TV Globo e apologia das ideologias revolucionárias


JÁ HÁ ALGUMAS décadas a Globo –, a maior rede de televisão comercial aberta do Brasil e uma das maiores do mundo, além de administradora de outros 61 canais pagos[1], integrando um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, com programas assistidos por centenas de milhões de pessoas diariamente no Brasil e no exterior –, adotou como verdadeira missão de vida a promoção das ideologias revolucionárias, usando sem nenhum pudor de suas novelas, telejornais, documentários e especiais de TV para a mais aberta apologia destas ideologias.

Ainda no tempo do regime militar, Dias Gomes transpunha para suas novelas a mentalidade marxista, com a propaganda de ideias anticristãs e anti-família. Através de suas obras, como bom relativista, promoveu o comunismo aproveitando-se, a um só tempo, do liberalismo militar e do liberalismo capitalista de Roberto Marinho. Em sua novela mais popular, "Roque Santeiro", apresentou uma caricatura da Igreja Católica, mostrada como uma farsa, uma instituição interessada somente no dinheiro e promotora da opressão dos pobres, com um padre tradicional retratado como um verdadeiro monstro materialista, e um padre claramente adepto da herética "'teologia' da libertação" como muito justo e bondoso.

Recentemente, todos os canais e programas de jornalismo da Globo engajaram-se numa declarada e intensa –, tão absurda quanto ridícula –, campanha contra a candidatura do republicano Donald Trump (logo, pró-Hilary Clinton) à presidência dos EUA. Um dos momentos mais patéticos da história do canal Globo News "viralizou" na internet, com o vídeo mostrando Monalisa Perrone proferindo calúnias absurdas contra o atual presidente norte-americano e sendo desmentida ao vivo (assista abaixo).



A postura toda indignada da pseudo-jornalista mostra bem a que nível chegou a adesão ideológica que impera nos ambientes globais. A coisa toda acaba por sair de controle, e vai ganhando tanta força nas mentes engajadas que torna-se uma espécie de seita insana: chega um momento em que já não se distingue mais o que é fato do que é imaginação.

O mais espantoso e cruel é que essa grande batalha épica que a rede Globo vem travando é uma batalha contra a vontade, o pensamento, os princípios e os valores sagrados da absoluta maioria da sociedade brasileira. Já se tornou uma espécie de trágica "tradição" o uso escancarado especialmente das novelas –, eternas líderes absolutas da audiência em nosso país –, para a mais rasteira panfletagem do pensamento dito “progressista”.

Agora, o novo folhetim das 21h, intitulado "A Força do Querer", toma como principal bandeira a promoção da ideologia de gênero. Escrita por Glória Perez (foto), que se orgulha muito de ser considerada uma autora "polêmica", estreou em abril de 2017, registrando, como sempre, bons índices de audiência. Uma personagem central é usada para, nas palavras dos apoiadores, "promover o debate" sobre gênero no Brasil. A atriz (estreante em novelas) Carol Duarte interpreta "Ivana", que no começo da novela foi apresentada como uma pobre e infeliz menina "oprimida" pela mãe, Joyce (Maria Fernanda Cândido). A razão da infelicidade dessa pobre criança é o fato de sua mãe insistir que ela se vista com roupas de grife, use jóias e sapatos femininos. Causa-lhe profundo sofrimento que sua mãe a veja como uma princesinha e a cubra de mimos... Na fase adulta, mostrada a partir de uma passagem de tempo de 15 anos, Ivana passa a crer que é, na realidade, um homem nascido num corpo de mulher. Mas isso não é tudo: esse homem nascido em corpo de mulher, além de tudo, é gay(!). Imagino o que deve ser o interior da mente desta autora...

“Ela tem dificuldade nessa ligação do corpo com a cabeça”, disse Carol Duarte, explicando o perfil da personagem. Gloria Perez declarou que sua ideia é “criar uma empatia entre o público e os transgêneros” e “permitir que essas pessoas sejam olhadas com compreensão”, tornando as questões de gênero mais aceitas pela sociedade[2].

“Não se deve ampliar a voz dos imbecis”, disse uma vez a mesma Gloria Perez a respeito dos cristãos, na época de uma outra polêmica comprada com comunidades protestantes em razão de sua outra novela intitulada "Salve Jorge"[3].

“Novela no nosso país é algo que faz parte do nosso dia a dia. Então, à medida em que o folhetim se propõe a abordar uma questão, tenta abrir perguntas, e não fornecer respostas. Assim, a discussão se potencializa. Se a novela conseguir promover o debate, a missão está cumprida”[4], endossou Maria Fernanda Cândido e, sim, a bela atriz global está coberta de razão nesta sua simples análise. É assim que a Globo sempre fez e continua fazendo, com excelentes resultados. Por enquanto, a maior parte da nossa sociedade segue escandalizada, embora eu não tenha visto nenhuma reação forte, como deveria haver, contra essa propaganda descarada de uma ideologia que não queremos. Entre os mais jovens, entretanto, naturalmente mais suscetíveis às influências externas e propensos a ter o seu pensamento (de)formado pela mídia e o meio que os cerca, é cada vez mais comum encontrar quem defenda a ideologia de gênero como coisa boa e/ou que deveríamos simplesmente aceitar.

No Brasil, já há vários projetos de lei contendo a palavra gênero, usada de modo malicioso, esperando apenas a votação do Poder Legislativo para entrar no sistema normativo nacional e servir de instrumento a agentes comprometidos com a agenda marxista revolucionária (saiba quais são). O projeto de reforma do Código Penal (PLS 236/2012), por exemplo, adiciona como “agravante do crime", em seu art. 75, o “preconceito de (...) orientação sexual e identidade de gênero"; o Plano Nacional de Educação (PLC 103/2012), já aprovado na Câmara, estabelece como uma de suas diretrizes a “promoção da igualdade (...) de gênero e de orientação sexual"; do mesmo modo, outros projetos, visando alegadamente proteger a mulher da violência sexual, falam de adicionar a agenda de gênero aos “conteúdos curriculares da educação básica".

É preciso dizer claramente que, em uma sociedade democrática, cuja soberania é teoricamente exercida pelo povo, a destruição da família tradicional é, tragicamente, uma possibilidade. No entanto, à luz da doutrina da Igreja, que recorda que a complementaridade afetivo-sexual do homem e da mulher é uma questão de direito natural, é impossível atentar contra a instituição do Matrimônio, fixada pelo próprio Deus desde o início dos tempos, sem que se destrua a sociedade.

Não bastasse a audácia da proposta do estabelecimento do gênero, que declara guerra à própria natureza humana, eles tentam promover sua agenda à revelia da população mundial, enganada por uma “espiral do silêncio" midiática e ludibriada por um discurso travestido de “diálogo democrático". Os ideólogos de gênero querem destruir a família, mas fazem-no aos poucos, ministrando o veneno em pequenas doses, quase secretamente, sem que o povo, soberano, tenha consciência do que está acontecendo. Um recurso no qual a rede Globo sempre foi mestra.

O mesmo que fez o Gender the Establishment, e fez bem feito, há muito tempo. Para entender como esta coalizão maligna trabalha, é preciso recorrer às obras e textos que produz, por exemplo, na ONU. A Conferência de Pequim já traz, em seus documentos oficiais, a palavra "gênero". É o resultado de um trabalho meticulosamente articulado, algo que se pode entender pela leitura do livro “The Gender Agenda", resultado da diligente pesquisa de Dale O'Leary, traduzido em espanhol ('La Agenda de Género, redefiniendo la igualdad') e disponibilizado para leitura e download gratuito, ao final deste artigo, na íntegra.

Friedrich Engels, Margaret Sanger, Sulamita Firestone e Judith Butler e, agora, Gloria Perez, são nomes de apenas alguns personagens que, agindo nos bastidores, contribuíram – ou têm contribuído – enormemente para a causa do gênero. A este trabalho demoníaco é preciso opor a resistência dos filhos da Luz. Como lembra bem o padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr., para eles é um trabalho muito mais penoso legitimar suas ideias, já que, sendo fruto apenas da produção ideológica, precisam ser sustentadas por um novo vocabulário e um novo imaginário social. Com os cristãos, ao contrário, está a Verdade, com sua força própria e fora de cujo conhecimento nenhum homem pode ser genuinamente livre.

Para encerrar com chave de ouro esta reflexão, publicamos uma vez mais o brilhante e revelador documentário norueguês (2010) que desmontou de uma vez a polêmica e absurda "teoria do gênero", tão querida pelo movimento revolucionário. Por favor, leitor, não deixe de assistir a este documentário que mostra a luta de uma ideologia fabricada contra a mais pura e evidente realidade, já que as pesquisas puramente empíricas mostram como a suposta "igualdade de gênero" é um mito que não passa por absolutamente nenhum crivo científico.



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1.
Tele.Síntese, disp. em:
http://www.telesintese.com.br/globo-tem-30-dos-canais-da-tv-paga/
Acesso 31/8/017


2. UOL notícias da TV, 'Para salvar vidas, Globo põe travesti e transgênero no horário nobre', disp. em:
http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/novelas/para-salvar-vidas-globo-poe-travesti-e-transgenero-no-horario-nobre--14628?cpid=txt

Acesso 31/8/017

3. I.Bahia notícias, "'Não se deve ampliar a voz dos imbecis', diz Gloria Perez sobre boicote de evangélicos a 'Salve Jorge'", disp. em:
http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/nao-se-deve-ampliar-a-voz-dos-imbecis-diz-gloria-perez-sobre-boicote-de-evangelicos-a-salve-jorge/?cHash=d8ceaaa785fa0f4f86221147b21db241

Acesso 31/8/017

4. UOL notícias da TV, 'Para salvar vidas, Globo põe travesti e transgênero no horário nobre', disp. em:
http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/novelas/para-salvar-vidas-globo-poe-travesti-e-transgenero-no-horario-nobre--14628?cpid=txt

Acesso 31/8/017

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Fontes e ref.:

• https://padrepauloricardo.org/aulas/a-infiltracao-do-marxismo-cultural-no-brasil


• Sexo ou gênero? https://padrepauloricardo.org/episodios/sexo-ou-genero

** Baixar o livro 'Agenda de género - redefiniendo la igualdad', de Daily O'Leary
www.ofielcatolico.com.br

Celebração da Palavra e Eucaristia têm igual importância?

