Padre não queria ser identificado como sacerdote católico após escândalos, mas recebeu uma mensagem clara dos Céus


EM UMA MENSAGEM no Facebook, um sacerdote admitiu que, diante dos escândalos de abusos sexuais envolvendo o clero, ele chegou a sentir vergonha de usar o clergyman ou "clesma" (o colarinho branco clerical, que identifica os padres quando não estão usando a batina). Uma triste situação, mas terminou vivendo uma magnífica experiência que lhe devolveu a paz.

Trata-se do Pe. Jonathan Slavinskas, nascido em 25 de junho de 1984 em Worcester, Massachusetts (EUA), e ordenado sacerdote em 2012. Atualmente, ele é pároco de St. Bernard's Catholic Church of Our Lady of Providence Parish, onde é atuante e muito querido, especialmente pela comunidade carente.

Em sua mensagem compartilhada nas redes sociais no último dia 19 (agosto/2018), o sacerdote contou que durante toda a semana "andou com o coração pesado" e "completamente aborrecido e frustrado depois da divulgação dos relatórios de abusos na Pensilvânia e da situação de McCarrick".

Recordou Slavinskas que, quando estava no ensino médio e depois, na faculdade, os escândalos ocorreram pela primeira vez no nordeste do seu país; deste modo ee era consciente da "sombra" que estaria sobre ele se decidisse tornar-se sacerdote. Entretanto, seguiu com o seu ministério confiando em Nosso Senhor.

A minha oração contínua foi pelas vítimas. Na medida em que seguem as notícias, o meu coração sofre mais. Agora, o clergyman representa algo totalmente oposto ao que deveria ser. Enquanto caminhava pelas ruas, questionava-me sobre quantas das pessoas que me viam se perguntavam: ‘Este será também um abusador sexual?'”, escreveu.

Disse ainda que, nos últimos dias, depois de passar da reitoria à paróquia, e enquanto distribuía materiais escolares a jovens carentes do bairro, alguém lhe disse: "Tire o clesma!". Entretanto, uma experiência que teve ao visitar um hospital lhe devolveu a esperança e o seu desejo de usar este símbolo do seu sacerdócio, novamente e com alegria. Conta o próprio paddre Slavinskas:

Hoje de manhã, eu não queria usar o clergyman. Eu estava envergonhado. Estava cansado. Estava com raiva, mas mesmo assim o usei. Depois, quando visitei os paroquianos doentes no hospital, passei perto de uma mulher que estava do lado de fora de um quarto. Enquanto eu continuava andando em direção ao elevador, ela se aproximou de mim por trás e me perguntou se eu era um sacerdote católico. Eu estava pronto para receber o golpe...
Mas quando me virei e disse 'sim?', a mulher me perguntou, com lágrimas nos olhos, se eu poderia ungir o seu irmão, que estava morrendo de câncer.

Em seguida, Pe. Slavinskas refletiu e disse a si mesmo que não importava o que pensara sobre o clergyman nos últimos dias, pois aquela mulher o viu como "um sinal de esperança e da Presença de Cristo".

Se eu tivesse decidisse não usá-lo, seu irmão não teria recebido a Sagrada Comunhão de que necessitava, e toda a sua família não teria experimentado o consolo", reconheceu o padre. Além disso, recordou que o clergyman não trata do que ele poderia sentir ou não, mas que se “refere a Jesus Cristo”, trata-se de "recordemos que não estamos viajando sozinhos neste mundo".

Certamente não sou digno de usá-lo, mas percebo que estou chamado a usá-lo, não por mim, mas pelo bem dos outros. Quando o coloco, devo pedir a Deus para que me converta em um sacerdote santo, uma ponte e não um obstáculo.

Depois desta experiência, Pe. Slavinskas começou a rezar todas as manhãs por "uma consciência mais profunda da grande responsabilidade e magnitude do que representam" essas peças que são parte da vestimenta de um sacerdote.

"Por favor, façam uma oração por mim", concluiu Pe. Slavinskas em seu depoimento.

Parabenizemos ao Padre Slavinskas, fiel católico, pela fidelidade e pela atitude de coragem! Aqui está sua página do Facebook.

