Monge copista medieval em seu scriptorium |
** Leia a primeira parte deste estudo
Para analisar bem a questão, reproduzimos, logo abaixo, a passagem do Livro do Deuteronômio em que se encontra a lista dos Mandamentos de Deus. Logo a seguir, os Mandamentos de Deus conforme apresentados pela Igreja.
Os Mandamentos de Deus, dados por Moisés ao "povo eleito", conforme consta no Livro do Deuteronômio:
(1) Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque Eu, o SENHOR teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus Mandamentos.
(2) Não pronunciarás em vão o Nome do SENHOR, teu Deus; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tiver pronunciado em vão o seu Nome.
(3) Guardarás o dia do sábado e o santificarás, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras; mas no sétimo dia, que é o repouso do SENHOR teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu jumento, nem teus animais, nem o estrangeiro que vive dentro de teus muros, para que o teu escravo e a tua serva descansem como tu. Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a Mão forte e o Braço poderoso do teu SENHOR te tirou. É por isso que o SENHOR, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado.
(4) Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o SENHOR, para que se prolonguem teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus.
(5) Não matarás.
(6) Não cometerás adultério.
(7) Não furtarás.
(8) Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
(9) Não cobiçarás a mulher de teu próximo.
(10) Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence."
(Deuteronômio 5,7-21)
Os Mandamentos de Deus segundo a Igreja:
1) Amarás a Deus sobre todas as coisas;
2) Não tomarás o Nome de Deus em vão;
3) Santificarás as festas;
4) Honrarás a teu pai e a tua mãe;
5) Não matarás;
6) Não cometerás atos impuros;
7) Não roubarás;
8) Não dirás falso testemunho nem mentirás;
9) Não consentirás pensamentos nem desejos impuros;
10) Não cobiçarás os bens alheios.
Hoje em dia, já não possuímos escravos, aliás a prática da escravidão é crime em todo o mundo civilizado; a imensa maioria de nós também já não possui bois e jumentos; entretanto, tanto o terceiro quanto o décimo Mandamentos mencionam escravos, bois e jumentos. Teriam ficado, então, os Mandamentos Divinos desatualizados, na prática? Não. Basta compreender o sentido e a essência do Mandamento, desvinculando o que está escrito literalmente do verniz epocal e cultural. É o que faz a Igreja, e é este o seu papel legítimo, como veremos mais adiante.
Vemos, assim, que a Igreja não "mudou" o Primeiro Mandamento, e sim optou pela sua forma resumida, conforme é apresentada pelo mesmo Livro da Bíblia, o Deuteronômio. Também e principalmente, a razão de a Igreja ter resumido o Primeiro Mandamento é o fato de tê-lo feito o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro Mandamento.”
Jesus Cristo (Mt 22, 37-40)
Outro ponto fundamental para entender a questão é observar que as contestações surgem, simplesmente, por causa de separações diferentes do texto. Muitos leigos não sabem, por exemplo, que os textos originais da Bíblia são corridos, não foram produzidos divididos em versículos, da maneira como conhecemos hoje. Na realidade, os manuscritos originais não eram separados nem mesmo entre palavras, dada a conjuntura dos seus idiomas e da sua grafia própria; não havia sequer vogais ou sinais de pontuação, e nem títulos e subtítulos para ajudar a localizar passagens específicas.
A necessidade de dividir o texto sagrado em partes surgiu para facilitar o encontro de determinadas doutrinas, independentemente de qual fosse a edição, em cada Livro da Bíblia, e também para organizar as leituras litúrgicas. Durante o correr dos séculos, houve diversos sistemas de organização dos textos sagrados, tanto judeus, para o nosso AT ('Sedarim'; 'Perashiyyot'; 'Pesuquim') como cristãos ('Cánones eusabiani', de Eusébio de Cesareia), para dividir os textos em seções1.
