Por Frei Zaqueu (freizaqueu@gmail.com)
Sete dias. E tivemos a satânica, imoral e ilegal legalização do matricídio/parricídio para proles de até três meses de idade, intrauterina. Pelo Supremo Tribunal Federal. Pelo que conclamo a que unamos a Festa ao Luto pelos milhões mais que morrerão agora “legalizados” e com nosso cofinanciamento, mesmo a contragosto. O que significa, sem a mais pequena possibilidade de erro, que esperemos o pior. Todo o Brasil! Do Caburaí ao Chuí. Pelo pecado de muitos maus e a omissão de muitos bons, o que dá no mesmo. E dê-se voz a quem de direito:
“Aí onde se aprova o aborto por lei, ou alguma lei anticristã, há mais demônios presentes, e aos milhares, que em qualquer outro ato do maligno. Evidentemente, uma lei que legaliza e normaliza o mal permite muitos milhares de males para a sociedade (grifo nosso).”[3]
Muito justo. EUA, México e outros tantos que o digam, afinal “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelo espaço” (Ef VI, 12).
De outra parte, muitos são os justos e acertados enfoques dados, hoje em dia, pelos grupos e pessoas pró-vida especialmente nos campos médico, jurídico e moral. Quero somar-me a estes, mas por outra via, quase nada vista, apesar de válida, porque não condenada pela Igreja, ainda que nossos bem intencionados, mas mal (in)formados clérigos digam – como já ouvi – que “isso deixou de ser dogma”. Como se algum dia tivesse sido; ou sendo, pudesse deixar de sê-lo. Falamos do Limbo das Crianças! Aqui, de meu livro, o extrato de um capítulo dedicado ao Batismo e o Limbo das Crianças, temas umbilicalmente ligados ao aborto, creiam-me[5]:
“Para um tema de crucial importância na vida de todos nós existe uma teoria ainda não definida como dogma pela Igreja, o que não impede de encontrar em Santo Tomás de Aquino, considerado o doutor por excelência, um argumento sólido e consistente seguido por muitos doutores, santos e teólogos: o Limbo das Crianças.
Aqui esboçaremos muito superficialmente o pensamento do santo doutor, sendo aconselhável seu aprofundamento através da Suma Teológica que elaborou(1) ou através de pesquisa sobre o tema do Limbo em Santo Tomás. Para expô-lo, comecemos com a continuação das palavras de Cristo acima mencionadas: “... o que, porém, não crer, será condenado” (Mc XVI, 16b). Na primeira parte do versículo, como visto, Nosso Senhor deixa claro quais os critérios de entrada em seu Reino. Compreendendo o que seja a mancha do pecado original teremos uma ideia da perfeição e justeza desta sentença: nada de impuro pode entrar no céu, na presença de Deus, que é pureza absoluta. Em contrapartida, ao declarar que somente a falta de fé pressupõe a condenação e não a falta do batismo, abre-se outra perspectiva, que podemos resumir da seguinte forma: Se para o inferno basta a falta de fé (que em última instância será a negação de Deus, se não da criança, de seus pais, que sobre ela possuem autoridade), mas para o céu há a necessidade da fé e do batismo, é lógico inferir que deva existir outro lugar para os que, apesar de não ter o batismo não tiveram tempo ou condições de pecar, negar a Deus. Que não tiveram as duas condições necessárias para obter o paraíso, mas também não passaram pela condição necessária à condenação eterna. Lugar semelhante existiu para receber os que morriam na graça de Deus, mas que ainda não podiam entrar no céu antes que Cristo nascesse, morresse, ressuscitasse e lhes abrisse as portas, pois ainda não tinham sido batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”: era o Limbo dos Justos, o “Seio de Abraão” narrado nas Escrituras(2).
Sabemos todos que o fato de algo não ser mencionado na Bíblia de forma explícita não significa que não possa existir ou ser verdadeiro(3). No caso do Limbo das Crianças, apesar de não ser explicitamente declarado também não foi explícita ou implicitamente negado (da mesma forma que o batismo para os pequenos). Não será por isso difícil entender sua lógica, pois a doutrina defendida por S. Tomás e vários teólogos, além de razoável, se bem analisada não possui contradição alguma com a Revelação. Para entendê-la precisamos antes saber como seria este lugar.
