Por Felipe Marques – Frat. Laical São Próspero
Para um católico, os sete dias da semana são importantes, porém, o ápice de toda a semana é o Dia do Senhor, o domingo! É do Domingo (do latim Dominus Dei, o dia Santo do Senhor) e do Augusto Sacrifício do Altar que o fiel católico consegue forças para enfrentar mais uma semana que se segue. Compreendamos que o calendário litúrgico também segue uma linha temporal, que tem seu ponto "gravitacional" justamente na Páscoa, assim como a semana comum do católico tem seu acontecimento mais importante no Domingo!
Ensina com palavras fortes São Luiz Maria Gringnon de Montfort:
“Que grande honra serdes membros de Jesus Cristo! Uma honra, porém, que exige também a nossa participação no carregamento da cruz. Se a cabeça é coroada de espinhos, será que os membros quereriam coroar-se de rosas? Se a cabeça está escarrada e coberta de lama a caminho do Calvário, será que os membros deveriam cobrir-se de perfumes num trono real?”[1]
É inviável seguir ao Cristo sem carregar a sua cruz, e todo aquele que não a carrega com Cristo não alcançará a Glória! Eis o convite que a Santa Igreja enfatiza para nós na Semana Santa: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Que possamos mergulhar nos Mistérios do sofrimento salvífico de Cristo e não somente contemplá-lo, mas também participarmos deste sofrimento que gera vida e salvação, que gera Ressurreição.
1) Contemplar, com a Santa Missa de Ramos, o início da caminhada de Cristo rumo à consumação da Salvação. Primeiro, O Senhor é adorado e dentro de poucos dias, é crucificado.
2) Meditar as dores de Nossa Senhora.
3) Participar do Ofício das Trevas[4], ou então realizar o Ofício das Trevas por si em caso de impossibilidade de participação na celebração na igreja mais próxima.
4) Meditar a Via Sacra.
5) Ler os Evangelhos de São Mateus, do capítulo 26 até o fim e São João do capítulo 13 em diante, onde é possível encontrar a narrativa da Paixão do Senhor.
a) Missa da Ceia do Senhor e do Lava-pés
Na Quinta-feira Santa, temos na Liturgia a preciosa Instituição da Eucaristia! Deus nos presenteia com a Eucaristia que é Seu próprio Corpo e Sangue, fazendo-Se pequeno nas espécies do pão e do vinho para estar conosco "até o fim do mundo" (Mt 28, 20). Eis a doação total de Deus para o homem; não bastou apenas conquistar nossa Redenção através do seu próprio Sacrifício. Deus quis nos dar mais ainda, e então dá-Se a si mesmo como santíssimo Alimento. Para nós, que agora sofremos em nessa peregrinação terrestre, neste vale de lágrimas, fortalecendo-nos na caminhada e nos tocando com Sua Santa Humanidade.
A Liturgia mostra que nesse dia, quando Cristo se oferece em Sacrifício, os fiéis também devem se oferecer com Cristo. No Ofertório, Cristo se oferece, mas não somente isso, pois, nós também nos oferecemos com Ele. Somos convidados a iniciar o Tríduo Pascal contemplando o Amor de Deus para conosco, amor esse manifestado no próprio Cristo que se entrega sem reservas. Não fomos nós que amamos primeiro, mas sim Deus que veio ao nosso encontro, como ensina São João em sua primeira carta (4, 9-10):
“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados.”
Esse Amor que morre na Cruz por nós, nos une e merece uma resposta de nossa parte. Jesus Cristo merece ser amado por nós! O sacrificar-se de Cristo gera unidade interior em nós e entre nós católicos. Ao contemplarmos O Crucificado, temos a certeza de que somos muito amados e então as batalhas e divisões internas, a luta entre o homem velho e o homem novo ganha uma nova perspectiva, na qual o homem novo pode vencer desde que se espelhe em Jesus e conte com Sua graça divina.
Ao tomarmos conhecimento desse amor que Deus tem por nós, devemos responder amando-O de volta, temendo perder esse amor divino, tremendo ao pensar que podemos perder esse santo tesouro se pecarmos. E por amarmos a Deus, então amaremos nossos irmãos, amaremos o próximo por amor a Deus e colocaremos em prática aquilo que Cristo ensina ao lavar os pés dos discípulos: “13.Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. 14.Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. 15.Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. 16.Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. 17.Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes. ” (João 13, 13 – 17) e um dia, com a graça de Deus e as boas obras, iremos para o Céu, para a felicidade eterna que só é alcançada com Deus.
Eis nesse dia a resposta que a humanidade deu para Deus, pagando o amor recebido com uma Cruz! Um dia de reflexão, um dia sem Eucaristia (sem Santa Missa), porque nos quer fazer relembrar o quanto somos ingratos (não eucarísticos). O fracasso do homem diante de Deus que Se doa inteiramente por nós.