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Com ACI Digital 'VIRAL: Sacerdote não queria usar clesma após escândalo de abusos e isso foi o que aconteceu'.
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Dom Athanasius Schneider sobre o caso Viganò


DOM ATHANASIUS SCHNEIDER O.R.C., o respeitado Bispo auxiliar de Astana, Cazaquistão, e Bispo titular de Celerina, Suíça, teceu reflexões públicas a respeito da carta também pública do cardeal Dom Carlo Maria Viganò (saiba mais) às quais foram publicadas em português pelo combativo apostolado "Fratres in Unun". Reproduzimos, abaixo, o resumo das suas declarações nos trechos mais importantes dos comentários de Sua Eminência. Segue.

É um fato raro e extremamente grave, na história da Igreja, que um bispo acuse pública e especificamente o Papa reinante. (...) Dom Viganò confirmou sua declaração por meio de um juramento sacro invocando o nome de Deus. Não há, portanto, motivo razoável e plausível para duvidar da veracidade do conteúdo do documento do Arcebispo Carlo Maria Viganò.

(...) Católicos por todo o mundo, simples fiéis, os “pequenos”, estão profundamente chocados e escandalizados com os graves casos recentemente divulgados, nos quais autoridades da Igreja acobertaram e protegeram clérigos que cometeram abusos sexuais contra menores e contra seus próprios subordinados. Tal situação histórica, que a Igreja vive em nossos dias, requer absoluta transparência em todos os níveis da hierarquia da Igreja, e, em primeiro lugar, evidentemente, do próprio Papa.

(...) É completamente insuficiente e nada convincente que as autoridades da Igreja continuem a formular apelos genéricos de tolerância zero em casos de abusos sexuais por parte de clérigos e pelo término de acobertamento desses casos. Igualmente insuficientes são os apelos estereotipados de perdão em nome das autoridades da Igreja. Esses apelos por tolerância zero e pedidos de perdão se tornarão críveis somente se as autoridades da Cúria Romana lançarem as cartas à mesa, dando nome e sobrenome de todos aqueles na Cúria Romana – independentemente de seu posto e título – que acobertaram os casos de abusos sexuais de menores e de subordinados.

(...) Não surpreenderia se a oligarquia da mídia mainstream internacional, que promove a homossexualidade e a depravação moral, começasse a denegrir a pessoa do Arcebispo Viganò e deixasse o núcleo do assunto de seu documento cair no esquecimento.

(...) Firmeza e transparência em constatar e confessar os males na vida da Igreja ajudarão a iniciar um eficiente processo de purificação e renovação espiritual e moral. Antes de condenar os outros, todo detentor de cargo eclesiástico na Igreja, independentemente do cargo e título, deve se questionar, na Presença de Deus, se ele mesmo acobertou, de alguma forma, abusos sexuais. Descobrindo-se culpado, deveria confessá-lo publicamente, pois a Palavra de Deus o admoesta: 'Não te envergonhes de reconhecer tua culpa' (Ecl. 4,26). Pois, como São Pedro, o primeiro Papa, escreveu: 'Chegou o tempo do juízo, a começar pela Casa (Igreja) de Deus' (1 Pedro 4,17).

+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Maria Santíssima em Astana

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Fonte:
Fratres in Unun, 'Exclusivo – Reflexões de Dom Athanasius Schneider sobre o caso Viganò', disp. em:
https://fratresinunum.com/2018/08/28/exclusivo-reflexoes-de-dom-athanasius-schneider-sobre-o-caso-vigano/
Acesso 28/8/2018
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Arcebispo pede publicamente a renúncia do papa Francisco


O CARDEAL ARCEBISPO italiano Carlo Maria Viganò (foto), ex-representante diplomático/núncio apostólico  da Santa Sé nos Estados Unidos, afirmou em uma carta divulgada no domingo último (26/8/2018) que o papa Francisco sabia desde 2013 das acusações de abuso sexual envolvendo o cardeal norte-americano Theodore McCarrick, e que falhou gravemente em punir o prelado. 

Viganò, de 77 anos, escreveu uma carta de 11 páginas [leia na íntegra (em inglês)] – que foi publicada por veículos de Imprensa europeus – na qual denuncia membros da Igreja de formarem um "lobby gay" e acobertarem as acusações contra o Cardeal americano. Segundo o depoimento, Francisco conheceu o caso em 23 de junho de 2013 porque o próprio núncio o comunicara; mesmo assim, Francisco "seguiu encobrindo McCarrick", diz o documento, que contém a seguinte afirmação:

Neste momento extremamente dramático para a Igreja, ele deve admitir seus erros e, seguindo o proclamado princípio de tolerância zero, o papa Francisco deve ser o primeiro a dar um bom exemplo aos cardeais e bispos que acobertaram os abusos de McCarrick e renunciar junto com todos eles.”

