Celebração da Palavra e Eucaristia têm igual importância?

São Pio de Pietrelcina celebra a Santa Missa

RECEBEMOS DE UMA LEITORA anônima a pergunta que reproduzimos logo abaixo, seguida de nossa resposta. Rogamos ao Bom Deus que seja útil a este e a nossos outros leitores.

Bom Tarde! Gostaria de tirar uma dúvida, sobre a Santa Missa e a Celebração da Palavra. Eu aprendi que a Celebração da Palavra não tem o mesmo valor que a Santa Missa, e a Mesa Eucarística tem um valor mais significativo que a Mesa da Palavra. Mas conversando com um seminarista, ele disse que a Missa, a Celebração da Palavra, a Mesa Eucarística e a Mesa da Palavra tem o mesmo valor. Ele citou uns documentos da CNBB e uns documentos do Concílio Vaticano II. Eu fiquei confusa... Alguém pode me explicar ou indicar algum artigo, para que eu possa entender melhor.

O QUE É A SANTA MISSA? Qual é –,  se é que existe –, a diferença fundamental entre a Celebração da Palavra e a Celebração da própria Missa?

Duas questões. Resumidamente, poderíamos responder à primeira pergunta acertadamente dizendo que a Santa Missa é, em suma e por excelência, “a Renovação incruenta do Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz do Calvário”. Interessante observar o sentido da palavra “Renovação”, neste contexto: note-se que não é sinônimo de "repetição". Não se trata de realizar um outro sacrifício, mas sim renovar o mesmo e único Sacrifício salvador, e que foi oferecido pelo Cristo há quase 2000 anos. Ou seja, Nosso Salvador não morre uma outra vez na Cruz, e sim torna-se Presente neste grande Mistério, oferecido pelo sacerdote que age “in persona Christi”. Esta expressão em latim quer dizer que é sempre Cristo Quem age, sendo o homem apenas um instrumento. Da mesma maneira como em todos os Sacramentos da Igreja, quem consagra é Cristo, por meio do sacerdote. O Sujeito da ação sagrada é Cristo, a divina Pessoa que reúne em Si o Céu e a Terra.

Outra palavra importante nesta expressão é: “incruenta”. Há dois milênios, este mesmo Sacrifício redentor foi oferecido por Jesus Cristo na Cruz de maneira cruenta, isto é, com dor, sofrimento extremo e derramamento de sangue. Hoje, testemunhamos (ó, Maravilha das maravilhas!) este mesmo Sacrifício, porém não vemos dor nem sofrimento, nem derramamento de sangue. Pois bem, temos aqui a definição do que é a própria essência da Santa Missa.

Por outro lado, completam a estrutura fundamental da Santa Missa duas grandes partes que a integram e são necessárias para compô-la: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. 

A Liturgia da Palavra é composta, nos domingos e Solenidades, por duas Leituras e um Salmo Responsorial, a Aclamação ao Evangelho, a Proclamação do Evangelho, o Credo e as Preces.

A Liturgia Eucarística é composta, basicamente, pela Apresentação das Oferendas, o Prefácio, a Oração Eucarística, o Sanctus, a Narrativa da Instituição, o Rito da Comunhão (oração do Pai-Nosso, o Embolismo1, a Oração pela Paz, a invocação do Cordeiro de Deus, a Apresentação, a própria Comunhão Eucarística, a Ação de Graças e a Oração de Pós-Comunhão).

Não há nenhuma dúvida de que as duas partes descritas acima são importantes, pois, para que haja a Santa Missa propriamente dita, são necessárias essas duas grandes partes. Serão, entretanto, igualmente importantes?

Os termos corretos já denotam semelhança e, ao mesmo tempo, evidenciam uma grande diferença entre uma coisa e outra: “Celebração da Palavra” e “Comunhão Eucarística”. Na Santa Missa, a Celebração da Palavra serve como preparação para o grande auge, fundamento e sentido não só de toda aquela Celebração, mas também de toda a vida da Igreja e de cada cristão: a Comunhão com Cristo, que se dá na sua forma mais íntima e sagrada quando nos alimentamos do Pão do Céu, que é o próprio Cristo Jesus.

Em outras palavras, na Santa Missa há a Oferta de todas as ofertas (a vida de cada um de nós deve ser uma oferta agradável a Deus), há uma Vítima que se entrega, há o Sacrifício que nos salva do Pecado, da Morte e do Inferno onde Deus é ausente. No momento da Consagração, pão e vinho se transubstanciam, respectivamente, no Corpo e Sangue de Deus-Conosco. Diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC):

[A Eucaristia é a] Fonte e o Ápice de toda a vida cristã. Na Eucaristia, atingem o seu clímax a Ação santificante de Deus para conosco e o nosso culto para com Ele. Nela, o Senhor encerra todo o bem espiritual da Igreja: o mesmo Cristo, nossa Páscoa. A Comunhão da Vida Divina e a unidade do Povo de Deus são expressas e realizadas pela Eucaristia. Mediante a Celebração Eucarística, já nos unimos à liturgia do Céu e antecipamos a vida eterna.

