez por dois anos.
A dor pela doença que acometeu seu irmão Panfílio, destinado inicialmente a ser missionário no Havaí, logo se transformou para Damião em alegria, pois teve resposta afirmativa ao pedido de permissão para substituí-lo na viagem que não conheceria retorno: após cinco meses singrando os mares, desembarcou o jovem religioso em Honolulu, capital do que então era um reino.
A viagem marítima encerrou-se no dia da festividade de São José (19 de março de 1864). No Havaí, após breve passagem pelo subdiaconato e diaconato, Damião foi ordenado presbítero aos 21 de maio do mesmo ano, na Catedral de Nossa Senhora da Paz. "Como eu tremia ao subir pela primeira vez ao Altar", escreveu o próprio ao superior geral da Congregação:
“Como estava emocionado meu coração ao dizer pela primeira vez ao Verbo que descesse às minhas mãos; que afetos então sobrenaturais e diferentes para mim ali se formavam ao distribuir, em minha primeira Missa, o Pão da Vida a 150 ou 200 pessoas, das quais muitas provavelmente se haviam inclinado frequentemente ante seus antigos ídolos e que agora, totalmente vestidas de branco, se aproximavam com tanta modéstia e respeito à Santa Mesa."1
Ministério sacerdotal
Iniciou-se então a vida de sacerdote missionário para Damião, sob as ordens de seu superior religioso e do vigário apostólico (Pe. Modesto Favens e Mons. Louis-Desiré Maigret, respectivamente). Poucos dias após ser ordenado, o Pe. Damião foi enviado à Ilha Grande do arquipélago, onde passou a exercer seu ministério. As distâncias que tinha de percorrer eram muito grandes, o que o levou a enfrentar dificuldades para a Confissão frequente. Incansavelmente, ano após ano, construía capelas, além de distribuir os Sacramentos, ensinar nas escolas, cuidar de doentes, pregar ao povo, e assim anunciar o Evangelho.
Aos 4 de maio de 1873, em meio a outros irmãos, o vigário apostólico Mons. Maigret, bispo, pediu voluntários para se revezarem dando assistência aos leprosos na ilha de Molokai: alguns se apresentaram, sendo o Pe. Damião o escolhido para ser o primeiro, de uma alternância que não ocorreu, pois o encargo tornou-se definitivo.
A lepra (hanseníase) surgira no Reino do Havaí em 1840, como consequência da imigração, sendo naquela época incurável e muito contagiosa. O isolamento era a única solução encontrada pelas autoridades para a terrível enfermidade que continuava a desafiar a medicina. Os leprosos, – várias centenas deles, – eram confinados na ilha de Molokai, a quinta em extensão territorial do arquipélago, mais precisamente em uma península envolvida pelo oceano e isolada do restante do território por uma barreira montanhosa. Os enfermos que ali moravam podiam ser acompanhados por parentes, mas isso era uma exceção, pois em sua maior parte eram abandonados e rejeitados. Havia medidas governamentais para apoio aos que ali estavam confinados, como a construção de um pequeno hospital, alimentos, algumas roupas e a visita eventual de um médico, mas tudo era rudimentar e muito aquém das necessidades básicas. Os óbitos eram frequentes (um a dois por dia) e o próprio Pe. Damião deu o exemplo, sepultando os cadáveres que por vezes não tinham o privilégio de gozar dessa atitude de respeito aos mortos.
Os habitantes dividam-se em dois povoados: Kalawao e Kalaupapa. As moradias eram em geral muito precárias, por vezes feitas com pedras ou vegetais, com cobertura de folhas. A promiscuidade entre os pobres leprosos imperava, sem distinção de idade ou sexo. Não se podia falar propriamente em higiene, pois a água era obtida de fontes longínquas, conduzida em toscos recipientes transportados nas mãos. Os maus odores exalados das feridas e dos dejetos eram especialmente nauseantes, sendo mesmo insuportáveis para um recém-chegado: Pe. Damião chegou a deslocar-se rapidamente para fora de certos ambientes e assim evitar ocorrências mais desagradáveis que não poderia controlar, como se pode perceber nesse registro: "Mais de uma vez, cumprindo junto a eles meus deveres sacerdotais, me vi forçado não somente a tampar as narinas mas inclusive correr para fora a fim de respirar ar puro". Escreveria ele, posteriormente, que o cachimbo que passou a usar atenuava em seu organismo os efeitos de tais emanações, pois o odor do tabaco, ao impregnar suas roupas, atuava como uma fragância que dissimulava as impregnações infectas.