São Pio de Pietrelcina celebra a Santa Missa

RECEBEMOS DE UMA LEITORA anônima a pergunta que reproduzimos logo abaixo, seguida de nossa resposta. Rogamos ao Bom Deus que seja útil a este e a nossos outros leitores.

Bom Tarde! Gostaria de tirar uma dúvida, sobre a Santa Missa e a Celebração da Palavra. Eu aprendi que a Celebração da Palavra não tem o mesmo valor que a Santa Missa, e a Mesa Eucarística tem um valor mais significativo que a Mesa da Palavra. Mas conversando com um seminarista, ele disse que a Missa, a Celebração da Palavra, a Mesa Eucarística e a Mesa da Palavra tem o mesmo valor. Ele citou uns documentos da CNBB e uns documentos do Concílio Vaticano II. Eu fiquei confusa... Alguém pode me explicar ou indicar algum artigo, para que eu possa entender melhor.

O QUE É A SANTA MISSA? Qual é –,  se é que existe –, a diferença fundamental entre a Celebração da Palavra e a Celebração da própria Missa?

Duas questões. Resumidamente, poderíamos responder à primeira pergunta acertadamente dizendo que a Santa Missa é, em suma e por excelência, “a Renovação incruenta do Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz do Calvário”. Interessante observar o sentido da palavra “Renovação”, neste contexto: note-se que não é sinônimo de "repetição". Não se trata de realizar um outro sacrifício, mas sim renovar o mesmo e único Sacrifício salvador, e que foi oferecido pelo Cristo há quase 2000 anos. Ou seja, Nosso Salvador não morre uma outra vez na Cruz, e sim torna-se Presente neste grande Mistério, oferecido pelo sacerdote que age “in persona Christi”. Esta expressão em latim quer dizer que é sempre Cristo Quem age, sendo o homem apenas um instrumento. Da mesma maneira como em todos os Sacramentos da Igreja, quem consagra é Cristo, por meio do sacerdote. O Sujeito da ação sagrada é Cristo, a divina Pessoa que reúne em Si o Céu e a Terra.

Outra palavra importante nesta expressão é: “incruenta”. Há dois milênios, este mesmo Sacrifício redentor foi oferecido por Jesus Cristo na Cruz de maneira cruenta, isto é, com dor, sofrimento extremo e derramamento de sangue. Hoje, testemunhamos (ó, Maravilha das maravilhas!) este mesmo Sacrifício, porém não vemos dor nem sofrimento, nem derramamento de sangue. Pois bem, temos aqui a definição do que é a própria essência da Santa Missa.

Por outro lado, completam a estrutura fundamental da Santa Missa duas grandes partes que a integram e são necessárias para compô-la: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. 

A Liturgia da Palavra é composta, nos domingos e Solenidades, por duas Leituras e um Salmo Responsorial, a Aclamação ao Evangelho, a Proclamação do Evangelho, o Credo e as Preces.

A Liturgia Eucarística é composta, basicamente, pela Apresentação das Oferendas, o Prefácio, a Oração Eucarística, o Sanctus, a Narrativa da Instituição, o Rito da Comunhão (oração do Pai-Nosso, o Embolismo1, a Oração pela Paz, a invocação do Cordeiro de Deus, a Apresentação, a própria Comunhão Eucarística, a Ação de Graças e a Oração de Pós-Comunhão).

Não há nenhuma dúvida de que as duas partes descritas acima são importantes, pois, para que haja a Santa Missa propriamente dita, são necessárias essas duas grandes partes. Serão, entretanto, igualmente importantes?

Os termos corretos já denotam semelhança e, ao mesmo tempo, evidenciam uma grande diferença entre uma coisa e outra: “Celebração da Palavra” e “Comunhão Eucarística”. Na Santa Missa, a Celebração da Palavra serve como preparação para o grande auge, fundamento e sentido não só de toda aquela Celebração, mas também de toda a vida da Igreja e de cada cristão: a Comunhão com Cristo, que se dá na sua forma mais íntima e sagrada quando nos alimentamos do Pão do Céu, que é o próprio Cristo Jesus.

Em outras palavras, na Santa Missa há a Oferta de todas as ofertas (a vida de cada um de nós deve ser uma oferta agradável a Deus), há uma Vítima que se entrega, há o Sacrifício que nos salva do Pecado, da Morte e do Inferno onde Deus é ausente. No momento da Consagração, pão e vinho se transubstanciam, respectivamente, no Corpo e Sangue de Deus-Conosco. Diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC):

[A Eucaristia é a] Fonte e o Ápice de toda a vida cristã. Na Eucaristia, atingem o seu clímax a Ação santificante de Deus para conosco e o nosso culto para com Ele. Nela, o Senhor encerra todo o bem espiritual da Igreja: o mesmo Cristo, nossa Páscoa. A Comunhão da Vida Divina e a unidade do Povo de Deus são expressas e realizadas pela Eucaristia. Mediante a Celebração Eucarística, já nos unimos à liturgia do Céu e antecipamos a vida eterna.

Por mais que tentemos, do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor, que por Maravilha divina, inefável e incompreensível, podemos tocar e que nos alimenta para a vida eterna, nunca diremos o bastante. Não há milagre que se equipare a este, e no entanto nos deparamos com ele em cada celebração da Santa Missa.

Diz ainda a instrução do Catecismo que a Eucaristia é a excelência e a perfeição de todos Sacramentos; pois apesar das maravilhas que os outros Sacramentos produzem na alma, todos eles são instrumentos usados por Deus para nos dar a sua Graça. Na Sagrada Eucaristia, entretanto, não temos um instrumento que nos comunica a Graça Divina, e sim o próprio Autor da Graça, Jesus Cristo, real e verdadeiramente Presente, faz-se Alimento para a nossa salvação(!).


* * *

Assim, resumindo toda a questão, a importância da Celebração da Palavra vem justamente daquilo que lhe segue e para o que ela é preparação: a Liturgia Eucarística, que é o centro, o auge, o sentido e o fundamento de toda a Missa. A Eucaristia, mesmo sem a Celebração da Palavra, continuaria sendo para nós o maior de todos os Dons de Deus. A Celebração da Palavra, sem a Eucaristia, perderia a sua razão de ser.

As duas etapas da Missa são, juntas, importantes, exatamente porque juntas a compõem e, neste sentido, não haveria a celebração própria da Missa sem esses dois componentes. Poderíamos, então –, dentro deste sentido restrito e específico –, dizer que são igualmente importantes (para haver a Missa íntegra), Celebração da Palavra e Liturgia Eucarística. Todavia a importância da Mesa Eucarística é infinitamente maior e mais alta, porque é verdadeiramente o sentido, o fim e a realização, não só da Missa como também da nossa fé e de e toda a nossa vida enquanto seres espirituais que somos.

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1. Embolismo é o desenvolvimento da última petição da oração dominical; nele se pede para toda a comunidade dos fiéis a libertação do poder do mal
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Ref.:
PESSOA, João. Qual a diferença entre Missa e Celebração da Palavra?, disp. em:
http://www.comshalom.org/qual-a-diferenca-entre-missa-e-celebracao-da-palavra/
Acesso 27/8/017
www.ofielcatolico.com.br

Padre Rodrigo Maria esclarece polêmica


Em resposta a uma leitora do apostolado Fratres in Unum, após a divulgação recente de certas polêmicas envolvendo o seu nome, Padre Rodrigo Maria esclarece a sua situação canônica, bem como sua posição junto às obras religiosas Arca de Maria e Opus Cordis Mariae. Reproduzimos a publicação desse apostolado nosso irmão, na qual o sacerdote vai apresentando e respondendo às perguntas da leitora parte por parte, da mesma maneira, aliás, que costumamos fazer por aqui, também. Abaixo.


CARÍSSIMA MARIA, NÃO costumo responder a comentários na internet, mas acredito que é oportuno responder às perguntas que você fez a fim de esclarecer também a outras pessoas que possam ter as mesmas dúvidas. Desde já agradeço a oportunidade.


Pergunta: “O Padre Rodrigo pode não ser o superior, mas tudo nessa Fraternidade tem a característica dele.”

R- Fui fundador da Fraternidade Arca de Maria, comunidade à qual pertenceu boa parte daqueles que hoje compõe a OPUS CORDIS MARIAE. Alguns deles, que são hoje dirigentes da nova Fraternidade, estiveram comigo por mais de 10 anos, sendo formados por mim. Portanto, é natural que reflitam a formação que receberam, mas não apenas isso: a OPUS CORDIS MARIAE foi fundada pelos irmãos e irmãs que hoje estão à frente da mesma, com a devida orientação e apoio da Autoridade eclesiástica, a fim de viverem o carisma que me foi inspirado, da maneira como foi inspirado e aprovado pela Igreja. O bispo que orientou toda fundação da OPUS CORDIS MARIAE (Dom Rogelio Livieres) discerniu que o carisma que aqueles irmãos e irmãs haviam abraçado era autêntico e justificava a fundação de uma nova fraternidade com o propósito de vivê-lo, o que realmente foi feito após Dom Livieres consultar Roma (Congregação dos Religiosos) e obter o voto favorável para a dita fundação. Sendo assim, é muito natural que se encontrem neles muitos elementos da formação que eles receberam. São jovens bons que amam a Igreja e querem ser santos. Refletem Maria a quem são consagrados e de quem são Apóstolos.


