AS VIDAS DOS SANTOS estão repletas de curas extraordinárias – no santo Evangelho segundo São João, Nosso Senhor profetizou: "Em verdade vos digo que aquele que crê em Mim fará também as obras que eu faço, e ainda maiores do que estas, porque eu vou para o Pai; e tudo quanto pedirdes em meu Nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho" (Jo 14,12-13).
Abaixo, disponibilizamos duas curas milagrosas bastante representativas das inúmeras dádivas especiais que o Bom Deus nos têm concedido, dentre as inúmeras que ocorreram nas vidas dos santos ao longo dos séculos. São resumidas descrições de dois milagres de cura ocorridos nos tempos modernos; o primeiro foi especialmente bem documentado por peritos médicos. Por meio deles, Nosso Senhor parece nos dizer uma vez mais: "Filhinhos, tende bom ânimo: Eu venci o mundo!" (conf. Jo 16,33).
A cura miraculosa de Giovanni Savino
Giovanni Savino, um trabalhador da construção civil e membro da Ordem Terceira de São Francisco, foi um filho espiritual devoto do santo Padre Pio. Em fevereiro de 1949, aos seus 35 anos de idade, trabalhava na construção de um anexo do convento onde seu tão amado Padre Pio viveu. Os trabalhadores procediam o nivelamento do solo e preparavam-se para explodir uma enorme rocha que impedia a construção. Era costume de Savino assistir à santa Missa celebrada pelo Padre Pio todas as manhãs, e em seguida ir até a Sacristia pedir a sua bênção. Aos 12 de fevereiro de 1949, Giovanni se assustou quando, sem qualquer explicação, o padre Pio, tendo-o abençoado, abraçou-o e disse: "Coragem, Giovanni, estou rezando ao Senhor para que você não seja morto".
"Padre, o que vai acontecer comigo?", perguntou Savino, assustado, mas o santo sacerdote permaneceu em silêncio. Não era concedido a Savino saber o que lhe aguardava; isto certamente interferiria na experiência que viveria e tiraria o sentido da provação que precisaria enfrentar. No dia seguinte, Padre Pio disse a mesma coisa, sem qualquer comentário adicional, como também novamente fez no terceiro dia. Quando ele repetiu essas observações perturbadoras pela quarta vez, aos 15 de fevereiro, Savino murmurou para um dos frades: "Estou com medo de que algo de errado vai acontecer hoje", e mais tarde disse a alguns colegas: "Não vamos trabalhar hoje", e ainda comentou com eles sobre as advertências de Padre Pio. Mas o grupo de trabalhadores não o ouviu e decidiu prosseguir, implacável, com a explosão da rocha no jardim.
Às 14 horas daquele dia, Savino e outro trabalhador instalaram uma carga de dinamite debaixo da grande pedra. Savino acendeu o pavio, que não detonou a dinamite. Depois de alguns minutos, ele precisou verificar a carga. Assim que se inclinou sobre o dispositivo, a dinamite explodiu em seu rosto...
Dr. Sanguinetti, juntamente com os padres Raffaele e Dominic, estavam ao lado do homem ferido em poucos minutos. Eles carregavam Savino para o carro de Sanguinetti, e o médico o levou ao Ospedali Riuniti, Hospital de Foggia, onde foi internado para uma cirurgia de urgência. Segundo o laudo, "numerosos corpos estranhos" foram retirados da córnea do olho esquerdo de Savino. O olho direito, entretanto, fora completamente destruído. Além disso, seu rosto estava severamente ferido.
Sanguinetti voltou a San Giovanni, onde disse a Rosa, esposa de Savino (que estava grávida): "Os olhos do seu marido foram destruídos", e advertiu-a que não tentasse visitá-lo naquele primeiro momento. Em seguida foi até o Padre Pio e disse-lhe que Savino estava cego: "Ele perdeu a visão", disse.
"Você não sabe que isto ainda não é certo?", respondeu Padre Pio. "Bem, se me disser que você e Nossa Senhora das Graças irão ajudá-lo, tudo é possível; mas, a partir de agora, Giovanni perdeu a visão", respondeu Sanguinetti, desanimado. "Não é certo ainda ", repetiu o santo padre Pio.
Tudo isso ocorreu três dias antes de Savino finalmente recuperar a consciência, despertando com toda a sua cabeça e rosto enfaixados. Foi-lhe dito que poderia ser possível salvar parcialmente o olho esquerdo, mas que o olho direito fora "completamente perdido".
