Por Jorge Soley – Archipiélago Ortodoxia
EM 26 DE JULHO último, o mundo viu-se diante da
notícia do martírio do padre francês Jacques Hamel, degolado por jihadistas enquanto celebrava a santa Missa. Poucas horas depois, um jornalista e escritor editorial do Wall Street Journal, de origem iraniana, chamado Sohrab Ahmari, anunciou a sua decisão de se converter à Igreja Católica. Seu testemunho foi um eco importante e foi apresentado como "A conversão de um muçulmano graças ao martírio do padre Hamel".
Agora, Ahmari explica a sua jornada de volta à Casa do Pai, em um artigo publicado no "Catholic Herald", intitulado "Minha jornada de Teerã para Roma" e, embora o impacto do martírio do Padre Hamel tenha-o levado a tornar pública sua conversão, o seu itinerário, como ele mesmo confessa, não tem sido uma conversão irrefletida, mas um tanto longa e complexa.
Ahmari nasceu e passou sua infância no Irã, vivendo num ambiente islâmico opressivo, em que a qualquer momento poderia se confrontar com a moralidade religiosa radical imposta pela polícia. A criança Sohrab concluiu que religião era "pouco mais do que um ritual de hipocrisia pública", e em doze anos de idade decidiu que não havia Deus. Ao mesmo tempo, seus professores tentavam incutir-lhe, nas palavras do próprio, "uma mistura de chauvinismo xiita, antiamericanismo e ódio aos judeus". Alguns anos mais tarde, graças a um tio que havia escapado para os Estados Unidos –, logo depois da revolução islâmica de 1979 –, Ahmari e sua mãe puderam finalmente imigrar e se estabelecer em Utah, um Estado norte-americano de maioria mórmon.
Para esse adolescente iraniano, o "mormonismo foi como um choque: se o islamismo xiita, com a sua rica iconografia e teologia, era nada mais que hipocrisia, o mormonismo, com o consumismo e a ética protestante americana pareciam ainda piores", foi o que percebeu, provavelmente chocado com o imenso abismo que via entre a teoria da confissão religiosa e a prática diária. "Eu tinha ido de uma teocracia para outra", exagera ele.
Já nos seus tempos de universitário, viu-se fascinado por Nietzsche e sua ideia de "superar a ideia de Deus, do bem e do mal, e chegar a uma nova moral (seja lá o qual fosse, porque esse 'detalhe' o filósofo nunca explicou)".
Depois de Nietzsche e a filosofia existencialista, a próxima e inevitável "parada" no itinerário de Ahmari foi o marxismo (versão trotskista), com seus parceiros inseparáveis: "sexo, álcool e drogas". Mas o marxismo nunca foi capaz de responder às questões que tinham a ver com a vida interior de Ahmari, escreve ele. "Ele (o marxismo) não dissipou os meus demônios pessoais e nem me deu uma explicação satisfatória do que hoje chamamos de Estado caído, seja o meu próprio ou os outros. Nem eles e nem a psicanálise lacaniana, ou a Escola de Frankfurt, o pós-estruturalismo ou qualquer das outras filosofias 'da moda' que eu estava conhecendo". Na verdade, nenhuma dessas teorias passou no teste da vida real.
Ahmari foi professor voluntário em uma área muito pobre, próxima da fronteira com o México Texas. Lá, contemplando o que poderia fazer um professor que incutisse a paixão pelo trabalho, disciplina e honestidade em seus alunos, ele começou a perceber o que havia de verdade nas velhas noções de moralidade que tinha desprezado. E percebeu que, sim, "talvez existissem coisas permanentes, afinal... Julgar (quais coisas ou valores seriam estes) implicava algum tipo de padrão universal. E muitas vezes esta regra não surgiu a partir de qualquer coisa externa, mas de uma voz dentro de mim".
Foi então que Ahmari, inexplicavelmente, retomou o caminho para a fé, desta vez na direção certa, de um modo que podemos chamar de histórico-político: "Percebi que 'ideologias que vêem os cidadãos como infinitamente moldáveis aos caprichos do Estado – e a política do Islã moderno se enquadra nestas – foram capazes de criar apenas situações e nações onde houve e há grande sofrimento. Enquanto que o capitalismo, ainda que longe de ser perfeito, incentivou a verdadeira prosperidade humana. Os países capitalistas sempre foram, claramente, mais agradáveis para se viver".
Então Ahmari descobriu o judaísmo – o fundamentos cristão da nossa civilização, com a sua "beleza e ordem, que refletiam uma verdade subjacente" descreve ele.