Assim, os Mandamentos de Deus, na Bíblia, não se encontram divididos nem numerados. Há apenas um texto corrido que contém os Mandamentos, mas não se diz ali algo como "a partir daqui começa o primeiro Mandamento" ou "aqui termina o primeiro e começa o segundo Mandamento". Cabe à Igreja defini-lo, e a Igreja de Cristo desde sempre entendeu que o primeiro Mandamento começa com a advertência contra os falsos deuses e termina com o aviso de castigo para os que não observarem a adoração exclusiva a YHWH, isto é, o conjunto dos atuais versículos de 7 a 10. De fato, basta analisar o a passagem com o mínimo de imparcialidade para se notar que isso faz todo o sentido, pois tudo o que se diz aí converge numa única chamada a adorar exclusivamente ao Deus Vivo e Verdadeiro, descartando todo culto de adoração aos ídolos pagãos. Não são dois Mandamentos, como: 1) Não ter outros deuses diante do SENHOR e 2) Não fazer imagens desses outros deuses. Ao contrário, trata-se de uma única afirmativa, que fica claríssima no início da fala: "Não terás outros deuses diante de Mim...": o que vem na imediata sequência é a inevitável consequência desta advertência.
Só há um Deus; logo e por consequência, não se pode fazer imagens para adoração de outros (falsos) deuses. Por isso mesmo é que a proibição ao uso de imagens não se aplica a toda e qualquer imagem, nem mesmo às imagens cultuais, e Deus mesmo vai ordenar que se façam imagens para uso no seu culto, logo adiante, na mesma Bíblia (entenda). Óbvio, não?
Entretanto, partindo do livre exame das Escrituras, poderíamos dividir esse mesmo trecho (versículos 7 a 10) em até mais partes. Poderíamos dizer, por exemplo, que não adorar falsos deuses é um mandamento, não fazer imagens é outro, não prostrar-se diante dessas imagens é um outro mandamento e não lhes render culto (o que é diferente de apenas prostrar-se) seria um quarto mandamento. Como já vimos exaustivamente por aqui, a partir do livre exame e interpretação do texto, pessoas diferentes podem usar da sua imaginação (e, em muitos casos, de má vontade) para elaborar as mais diversas (e estapafúrdias) interpretações. Mais uma vez, fica clara a razão de nossa salvação não ter sido condicionada ao livre exame das Escrituras.
Assim, a partir das divisões do Texto Sagrado, passaram os protestantes a dividir também os Mandamentos de modo diverso do dos católicos, fazendo sempre muita questão de enfatizar o problema imaginário das imagens. Este erro crasso é tão evidente que, recentemente, até mesmo a igreja luterana alemã (a entidade protestante mais antiga) pediu desculpas públicas aos católicos pela destruição das imagens sacras (e outros atos criminosos) durante a chamada Reforma. Em nota oficial, disseram que hoje reconhecem que as imagens sagradas, "em suas mais variadas formas", têm "grande valor como expressão da espiritualidade" – logo, nada tem a ver com "idolatria". Declararam, ainda, que a igreja protestante alemã “se opõe à destruição de imagens” (saiba mais).
Uma atitude louvável. Entretanto, lamentavelmente, a desgraça foi feita pelo seu fundador há cinco séculos: hoje em dia, como consequência do seu ato de orgulho, não cessam de se multiplicar as seitas que se proclamam "cristãs" e "bíblicas", e todos os dias temos notícias de malucos invadindo igrejas católicas para destruir imagens sacras.
Voltando ao nosso tema central, vemos com muita clareza que os Mandamentos de Deus não foram, de modo algum, "mudados" pela Igreja, mas apenas e simplesmente traduzidos em linguagem acessível e explicados à grande multidão de fiéis que buscam compreender as coisas da fé. Mudar a Bíblia? Evidente que não. Esclarecer a Bíblia, sem alterá-la, isto sim, e para isto a Igreja tem, além de plena autoridade, o dever de fazê-lo, dado pelo Cristo, conforme autenticado pelas próprias Escrituras.
“Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou.”
Jesus Cristo (Lc 10,16)
Em verdade, tudo o que ligardes sobre a Terra, será ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra, será também desligado no Céu.”
Jesus Cristo (Mt 18,18)
“Escrevo (no caso, a própria Bíblia, inspirado pelo Espírito Santo) para que saibas como te portar na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o sustentáculo da Verdade.”