Pergunta: “Por que ele teve que sair da Arca?”

R- Eu não tive que sair, mas sim fui afastado. O pretexto dado para o meu afastamento foi que minha presença na Fraternidade atrapalhava a Visita Apostólica que estava sendo realizada. Foi determinado pela Congregação dos Religiosos que eu não poderia ter contato com os membros até o fim da visita, a qual terminou em novembro de 2014. Nenhuma outra razão foi alegada para o meu afastamento, embora, de modo oficioso, autoridades e colaboradores das mesmas, disseminaram, de maneira leviana, as mais pérfidas acusações a meu respeito. Mas, para se compreender o que realmente aconteceu é preciso compreender a atual situação da Igreja, que possui hoje em seu quadro dirigente muitos senhores que têm por programa combater e neutralizar todas as pessoas e movimentos que são considerados conservadores e que, de certo modo, representam um “modelo de Igreja” que eles querem ver sepultado. Todos os que não se adequam ao relativismo revolucionário reinante e ousam pregar a imutável doutrina católica estão debaixo de perseguição.

Não possuo nenhum vínculo jurídico com a OPUS CORDIS MARIAE. Ajudei-os enquanto estive no Paraguai, mas saí daí já faz quatro meses e onde vivo não há casas dessa comunidade, assim como não vive aí nenhum de seus religiosos.

Quem quiser saber a história dessa nova Fraternidade deve se dirigir diretamente a eles, pois poderão falar por eles mesmos.


Pergunta: “Porque foi suspenso? Qual foi o engano?”

R.: Como bem disse um bispo amigo: “O nome disso é perseguição”… Fui acusado de desobediência e sofri um ”processo” administrativo por conta dessa acusação. O processo foi feito por um Vigário Geral, que aproveitou-se da ocasião de confusão em Ciudad del Este e quis, como se diz: “jogar para a galera”, lançando-me na fogueira em um momento em que muitos queriam (e querem) a minha cabeça (infelizmente, a Igreja está cheia desse tipo de gente sórdida que se presta a esse tipo de serviço sujo com os olhos em alguma vantagem pessoal ou promoção)… O tal “processo” durou duas horas. O afã em querer prejudicar e de dar satisfação aos perseguidores foi tão grande que fez com que o promotor do “processo”, ancorado no poder que possuía naquele momento, perdesse todo senso de justiça e também do ridículo, de modo que o “processo” foi todo viciado e completamente fora das normas do Direto Canônico. A saber:

A) Fui avisado do “processo” apenas um dia antes de comparecer em juízo;

B) O Vigário Geral que foi o acusador foi também o fiscal e o juiz do mesmo “processo”;

C) O “processo” durou exatamente duas horas;

D) Não foram apresentadas provas conclusivas de NADA;

E) Não me foi dado o direito de constituir defesa;

F) Não me foi dada a oportunidade de falar com o bispo (como manda o Direito Canônico), com quem tive sempre ótimo relacionamento, para esclarecer o que se estava chamando de desobediência, pois todas as coisas das quais fui acusado de fazer em “desobediência” na verdade eu possuía a autorização do bispo para fazê-las…mas… não tinha passado pelo Vigário Geral…;

G) A sentença fulminante que foi dada expressa toda a fúria persecutória daquele que moveu o “processo”: mesmo sendo um “processo” ADMINISTRATIVO, aplicou-se indevidamente, uma das mais duras penas de um processo PENAL: a proibição de celebrar pública ou privadamente, na diocese ou fora dela qualquer sacramento ou sacramental…;

O então Vigário Geral, que fez esse “processo” infame, acusou-me de desobediência por eu ter ido três vezes ao Brasil (sendo duas para completar um tratamento dentário e uma para visitar meu pai que estava gravemente enfermo), por estar fazendo os hangouts na internet (pois segundo ele, era apostolado fora da diocese, uma vez que pessoas de fora da diocese o assistiam!..), por dar assistência ou falar com ex-membros da Arca de Maria, entres outras coisas do mesmo porte…o que é necessário se saber é que: TODAS essas minhas ações foram permitidas pelo meu bispo, o que torna falsa e caluniosa a acusação de desobediência… é evidente que esclareci tudo isso durante as duas horas que durou o processo, mas não foram aceitas minhas alegações…prevalecendo o desejo de destruição a minha pessoa por parte do detrator, o que levou a aplicação da pena sem que se fossem apresentadas provas e sem que houvesse o direito a defesa, passando-se assim por cima de todas as prerrogativas do Direito.

O tal Vigário Geral chegou a tal grau de sordidez que acusou-me de ter inventado uma doença para meu pai a fim de “dar voltas por aí”… foi necessário que eu trouxesse os documentos do hospital e do médico que assistiu meu pai durante o período que ele esteve na U.T.I…

Aconteceu que no próprio decreto de punição me era dado o prazo de 10 dias para recorrer, o que assistido por excelente advogado canônico, foi feito em tempo hábil. Embora houvesse tentado muito, não consegui ter acesso direto ao bispo. Quem conseguiu protocolar minha defesa e entregar cópia da mesma ao bispo que estava saindo de viagem para Roma foi o anterior Vigário Geral, muito próximo do bispo e superior de comunidade daquele que era então o Vigário Geral. Quando o bispo (Dom Rogelio Livieres) se inteirou do que realmente estava acontecendo, procurou corrigir o erro e restabelecer a justiça. Ocorreu, porém, que, em Roma, o bispo foi deposto e quando voltou não tinha mais autoridade para fazê-lo, embora tenha realmente tentado. Entretanto, Dom Livieres, mesmo deposto, escreveu ao bispo que o sucedeu no governo da diocese pedindo ao mesmo que aceitasse o meu recurso e corrigisse aquela situação. De fato, um mês depois, o decreto de suspensão foi revogado por outro decreto que me restituía parcialmente o uso de ordens, sendo que o restante foi sendo dado aos poucos, até que pude ministrar todos os sacramentos, mas permanecendo a restrição de, fora da diocese de Ciudad del Este, fazê-lo apenas privadamente. Aconteceu que, em janeiro de 2015, apresentei o pedido formal para deixar a diocese de Ciudad del Este, o que me foi concedido de forma escrita em abril desde ano. Tendo sido acordado que o bispo que me acolhesse me daria uso pleno de ordens, o que de fato aconteceu, sendo essa minha situação atual. Talvez seja útil dizer que possuo a documentação escrita do que acima está afirmado.


Pergunta: “Por que falar mal do bispo? Por que não obedecer?”


R.: As perguntas acima estão mal formuladas, pois já contêm acusações antes de buscar os devidos esclarecimentos. Em se tratando do bispo de Limeira, o que se viu foi a reação de algumas pessoas que conhecendo de perto a realidade, responderam às falsas, graves e caluniosas acusações que o mesmo fez a meu respeito assim como a toda uma Fraternidade, no caso a OPUS CORDIS MARIAE.

Possuir um cargo na Igreja não é salvo conduto para caluniar e difamar ninguém, antes a nobreza da função impõe a necessidade de uma muito maior vigilância e prudência nas atitudes. Jamais deve ser tida como atitude de humildade o calar-se diante de injustiças gritantes, ainda que vinda do alto, de nossas autoridades que deveriam ser mais coerentes e empenhadas de dar exemplo da caridade e amor ao próximo que tanto apregoam.

O que vossa excelência fez foi verdadeiramente grave e deve, sim, ser corrigido e reparado.

Quanto à obediência, sou eu que agora pergunto: em que o bispo foi desobedecido?… As acusações que o mesmo fez foram totalmente gratuitas, não encontrando nenhum respaldo na realidade. Me informei diretamente com os que foram acusados e eles afirmaram que nenhum irmão jamais celebrou ou tentou celebrar naquela diocese, que não receberam bens, nem mesmo proposta de doação de nenhuma pessoa ou família ali, que não foram a Descalvado-SP e não têm ou tiveram nenhuma vocação dali… de onde o sr. bispo retirou essas informações? Gostaríamos também de saber… e o que é muito mais grave: afirmar que essa Fraternidade não tem comunhão com a Igreja (sic!), quando a mesma nasceu orientada e aprovada por um bispo da Igreja e possui aprovação canônica de seus seus estatutos, modo de vida e mesmo das orações…essa atitude foi realmente muito leviana, pois a afirmação é falsa e portanto caluniosa, especialmente por ser ele um bispo da santa Igreja.

As pessoas e instituições têm o direito ao bom nome, e cabe a quem acusa provar tudo quanto diz, sob a pena de justamente ser classificado como leviano, difamador e caluniador.

E para os pretensos ”humildes” ou “incondicionalmente obedientes” que pensam agradar a Deus apoiando o erro de uma pessoa pelo simples fato de ser uma autoridade, respondo com Pio XII: “A verdade é uma barreira que nem mesmo a ‘caridade’ pode transpor” . Realmente, é preciso muito mais humildade para suportar a perseguição e a execração do que para se submeter ao capricho de algumas autoridades a fim de salvar a própria pele.

Devemos amar as pessoas e não os erros que elas cometem.

Desejo de todo coração que a normalidade se restabeleça e que nossas autoridades compreendam que o respeito e obediência que lhe devemos não implicam em concordar ou apoiar seus erros e mazelas. Não apenas os fiéis, mas também os padres e bispos devem obedecer ao Evangelho e à Santa Igreja.

O perdão cabe a todos os que se arrependem. Que celebremos nossa unidade, na Verdade e Caridade de Cristo.