Enquanto isso, Padre Pio estava pedindo a todos os que conhecia que rezassem por Giovanni por três dias. Ele expôs o Santíssimo Sacramento em nome do amigo, agora cego. E disse em oração: "Meu Senhor, eu vos ofereço um dos meus olhos por Giovanni, porque ele é pai de família!"...
Entre 12h30 e 13h do dia 25 de fevereiro, Giovanni Savino estava acordado, rezando o Rosário, quando, segundo o seu depoimento, sentiu o "aroma do Paraíso". Sentiu então três tapas em sua testa e entendeu que era Padre Pio perto dele. Sentiu ainda o aperto causado por alguém que se reclinava contra a cama. "Dá-me a minha visão, padre Pio, ou me deixe morrer", disse, desesperado: "Eu não posso viver assim"...
Mais tarde, naquela manhã, o oftalmologista veio examinar o paciente. Quando o médico retirou as bandagens, Savino exclamou imediatamente: "Eu posso vê-lo!". O médico, sem se abalar, respondeu: "Vire-se, para que possa me ver melhor com seu olho esquerdo"; mas Savino retrucou: "Não, eu o vejo com o meu olho direito. Eu não vejo nada com meu olho esquerdo". O médico insistiu que ele estava vendo com o olho esquerdo, pois a vista direita fora totalmente destruída.
Depois de uma análise mais aprofundada, porém, ficou claro que Savino falara a verdade. Ele estava cego do olho menos afetado, do qual os estilhaços haviam sido removidos, e que segundo a medicina poderia ser ao menos parcialmente recuperado, mas estava enxergando perfeitamente a partir do olho que tinha sido completamente destruído, tornando-se, segundo consta, uma espécie de "geleia sangrenta" dentro da órbita ocular. Não havia, cientificamente falando, a menor possibilidade de tal coisa acontecer. Atônito, o oftalmologista, que até aquele momento tinha sido ateu, exclamou: "Agora eu também acredito, porque isso aconteceu bem diante de mim!"...
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Giovanni e seu filho Francesco, que veio a tornar-se capuchinho, a mesma ordem religiosa do Santo Padre Pio ('Francesco' é o primeiro nome de Padre Pio) |
Giovanni, que ainda estava em tratamento para as lesões extensas do seu rosto, recebeu alta hospitalar no início de junho. Quando agradeceu às orações de Padre Pio, este respondeu: "Se você soubesse o que isso me custou!"...
Então, o que exatamente lhe custou? Uma pista pode vir das recordações de Pietro Cugino, que relatou que um dia, no jardim, enquanto conversava com seus confrades, Padre Pio exclamou: "Estou cego. Não consigo ver coisa alguma"... Depois de vinte minutos, sua visão voltou. Alguns acreditam que este breve e inexplicável episódio de cegueira poderia ter surgido como resultado da oferta que Padre Pio havia feito em favor de Savino. De qualquer maneira, neste caso específico, Padre Pio não negou a sua intercessão, como fez com outras curas supostas ou acontecimentos sobrenaturais que o cercavam.
Após algum tempo do acidente, Giovanni foi enviado a um especialista em Roma para tratamentos do olho esquerdo, que se mantinha razoavelmente íntegro, apesar da previsão de Padre Pio de que estas visitas não trariam resultado: "Nós já obtivemos a graça que pedimos. Mesmo se você for a Roma, não vai ficar melhor do que está agora". Na verdade, Giovanni permaneceu sempre cego do olho esquerdo; mas até o dia de sua morte, na primavera de 1974, aos 60 anos de idade, ele podia ver perfeitamente bem com o seu olho direito. Sua esposa recordava: "Quando eu olhava para o seu olho (direito), ele sempre me parecia 'uma bagunça'. No entanto, ele podia ver perfeitamente com esse olho!"...
A restauração da visão de Giovanni Savino está bem documentada pelos peritos médicos, os quais têm atestados impressionantes sobre o caso. Os registros do "Ospedali Riuniti", ao qual Savino foi admitido à cirurgia, dão o diagnóstico de que um olho teve "inúmeros corpos estranhos alojados na córnea" (o esquerdo), e que a visão do outro olho fora total e irremediavelmente "apagada". Os registros não mencionam a resolução dos ferimentos. A palavra-chave neste caso é "emoptalmo", que significa completamente seccionado ou, literalmente, "completamente arrancado". Mas, então, como foi que Savino enxergou com este olho na realidade ausente, um olho que fora completamente "apagado"?