O Doutor Angélico(4) o explica como possuindo basicamente duas características: as crianças que para lá se dirigem, primeiro em espírito e após o juízo final também em corpo, jamais verão a Deus “face a face”, porém jamais terão sofrimento ou dor. O que a princípio parece contraditório e intricado, de fato não o é. É que estas alminhas, que por negligência dos pais ou outro motivo não receberam a “vacina”, ainda que não tenham culpa (pecados atuais) não ficarão imunes à doença do pecado original, que já nasce com elas, permanecendo suas almas manchadas (impuras, maculadas) ao morrer. Como no céu nada de impuro pode entrar, por uma questão de justiça não entrarão, mas também por justiça não irão ao Inferno pois não cometeram pecados voluntários, não negaram a Deus ou blasfemaram seu santo nome. Daí ser destinado a estes pequeninos um lugar sem sofrimento ou dor, apesar de não ser o paraíso. Qual o sentido de justiça de tais disposições? Justamente em não conhecer o Céu.
Sigamos com a explicação tomista.
Só se deseja o que se conhece. Se desconhecemos a existência de algo não sofremos sua falta... Com o Limbo ocorre algo semelhante. Segundo S. Tomás, por misericórdia e justiça Deus não permite que estes pequenos tomem conhecimento da existência do céu, para que não o desejem e assim sofram eternamente sua não participação. Acontece que devido a este lugar ser isento de sofrimentos ou dores, o que podemos deduzir se tratar de um local agradável e feliz, para elas ali será o paraíso, o melhor lugar do mundo, não havendo assim injustiça por parte de Deus. O fato de não ser citado nos relatos referentes ao juízo final se justificaria em que as almas do Limbo também não participariam dele, dado que seremos julgados pelos nossos atos, o que pressupõe inteligência e vontade suficientes para pecar. Sua ressurreição, por isso, se daria à parte (para a ressurreição não há exceção, pois todos haveremos de ressuscitar(5), sem um juízo, pois nenhum pecado atual haverá nelas para ser julgado.
Por fim, entender atualmente a doutrina do Limbo das Crianças por este prisma também nos dá condições de melhor entender a “cultura da morte” impregnada nas sociedades cada vez mais paganizadas, que vem promovendo um número crescente de abortos pelo mundo, passando por cima das leis natural e divina ao legalizar o assassinato infantil, privando milhões de crianças não só da vida, mas do batismo, porta de entrada para a eterna visão de Deus(6). O problema maior não é a morte, mas as condições em que se morre. Ao demônio não interessa tanto matar, mas fechar as portas do paraíso. Por isso vem inspirando cada vez mais celeremente os homens a criar leis desordenadas e falsas doutrinas que acarretarão, pela falta do batismo, o impedimento de se chegar a Cristo um número significativo de 'meninos'.”
Há teólogos que discordam deste posicionamento de Sto. Tomás, como p.ex., S. Carlos Borromeu, bispo e doutor. Outros que concordam em parte.
1. Cf. Lc XVI, 26
2. Cf. Jo XXI, 25 e XIV, 26
3. Assim chamado por ter tratado do tema da natureza angélica de forma sublime e destacada. É ainda chamado de Aquinate (derivação de Aquino, lugar de onde veio).
4. Cf. Lc XX, 37s; 1Cor XV, 51
5. Cf. Rm VI, 4
6. Cf. Mt X, 28
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do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2016
Notas:
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_30121988_christifideles-laici.html
2. Catecismo da Igreja Católica (C.I.C) 1261.
3. Vide:
http://sensusfidei.com.br/2016/11/30/um-discipulo-do-pe-amorth-fala-amplamente-sobre-exorcismos/#.WEFjNvkrLIV
4. FREI ZAQUEU. Evangélico, graças a Deus!(?) – V.1. Uberaba, 2016. Pg. 28 (nota 25).
5. Ibidem. Pgs 66-73.
Lindo texto que nos mostra o horror do aborto, as leis criadas para o infanticídio de inocentes e a crescente paganizacao da nossa sociedade.
ResponderExcluirOportuna reflexão, Frei. Todos nós, católicos nos sintamos no dever de denunciar essa monstruosidade, agora vista pela nossa Suprema Corte como necessária. Ah! Como falta Deus nos corações dessas pessoas. São desprovidos do Amor de Cristo, e egoístas ao extremo. Por não terem sido abortados, se acham no direito de se colocarem no lugar de Deus, decidindo quem deve ou não viver.
ResponderExcluirEsio Firmino.