Pe. Rodrigo Maria, escravo inútil da Santíssima Virgem

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Fonte:
Fratres in Unum, Padre Rodrigo Maria fala, disp. em:
https://fratresinunum.com/2015/08/03/padre-rodrigo-maria-fala/

Acesso 26/8/017
www.ofielcatolico.com.br

Cardeal Sarah: Revolucionários do gênero querem destruir a família cristã


No Brasil e no mundo, as pestes ideológicas têm se espalhado como areia lançada ao vento. Além de já terem destruído muitas vidas com suas ideologias demoníacas, os globalistas e os comunistas têm se esforçado muito e incessantemente por continuar disseminando a morte, principalmente através da destruição da família! Um dos instrumentos atuais de desestabilização do Mundo Ocidental e seus alicerces, é a ideologia de "gênero". 

Vejamos o que o Cardeal Robert Sarah (Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos) nos diz a respeito desse assunto.



O CARDEAL ROBERT Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, advertiu que os novos revolucionários da ideologia do gênero querem destruir a família cristã porque representa "tudo o que eles odeiam". Assim indicou o prelado originário da Guiné na Missa que presidiu no domingo, 13 de agosto, por ocasião dos 700 anos das dioceses francesas de Lucon e Maillezais, segundo informa o "Famille Chrétienne". 

Hoje, mais do que nunca, os ideólogos da revolução querem aniquilar o lugar natural da doação de si, da generosidade alegre e do amor. Quero falar da família! A ideologia do gênero, o desprezo da fertilidade e da fidelidade são os diversos lemas desta revolução. As famílias se converteram nos novos vandeanos a exterminar. (...) Planejem metodicamente o seu desaparecimento, como aconteceu em La Vendée. Esses revolucionários se inquietam ante a generosidade das famílias numerosas. Zombam das famílias cristãs porque elas representam tudo o que eles odeiam

O Cardeal lamentou que atualmente. La Vendée é uma região francesa onde os defensores da Revolução de 1789 massacraram mais de 100 mil católicos que se recusaram a unir-se a eles, e foram assassinados de formas especialmente cruéis, entre os anos 1793 e 1794. O genocídio contra os católicos, que tinham um exército consagrado ao Coração de Jesus, é conhecido como “Guerra de La Vandée”. Os revolucionários não suportavam que a região católica não quisesse se submeter às suas ideias e não queria se somar às guerras que iniciaram contra Inglaterra, Espanha, Holanda e Itália; e que, além disso, tivesse organizado um exército consagrado ao Coração de Jesus, no qual os soldados avançavam rezando o Rosário. 

A crueldade dos revolucionários incluiu afogamentos em massa de mulheres, assassinatos de crianças em fornos de pão, envenenamento da água de povoados inteiros, entre outros horrores sofridos pelos católicos em nome da revolução. Tal a desumanidade, perversidade e desprezo dos revolucionários, que chegavam a usar os cadáveres dos falecidos para obter gordura e pele, que era curtida na cidade de Meudon(!). Os revolucionários reuniram todos os sobreviventes em uma igreja, assassinaram com baioneta cerca de 600 pessoas, e logo depois destruíram o templo. Os escombros do local foram removidos somente em 1863, quando enterraram os cadáveres.


 O corajoso Purpurado denunciou que os revolucionários da ideologia de gênero “estão prontos para lançar na África as novas colonizações infernais para pressionar as famílias e impor a esterilização, o aborto e a contracepção:

África, como La Vendée, resistirá! Em todos os lugares, as famílias cristãs devem ser as alegres pontas de lança de uma revolta contra esta nova ditadura do egoísmo! Agora está no coração de cada família, de cada cristão, de todo homem de boa vontade, que surja uma Vendée interior! A alma dos mártires de La Vendée nos envolve neste lugar. O que eles nos dizem? O que eles nos transmitem? Primeiramente, a coragem. Já é hora, queridos irmãos, de ir contra o ateísmo prático que asfixia as nossas vidas! Rezemos pelas famílias, coloquemos Deus em primeiro lugar. Uma família que reza é uma família que vive! Um cristão que não reza, que não sabe dar um lugar a Deus no silêncio e na adoração, acaba morrendo.

Os mártires vandeanos nos ensinam o sentido da generosidade e do dom gratuito de si mesmo. Somente o amor generoso, o dom desinteressado da vida, pode vencer o ódio contra Deus e contra os homens, que é a origem de toda a revolução. Os vandeanos nos ensinaram a resistir a essas revoluções. Mostraram-nos que diante das colonizações infernais, como aconteceu nos campos de extermínio nazistas, diante dos gulags comunistas, como diante da barbárie islamista, não há mais do que uma resposta: o dom de si mesmo, de toda a vida. Só o amor vence ante os poderes da morte!

O Purpurado africano exortou: “Rezemos para que uma grande e alegre Vendée interior se levante na Igreja e no mundo!”.

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Fonte:
ACI Digital, 4Cardeal Sarah: Revolucionários do gênero querem destruir a família cristã
http://www.acidigital.com/noticias/cardeal-sarah-revolucionarios-do-genero-querem-destruir-a-familia-crista-85762/
www.ofielcatolico.com.br

Sacerdotes que defenderam até o extremo o segredo de confissão


Por Felipe Marques – Fraternidade São Próspero

Para muitos, esta matéria não gerará admiração, antes, gerará estranhamento. Isso se dá não porque o que é descrito a seguir não foi heroico, mas porque as pessoas que vivem no mundo moderno vêem o heroísmo como algo sem sentido. A falta de caráter dos nossos contemporâneos é tamanha que, diante de exemplos de santidade e hombridade, ao invés de admirarem tais feitos e seus feitores, preferem escarnecer ou desprezar aqueles que viveram honradamente. 

Essa honradez nada tem de ver com a busca pela admiração dos sectários mundanos, muito pelo contrário, o que motiva um santo e um mártir não é a fama nem o bom-mocismo, mas o amor de Cristo, pois, como ensina São Paulo: "Caritas Christi urget nos - O amor de Cristo nos impele" (2Cor 5,14). Segue a matéria.

DEPOIS QUE O ARCEBISPO de Melbourne, Austrália, Dom Denis Hart (foto), afirmou que prefere ir para a cadeia que quebrar um segredo de Confissão, devido a uma possível interferência do Estado, o Grupo ACI vem nos recordar 4 sacerdotes que defenderam até o extremo o sigilo sacramental. Em 14 de agosto, a Royal Commission, uma entidade criada na Austrália para investigar casos de abusos sexuais, propôs que os sacerdotes da Igreja Católica quebrassem o segredo de Confissão em casos de abuso sexual. 

O Código de Direito Canônico que rege a Igreja Católica, entretanto, assinala que “o sigilo sacramental é inviolável; pelo que o confessor não pode denunciar o penitente nem por palavras nem por qualquer outro modo, nem por causa alguma”. A seguir, quatro sacerdotes que defenderam até o extremo o segredo de confissão. 

1. São João Nepomuceno – Foi um exemplo da proteção do sigilo sacramental, o primeiro mártir que preferiu morrer a revelar um segredo de Confissão. Nasceu na Tchecoslováquia entre 1340 e 1350, em Nepomuk. Quando foi Vigário Geral da Arquidiocese de Praga, foi confessor de Sofia da Baviera, esposa do rei Venceslau. 

O rei, que tinha crises de raiva e de ciúmes, ordenou que o sacerdote lhe revelasse os pecados da sua esposa. A resposta negativa do santo enfureceu Venceslau, que ameaçou assassiná-lo se não lhe contasse os segredos. Outro conflito entre Venceslau e João Nepomuceno aconteceu quando o rei quis apoderar-se de um convento para dar as suas riquezas a um parente e o santo o proibiu, porque esses bens pertenciam à Igreja. O rei ficou cheio de ira e ordenou que torturassem o santo, cujo corpo foi jogado no rio Mondalva. Depois, vizinhos pegaram o cadáver e o enterraram religiosamente, em 1393. 


2. São Mateus Correa Magallanes (S. Mateo-Correa-Magallanes) – Outro mártir do segredo de Confissão. Foi fuzilado no México durante a Guerra Cristera por se recusar a revelar as confissões dos prisioneiros rebeldes. Nasceu em Tepechitlán (Zacatecas), em 22 de julho de 1866, e foi ordenado sacerdote em 1893. Trabalhou como capelão em diversas fazendas e paróquias. Em 1927, o sacerdote foi preso pelas forças do exército mexicano sob a ordem do general Eulogio Ortiz. Poucos dias depois, o general enviou ao Pe. Correa para se confessar um grupo de pessoas que iam ser fuziladas e depois exigiu que ele revelasse as confissões destas pessoas. Ante a resposta negativa do sacerdote, o general ordenou a sua execução. Atualmente, seus restos são venerados na Catedral de Durango. Foi beatificado em 22 de novembro de 1992 e canonizado por São João Paulo II em 21 de maio de 2000.



3. Pe. Felipe Císcar Puig – Foi um sacerdote valenciano também considerado mártir do sigilo sacramental, porque foi martirizado durante a perseguição religiosa da Guerra Civil Espanhola (1936), depois de guardar o segredo de confissão. A Arquidiocese de Valência indicou que, de acordo com a documentação recolhida, o Pe. Císcar foi levado à prisão de Denia (Valência, Espanha), onde o Frei franciscano Andrés Ivars pediu para se confessar no final de agosto de 1936, pois suspeitava que seria fuzilado. “Depois da sua confissão, tentaram saber o que o frade havia dito e, diante do silêncio do sacerdote, os milicianos ameaçaram matá-lo”. Então, segundo declaração de testemunhas, o sacerdote respondeu: “Façam o que quiserem, mas eu não revelarei a confissão, prefiro morrer a fazer isso”. “Ao vê-lo tão seguro, levaram-no a um suposto tribunal onde foi ordenado a revelar o sigilo”, como mesmo assim ele ainda permaneceu firme em sua posição, afirmando que preferia morrer, os milicianos o condenaram à morte. Em cima de um carro, Felipe Císcar e Andrés Ivars foram levados a Gata de Gorgos e lá foram fuzilados aos 71 e 51 anos, respectivamente, em 8 de setembro de 1936. Tanto Felipe Císcar como Andrés Ivars fazem parte da causa de canonização dos “Servos de Deus Ricardo Pelufo Esteve e 43 companheiros e companheiras mártires”, que reúnem no total 36 religiosos franciscanos.