Ao superior geral da congregação, o Pe. Damião escreveu em agosto de 1873:
“Eis-me aqui, reverendíssimo padre, em meio a meus queridos leprosos. São muito hediondos de se ver, porém têm uma alma resgatada pelo preço do Sangue adorável de nosso divino Salvador. Ele também, em Seu divino amor, consolou os leprosos. Se eu não os posso curar como Ele, ao menos os posso consolar, e pelo santo ministério que Sua bondade me confiou espero que muitos entre eles, purificados da lepra da alma, apresentem-se ao Seu Tribunal em estado de entrar na sociedade dos bem-aventurados."
Diz também:
“Acabo de fazer um pedido à Sua Grandeza [o bispo] para ampliar a capela. O odor infecto que emana de seus corpos e de suas feridas exigiria uma igreja grande para tornar o culto menos penoso. Algumas vezes me era difícil resistir durante a santa Missa e no sermão. É como o ‘já cheira mal' de São Lázaro. Enfim: Nosso Senhor suportou isso, e eu também o posso. Oxalá pudesse conseguir, por esse sacrifício, a ressurreição espiritual dos que, entre eles, ainda não saíram da tumba do pecado para viver a vida de graça que o bom Deus a eles oferece todos os dias."
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Padre Damião entre os leprosos da colônia de Molokai |
Mãos à obra
Diversas capelas foram construídas por iniciativa do Pe. Damião, tendo ele constituído um coro e uma banda de música, que passaram a atuar convenientemente nas Missas, nas procissões e nos funerais, e até mesmo nas recepções aos visitantes mais ilustres. Procurava demonstrar benquerença para com todos, participando de suas refeições, compartilhando seu cachimbo com outros homens, brincando com as crianças. Além disso, todos eram bem-vindos em sua casa. Mesmo antes de contrair a doença, algo que esperava serenamente, Pe. Damião se inseriu entre eles, pois ao dirigir a palavra aos que ouviam suas homilias dizia: "Nós, leprosos", mesmo sem ter a certeza de que um dia tal expressão se tornaria real.
Em poucos anos, o Pe. Damião fez florescer uma autêntica comunidade, bem oposta ao que encontrou quando chegou àquele verdadeiro "cemitério vivo": os moradores constituíam, quando ele ali aportou, uma verdadeira selva humana. Nas palavras do santo, extraídas de um relatório escrito em 1886:
“À chegada dos novos leprosos, os antigos se apressavam a incutir neles a falsa máxima de que ‘neste lugar já não há lei'. Durante muito tempo me vi obrigado a combatê-la, vendo que se aplicava o mesmo às leis humanas e às divinas. Em consequência dessa teoria ímpia, a maioria dos solteiros, e dos casados que estavam separados de seus cônjuges pela lepra, viviam amontoados sem distinção de sexo. Muitas mulheres eram obrigadas a prostituir-se para conseguir amigos que as ajudassem durante sua doença. As crianças, quando fortes, eram empregadas como serventes. E quando a lepra havia progredido, tais mulheres e crianças eram expulsas de casa para buscar abrigo em qualquer lugar. Não era raro encontrá-las atrás de uma cerca esperando que a chegada da morte viesse pôr fim aos seus sofrimentos, ou que uma mão compassiva ou contratada os transportasse ao hospital. (...) Como muitos leprosos morriam, meu dever sacerdotal me oferecia amiúde a ocasião de visitá-los em suas cabanas e, ainda que minhas exortações se dirigissem principalmente aos moribundos, balançavam frequentemente as orelhas dos pecadores públicos, os quais pouco a pouco tomaram conhecimento das consequências de suas más condutas e começavam a se arrepender. A esperança do perdão de um Salvador misericordioso começava a reforma de sua má vida (...). Um meio dos mais eficazes para destruir a imoralidade tem sido a permissão para casar-se, dada aos leprosos não impedidos por um Matrimônio anterior (...). Uma grande bondade para com todos, um terno amor para com os necessitados, uma doce compaixão para com os doentes e moribundos, juntamente com uma sólida pregação a meus ouvintes, esse tem sido o procedimento constante do qual me tenho servido para introduzir os bons costumes entre os leprosos."
Um sofrimento que particularmente atormentou o Pe. Damião foi a dificuldade para se fazer a confissão frequente. Nos cinco primeiros anos, o isolamento da colônia de leprosos era total, por ordem do governo. Por ocasião de uma visita do superior provincial, o Pe. Modesto Favens, este foi impedido de desembarcar, limitando-se a se inclinar sobre a amurada do navio para ouvir as acusações de um rigoroso penitente que se aproximara em uma canoa, feitas em voz alta por estar proibido de subir a bordo a fim de evitar contágio.