Por mais que tentemos, do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor, que por Maravilha divina, inefável e incompreensível, podemos tocar e que nos alimenta para a vida eterna, nunca diremos o bastante. Não há milagre que se equipare a este, e no entanto nos deparamos com ele em cada celebração da Santa Missa.

Diz ainda a instrução do Catecismo que a Eucaristia é a excelência e a perfeição de todos Sacramentos; pois apesar das maravilhas que os outros Sacramentos produzem na alma, todos eles são instrumentos usados por Deus para nos dar a sua Graça. Na Sagrada Eucaristia, entretanto, não temos um instrumento que nos comunica a Graça Divina, e sim o próprio Autor da Graça, Jesus Cristo, real e verdadeiramente Presente, faz-se Alimento para a nossa salvação(!).


* * *

Assim, resumindo toda a questão, a importância da Celebração da Palavra vem justamente daquilo que lhe segue e para o que ela é preparação: a Liturgia Eucarística, que é o centro, o auge, o sentido e o fundamento de toda a Missa. A Eucaristia, mesmo sem a Celebração da Palavra, continuaria sendo para nós o maior de todos os Dons de Deus. A Celebração da Palavra, sem a Eucaristia, perderia a sua razão de ser.

As duas etapas da Missa são, juntas, importantes, exatamente porque juntas a compõem e, neste sentido, não haveria a celebração própria da Missa sem esses dois componentes. Poderíamos, então –, dentro deste sentido restrito e específico –, dizer que são igualmente importantes (para haver a Missa íntegra), Celebração da Palavra e Liturgia Eucarística. Todavia a importância da Mesa Eucarística é infinitamente maior e mais alta, porque é verdadeiramente o sentido, o fim e a realização, não só da Missa como também da nossa fé e de e toda a nossa vida enquanto seres espirituais que somos.

______
1. Embolismo é o desenvolvimento da última petição da oração dominical; nele se pede para toda a comunidade dos fiéis a libertação do poder do mal
___
Ref.:
PESSOA, João. Qual a diferença entre Missa e Celebração da Palavra?, disp. em:
http://www.comshalom.org/qual-a-diferenca-entre-missa-e-celebracao-da-palavra/
Acesso 27/8/017
www.ofielcatolico.com.br

19 comentários:

  1. Caro irmão em Cristo, seu texto foi ótimo e esclarecedor sobre o valor da Santa Missa. Mas, como um católico menos estudado do que o senhor, creio que entendi a dúvida da 'leitora anônima' e penso que era a seguinte: qual a diferença entre a Santa Missa e a Celebração da Palavra (aquela que leigos e ou freiras presidem em capelas onde não há a presença de sacerdotes. Espero que não se ofenda com meu comentário e, desde já, penso que também eu possa estar enganado.

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    1. Também entendi que era essa a dúvida assim como tenho a mesma dúvida de como devemos participar da celebração da palavra sem o Sacerdote

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    2. Foi o que entendi também: a diferença entre a missa, claro, celebrada pelo padre e a celebração da Palavra pelo diácono ou pelo ministro da Palavra.

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  2. Pax et bonum!
    Irmãos, qual seria a tradução literal de 'Católico Romano' em Latim para ser usado como um verbo nominativo por exemplo?
    Salve Maria!

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    1. Boa noite, Cristiano. Não entendi sua pergunta, pois nominativo é um caso dos nomes (substantivos, adjetivos, numerais...). Os verbos podem ser transitivos (diretos ou indiretos) ou intransitivos. Mas acho que você quer saber qual a tradução de Católico Romano (ambos de segunda declinação) como complemento de um verbo. Se for isso, o caso seria acusativo, ou seja, com função de objeto direto, se o verbo for transitivo direto, e se traduziria por Catholicum Romanum; mas se o verbo for o verbo esse (ser) deve-se usar o caso nominativo, pois teria função sintática de predicativo do sujeito, e se traduz por Catholicus Romanus. Se o verbo é transitivo indireto, o caso a ser declinado seria o dativo e a tradução seria Catholico Romano, ou seja, é mais fácil você dizer a frase inteira em português para melhor traduzir em latim.

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    2. Boa noite, Sid!
      Eu agradeço-te imenso pela tua solicitude em sanar a minha dúvida!
      Salve Maria!
      Ad majorem DOMINI JESU CHRISTI Gloriam!