4. Pe. Fernando Olmedo Reguera – Este sacerdote da Ordem dos Frades Menores Capuchinos foi assassinado aos 12 de agosto de 1936 e beatificado em Tarragona em 13 de outubro de 2013. Também é conhecido como defensor do sigilo sacramental. Nasceu em Santiago de Compostela (Espanha) no dia 10 de janeiro de 1873 e foi ordenado sacerdote em 31 de julho de 1904. Foi Secretário Provincial até 1936 e logo depois, devido à perseguição religiosa, teve que deixar o convento. Depois de preso, foi insultado, humilhado, espancado e exigiram que revelasse o segredo de confissão. De acordo com a tradição, foi fuzilado por uma espécie de tribunal popular em torno do Quartel da Montanha, um local militar em Madri construído no século XIX. Os seus restos mortais estão na cripta da igreja de Jesus de Medinaceli (Madri). 

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Fonte:
ACI Digital, 4 sacerdotes que defenderam até o extremo o segredo de confissão
http://acidigital.com/noticias/4-sacerdotes-que-defenderam-ate-o-extremo-o-segredo-de-confissao-28864/
www.ofielcatolico.com.br

A Igreja Católica mudou a Bíblia? – Conclusão

Monge copista medieval em seu scriptorium

** Leia a primeira parte deste estudo

TERMINAMOS A PRIMEIRA parte deste estudo levantando a malfadada acusação que sofre a Igreja Católica de ter "mudado" os textos da Bíblia, principalmente com base na alegação de que os Mandamentos de Deus, conforme registrados nas Sagradas Escrituras, são diferentes daqueles que a Igreja nos apresenta. Em especial, cita-se um Mandamento que proibiria a confecção de imagens, que não aparece na versão católica dos Mandamentos de Deus.

Para analisar bem a questão, reproduzimos, logo abaixo, a passagem do Livro do Deuteronômio em que se encontra a lista dos Mandamentos de Deus. Logo a seguir, os Mandamentos de Deus conforme apresentados pela Igreja.


Os Mandamentos de Deus, dados por Moisés ao "povo eleito", conforme consta no Livro do Deuteronômio:

(1) Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque Eu, o SENHOR teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus Mandamentos.
(2) Não pronunciarás em vão o Nome do SENHOR, teu Deus; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tiver pronunciado em vão o seu Nome.
(3) Guardarás o dia do sábado e o santificarás, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras; mas no sétimo dia, que é o repouso do SENHOR teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu jumento, nem teus animais, nem o estrangeiro que vive dentro de teus muros, para que o teu escravo e a tua serva descansem como tu. Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a Mão forte e o Braço poderoso do teu SENHOR te tirou. É por isso que o SENHOR, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado.
(4) Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o SENHOR, para que se prolonguem teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus.
(5) Não matarás.
(6) Não cometerás adultério.
(7) Não furtarás.
(8) Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
(9) Não cobiçarás a mulher de teu próximo.
(10) Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence."
(Deuteronômio 5,7-21)


Os Mandamentos de Deus segundo a Igreja:

1) Amarás a Deus sobre todas as coisas;

2) Não tomarás o Nome de Deus em vão;

3) Santificarás as festas;

4) Honrarás a teu pai e a tua mãe;

5) Não matarás;

6) Não cometerás atos impuros;

7) Não roubarás;

8) Não dirás falso testemunho nem mentirás;

9) Não consentirás pensamentos nem desejos impuros;

10) Não cobiçarás os bens alheios.


Bem, a lógica rasa das novas comunidades protestantes ditas "evangélicas" (pentecostais e neopentecostais) diz o seguinte: se a Bíblia diz uma coisa, de um jeito, e a Igreja Católica apresenta aquela mesma coisa de um jeito diferente, então a Igreja mudou a coisa. Certo? 

Errado. Muito errado; erradíssimo. Falando com total honestidade, vejo que se qualquer pessoa racional simplesmente confrontar as duas listas acima verá que contém exatamente as mesmas prescrições divinas, sendo que a segunda é apenas e tão somente a lista sintetizada, resumida e desvinculada do contexto judaico e das citações exclusivamente históricas. Nesse sentido, por exemplo, não teria cabimento que, para transmitir a Palavra de Deus aos povos do mundo dos nossos tempos, a Igreja prescrevesse, literalmente: "Não cobiçar o escravo e nem a escrava do teu próximo", ou "não cobiçar o boi nem o jumento do teu próximo". Claro e evidente que isso não teria mais sentido, hoje. Por isso, a Igreja apresenta o Mandamento dado por Deus da maneira mais simples, direta e, principalmente, compreensível para todos, dizendo: "Não cobiçarás os bens alheios".

Hoje em dia, já não possuímos escravos, aliás a prática da escravidão é crime em todo o mundo civilizado; a imensa maioria de nós também já não possui bois e jumentos; entretanto, tanto o terceiro quanto o décimo Mandamentos mencionam escravos, bois e jumentos. Teriam ficado, então, os Mandamentos Divinos desatualizados, na prática? Não. Basta compreender o sentido e a essência do Mandamento, desvinculando o que está escrito literalmente do verniz epocal e cultural. É o que faz a Igreja, e é este o seu papel legítimo, como veremos mais adiante.

Do mesmíssimo modo se dá com relação a famigerada disputa envolvendo as imagens sacras. Basta observar o Primeiro Mandamento como um todo para ver que o fulcro e o cerne daquela proibição está na exclusividade que devemos dar ao Deus Vivo e Verdadeiro em nossa vida de fé, devoção e prática. O Mandamento menciona a idolatria prestada aos falsos deuses pagãos, que no imaginário daquele povo "concorriam" com YHWH por adoração e culto. A menção às imagens é claramente um complemento a essa Ordem divina central, que é amar a Deus sobre todas as coisas, como será confirmado com toda a clareza no mesmo Livro da Bíblia, logo adiante, no capítulo seguinte: "Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e com todas as tuas forças" (Dt 6,5).

Vemos, assim, que a Igreja não "mudou" o Primeiro Mandamento, e sim optou pela sua forma resumida, conforme é apresentada pelo mesmo Livro da Bíblia, o Deuteronômio. Também e principalmente, a razão de a Igreja ter resumido o Primeiro Mandamento é o fato de tê-lo feito o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus: 
Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro Mandamento.
Jesus Cristo (Mt 22, 37-40)

Não pode haver autoridade maior que a de Jesus Cristo para definir qual é o Primeiro Mandamento; e, sim, Ele fez isto.

Outro ponto fundamental para entender a questão é observar que as contestações surgem, simplesmente, por causa de separações diferentes do texto. Muitos leigos não sabem, por exemplo, que os textos originais da Bíblia são corridos, não foram produzidos divididos em versículos, da maneira como conhecemos hoje. Na realidade, os manuscritos originais não eram separados nem mesmo entre palavras, dada a conjuntura dos seus idiomas e da sua grafia própria; não havia sequer vogais ou sinais de pontuação, e nem títulos e subtítulos para ajudar a localizar passagens específicas.

A necessidade de dividir o texto sagrado em partes surgiu para facilitar o encontro de determinadas doutrinas, independentemente de qual fosse a edição, em cada Livro da Bíblia, e também para organizar as leituras litúrgicas. Durante o correr dos séculos, houve diversos sistemas de organização dos textos sagrados, tanto judeus, para o nosso AT ('Sedarim'; 'Perashiyyot'; 'Pesuquim') como cristãos ('Cánones eusabiani', de Eusébio de Cesareia), para dividir os textos em seções1.

Assim, os Mandamentos de Deus, na Bíblia, não se encontram divididos nem numerados. Há apenas um texto corrido que contém os Mandamentos, mas não se diz ali algo como "a partir daqui começa o primeiro Mandamento" ou "aqui termina o primeiro e começa o segundo Mandamento". Cabe à Igreja defini-lo, e a Igreja de Cristo desde sempre entendeu que o primeiro Mandamento começa com a advertência contra os falsos deuses e termina com o aviso de castigo para os que não observarem a adoração exclusiva a YHWH, isto é, o conjunto dos atuais versículos de 7 a 10. De fato, basta analisar o a passagem com o mínimo de imparcialidade para se notar que isso faz todo o sentido, pois tudo o que se diz aí converge numa única chamada a adorar exclusivamente ao Deus Vivo e Verdadeiro, descartando todo culto de adoração aos ídolos pagãos. Não são dois Mandamentos, como: 1) Não ter outros deuses diante do SENHOR e 2) Não fazer imagens desses outros deuses. Ao contrário, trata-se de uma única afirmativa, que fica claríssima no início da fala: "Não terás outros deuses diante de Mim...": o que vem na imediata sequência é a inevitável consequência desta advertência.

Só há um Deus; logo e por consequência, não se pode fazer imagens para adoração de outros (falsos) deuses. Por isso mesmo é que a proibição ao uso de imagens não se aplica a toda e qualquer imagem, nem mesmo às imagens cultuais, e Deus mesmo vai ordenar que se façam imagens para uso no seu culto, logo adiante, na mesma Bíblia (entenda). Óbvio, não?