Em junho, McCarrick, de 88 anos, foi afastado do Colégio Cardinalício e o Papa argentino "dispôs sua suspensão para exercer publicamente seu ministério sacerdotal, assim como a obrigação de que permaneça em uma residência que lhe será atribuída para uma vida de oração e penitência".

Viganò ainda explica, na carta, que foi o próprio pontífice quem lhe perguntou em 2013: "Como é o cardeal McCarrick?", e que informou ao pontífice que o ex-arcebispo de Washington "corrompeu gerações de seminaristas e sacerdotes, e assim o papa Bento XVI o afastou, ordenando que ele se retirasse para uma vida de oração e penitência".

Ao assumir Francisco, entretanto, logo contrariou a decisão de Bento e desfez sua ordem; bem mais do que isso, "fez de McCarrick o seu fiel conselheiro junto com Maradiaga (Óscar Andrés Rodríguez, cardeal hondurenho)". 

Viganò diz que Francisco é um homem muito preocupado em passar uma imagem pública de humildade e santidade, mas que seus modos nos bastidores são diferentes do que procura aparentar: "Só quando foi obrigado pela denúncia de um menor, e sempre em função dos aplausos dos meios de comunicação, tomou medidas para, assim, proteger a sua imagem midiática", denuncia.

O Arcebispo italiano justificou a denúncia ao Papa dizendo que a carta foi ditada para que todos saibam que "a corrupção alcançou o topo da hierarquia eclesiástica". Viganò destacou que enviou vários relatórios sobre a conduta do ex-arcebispo de Washington, mas que foi ignorado pelos cardeais Angelo Sodano e Tarcisio Bertonepelos, respectivamente, secretários de Estado de João Paulo II e Bento XVI.


Gravidade da denúncia

O ex-núncio também acusou o atual arcebispo de Washington, Donald Wuerl, sucessor de McCarrick, de conhecer as acusações, pois, do mesmo modo, ele mesmo o informara quanto ao assunto em várias ocasiões.

Viganò denuncia vários membros católicos pertencentes à ala mais progressista e próxima de Francisco, como o cardeal Maradiaga, e garante que também tem "relatórios" contra o recém-nomeado substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano, o venezuelano Edgar Peña Parra.

O documento, tem data de 22 de agosto, o que pode demonstrar uma certa hesitação da parte de Viganò em assumir tão pesada tarefa. No domingo, 26, veio a publicação, após as declarações de Francisco repudiando os abusos sexuais cometidos pelo clero na Irlanda, admitindo o "fracasso" da Igreja para lidar com a questão, durante o Encontro Mundial das Famílias em Dublin.



Assim como no caso das Dubia, Francisco também não se pronunciará quanto a este documento

O Papa Francisco disse neste domingo, 26, que ele não irá se pronunciar sobre as acusações.  Esta foi também a sia reação à época da publicação das Dubia (carta publicada por quatro eminentes cardeais que pediam filialmente uma explicação sobre as ambiguidades da Exortação Apostólica Amoris Laetitiasaiba mais).

Francisco conversou com jornalistas enquanto embarcava para deixar Dublin e voltar para Roma, após dois dias de visita à Irlanda.

"Eu li o documento esta manhã. Eu o li e vou dizer que, sinceramente, eu preciso dizer isso para vocês (jornalistas) e para todos vocês que estão interessados: leiam o documento cautelosamente e julguem por vocês mesmos", disse. "Eu não vou dizer uma palavra sobre isso. Eu acho que o documento fala por si mesmo e vocês (jornalistas) têm capacidade jornalística suficiente para chegar às suas próprias conclusões", completou.

Ele sabia ao menos desde junho de 2013 que McCarrick era um predador em série; e, mesmo sabendo que ele era um homem corrupto, (Francisco) o acobertou até o amargo fim. (da carta aberta do cardeal Carlo Maria  Viganò)
EFE e REUTERS, com Estadão e Veja
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A desgraçada descendência de Judas


Por Pe. Heitor Matheus – LifeSiteNews.com
Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere

O ASSUNTO QUE EU gostaria de abordar hoje não é fácil. Mas ninguém pode ignorar o que tem ocorrido e fingir que nada aconteceu. Os escândalos noticiados ao longo dos últimos sessenta anos são muitos dolorosos para a Igreja. E porque nos machucam, tendemos a não falar a respeito e deixar a água correr em silêncio. Isso, porém, não resolverá nada; pois a solução do problema não está em negar a sua existência. 