Anos se passaram em meio a frutífero apostolado, mas o sacrifício foi aceito: a hanseníase tomou pouco a pouco o robusto organismo de Pe. Damião. Manchas foram surgindo na pele, tumorações foram se desenvolvendo em várias partes do corpo, a sensibilidade começou a desaparecer, mas naquela época o diagnóstico médico não era tão fácil e rápido como nos dias atuais. A certeza surgiu em janeiro de 1885 quando, após uma fatigante caminhada para o exercício do ministério, pôs o pé em uma vasilha contendo água escaldante pensando ser morna, e não sentiu incômodo algum: perdera a sensibilidade térmica, o que indicava estar leproso. Aos familiares, diz: "Trato de levar minha cruz com alegria, como Nosso Senhor Jesus Cristo".
Ao Pe. Léonor Fuesnel, então seu superior provincial, o Pe. Damião faz um pedido: "Pois bem, meu reverendo padre, já não tenho dúvidas, sou leproso; que o Bom Deus seja bendito! Não tenha muita pena de mim, pois estou perfeitamente resignado com minha sorte. Não peço mais que uma graça: suplicai a nosso Muito Reverendo Padre que envie algum [sacerdote] que possa uma vez ao mês descer até nossa tumba para confessar-me e, no restante do tempo, ocupar-se das capelas do outro lado da ilha, onde não há doentes".
Em uma carta dirigida a um escritor que visitara aquela colônia de leprosos, o Pe. Damião escreveu em outubro de 1885:
“Desde o mês de março passado meu correligionário, o Pe. Alberto, deixou Molokai e o arquipélago para regressar a Tahiti. Desde então sou o único sacerdote em Molokai e tenho a fama de estar atacado eu próprio pela terrível doença. Os micróbios da lepra se instalaram finalmente na minha perna esquerda e na orelha. Minhas pálpebras começam a cair. Me é impossível viajar a Honolulu, pois a lepra se faz visível. Logo minha figura ficará deteriorada, suponho. Estando certo de que a doença é real, permaneço tranqüilo e resignado, e até sou mais feliz entre as pessoas aqui. O bom Deus sabe o que é melhor para minha santificação, e nesta convicção digo todos os dias um bom 'Fiat voluntuas tua' [seja feita a tua vontade]. Tenha a bondade de rezar por este seu amigo provado e recomendar-me, assim como aos meus desventurados leprosos, a todos os servidores de Deus."
A Eucaristia, seu Alimento
Pe. Damião era um entusiasta da sagrada Eucaristia. Afinal, a Adoração Eucarística fazia parte do espírito da congregação em que ingressara, e nas viagens pelas regiões entregues a seus cuidados ele lamentava não ter, por vezes, o Santíssimo Sacramento para junto a Ele apresentar suas preces, suas confidências, seus anseios. Em carta de maio de 1886 ao Pe. Alberto Montiton, seu grande amigo que se transferira de Molokai para Thaiti, se lê:
“A terrível doença, cujo começo conheceis, faz progressos espantosos e ameaça impedir-me, talvez logo, de celebrar a Santa Missa e, não tendo outro sacerdote, eu me veria privado da santa Comunhão e do santo Sacramento. Tal privação é a que mais me custará e que tornará insuportável minha situação. Não é a doença e os sofrimentos o que me desencoraja; longe disso. Até aqui me sinto feliz e contente e, se me fosse dada a oportunidade de sair daqui em boa saúde, diria sem titubear: fico com meus leprosos."
Distinguido pelas autoridades
Apesar dos vários meses em que permanecera em uma verdadeira prisão, – pois esteve preso pela sagrada obediência, – pôde o Pe. Damião experimentar algum consolo: foi-lhe permitida a viagem a Honolulu sem cometer desobediência ou incorrer em censuras. Pelo contrário, recebeu a visita do próprio Rei do Havaí, Kalakaua I, de seu primeiro ministro Walter M. Gibson, e do bispo Mons. Bernard Hermann Koeckemann.
Em setembro de 1881 a princesa havaiana Lydia Liliuokalani havia visitado os leprosos em Molokai, e ficou tão comovida com a miserável situação em que se encontravam imersos associada à extrema dedicação do sacerdote missionário que não conseguiu pronunciar o discurso que havia preparado, cujo texto tinha às mãos. Retornando a Honolulu solicitou que o esforçado padre fosse investido como Comandante Cavaleiro da Real Ordem de de Kalakaua, honraria que a ele foi então concedida pelo soberano reinante em reconhecimento aos seus "esforços no alívio dos sofrimentos e na mitigação das dores dos infelizes", sendo humildemente aceita e considerada como uma atenção dada aos seus leprosos. A insígnia era uma medalha com a Cruz da Real Ordem de Kalakaua. Anos depois, em meio aos sofrimentos finais de sua enfermidade, o Pe. Damião exclamou: "O Senhor me condecorou com sua cruz particular: a lepra".