(1Tm 3,15)
Martinho Lutero resolveu proceder à sua própria tradução particular da Bíblia, e – um fato que incrivelmente pouco se divulga e praticamente não se menciona – simplesmente adulterou a passagem da Epístola aos Romanos (1,17), onde se lê que “o justo viverá pela fé”. Acrescentou ali a palavra “allein”, que no alemão significa “somente”, e passou a pregar, assim como pregam todos os pastores protestantes/'evangélicos' até hoje, que o justo “vive somente pela fé” (a doutrina Sola Fide, que ao lado do Sola Scriptura/Só a Bíblia, constitui a dupla de super dogmas protestantes). Ainda que não fosse necessário, porque dispomos da prova material, o próprio Lutero confirmou a adulteração, quando disse aos seus seguidores: “Se um papista lhe questionar sobre a palavra ‘somente’, diga-lhe isto: papistas e excrementos são a mesma coisa. Quem não aceitar a minha tradução, que se vá. O demônio agradecerá por esta censura sem a minha permissão”3.
Como se vê, o fundador do protestantismo estava anos-luz distante daquele personagem humilde e heroico retratado em um famoso filme supostamente "biográfico" sobre sua vida: ele era orgulhoso, vaidoso e mantinha uma atitude extremamente arrogante. Aqueles que nos acusam de adulteração, porém, seguem e observam as mesmas Escrituras que foram organizadas, divididas e canonizadas pela Igreja Católica. Suprema contradição, acham que a Igreja não é inspirada pelo Espírito Santo para guardar a fé cristã, mas creem que a mesma Igreja foi inspirada pelo Espírito Santo para definir o cânon da Bíblia. E – é importante que você, fiel católico, saiba disso – àqueles que dizem que a Igreja se "paganizou" depois de Constantino (274-337), convém lembrar que o cânon das Escrituras foi definido somente após o século IV, bem depois da aceitação do Cristianismo pelo Império Romano.
A Igreja é o Corpo de Cristo, portanto continuidade histórica do Cristo no mundo; é a coluna e o sustentáculo da Verdade; a ela foi dada autoridade para proclamar o Evangelho às nações, e para tanto é preciso esclarecê-lo aos povos diversos. Não estamos mais engessados à letra escrita, como no tempo da Lei, mas somos membros muito amados de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para isso, temos a Santa Igreja, nossa Mãe e Mestra.
“Ele nos capacitou (à Igreja) a sermos ministros de uma nova Aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés por causa do resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o Ministério do Espírito ainda muito mais glorioso? Se era glorioso o ministério que trouxe condenação, quanto mais glorioso será o Ministério que produz Justiça!”
(2Cor 3,6-9)
1. Estêvão Langton, arcebispo da Cantuária, que havia sido chanceler da Universidade de Paris, fez a divisão do Antigo e do Novo Testamentos em capítulos, a partir do texto latino da Vulgata de São Jerônimo, por volta do ano 1226. Da Vulgata, passou ao texto da Bíblia hebraica, ao texto grego do Novo Testamento e à versão grega do Antigo Testamento. Ele estabeleceu uma divisão em capítulos, mais ou menos iguais, muito similar à que temos em nossas Bíblias impressas. Esta divisão se tornou universal.
Divisão em versículos – São Pagnino (1541), judeu convertido, depois dominicano, originário de Luca (Itália), dedicou 25 anos à sua tradução da Bíblia, publicada em 1527, e foi o primeiro em dividir o texto em versículos numerados.
Esta versão foi impressa em Lion. Era uma versão muito literal que constituiu um ponto de referência entre os humanistas da época, e foi reimpressa várias vezes. Roberto Estienne, prestigioso impressor, realizou a divisão atual do Novo Testamento em versículos em 1551. Em 1555, fez a edição latina de toda a Bíblia. Para os versículos do Antigo Testamento hebraico, ele utilizou a divisão feita por São Pagnino. Para os demais livros do Antigo Testamento, elaborou uma própria e utilizou para o Novo Testamento a que, poucos anos antes, ele mesmo havia realizado.