Entretanto, partindo do livre exame das Escrituras, poderíamos dividir esse mesmo trecho (versículos 7 a 10) em até mais partes. Poderíamos dizer, por exemplo, que não adorar falsos deuses é um mandamento, não fazer imagens é outro, não prostrar-se diante dessas imagens é um outro mandamento e não lhes render culto (o que é diferente de apenas prostrar-se) seria um quarto mandamento. Como já vimos exaustivamente por aqui, a partir do livre exame e interpretação do texto, pessoas diferentes podem usar da sua imaginação (e, em muitos casos, de má vontade) para elaborar as mais diversas (e estapafúrdias) interpretações. Mais uma vez, fica clara a razão de nossa salvação não ter sido condicionada ao livre exame das Escrituras.

Assim, a partir das divisões do Texto Sagrado, passaram os protestantes a dividir também os Mandamentos de modo diverso do dos católicos, fazendo sempre muita questão de enfatizar o problema imaginário das imagens. Este erro crasso é tão evidente que, recentemente, até mesmo a igreja luterana alemã (a entidade protestante mais antiga) pediu desculpas públicas aos católicos pela destruição das imagens sacras (e outros atos criminosos) durante a chamada Reforma. Em nota oficial, disseram que hoje reconhecem que as imagens sagradas, "em suas mais variadas formas", têm "grande valor como expressão da espiritualidade" – logo, nada tem a ver com "idolatria". Declararam, ainda, que a igreja protestante alemã “se opõe à destruição de imagens” (saiba mais).

Uma atitude louvável. Entretanto, lamentavelmente, a desgraça foi feita pelo seu fundador há cinco séculos: hoje em dia, como consequência do seu ato de orgulho, não cessam de se multiplicar as seitas que se proclamam "cristãs" e "bíblicas", e todos os dias temos notícias de malucos invadindo igrejas católicas para destruir imagens sacras.

Voltando ao nosso tema central, vemos com muita clareza que os Mandamentos de Deus não foram, de modo algum, "mudados" pela Igreja, mas apenas e simplesmente traduzidos em linguagem acessível e explicados à grande multidão de fiéis que buscam compreender as coisas da fé. Mudar a Bíblia? Evidente que não. Esclarecer a Bíblia, sem alterá-la, isto sim, e para isto a Igreja tem, além de plena autoridade, o dever de fazê-lo, dado pelo Cristo, conforme autenticado pelas próprias Escrituras.

Ou acaso não foi Cristo quem deu poderes à sua Igreja a fim de estabelecer os meios para a salvação da humanidade? Ele não o disse, mais de uma vez, aos seus Apóstolos, isto é, à sua Igreja nascente?
Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou.
Jesus Cristo (Lc 10,16)

Em verdade, tudo o que ligardes sobre a Terra, será ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra, será também desligado no Céu.
Jesus Cristo (Mt 18,18)

O Senhor falava aos Apóstolos, que eram a Igreja no seu primeiro início. Logo, é fato bíblico que a Igreja também legisla, com o Poder de Cristo, e foi designada como fiel depositária da Sã Doutrina. Quem não a obedece, desobedece a Cristo, logo, desobedece a Deus Pai. Mais tarde, vai S. Paulo Apóstolo confirmar este fato insofismável em sua Primeira Carta a Timóteo, ao dizer com todas as letras:
Escrevo (no caso, a própria Bíblia, inspirado pelo Espírito Santo) para que saibas como te portar na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o sustentáculo da Verdade.
(1Tm 3,15)

Por fim, apenas para arrematar a questão, cabe lembrar que, antes de tudo, se a Igreja tivesse mesmo a intenção de mudar os Mandamentos, seria para ela muito fácil, já que, por muitos séculos, as cópias das Sagradas Escrituras estiveram encerradas sob a guarda da própria Igreja, e apenas o clero tinha acesso direto a elas. Seria coisa muito simples para qualquer Papa ordenar a alteração definitiva da letra, em certos pontos estratégicos, por exemplo, com a desculpa de que seria para o bem das almas. Mas isso jamais aconteceu. Pelo contrário, quem fez isso foi exatamente Lutero, patrono e fundador de todas as "igrejas" cujos seguidores nos acusam.

Martinho Lutero resolveu proceder à sua própria tradução particular da Bíblia, e – um fato que incrivelmente pouco se divulga e praticamente não se menciona – simplesmente adulterou a passagem da Epístola aos Romanos (1,17), onde se lê que “o justo viverá pela fé”. Acrescentou ali a palavra “allein”, que no alemão significa “somente”, e passou a pregar, assim como pregam todos os pastores protestantes/'evangélicos' até hoje, que o justo “vive somente pela fé” (a doutrina Sola Fide, que ao lado do Sola Scriptura/Só a Bíblia, constitui a dupla de super dogmas protestantes). Ainda que não fosse necessário, porque dispomos da prova material, o próprio Lutero confirmou a adulteração, quando disse aos seus seguidores: “Se um papista lhe questionar sobre a palavra ‘somente’, diga-lhe isto: papistas e excrementos são a mesma coisa. Quem não aceitar a minha tradução, que se vá. O demônio agradecerá por esta censura sem a minha permissão”3.

Como se vê, o fundador do protestantismo estava anos-luz distante daquele personagem humilde e heroico retratado em um famoso filme supostamente "biográfico" sobre sua vida: ele era orgulhoso, vaidoso e mantinha uma atitude extremamente arrogante. Aqueles que nos acusam de adulteração, porém, seguem e observam as mesmas Escrituras que foram organizadas, divididas e canonizadas pela Igreja Católica. Suprema contradição, acham que a Igreja não é inspirada pelo Espírito Santo para guardar a fé cristã, mas creem que a mesma Igreja foi inspirada pelo Espírito Santo para definir o cânon da Bíblia. E – é importante que você, fiel católico, saiba disso – àqueles que dizem que a Igreja se "paganizou" depois de Constantino (274-337), convém lembrar que o cânon das Escrituras foi definido somente após o século IV, bem depois da aceitação do Cristianismo pelo Império Romano.


* * *

A Igreja é o Corpo de Cristo, portanto continuidade histórica do Cristo no mundo; é a coluna e o sustentáculo da Verdade; a ela foi dada autoridade para proclamar o Evangelho às nações, e para tanto é preciso esclarecê-lo aos povos diversos. Não estamos mais engessados à letra escrita, como no tempo da Lei, mas somos membros muito amados de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para isso, temos a Santa Igreja, nossa Mãe e Mestra.
Ele nos capacitou (à Igreja) a sermos ministros de uma nova Aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés por causa do resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o Ministério do Espírito ainda muito mais glorioso? Se era glorioso o ministério que trouxe condenação, quanto mais glorioso será o Ministério que produz Justiça!
(2Cor 3,6-9)

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1. Estêvão Langton, arcebispo da Cantuária, que havia sido chanceler da Universidade de Paris, fez a divisão do Antigo e do Novo Testamentos em capítulos, a partir do texto latino da Vulgata de São Jerônimo, por volta do ano 1226. Da Vulgata, passou ao texto da Bíblia hebraica, ao texto grego do Novo Testamento e à versão grega do Antigo Testamento. Ele estabeleceu uma divisão em capítulos, mais ou menos iguais, muito similar à que temos em nossas Bíblias impressas. Esta divisão se tornou universal.
Divisão em versículos – São Pagnino (1541), judeu convertido, depois dominicano, originário de Luca (Itália), dedicou 25 anos à sua tradução da Bíblia, publicada em 1527, e foi o primeiro em dividir o texto em versículos numerados.
Esta versão foi impressa em Lion. Era uma versão muito literal que constituiu um ponto de referência entre os humanistas da época, e foi reimpressa várias vezes. Roberto Estienne, prestigioso impressor, realizou a divisão atual do Novo Testamento em versículos em 1551. Em 1555, fez a edição latina de toda a Bíblia. Para os versículos do Antigo Testamento hebraico, ele utilizou a divisão feita por São Pagnino. Para os demais livros do Antigo Testamento, elaborou uma própria e utilizou para o Novo Testamento a que, poucos anos antes, ele mesmo havia realizado.
O recurso de dividir o texto bíblico em capítulos e versículos numerados permite, desde então, encontrar imediatamente uma passagem, seja qual for a paginação adotada por uma edição. Esta é uma ferramenta fundamental para os pesquisadores, e para que todos possam ter uma mesma referência. 
Bíblia impressa com capítulos e versículos – A primeira Bíblia impressa que incluiu totalmente a divisão de capítulos e versículos foi a chamada Bíblia de Genebra, publicada em 1560, na Suíça.
Os editores da Bíblia de Genebra optaram pelos capítulos de Stephen Langton, e versículos de Robert Estienne, conscientes da grande utilidade que teriam para a memorização, localização e comparação de passagens bíblicas. Em 1592, o Papa Clemente VII mandou publicar uma nova versão da Bíblia em latim, para uso oficial da Igreja Católica, e nela se incluiu a divisão atual de capítulos e versículos. Assim, no final do século XVI, os judeus, protestantes e católicos haviam aceitado a divisão em capítulos introduzida por Stephen Langton, e a subdivisão em versículos introduzida por Robert Estienne. Desde então, estas divisões em capítulos e versículos ganharam aceitação como uma forma padronizada para localizar os versículos da Bíblia, e até hoje são aceitas universalmente.
(DUARTE, Luiz Miguel; BEDOR, João Paulo. Formação para Leitores e Ministros da Palavra. São Paulo: Paulus, 2017, pp.11ss / 
Eq. Editorial Ave-Maria. Chave bíblica católica: edição revista e ampliada, São Paulo: Ave-Maria, 2012; )

2. Existia a Igreja Católica há mais de um e meio milênio quando surgiu a primeira comunidade protestante. Foi chamada 'protestante', inicialmente, devido ao protesto de seis príncipes luteranos e 14 cidades alemãs (19 de abril de 1529), quando a chamada 'segunda dieta (assembleia) de Speyer', convocada pelo imperador Carlos V, revogou uma autorização concedida três anos antes para que cada príncipe determinasse a religião do seu território. O termo protestante foi rapidamente adotado, inclusive pelos partidários de Lutero, e logo transcendeu a questão local e epocal para definir, genericamente, o grupo que rejeitava a autoridade do Sucessor de Pedro, justamente porque protestavam contra a autoridade e a doutrina da primeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

3. Conf. 
'The Facts About Luther', O’Hare, TAN Books, 1987, p. 201; Imperial Encyclopedia and Dictionary © 1904, vol. 4, Hanry G. Allen & Company, Holman Bible Dictionary © 1991; Amic. Discussion, 1, 127.