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Pe. Damião já deformado pela lepra (hanseníase), à época uma moléstia terrível e incurável: verdadeira sentença de morte lenta e degradante |
Trabalhando até ser abatido pela doença
Apesar da progressão implacável da doença, padre Damião não esmoreceu: ao contrário, continuou a ministrar os Sacramentos, a visitar os enfermos, a consolar os sofredores e, principalmente, a pregar o Evangelho. Aos 19 de março de 1889, completou 25 anos de ordenação presbiteral, porém no dia 28 do mesmo mês tombou, afinal, qual valoroso guerreiro de Cristo que sempre fora, prostrado em seu leito para não mais deixá-lo. Seu estado de saúde já era grave por demais.
Confessou-se ao Pe. Wendelin Moellers, que o assistiu, o qual, ele próprio, em seguida confessou-se ao santo homem que ali jazia, e juntos ambos renovaram seus votos religiosos. Este mesmo sacerdote foi encarregado pelo Pe. Damião de dizer ao superior geral que seu "mais doce consolo nesses momentos era morrer membro da Congregação dos Sagrados Corações". Em 15 de abril de 1889, após quase 16 anos entre os leprosos de Molokai e tendo-se tornado um deles, Pe. Damião partiu para a eternidade.
Contava apenas 49 anos, mas a aparência lhe atribuía idade muito superior. Foi sepultado no cemitério da comunidade em que vivia, mas em 1936 os seus restos mortais retornaram à Bélgica, sendo postos em um jazigo na igreja dos Sagrados Corações, em Louvain. Por ocasião da beatificação (feita por João Paulo II em 1995) os ossos de sua mão direita, – que tão bravamente e tanto batizou, ungiu, consagrou, abençoou, – retornaram ao Havaí.
Honrado, distinguido e venerado por católicos e não católicos
A veneração e o respeito pelo Pe. Damião de Molokai não se restringem à Igreja Católica: diversas confissões não católicas viram nele altíssimas qualidades, e ainda em vida ele foi distinguido com a admiração e o apoio (inclusive financeiro) advindos de agremiações não alinhadas com as convicções pelas quais o sacerdote missionário viveu e morreu. Uma detalhada carta aberta foi dirigida pelo escritor Robert Louis Stevenson a um ministro da religião por ele seguida, em firme e fundamentada defesa da memória do recém falecido Pe. Damião, vítima de críticas destrutivas que visavam a Santa Igreja através de seu dedicado servo.
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São Damião de Molokai prestes a morrer para este mundo, aos 49 anos, totalmente debilitado pela doença contraída voluntariamente, por amor |
Declarou à ocasião o grande líder espiritual e político indiano "Mahatma" Ghandi: "Se a assistência aos leprosos é tão cara ao coração dos missionários católicos, deve-se ao fato de que nenhuma obra exige, como ela, um espírito de sacrifício. Ela exige o mais elevado ideal, a mais perfeita abnegação. O mundo político e jornalístico não tem heróis os quais possa glorificar e que sejam comparáveis ao Pe. Damião de Molokai. A Igreja tem, entre os seus, milhares de pessoas que, como ele, sacrificaram sua vida em serviço dos leprosos. Valeria a pena pesquisar em qual fonte um tal heroísmo se alimenta".
Na presença do rei Alberto II da Bélgica e de sua esposa, a rainha Paola Ruffo de Calábria, o Santo Padre Bento XVI canonizou o Pe. Damião de Molokai, "Apóstolo dos Leprosos", aos 11 de outubro de 2009, quando passou a ser chamado São Damião de Molokai. Foi grande a alegria dos irmãos e irmãs da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e da Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento do Altar espalhados pelo mundo.
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1. As citações literais deste artigo foram retiradas das fontes listadas abaixo:
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Notas bibliográficas:
BRION, Édouard. Le Père Damien de Molokai, apôtre des lépreux (versão chilena em espanhol intitulada 'El Camino de Damián', traduzida pelo Pe. Fabián Pérez del Valle SS.CC.), Santiago do Chile, maio de 2000
COURONNE, Bernard; LERENARD, André; MALRIEU, Montgeron. La canonisation du Père Damien de Veuster, website da Congregação dos Sagrados Corações (www.ssccpicpus.com)
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Ref.:
SAINT AMANT, Alejandro Javier. 'São Damião de Molokai, um pastor que deu a vida por suas ovelhas', disp. em:
rautos.org/artigo/9546/Sao-Damiao-de-Molokai--um-pastor-que-deu-a-vida-por-suas-ovelhas.html
Acesso 29/3/016
www.ofielcatolico.com.br