Nota: "A Força do Silêncio" é um livro do Cardeal Robert Sarah, que tenta nos mostrar quão importante é o silêncio, principalmente para a vida espiritual e ainda mais nos tempos atuais, em que vivemos em uma verdadeira "ditadura do barulho". Abaixo, reproduzimos o belo prefácio que Bento XVI fez para a obra.
DESDE QUANDO, NOS ANOS de 1950, pela primeira vez eu li as cartas de Santo Inácio de Antioquia, ficou-me especialmente gravada uma passagem de sua Carta aos Efésios:
O que significa "ouvir o silêncio" de Jesus e reconhecê-lo por seu silêncio? Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus costumava passar as noites a orar a sós, "sobre o monte", em diálogo com o Pai. Sabemos que o seu falar, que a sua palavra provém da permanência no silêncio e que só no silêncio poderia amadurecer. É revelador, portanto, o fato de que a sua palavra só possa ser compreendida de modo justo quando se adentra também em seu silêncio; só se aprende a escutá-la a partir dessa sua permanência no silêncio.
É claro que, para interpretar as palavras de Jesus, é necessária uma competência histórica que nos ensine a compreender o tempo e a linguagem da época. Mas isso por si só não basta para colher verdadeiramente, em toda a sua profundidade, a mensagem do Senhor. Quem lê os comentários aos Evangelhos, cada vez mais volumosos, que são feitos atualmente fica desapontado no final. Aprende muitas coisas úteis sobre o passado e defronta-se com muitas hipóteses que, no final, em nada favorecem a compreensão do texto.
No final, tem-se a sensação de que aquele excesso de palavras falta alguma coisa essencial: entrar no silêncio de Jesus, silêncio do qual nasce a sua palavra. Se não conseguirmos entrar nesse silêncio, sempre ouviremos a palavra de modo superficial e assim não a compreenderemos verdadeiramente. Todos esses pensamentos atravessaram-me de novo a alma ao ler o novo livro do cardeal Robert Sarah, que nos ensina o silêncio: permanecer em silêncio com Jesus, o verdadeiro silêncio interior.
Ao nos propor justamente isso, ele também nos ajuda a compreender de um modo novo a palavra do Senhor. Naturalmente, ele fala pouco ou nada de si, mas mesmo assim nos permite entrever algo da sua vida interior. Quando Nicolas Diat lhe pergunta: "Ao longo da sua vida, o senhor se deu conta algumas vezes de que as palavras foram se tornando demasiadamente inoportunas, pesadas e ruidosas?". Ele responde: "Em minhas orações e em minha vida interior, sempre senti a necessidade de um silêncio mais profundo e completo [...].
Os dias de solidão, de silêncio e de jejum absoluto foram um grande alento, uma graça incrível, uma lenta purificação e um encontro pessoal com Deus [...]. Os dias de solidão, de silêncio e jejum, alimentado apenas pela Palavra de Deus, permitem ao homem estabelecer sua vida sobre o essencial" (Pensamento 134). Nessas linhas revela-se a fonte de vida do cardeal, fonte que confere à sua palavra uma profundidade interior. Essa é a base que lhe permite reconhecer os perigos que continuamente ameaçam a vida espiritual, especialmente a de padres e bispos, ameaçando assim a própria Igreja, na qual, com não pouca frequência, em lugar da Palavra introduz-se uma verbosidade em que se dissolve a grandeza da Palavra.
Gostaria de citar uma frase que pode servir de começo para o exame de consciência de qualquer bispo: "Pode suceder que um sacerdote bom e piedoso, uma vez elevado à dignidade episcopal, descambe rapidamente na mediocridade e no desejo de ser bem-sucedido nos negócios mundanos. Sobrecarregado pelo peso de seus encargos, agitado pela vontade de agradar, preocupado com seu poder, autoridade e as necessidades materiais de seu ofício, gradualmente ele se esgota" (Pensamento 15). O cardeal Sarah é um mestre espiritual que fala a partir da sua profunda permanência silenciosa junto ao Senhor, fala a partir da sua profunda unidade com Ele, e, assim, tem realmente algo a dizer a cada um de nós.
Devemos ser gratos ao papa Francisco por ter posto tal mestre espiritual à frente da Congregação que é responsável pela celebração da liturgia na Igreja. Na liturgia, como na interpretação da Sagrada Escritura, também é necessária uma competência específica. No entanto, também na liturgia pode acontecer que o conhecimento especializado acabe por ignorar o essencial, caso não se fundamente numa profunda unidade interior com a Igreja orante, que aprende sempre de novo, com o próprio Senhor, o que é a adoração. Com o cardeal Sarah, um mestre de silêncio e de oração interior, a liturgia está em boas mãos. Bento XVI, Papa Emérito Cidade do Vaticano, Semana da Páscoa de 2017.
“É melhor permanecer em silêncio e ser do que falar e não ser. É belo ensinar quando se faz o que se diz. Um só é o Mestre que disse e fez, e o que Ele fez, permanecendo em silêncio, é digno do Pai. Quem realmente possui a palavra de Jesus pode ouvir também o seu silêncio, de modo a ser perfeito, de modo a agir por sua palavra e ser conhecido por sua permanência no silêncio.”