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Fontes e ref. bibliográfica
• ORDOVÁS, Javier. Quem dividiu a Bíblia em capítulos e versículos?, Aleteia, disp. em :
https://pt.aleteia.org/2016/03/14/quem-dividiu-a-biblia-em-capitulos-e-versiculos/

Acesso 17/8/017
• FOCANT, Camile & diversos autores. Bíblia e História, Escritura, interpretação e ação no tempo. São Paulo: Loyola, 2006.

A Igreja Católica mudou a Bíblia? – Introdução


O LEITOR ANTÔNIO Medeiros, da minha queridíssima cidade de Itajaí, SC, enviou-nos a seguinte pergunta:

Concluí, pela Internet, o curso bíblico O Apocalipse de João. No epílogo, Dom José deu ênfase ao fato de não se alterar nada do que foi escrito, citando Dt 4,2; 13,1; Pr 30,6 ; Ecl 3,14. Com a mudança do item referente à guarda do sábado, a Igreja não infringiu as citações acima? Devo dizer que sou católico e não se trata de uma pergunta provocativa, mas elucidativa. Obrigado pela atenção.

Aí está um assunto importante, Antônio, um tema simples e complexo ao mesmo tempo. Simples na essência, mas talvez de complexa explicação. É sempre assim quando se tratam de calúnias, e a pergunta que você faz tem origem em uma calúnia fortemente difundida. Sei bem que você não é um caluniador; ao que me parece, é um católico honesto em busca de conhecimento, fazendo uma pergunta honesta. Mas a dúvida que apresenta certamente deriva –, direta ou indiretamente –, das acusações que nos fazem os protestantes/“evangélicos”. Sobre a questão específica do sábado, já tratamos por aqui, no post que pode ser lido no link abaixo:

– Por que a Igreja guarda o domingo e não o sábado?”

Indo além, entretanto, nós realmente gostaríamos de aproveitar a oportunidade de aprofundar o tema, porque recebemos, igualmente, dúzias de mensagens acusando a Igreja de “mudar a Bíblia”, insistindo que a Bíblia não pode ser mudada e coisas desse tipo. Quero começar dizendo que, quase sempre, é muito mais fácil caluniar do que esclarecer as coisas. Vejamos um exemplo simples e prático desta simples realidade: alguém poderá, mentindo, dizer a uma determinada esposa que o marido dela é infiel no casamento. Pode fazer isso de modo anônimo, como por um telefonema a partir de um aparelho público, por exemplo, ou então pelo envio de um e-mail. Algo muito fácil de fazer. E aquela mulher poderá acreditar ou não na denúncia anônima. Se ela não confia no marido, mesmo que não tenha motivos para tanto, vai perder a paz de espírito. Provavelmente vai armar uma grande confusão, talvez vá esperá-lo chegar em casa pronta para a briga, poderá envolver os filhos e parentes... Uma esposa alucinada seria bem capaz de destruir roupas e pertences do pobre marido e partir para a agressão física, o que, por sua vez, poderia até terminar em tragédia. Tudo por causa de uma calúnia.

Mas, se a esposa confia no marido, então não vai dar ouvidos à mentira; vai tentar reagir como pessoa adulta, não vai acusá-lo ou começar uma briga sem lhe dar, ao menos, uma chance de se defender. Vai dar mais importância à palavra do marido do que à de um(a) estranho(a) que faz uma acusação sem provas. Mesmo assim –, e esta é a parte importante dessa história –, é bem provável (talvez quase certo) que ela fique cismada, e passe a desconfiar do marido inocente. Possivelmente passará a prestar mais atenção nos seus hábitos, querer saber por onde ele anda, investigar o celular, visitá-lo inesperadamente no trabalho, segui-lo pelas ruas...

Assim são as coisas: é fácil inventar uma calúnia, uma falsa acusação que poderá manchar a honra de um inocente; é muito mais difícil, ao acusado, provar que não tem culpa. Muitas vezes, basta uma acusação falsa para destruir uma carreira profissional, um relacionamento, uma vida. No caso que ora analisamos, tudo é ainda pior, porque a acusação de que a Igreja teria mudado a Bíblia é dita e repetida muitas e muitas vezes, à  exaustão. Em algum momento, essa afirmação falsa, por se tornar comum, acaba penetrando no inconsciente das pessoas. A célebre frase atribuída ao ministro da propaganda nazista, Joseph Goebells, não deixa de ter sua razão de ser: "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade"1.

Claro que uma mentira jamais se tornará verdade. Uma mentira será sempre mentira, ainda que o mundo inteiro repita que é verdade, e ainda que quase todos creiam firmemente que seja verdade. Todavia, de tão comum e tão repetida, muitas vezes uma mentira passa a se parecer com verdade.

Ora, nós vivemos agora tempos em que a grande mídia já convence uma parcela importante da população (e cada vez maior) de que é perfeitamente saudável – e até louvável – que uma pessoa não aceite o próprio corpo, o próprio sexo, e queira mudá-lo por meio da ingestão de hormônios, cirurgias radicais e etc. Oficialmente não se pode mais dizer que isso é algum tipo de desvio mental ou psicológico. Uma novela popularíssima, exibida no Brasil e em outros países pela Globo –, a segunda maior rede de TV do mundo –, apresenta uma jovem mulher que diz que não aceita o próprio corpo, que odeia especialmente seus seios, os quais tenta esconder, e chega a espancá-los violentamente. Apesar de não se "sentir" mulher, ela é apaixonada por um rapaz, e a explicação da psicóloga de fantasia é a de que ela seria uma mulher trans-masculina-homo-lésbica – ou alguma coisa parecida com isso. Em outras palavras, ela seria uma homem que nasceu em corpo de mulher(?), mas um homem homossexual(?!).

A primeira reação involuntária é rir, e rir muito. E se você parar e pensar um pouco mais a fundo sobre a situação do nosso mundo, se contemplar a quê as nossas crianças e nossos jovens estão sendo expostos, a reação mais normal é chorar por dentro. Toda a trama da novela, claro, é meticulosamente planejada e montada para que essa personagem apareça como uma pobre vítima da sociedade, uma menina muito simpática, muito boa e compreensiva com todos, mas que não é compreendida, e jamais alguém que apresenta dificuldades (sejam físicas, psicológicas ou psiquiátricas) graves. A uma mulher nessas condições, hoje, simplesmente não se pode sequer sugerir que procure ajuda, porque isso caracterizaria "preconceito" e crime(!). Se algum psicólogo ou psiquiatra disser que pode ajudar um homossexual que queira –, se ele quiser, voluntariamente –, deixar de sê-lo, será impiedosamente perseguido e mesmo criminalizado(!), como aconteceu há pouco tempo com a Dra. Rozângela Alves Justino.

Fato no mínimo curioso é que, em nossa sociedade, se um homem diz que "não se aceita" como homem e que "se sente" um cachorro, e passa  a andar de quatro, latir e urinar nos postes, será (ainda) considerado um ser humano que precisa de ajuda, e será certamente encaminhado para a ajuda médica. Mas se ele diz que, apesar de ter nascido homem, "sente-se" como mulher, então isso não pode, de maneira nenhuma, ser considerado algum desvio, mas sim um direito sagrado e idolatrado, contra o qual não se pode dizer absolutamente nada.

A situação é tão complicada e tão grave que já temos até bispo dizendo que um homem se vestir de mulher e tomar hormônios para se parecer com uma delas não é pecado e nem doença, e sim um "dom de Deus"(veja aqui e aqui!).

Mas, afinal, se eu uso deste exemplo tão impactante –, o do chamado "gayzismo", que por si já renderia uma série de artigos maiores do que este –, é só para demonstrar que, muitas vezes, de tanto dizer e insistir em alguma coisa, por mais louca e absurda que seja, as pessoas passam a imaginar que seja mesmo real.

Assim, em razão da complexidade sempre presente ao se tentar esclarecer questões como as que nos trouxe o leitor Antônio Medeiros (ainda que sejam no fundo muito simples), adotaremos a estratégia mais inteligente e realmente funcional, que é atacar a fera diretamente no coração.


Uma mentira inventada por fanáticos

Dialogar com um “evangélico” fanático é exatamente como seria lutar contra a Hidra de Lerna, se ela existisse. A Hidra é um monstro mitológico terrível, o qual, a cada vez que se lhe decepava uma cabeça, nasciam duas no lugar. Tentar dialogar com pessoas que sofreram uma verdadeira lavagem cerebral contra a Igreja Católica (eu sei do que estou falando, já estive do lado de lá) é tão desesperador quanto enfrentar a Hidra. Quando um deles ataca o uso das imagens sacras, por exemplo, e explicamos porque as usamos, demonstrando o seu fundamento teológico e bíblico, ele então ataca a veneração à Virgem Maria; quando, da mesma forma, explicamos isso também, ele vem com a doutrina do Purgatório; quando esclarecemos essa questão, ele apela para a lorota de Constantino paganizando a Igreja de Cristo2, e por aí vai... E ainda que, por fim, consigamos fechar o círculo e esclarecer com embasamento e razão a todas as suas dúvidas, mesmo assim ele não se conforma, e então retorna novamente à primeira questão já respondida, recomeçando toda a discussão.