O recurso de dividir o texto bíblico em capítulos e versículos numerados permite, desde então, encontrar imediatamente uma passagem, seja qual for a paginação adotada por uma edição. Esta é uma ferramenta fundamental para os pesquisadores, e para que todos possam ter uma mesma referência.
Bíblia impressa com capítulos e versículos – A primeira Bíblia impressa que incluiu totalmente a divisão de capítulos e versículos foi a chamada Bíblia de Genebra, publicada em 1560, na Suíça.
Os editores da Bíblia de Genebra optaram pelos capítulos de Stephen Langton, e versículos de Robert Estienne, conscientes da grande utilidade que teriam para a memorização, localização e comparação de passagens bíblicas. Em 1592, o Papa Clemente VII mandou publicar uma nova versão da Bíblia em latim, para uso oficial da Igreja Católica, e nela se incluiu a divisão atual de capítulos e versículos. Assim, no final do século XVI, os judeus, protestantes e católicos haviam aceitado a divisão em capítulos introduzida por Stephen Langton, e a subdivisão em versículos introduzida por Robert Estienne. Desde então, estas divisões em capítulos e versículos ganharam aceitação como uma forma padronizada para localizar os versículos da Bíblia, e até hoje são aceitas universalmente.
(DUARTE, Luiz Miguel; BEDOR, João Paulo. Formação para Leitores e Ministros da Palavra. São Paulo: Paulus, 2017, pp.11ss / Eq. Editorial Ave-Maria. Chave bíblica católica: edição revista e ampliada, São Paulo: Ave-Maria, 2012; )
2. Existia a Igreja Católica há mais de um e meio milênio quando surgiu a primeira comunidade protestante. Foi chamada 'protestante', inicialmente, devido ao protesto de seis príncipes luteranos e 14 cidades alemãs (19 de abril de 1529), quando a chamada 'segunda dieta (assembleia) de Speyer', convocada pelo imperador Carlos V, revogou uma autorização concedida três anos antes para que cada príncipe determinasse a religião do seu território. O termo protestante foi rapidamente adotado, inclusive pelos partidários de Lutero, e logo transcendeu a questão local e epocal para definir, genericamente, o grupo que rejeitava a autoridade do Sucessor de Pedro, justamente porque protestavam contra a autoridade e a doutrina da primeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
3. Conf. 'The Facts About Luther', O’Hare, TAN Books, 1987, p. 201; Imperial Encyclopedia and Dictionary © 1904, vol. 4, Hanry G. Allen & Company, Holman Bible Dictionary © 1991; Amic. Discussion, 1, 127.
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Fontes e ref. bibliográfica
• ORDOVÁS, Javier. Quem dividiu a Bíblia em capítulos e versículos?, Aleteia, disp. em :
https://pt.aleteia.org/2016/03/14/quem-dividiu-a-biblia-em-capitulos-e-versiculos/
Acesso 17/8/017
• FOCANT, Camile & diversos autores. Bíblia e História, Escritura, interpretação e ação no tempo. São Paulo: Loyola, 2006.
Penso que na grande maioria esses questionamentos de que a Igreja alterou isso, ou não observa aquilo, vêm da incapacidade (e isto não é motivo de vergonha) de se compreender a Bíblia como um todo, e isto é difícil, os estudiosos, ou não, debatem sobre os escritos sagrados a milhares de anos e não se chegou ainda a um consenso. O problema é que muitos protestantes não levam isso em consideração e se acham sábios interpretes da Bíblia, guardiões da revelação divina, simplesmente porque decoraram alguns versículos aqui e ali (tal atitude já é motivo de se envergonhar). A prática da interpretação literal e das passagens pinçadas demonstram claramente que o leitor é despreparado para entender, e muito mais para instruir, mas muitos não têm humildade para reconhecer.