A visita do Papa Bento XVI aos Estados Unidos, em 2008, marcou mais um passo no longo caminho de Ahmari: "Fiquei profundamente impressionado com as suas palavras e gestos, e eu me lembro de como pensei que aquele era um homem muito santo". Este impacto o levou a adquirir o livro "Jesus de Nazaré", escrito pelo mesmo Papa, e encontrar nele algo que lhe faria descobrir todo um novo Universo: "a ideia de um Deus que se encarna em forma humana". Compreender a Encarnação de Cristo abriu-lhe as portas para as glórias da civilização ocidental e o seu real sentido.
Ahmari tinha chegado à convicção da verdade do cristianismo, mas não estava ainda claro que deveria bater às portas da Igreja Católica. Na verdade, ele frequentava comunidades cristãs "evangélicas"; sua mãe, de fato, integrava já uma destas e se confessava cristã. As razões que o levaram daí à primeira e única Igreja instituída diretamente por Nosso Senhor Jesus Cristo são interessantes e estão resumidas na imutabilidade do dogma, na ortodoxia e na liturgia católica que apresenta o Cristo crucificado e a Virgem Maria:
" A natureza hierárquica da Igreja, tanto repelida pelos meus amigos 'evangélicos', foi um dos fatores que mais me atraiu para ela". Tendo visto a Igreja repelir, ao longo de sua história, milhares de heresias, entendeu que seria menos provável que Roma permitisse que "a ideia cristã original fosse distorcida por alguma nova "moda teológica" do momento.
“E então lá estava a liturgia. Eu ansiava por um culto para dar plena expressão aos Mistérios da fé cristã, e lá estava a Cruz, que tinha que estar lá, mas também o Corpo crucificado de nosso Senhor, com o lado ferido, as mãos sangrentas, as marcas do flagelo e as palmas e pés trespassados. O Sacrifício deve ser renovado, e sua mãe tem que estar lá também, porque ela é nossa ligação com a sua Divindade, com a sua Carne. Em outras palavras, Ele desejava a Missa!”
Em maio 2016, afinal, Ahmari começou os seus estudos da catequese com um padre em Londres. Dois meses depois, como dito no início, tornou pública a sua conversão, movido – como uma espécie de impulso final – pelo martírio do Padre Jacques Hamel. O seu testemunho de conversão nos leva a mostrar que o Senhor tem maneiras surpreendentes, e que nos ajuda a valorizar o dom da fé. De nossa parte, rezemos, como é nossa obrigação, por Ahmari, para que persevere e jamais venha a negar a sua fé recém adquirida, como também pela conversão de todos os povos.
** Artigo indicado pelo colaborador Wagner Marchiori
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Fonte:
Archipiélago Ortodoxia, 'La conversión de un musulmán gracias al martirio del Padre Hamel', disp. em:
http://infocatolica.com/blog/archipielago.php/1610051029-la-conversion-de-un-musulman
Acesso 24/10/016
www.ofielcatolico.com.br
JESUS, DEUS SANTO, DEUS FORTE, DEUS IMORTAL !!! O MARTÍRIO DESTE PADRE SANTO ESTÁ CONVERTENDO MUITAS ALMAS. DEO GRATIAS.
ResponderExcluirURBANO MEDEIROS
MAESTRO EM MINAS GERAIS
Enquanto uns se convertem pela beleza da liturgia, da doutrina, da defesa das heresias, em suma da verdade,outros há que vêem em defesa de um modernismo destruidor, herético e de uma Igreja que pode ser tudo menos a Igreja de Cristo."Não ofendam mais a Nosso Senhor que já está tão ofendido" disse a Mãe Santíssima em Fátima.
ResponderExcluirEnquanto isso aqui no Brasil... Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo é homenageado na Pontifícia Universidade 'Católica' por "movimento sociais", "movimento sindicais" e outros grupos comunistas... detalhe, com um boné do MST para completar.
ResponderExcluirEm uma conversa com um protestante ele justificou o divorcio falando Jesus disse que o adultério é fundamento para o divórcio em matheus, eu da minha forma justifiquei que o casamento é indissolúvel alguém poderia me explicar sobre a visão da igreja católica essa passagem de matheus, henrique sebastião você teria algum post relacionado sobre esse tema, se não tem poderia escrever um quando tiver um tempo.
ResponderExcluirBruno, leia a seguinte matéria:http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/85E75D9E-AEA5-4924-EBA40F7596BB8BFF/mes/Dezembro2015
ExcluirOi Bruno, graça e paz.
ExcluirJá me vi em um questionamento parecido, isso porque alguns fazem enorme confusão entre adultério e prostituíção.
Dou graças a Deus pelo trabalho desse Apostolado, pois algumas semanas antes tinha lido o artigo do link a seguir: http://www.ofielcatolico.com.br/2005/08/nulidade-matrimonial-quando-um.html
E assim pude dar as razões de minha esperança com consciência e mansidão. Cf 1Pedro 3,15-16. Espero que seja útil também a você.
Louvado seja NSJC!
Gostei do post. Rezemos pela conversão dos pecadores.
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