Sei que é assim, por uma longa experiência de vida e debates com pessoas desse tipo. Como costumo dizer, aos cegos por opção é impossível que recuperem a visão, até que queiram. Enquanto não quiserem ver, não verão, mesmo que a verdade seja balançada bem diante dos seus narizes.

Ataquemos, então, a fera, diretamente no coração, porque tentar cortar cada uma das suas cabeças será impossível: a cada cabeça cortada, crescerão duas no seu lugar. E qual é o coração da fera? Ocorre que o problema todo está em ver a Bíblia Sagrada como uma espécie de entidade própria, dotada de vontade e pensamento independentes; uma entidade que é capaz, sozinha, de nos fornecer todas as respostas infalíveis.

É exatamente assim que os ditos "evangélicos" enxergam a Bíblia: uma espécie de "gênio da lâmpada mágica" capaz de nos dar, instantaneamente, todas as respostas que procuramos. Mais do que isso, eles veem a Bíblia como um tipo de instrumento que obrigaria Deus a comunicar as suas verdades profundas e inefáveis a quem quer que a leia. Entendem que, quando uma pessoa simplesmente diz que "aceita Jesus" e se põe a ler a Bíblia, automaticamente o Espírito Santo irá se manifestar a ela e lhe revelar, infalivelmente, todos os mistérios e profundidades da salvação em Deus. Eles consideram absurda a fé na infalibilidade doutrinal do sucessor de Pedro –, a quem o Senhor Jesus Cristo pessoalmente concedeu autoridade –, mas creem em si mesmos como infalíveis nas suas interpretações (via de regra rasas e literais) da Bíblia.

Vou deixar aqui um breve testemunho pessoal. Eu li a Bíblia, pela primeira vez, aos meus 14 anos de idade. Eu era um adolescente típico, descobrindo a vida e cheio de dúvidas e inquietações; minha família atravessava então uma grande crise, que culminou na separação de meus pais, e eu não tinha quem me ouvisse e compreendesse. Buscava a saída em Deus. No começo, passei a ir às Missas, mas eu, que assim como milhões de outros da minha geração, não recebi uma formação cristã adequada, não entendia nada e voltava para casa frustrado. Cometi então um erro clássico (e fundamental): resolvi comprar uma Bíblia, e passei a lê-la como se fosse um livro qualquer, como quem lê um romance (outro erro clássico e fundamental): abri no primeiro capítulo do primeiro livro, o Gênesis, e comecei dali.

Não seria preciso dizer que quase enlouqueci. O Antigo Testamento não é, de modo algum, leitura para crianças e/ou jovens despreparados, nem jamais deveria ser feita por ninguém sem uma boa formação prévia. Esta é a verdade. O leitor desavisado se verá perdido em um pavoroso cenário de carnificinas, mortes violentas, dilapidações, bebês sendo atirado contra rochas, e tudo em nome de um Deus irascível e ditador que "escolhe" um povo para proteger, em detrimento de todos os outros de sua própria criação... E ordena a matança de estrangeiros. "Assim diz o SENHOR dos Exércitos (...): 'Vai e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos, até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos'" (1Sm 15 2,3).

Tenho certeza de que não é preciso dizer que passagens como esta e muitíssimas outras, semelhantes, precisam de uma séria preparação para serem digeridas e, melhor, situadas em seu devido contexto. Por isso mesmo, a nossa salvação não foi vinculada por Nosso Senhor, em momento algum, à leitura das Escrituras, muito pelo contrário. Cristo diz com todas as letras ao judeus hipócritas: "Vós examinais nas Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna. Mas elas testificam de Mim, e vós não quereis vir a Mim para terdes a vida!" (Jo 5, 39-40). Aqui está nosso Salvador dizendo, explicitamente, que a salvação não vem do exame das Escrituras, e sim do encontro com Ele, e este encontro se dá mediante a adesão à sua Igreja, como também está claro, por exemplo, no episódio da visão de S. Paulo na estrada para Damasco (Atos 22), quando o Senhor lhe diz: "Porque me persegues", identificando-se totalmente à Igreja; referindo-se à Igreja como a Si mesmo.

Retornando ao meu relato, passei da curiosidade ao terror. Todavia, fui presa fácil daquele mysterium terribile et fascinans, isto é, tornei-me como uma folha seca perdida na tempestade da avassaladora sensação de ver-se totalmente incapaz diante de um Poder maior e irresistível, que apavora e desconcerta, faz querer fugir, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, por tremendamente fascinante, prende, cativa e obriga a continuar assistindo. "Ai de mim!", gritou Isaías diante da visão do SENHOR dos Exércitos no Templo, Aquele cujo Nome é impronunciável e de cuja Presença até os anjos, trêmulos, protegiam-se com suas asas. Do mesmo modo eu, compreendendo minha pequenez e total incapacidade.

Sofri, calado e aterrorizado, por anos. Na busca por explicações, e pela incapacidade dos padres adeptos de um malfadado aggiornamento, fui parar nas seitas ditas "evangélicas", onde fui submetido a um pavoroso processo de condicionamento mental. Demorou, mas, por fim, a completa incoerência da doutrina Sola Scritptura tornou-se clara demais para ser ignorada, e eu escapei à armadilha protestante. Essa já é uma outra história, mas posso dizer que, daí  a alcançar a compreensão do contexto e do sentido das muitíssimas passagens realmente difíceis da Bíblia, foram décadas de diligentes estudos.

Posso dizer que a chave de tudo é compreender que a Bíblia sempre foi, é e continua sendo, aquilo que não poderá deixar de ser antes de qualquer outra coisa: um livro. Ainda que este livro contenha a Palavra de Deus por escrito e seja, como de fato é, o Livro Sagrado dos cristãos, permanece sendo um livro e –, assim como todo livro –, para ser compreendido depende da correta interpretação de quem o lê. Por isso mesmo, Nosso Senhor confiou a condução da sua Igreja aos seus Apóstolos, isto é, à sua Igreja, junto da qual prometeu que estaria até o fim do mundo (Mt 28,20), e jamais determinou que o conhecimento da Verdade estaria condicionado a leitura das Escrituras.

Os próprios Evangelhos reconhecem a insuficiência das Escrituras para resumir ou conter a totalidade da experiência Jesus Cristo, ao admitir que, se fossem escritas todas as coisas que fez e disse Jesus, "nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21, 25).

Após este longo preâmbulo, que considerei necessário para a compreensão do que vem a seguir, entremos finalmente no teor da pergunta feita, de maneira objetiva e direta, ponto a ponto:

1) A advertência de que não se pode acrescentar nem retirar nada àquele conteúdo não parte e não se refere à Bíblia como um todo, até porque a Bíblia não é um texto único, e sim um conjunto de textos (nem sempre homogêneos) reunidos; aliás, exatamente por isso chama-se "Bíblia" (=biblioteca; conjunto de livros). A advertência refere-se ao Livro do Apocalipse, o que está claríssimo na própria composição do texto, que diz: "Aqueles que ouvirem as palavras da profecia deste livro (...) e lhes ajuntar ou tirar qualquer coisa..." (Ap 22, 18-19).

Isso tem uma razão de ser bastante evidente: trata-se, obviamente, de literatura apocalíptica, que se caracteriza pela linguagem cifrada, simbólica, metafórica, mística e de difícil compreensão. Este livro, não por acaso, é singular e único em todo o Novo Testamento, que traz geralmente uma linguagem clara e advertências explícitas naquilo que tange ao esclarecimento do que é certo e do que é errado e de qual Caminho os adeptos do Evangelho de Cristo devem seguir. Este é um ponto que não deixa de ser importante, pois para um texto "criptografado", por assim dizer, a alteração de qualquer palavra e de qualquer vírgula poderá comprometer totalmente a compreensão do que está dito.

2) Apesar do exposto, é evidente que os outros livros da Bíblia também não devem ser mudados, se é que cremos que são Palavra de Deus por escrito, e constituem um dos pilares de todo o edifício da fé cristã. Não se pode mudá-los arbitrariamente, e nem mesmo a Igreja poderia fazê-lo, já que foi a própria Igreja que produziu todo o Novo Testamento, que constitui o eixo e a consumação de todas as Escrituras, na pessoa dos santos Apóstolos. Todavia exatamente aqui entra o segundo ponto, pois "mudar" o texto é uma coisa, e esclarecê-lo é outra coisa, não só completamente diferente, como também oposta. Esclarecer determinada realidade não é mudá-la, ao contrário, é afirmá-la e reafirmá-la com embasamento.

Por exemplo, muitos acusadores da Igreja costumam citar o Mandamento que, na Bíblia, proíbe a confecção de imagens, para dizer que "a Igreja Católica mudou os Mandamentos", já que nos Mandamentos de Deus segundo a Igreja Católica esta advertência específica não aparece, como podemos ver logo abaixo.

Mandamentos de Deus segundo a Igreja 1) Amarás a Deus sobre todas as coisas; 2) Não tomarás o Nome de Deus em vão; 3) Santificarás as festas; 4) Honrarás a teu pai e a tua mãe; 5) Não matarás; 6) Não cometerás atos impuros; 7) Não roubarás; 8) Não dirás falso testemunho nem mentirás; 9) Não consentirás pensamentos nem desejos impuros; 10) Não cobiçarás os bens alheios.

Bem, se a Bíblia diz uma coisa, de um jeito, e a Igreja apresenta aquela mesma coisa de um jeito diferente, então a Igreja mudou a coisa, certo? Isto é exato ou não? Se não, como e por quê? Como refutar esse argumento? É o que veremos na segunda e conclusiva parte deste estudo...

** Leia a segunda e conclusiva parte deste estudo

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1. Citado em 'The Sack of Rome', por Alexander Stille; 'A World Without Walls: Freedom, Development, Free Trade and Global Governance', por Mike Moore.

2. Leia nosso estudo específico neste link.


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