ResponderExcluirA postagem anterior é um claro exemplo, se a Bíblia diz que é sábado, porque a Igreja diz que é domingo? No livro Jesus de Nazaré, de Bento XVI, encontramos boas razões para a atual observância do domingo, diz o papa emérito sobre a formação do culto cristão: “Cruz e ressurreição fazem parte da eucaristia... Mas, visto que o dom de Jesus é essencialmente um dom radicado na ressurreição, na celebração do sacramento deveria necessariamente estar a memória da ressurreição. O primeiro encontro com o Ressuscitado aconteceu na manhã do primeiro dia da semana... na manhã de domingo. Assim a manhã do primeiro dia tornava-se espontaneamente o momento do culto cristão, o domingo, o Dia do Senhor”. Bento cita ainda Atos 20; 6-11: "No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão..." Por isso, evidente que no tempo dos apóstolos a eucaristia, ou divisão do pão, já havia sido fixada no dia da ressurreição, era celebrada como encontro com o Ressuscitado. Em 1 Cor 16,2 vemos que a coleta para Jerusalem foi fixada por São Paulo no primeiro dia da semana, por ser o dia da assembleia da comunidade de Corinto, o dia do seu culto. Já em apocalipse 1,10 encontramos pela primeira vez a expressão “dia do Senhor” para designar o domingo. Outro documento antigo que atesta o fato é a Didaché (ano 100), que diz: “No Dia do Senhor reuni-vos, parti o pão e dai graças, depois de ter primeiro confessado os pecados” (págs 133 e 134). Eis ai, diversas razões da mudança de observância do sábado para o domingo e mesmo assim, esta observância não se confunde com a observância dos sábados pelos judeus na Bíblia, pois para a Igreja, aqueles que por algum motivo não podem comparecer a missa no domingo, a missa de sábado à noite é válida.
Uma vez ouvi num documentário o cardeal John Patrick Foley, dizer: “A Igreja é uma constante doutrinária e moral em mutação”. E ao longo dos séculos, naturalmente, houveram várias mudanças, não creio que as Escrituras, a Igreja e a Tradição sejam algo, engessado, estático, houve, há e certamente haverão mudanças, seja porque determinada prática foi abolida, ou porque caiu em desuso. O problema é que muitas pessoas, especialmente nas seitas protestantes, não compreendem isso, e criam um mundo imaginário onde tudo permanece e está como na época de Cristo e seus apóstolos. A história contém vários exemplos: A observância do domingo ao invés do sábado, a abolição do divórcio, da proibição do consumo da carne de porco, da necessidade de circuncisão, o uso do véu caiu em desuso, a missa em latim foi substituída etc. E naturalmente também surgem novas expressões de espiritualidade, religiosidade, como a RCC, por exemplo. Atualmente a própria proibição do acesso dos divorciados a eucaristia está sendo revista.
Continua...
Tiago agi, como assim "Abolio o divórcio"? Quem "abolio o divórcio?
ExcluirEm São Mateus 19; 3-9, vemos que Moisés ordenou dar um documento de divórcio a mulher rejeitada, porém Jesus diz o seguinte no ver. 6: "Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu."
ExcluirDaí, entendo que seja a razão pela qual a Igreja não reconheça a dissolução do matrimônio e considere que aquele que se casa pela segunda vez, comete adultério (ver. 9).
Não sei se entendi direito o que vc quis dizer "com aboliu o divórcio" no meu entendimento o divórcio nunca foi "abolido" nem por Jesus é nem pela IGREJA CATÓLICA. Não sei se é isso que vc quis dizer.
ExcluirOk João. No meu entendimento, pelas razões que eu expus, sim. Se você pegar 1 Cor; 7, 10-11: "Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido. E, se ela estiver separada, que fique sem se casar, ou que se reconcilie com seu marido. Igualmente, o marido não repudie sua mulher."
ExcluirNa minha opinião, a Igreja não reconhece o divórcio, por essas razões, ou seja, não existe divórcio para a Igreja. Tanto que as pessoas podem ir no cartório e se divorciarem, e mesmo assim, se casados também na Igreja, continuarão casados e impedidos de contrair novo casamento, lógico que na esfera religiosa.
Este é meu entendimento, posso estar errado...
A paz de Cristo!
Caro Tiago, agradeço sua atenção em responder minhas indagações. Mas o me levou a estas perguntas foi que eu entendi o termo " aboliu" no sentido de que a IGREJA havia "liberado"o divórcio. É isso a IGREJA CATÓLICA não fez e nunca irá fazer, "pois o que DEUS uniu o homem não pode separar". Fique na paz.