Durante a Liturgia, temos a adoração à Santa Cruz, o madeiro onde O Cordeiro Santo, Jesus Cristo, foi imolado por causa dos nossos pecados. Onde O Senhor derramou Seu Santo Sangue e deu Seu último suspiro. Os olhos do fiel católico voltam-se para a dor causada em Cristo, que mesmo sem merecer carregou o fardo que pertence a nós pecadores.
Tradicionalmente durante a adoração, cantam-se os Impropérios, ou repreensões. Essas reprimendas são feitas pelo próprio Cristo que nos exorta devido à nossa falta de amor, eis algumas dessas repreensões para que possamos refletir as nossas misérias:
Povo meu, que te fiz eu?
Que Deus tenha misericórdia de nós, pecadores! Na Sexta-feira da paixão somos convidados à fazer um exame de consciência e lembrarmos em nossa vida do quanto Deus foi bom conosco em tantos momentos e o quanto Deus nos livrou de satanás e diante de tudo isso, como estamos respondendo a este amor de Deus para conosco.
c) Sábado de Aleluia ou Sábado Santo
Eis o dia do anúncio da Ressurreição, eis o dia da esperança. No Sábado Santo, durante a Liturgia, temos um canto em especial que é entoado diante do Círio pascal, esta vela representa o sacrifício de Cristo, portanto, o hino é o agradecimento pelo sacrífico que não é somente uma 'morte', mas um sacrifício vivificante, pois produz a vida.
Esse canto é o Exsultet ou Precônio Pascal e é um dos mais belos cantos litúrgicos já compostos! O agradecimento pelo sacrífico de Cristo é maravilhoso e extenso, e começa com um convite a oração, para que todo o Cosmos louve e glorifique a Deus pelos dons recebidos e pelo Sacrifício de amor:
Exulte de alegria a multidão dos Anjos,
O hino de louvor continua recordando as glórias de Deus e nossa ação de graças está baseada em recordar o passado e todas as graças que Deus tem feito por nós! Esse hino não é somente um anúncio de algo vindouro, mas também é atual porque as celebrações litúrgicas atualizam não só o sacrifício de Cristo, mas também sua Ressurreição. A liturgia é viva e atual!
Vale também lembrarmos o nosso papel diante de Deus, lembrando que éramos escravos do Pecado e o Rei enviou seu próprio Filho para nos salvar! Os belíssimos significados do hino podem ser melhor compreendidos nas explicações do Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr.:
Eis o que é a Páscoa: a leitura, a narração e a proclamação das maravilhas de Deus na história de cada um, para que assim possa enxergar o Dom invisível de Deus no nosso hoje, no hoje da Sua Santa Igreja e no hoje das nossas próprias vidas. Assim, a Páscoa é o memorial da caminhada de Cristo rumo ao Céu, e também um memorial da caminhada de cada cristão que peregrina sobre a Terra lutando para chegar ao Paraíso.
Nunca nos esqueçamos da meta, que é alcançar a salvação e ressuscitar com Cristo para a nova vida, para a vida eterna! Que um dia possamos dizer com São Paulo: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (2Tm 4, 6 – 8).
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Notas e referências:
[1] Carta aos amigos da Cruz. São Luis de Montfort. Cleófas, 2007, p. 45
www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s1cap2_1135-1209_po.html
[2] O Ofício das Trevas, disponível em: http://www.arautos.org/noticias/35484/O-oficio-de-trevas.html
Acesso 27/3/2024
[3] Para aprofundamento: 'Tríduo Pascal', disponível em: https://padrepauloricardo.org/cursos/triduo-pascal
Uma das coisas que mais chama a atenção para mim quando relembro a Paixão de Cristo é Judas e sua traição. Ele traiu Jesus por 30 moedas de prata que, ao final, viu que de nada serviam. Quantas vezes não somos como Judas a trair Jesus por bem menos que isso? Quantas vezes preferimos as moedas de prata deste mundo – limitadas, passageiras, temporais – do que ao eterno e constante bem que Cristo nos oferece?
ResponderExcluirJudas e Pedro traíram Cristo, a diferença entre eles, como São Josemaria Escrivá certa vez relembrou, é que Judas não acreditou na misericórdia de Deus, mas Pedro, sim. Judas se encheu de ódio de si mesmo por ter entregue o Filho de Deus. Pedro se encheu de arrependimento e sentiu-se amado ao lembrar de tudo o que aprendeu com Jesus. O ódio escraviza. O amor liberta.
Que cada vez que nos lembrarmos da Paixão do Senhor, possamos olhar cada chaga e, sentindo a misericórdia de Deus, dizermos: “Senhor, tu fizestes tanto por mim, o que posso fazer por ti?”
Amém Roger bela.reflexão
ResponderExcluirQue bela reflexão do tempo pascal! E que belo comentário do Roger. Glória à Deus por esse tão grande e valioso apostolado.
ResponderExcluirDeus vos abençoe.
Peçamos ao nosso bom Deus que nos santifique e nos purifique.
ResponderExcluirArtigo de grande valor. Parabéns aos autores
ResponderExcluirRica
Todo ano ele volta, mas sempre atual. Parabéns!
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