Todos os relatórios estão de acordo que o olho direito fora destruído e que estava, de fato, quase que completamente ausente da órbita ocular. Em sua carta circular de julho de 1949, o padre Dominic cita Padre Raffaele, que examinou Savino imediatamente após a explosão, dizendo: ''O olho direito desapareceu completamente. A órbita está simplesmente vazia". O próprio Savino disse que fora informado pelos médicos de que seu olho direito havia "desaparecido completamente". A esposa de Giovanni, Rosa, declarou que apenas "uma pequena quantidade de carne sangrenta" permanecia no lugar do olho quando Savino foi levado para o hospital. Ela sempre negou que seu marido tivesse recebido um "novo" olho, de vidro ou qualquer coisa do tipo. "Foi sempre com seus próprios olhos que ele viu. Seu olho direito era 'uma bagunça', mas ele podia ver com ele", insistia.
De tudo, só se pode concluir que, ao invés de ver com um olho novo ou regenerado, Giovanni Savino enxergou perfeitamente – sem os olhos! – por 22 anos, até a sua morte.
Ao fim, alguns dos nossos leitores poderão se fazer perguntas como estas: por que Deus curaria apenas um dos olhos deste homem? Neste caso, o milagre está ter trocado qual dos olhos seria capaz de enxergar; afinal, ele poderia ter voltado a ver com o olho esquerdo, que não foi tão gravemente afetado, mas por intervenção divina foi capaz de enxergar justamente com o olho totalmente destruído. Qual o sentido disto?.. Bem, desnecessário dizer que não somos capazes de alcançar as alturas dos Desígnios de Deus. Porque as coisas são como são, porque há tanto sofrimento no mundo ou porque precisamos passar por determinadas experiências em nossas vidas, são questões que simplesmente não somos capazes de responder.
Deus espera que confiemos n'Ele, sempre e em toda as ocasiões, independentemente das circunstâncias. No caso de Savino, tudo indica que, por algum motivo que não nos cabe agora saber, ele precisaria viver a cegueira em sua vida. Por intercessão do Padre Pio, isso não aconteceu e ele pode viver a sua vida inteira enxergando, mas enxergando perfeitamente justamente com um olho que, de fato, nem existia mais. Um tremendo milagre. Como atestado ou advertência divina, foi o olho íntegro que permaneceu cego, como que um sinal para que ele e nós todos jamais nos esquecêssemos de tão grande Intervenção divina.
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Altar-mor da igreja Santa Maria delle Grazie, em San Giovanni Rotondo (Itália), onde celebrava o Padre Pio |
Conversão e cura
Um dia, também em 1919, o padre Carlo Naldi, de Florença, chegou à Santa Maria das Graças com um amigo judeu chamado Lello Pegna. Padre Naldi explicou que seu amigo, que havia recentemente se tornado totalmente cego, viera pedir a Padre Pio para interceder junto a Deus por uma cura.
Padre Paolino, testemunha ocular, deixou-nos algumas notas sobre este caso. Não havia dúvida de que Pegna era cego e que era de fé judaica. Alguém tinha até mesmo que ajudá-lo a comer, botando o prato na sua frente, cortando-lhe o pão e a carne, posicionando o copo de vinho em sua mão. Padre Pio acolheu Pegna, mas disse-lhe: "O Senhor não irá conceder-lhe a graça da visão física a menos que primeiro abra as vistas da sua alma. Depois que for batizado, então o Senhor lhe dará a sua visão".
Alguns meses mais tarde, Pegna voltou, desta vez sem os seus óculos escuros. Ele então explicou que tinha, apesar da oposição de sua família, tornado-se cristão e que tinha sido batizado, como foi solicitado por São Pio de Pietrelcina. No começo, estava desanimado, pois a sua cegueira persistia –, talvez uma outra prova de fé –; mas, gradualmente, ao longo de um período de meses, sua visão voltou, e o médico que o havia informado anteriormente que estava irremediavelmente cego, agora fora surpreendido diante dos olhos perfeitamente curados de seu paciente.
Padre Paolino sentiu que era seu dever manter contato com este homem, que lhe informou, quase trinta anos mais tarde, que sua visão continuava perfeita.
Acima vimos duas das muitas curas de um santo da Igreja, e porque são de história relativamente recente, representam muito bem as graças extraordinárias que Deus manifesta na vida dos seus servos dedicados ao longo dos séculos.
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Fontes e bibliografia:
• RUFFIN, Bernard. Padre Pio The True Story, Huntington: Our Sunday Visitor Publishing, 1991.
• Devotions, www.padrepiodevotions.org
• 'Miraculous healings and cures in the lives of the Saints', disp. em:
www.miraclesofthesaints.com/2010/10/miraculous-cures-in-lives-of-saints.html
Acesso: 20/10/016
www.ofielcatolico.com.br