ExcluirNão tem nada pelo que agradecer João, é bom poder conversar com as pessoas, já que na minha comunidade não existe ocasiões para conversas como essa. Fique tranquilo, houve apenas um mal entendido, pois foi justamente isso o que eu quis dizer, neste caso "abolir" significa justamente o contrário de liberar ou aceitar.
ExcluirA paz de Cristo!
Meu objetivo não é fazer um juízo de certo ou errado, bom ou ruim, próprio ou impróprio, mas de demonstrar que certas mudanças (salvo aquelas motivadas por um espirito de descarte inconsequente, de mudar por mudar ou para agradar), fazem parte da caminhada da Igreja. Claro que a mudança errada, “o móvel fora do lugar” está sempre na casa do vizinho, não vemos os protestantes questionando suas pastoras, bispas e apóstolas da proibição de São Paulo ao ministério de mulheres, ou quanto a nefasta teologia da prosperidade etc. Um pouco de boa vontade e bom senso certamente faria a diferença...
ResponderExcluirA paz de Cristo!
Fantástico como sempre!!
ResponderExcluirJá vi as mais diversas desculpas dos protestantes pra tentar explicar porque a Igreja Católica não seria a Igreja deixada por Cristo, eis algumas:
1- Cristo era judeu e veio para mostrar que não precisávamos de religião para sermos salvos.
2- O que Cristo falou para os apostolos, era somente para os apostolos fazerem, e não os seus sucessores.
3- A Igreja no começo era verdadeira mas depois se paganizou.
4- Eu sigo só a Bíblia não interessa o que a história diz. ( isso quem me disse foi uma "pastora" da Universal ao perguntar a ela se sabia quem criou e preservou a bíblia).
Graças a apostolados como esse, muitos católicos não caem nessas armadilhas e estão sabendo responder essas e outras acusações! Blogs como o Fiel Católico deveria ser divulgado nas paroquias principalmente pelos catequistas!
Um excelente artigo, publicado no laicista periódico espanhol El País, sobre Lutero e os inícios da Reforma Protestante:
ResponderExcluirhttps://elpais.com/internacional/2017/07/21/actualidad/1500642089_505462.html
E, aqui mais alguns dados sobre Lutero:
http://infocatolica.com/?t=noticia&cod=30221
Ótimas indicações, Wagner!
ExcluirApostolado Fiel Católico
Obrigado, Henrique! E parabéns por mais esse excelente estudo.
ExcluirAchei esse artigo do El País bastante interessante. Tenho a impressão de que seria muito bom se alguém pudesse traduzi-lo para publicação.
Na realidade, já estou fazendo isso. Porém, como estamos precisando de material para a 20ª edição de nossa revista digital, e os prazos de fechamento estão curtos, optei em publicar na revista.
ExcluirSim, o artigo é muito bom, e a autora publicou também um livro que me despertou muito interesse, sobre a "Leyenda negra" de la inquisicion.
Apostolado Fiel Católico
Um artigo impecável.
ResponderExcluirQueridos amigos, prefiro não me identificar. Sou professor universitário, mas não sou marxista... Sei que sou uma exceção. Leciono matérias relacionadas ao exposto neste e outros artigos desta página católica EXCELENTE! Gostaria de parabenizar o Henrique e responsáveis pelo trabalho de alta qualidade que nos oferecem. Consulto-me sempre gratuitamente com os artigos de vocês, que se diferenciam pela redação primorosa e pela citação das fontes. O trabalho de vocês é tão ou mais confiável do que aquilo que está sendo publicado em muitos livros de mestres e doutores.
Contem com a minha gratidão e gostaria de chamar os demais leitores a assinar a vossa revista, como estou fazendo agora e já deveria ter feito antes.
PDZ
Trabalhamos com amor, com fé, com máximo empenho. Consideramos o estudo coisa fundamental. Manter este apostolado é o trabalho de minha vida.
ExcluirPara mim não é difícil imaginar o motivo pelo qual o Sr. não queira se identificar. Fico feliz e muitíssimo grato a Deus em saber que meus textos, bem como os de meus colaboradores, estejam servindo de referência para aqueles que ensinam os nossos filhos.