(15,1s)
O que significa "ouvir o silêncio" de Jesus e reconhecê-lo por seu silêncio? Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus costumava passar as noites a orar a sós, "sobre o monte", em diálogo com o Pai. Sabemos que o seu falar, que a sua palavra provém da permanência no silêncio e que só no silêncio poderia amadurecer. É revelador, portanto, o fato de que a sua palavra só possa ser compreendida de modo justo quando se adentra também em seu silêncio; só se aprende a escutá-la a partir dessa sua permanência no silêncio.
É claro que, para interpretar as palavras de Jesus, é necessária uma competência histórica que nos ensine a compreender o tempo e a linguagem da época. Mas isso por si só não basta para colher verdadeiramente, em toda a sua profundidade, a mensagem do Senhor. Quem lê os comentários aos Evangelhos, cada vez mais volumosos, que são feitos atualmente fica desapontado no final. Aprende muitas coisas úteis sobre o passado e defronta-se com muitas hipóteses que, no final, em nada favorecem a compreensão do texto.
No final, tem-se a sensação de que aquele excesso de palavras falta alguma coisa essencial: entrar no silêncio de Jesus, silêncio do qual nasce a sua palavra. Se não conseguirmos entrar nesse silêncio, sempre ouviremos a palavra de modo superficial e assim não a compreenderemos verdadeiramente. Todos esses pensamentos atravessaram-me de novo a alma ao ler o novo livro do cardeal Robert Sarah, que nos ensina o silêncio: permanecer em silêncio com Jesus, o verdadeiro silêncio interior.
Ao nos propor justamente isso, ele também nos ajuda a compreender de um modo novo a palavra do Senhor. Naturalmente, ele fala pouco ou nada de si, mas mesmo assim nos permite entrever algo da sua vida interior. Quando Nicolas Diat lhe pergunta: "Ao longo da sua vida, o senhor se deu conta algumas vezes de que as palavras foram se tornando demasiadamente inoportunas, pesadas e ruidosas?". Ele responde: "Em minhas orações e em minha vida interior, sempre senti a necessidade de um silêncio mais profundo e completo [...].
Os dias de solidão, de silêncio e de jejum absoluto foram um grande alento, uma graça incrível, uma lenta purificação e um encontro pessoal com Deus [...]. Os dias de solidão, de silêncio e jejum, alimentado apenas pela Palavra de Deus, permitem ao homem estabelecer sua vida sobre o essencial" (Pensamento 134). Nessas linhas revela-se a fonte de vida do cardeal, fonte que confere à sua palavra uma profundidade interior. Essa é a base que lhe permite reconhecer os perigos que continuamente ameaçam a vida espiritual, especialmente a de padres e bispos, ameaçando assim a própria Igreja, na qual, com não pouca frequência, em lugar da Palavra introduz-se uma verbosidade em que se dissolve a grandeza da Palavra.
Gostaria de citar uma frase que pode servir de começo para o exame de consciência de qualquer bispo: "Pode suceder que um sacerdote bom e piedoso, uma vez elevado à dignidade episcopal, descambe rapidamente na mediocridade e no desejo de ser bem-sucedido nos negócios mundanos. Sobrecarregado pelo peso de seus encargos, agitado pela vontade de agradar, preocupado com seu poder, autoridade e as necessidades materiais de seu ofício, gradualmente ele se esgota" (Pensamento 15). O cardeal Sarah é um mestre espiritual que fala a partir da sua profunda permanência silenciosa junto ao Senhor, fala a partir da sua profunda unidade com Ele, e, assim, tem realmente algo a dizer a cada um de nós.
Devemos ser gratos ao papa Francisco por ter posto tal mestre espiritual à frente da Congregação que é responsável pela celebração da liturgia na Igreja. Na liturgia, como na interpretação da Sagrada Escritura, também é necessária uma competência específica. No entanto, também na liturgia pode acontecer que o conhecimento especializado acabe por ignorar o essencial, caso não se fundamente numa profunda unidade interior com a Igreja orante, que aprende sempre de novo, com o próprio Senhor, o que é a adoração. Com o cardeal Sarah, um mestre de silêncio e de oração interior, a liturgia está em boas mãos. Bento XVI, Papa Emérito Cidade do Vaticano, Semana da Páscoa de 2017.
** Assine a revista O FIEL CATÓLICO e tenha acesso a muito mais!
www.ofielcatolico.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
** Inscreva-se para a Formação Teológica da FLSP e além das aulas mensais (com as 4 disciplinas fundamentais da Teologia: Dogmática, História da Igreja, Bíblia e Ascética & Mística) receba acesso aos doze volumes digitais (material completo) do nosso Curso de Sagradas Escrituras, mais a coleção completa em PDF da revista O Fiel Católico (43 edições), mais materiais exclusivos e novas atualizações diárias. Para assinar agora por só R$13,90, use este link. Ajude-nos a continuar trabalhando pelo esclarecimento da fé cristã e católica!
AVISO aos comentaristas:
Este não é um espaço de "debates" e nem para disputas religiosas que têm como motivação e resultado a insuflação das vaidades. Ao contrário, conscientes das nossas limitações, buscamos com humildade oferecer respostas católicas àqueles sinceramente interessados em aprender. Para tanto, somos associação leiga assistida por santos sacerdotes e composta por profissionais de comunicação, professores, autores e pesquisadores. Aos interessados em batalhas de egos, advertimos: não percam precioso tempo (que pode ser investido nos estudos, na oração e na prática da caridade) redigindo provocações e desafios infantis, pois não serão publicados.