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    3. Como endereço de email, eu utilizo o 'Catholico Romanum'. Este não está correcto?

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  3. A Paz de Nosso Senhoire Jesus Cristo e o Amor de Maria esteja em nosso corações...
    só uma questão que não entendi...será que o questionamento feito pela "leitora" não se tratava de Santa Missa em relação à celebração da Palavra (ou Culto), que é celebrado sem a presença do Presbítero ?

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    1. Perfeito. Acredito que seja esta a dúvida mesmo.

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    2. Bom dia,
      A minha dúvida na verdade foi entre O Culto (onde só tem os Ministros da Eucaristia) e a Santa Missa.
      É por que onde moro ele não falam Culto, mas Celebração da Palavras.

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    3. Eu fiz essa pergunta sobre o Culto e a Missa, por que eu não participava do Culto na minha Comunidade, eu ia para a Paróquia participar da Missa, e eles achavam que era um absurdo isso. Que era um exagero... Aí, um dia conversando com o seminarista, ele disse que participar do Culto e da Missa tem o mesmo valor, e eu disse que não. E ele começou a citar um monte de documentos, e eu fiquei na dúvida.

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  4. Boa noite. Paz e Bem. Eu acredito piamente que não há diferença quanto à validade para o cristão, pois que na Celebração da Palavra, há também a distribuição da Eucaristia, portanto ali está Cristo Na Palavra e na Eucaristia.

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  5. O conceito de missa resolve a questao: é a renovação incruenta do sacrificio de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do calvário.
    Vê-se que na celebração da palavra (culto) nao há a Consagração da Eucaristia, nao se cumpre aquilo que Jesus disse na última ceia 'fazei isto em memoria de mim'.
    Ademais o Culto foi instituído para os lugares onde há a falta de padres e para q a comunidade dos catolicos nao ficassem dispersos foi incentivada a participação na chamada celebração da Palavra.

    Sentença: missa e celebração da palavra nao tem o mesmo valor. Ã missa nao se pode comparar nada. A missa é maior que a celebração.

    E nao se cumpre preceito participando da celebração da palavra, tem que ser missa.

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  6. Gostaria de entender sobre o ponto em que o doc do Concilio Vaticano II, Dei Verbun, coloca que a sagrada eucaristia e a sagrada palavra tem o mesmo valor.. Será que entendi errado? Obrigado.

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    1. Há algum engano, Adirlei. Não há essa afirmação na Const. Dei Verbum. Por favor, diga exatamente em que ponto do documento você viu isso.

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Apostolado Fiel Católico

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  7. "Não podendo participar da Eucaristia, [...] a Igreja como comunidade pascal se realiza na Celebração da Palavra." (G. Lutz)

    Embora algumas pessoas questionem o valor da Celebração da Palavra, ela é um verdadeiro ato liturgico com força sacramental, pois nela "Cristo está presente e nos faz participantes do seu ministério pascal pela reunião da comunidade, pelas leituras proclamadas e comentadas, pelos cantos e orações" (Buyst).

    O Sacrosanctum Concilium afirma que "Para levar a efeito sua obra de salvação, Cristo está presente na sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Escrituras Sagradas na Igreja. Está presente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles (Mt 18,20)" (SC 7).

    O único pão da vida, Jesus Cristo, é partilhado à Mesa da Palavra e à Mesa da Eucaristia. (DV 21), por isso, reconhecendo tão grande importância da Palavra de Deus como presença real de Cristo no meio do seu povo, o Concilio Vaticano II previu a Celebração da Palavra aos domingos e dia dias de festivos na ausência do padre (SC 35,4).

    Graças a essa nova visão da presença de Jesus, muitas comunidades continuam vivas e perseverantes no compromisso com o reino. O valor pastoral da celebração dominical da Palavra é inestimável, não é apenas um momento para se ouvir falar de Jesus, é antes de tudo o momento privilegiado da comunidade em que o próprio Cristo fala à assembleia reunida.

    Fonte: ALMEIDA, de S. F. Celebrações na Ausência do Presbítero: Fundamentação, roteiro e sugestões. ed. Vozes, 2012.

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  8. Eu acredito sim que tenha a mesma importância. Imaginemos tantas comunidades que temos no Brasil que o Padre consegue ir uma vez ao mês..ou nem isso. (Sou testemunha disso). Imagine se isso falado que a celebração da Palavra tem menos importância pega....vixe..fica pouca gente participando. Valorizemos a missão bonita de tantos leigos e leiga que no dia a dia ajuda o povo a caminhar em comunidade. Com respeito: a resposta inicial dada a pergunta da nossa irmã foi longa e confusa. Até...

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