O Bom Deus abençoe e guarde a todos os nossos bons professores, e ilumine os espíritos dos que não são bons!
Apostolado Fiel Católico
HENRIQUE SEBASTIÃO é um gênio. Um dos leigos católicos mais preparados que conheço. Homem sábio, santo e equilibrado. Uma grande dádiva para nossa IGREJA CATÓLICA !!!
ResponderExcluirAss.: Urbano Medeiros - maestro, ator e narrador - MG
Com a graça de NOSSA SENHORA hoje mesmo mandei minha colaboração para O FIEL CATÓLICO. Três meses adiantado. Faço-o sempre com muito amor. CATÓLICOS, SEJAMOS CARIDOSOS!!!
ResponderExcluirA Providência Divina recompensa.
Beijo fraterno
Urbano Medeiros - artista em MG
Saudações meus irmãos em Cristo!
ResponderExcluirEm primeiro lugar gostaria de parabenizar mais uma vez você,Henrique Sebastião, por esse estudo. Você é um orgulho para nós Católicos.
Nos últimos anos tenho me interessado cada vez mais por assuntos relacionados a nossa Santa Igreja Católica. Apesar de ter formação, e ser professor, em uma área de exata, tenho vontade de fazer um curso de Teologia. Tenho uma dúvida que fico intrigado e se alguém souber me responder eu agradeceria. Bom, penso que na formação de padres e teólogos, nos cursos de Teologia, se estuda a Patrística e a História da Igreja, não é? E na formação de pastor protestante, pelo menos dessas igrejas protestantes sérias, não se estuda também? Se a resposta é sim, então vem a minha grande dúvida: como pode um pastor protestante saber da verdadeira história da Igreja e dos testemunhos dos nossos primeiros padres e bispos, como por exemplos, Santo Inácio de Antioquia, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, etc, e ainda continuar protestante. Eu sei dos muitos casos de pastores que retornaram para Igreja de Cristo ao estudarem esses assuntos, mas se é verdade que um pastor estuda muito também (assim dizem alguns de meus amigos protestantes) e tem que estudar esses assuntos que mencionei, então, pra mim, já seria automático que os candidatos a pastores se convertesse antes até do término do curso.
Então vem o que eu concluo: ou os pastores não estudam, por algum motivo, a patrística e historia da Igreja, ou estudam mas são desonestos intelectualmente, transmitindo inverdades aos fiéis de suas igrejas.
Não sei se consegui expressar o meu raciocínio, mas desde já agradeço pela oportunidade de interação.
Paz e bençãos de Cristo a todos.
Que Nossa Senhora rogue por nós.
Se eles estudam a patrística, devem estudar de forma retorcida, e também devem aprender que Martinho Lutero foi um heroi! Mas pra mim a pergunta que não quer calar é: Como um protestante continua se dizendo cristão se acreditam que a verdadeira Igreja apostatou?? Será que eles aprendem sobre isso no curso de Teologia também?
ExcluirEm nem um dos evangelhos Jesus disse: o sangue da nova e eterna aliança derramado por vós e por "TODOS".Ele disse, por vós e por "MUITOS".
ResponderExcluirNão teria satanás introduzido essa palavra por "TODOS" para desfazer do sangue do SENHOR?, uma vez que para os condenados Seu sangue não valeu?.
Mas qual é o sétimo dia? É o sábado ou o domingo? Deus disse que é o sábado, mas vocês dizem que é o domingo, eu não entendo isso, porque vocês mudaram?
ResponderExcluirNão dizemos que o domingo é o sétimo dia da semana, de modo algum. Nós guardamos o domingo, o Dia do Senhor, assim como faziam os Apóstolos e os primeiros cristãos, porque Cristo consumou em Si todas as coisas e inaugurou os novos tempos, ressuscitando no primeiro dia da semana. Por que os cristãos devem guardar o domingo e não o sábado? Leia este artigo e entenda:
Excluirhttps://www.ofielcatolico.com.br/2007/03/cristaos-devem-guardar-o-sabado-ou-o.html
A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
Apostolado Fiel Católico