    Temos de ser realistas. Se há algo de errado, devemos aprender a encará-lo. Por isso, precisamos enfrentar esses fatos terríveis que vemos hoje em dia. São escândalos que abalaram a fé de muitas pessoas boas. Algumas deixaram de crer em Deus porque foram traídas pelos homens. Não podemos esquecer que a nossa fé não se baseia em homens, mas em Deus. É Ele a Rocha da nossa salvação. 

    Cremos porque Deus revelou-se a Si mesmo. Ainda que todos os sacerdotes fossem indignos da nossa confiança, isso em nada diminuiria a verdade da nossa religião. Traidores sempre os houve entre nós, desde o início da Igreja. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu os doze Apóstolos, havia entre eles um traidor: um homem eleito Apóstolo, que durante três anos conviveu com Nosso Senhor. Um homem encarregado de pregar a Verdade e agraciado inclusive com o poder de operar milagres. Um homem ordenado padre na Quinta-Feira Santa… Este homem era um traidor. Ele trocou a vida do Mestre por um punhado de moedas; ele abandonou sua vocação a fim de satisfazer sua paixão. 

    No caso de Judas, foi o amor ao dinheiro o que o fez perder Deus, mas poderia ter sido qualquer outro vício. Ele poderia estar sentado em um trono no Céu, mas ele preferiu o Inferno. 

    Oh! quão horrível é contemplar a queda de um “anjo”! No entanto, convém notar que os primeiros cristãos não perderam a fé diante da traição de Judas; tampouco pensaram eles que, sendo Judas um Apóstolo, também os outros Onze haveriam de ser traidores. 

    Não. Se adotarmos as “proporções” do Evangelho, podemos dizer que, a cada doze homens, um é traidor. Quando ouvirdes, pois, a notícia de um escândalo envolvendo um padre indigno da própria vocação, lembrai-vos, por favor, dos outros onze padres fiéis, cujos nomes não saem nos jornais [pois cumprir os Mandamentos de Deus e seguir o Evangelho não costuma dar 'ibope']. 

    Lembrai-vos e consolai-vos, porque, para cada traidor, há onze bons servos de Deus. Não podemos desconfiar de Pedro, Tiago e João e dos demais por causa de Judas. Sim, havia um traidor entre os Apóstolos, mas os outros Onze permaneceram fiéis. 

    Não permitamos que tais escândalos fragilizem a nossa fé. Esta missão é do diabo: destruir a Igreja de Deus, lançando-lhe no rosto imaculado a vergonha e a imundície de seus membros. Toda essa confusão, todas essas heresias, toda essa imoralidade, tudo isso não passa da fumaça de Satanás que penetrou a Igreja. Seja como for, a Igreja continua a mesma, a Esposa de Cristo, ainda que o seu rosto se encontre desfigurado pelos pecados de seus membros. A Igreja não se corrompeu, ainda que dentro dela haja muita gente corrompida. Lembrai-vos: a Igreja é, em si mesma, sem pecado, mas não sem pecadores. 

    Poderíamos, contudo, perguntar-nos: qual é a raiz do problema? Qual é causa de todos estes escândalos? Irmãos, duas são as causas. Antes de tudo, temos a perversidade, a malícia desses criminosos, que são pessoal e completamente responsáveis por todo o mal que praticaram. E eles fizeram muito mal, feriram muitas pessoas. O mais profundo círculo do Inferno está reservado a essa desgraçada descendência de Judas, que são todos os padres infiéis, caso não se arrependam a tempo. 

    Eis a causa imediata do problema: a malícia desses traidores, que deram as costas a Deus para servir os ídolos de suas paixões perversas. Há, porém, uma outra causa, que poderíamos chamar “mediata” ou “remota”, mas nem por isso menos importante para compreendermos o problema. E esta causa, irmãos, são os nossos próprios pecados. Os pecados de cada um de nós. Sei que preferiríeis não ouvi-lo, mas o fato é que os maus sacerdotes são um castigo de Deus devido aos nossos pecados. Deixai-me ler-vos o que há vários séculos escreveu São João Eudes: 

O sinal mais claro da ira divina e o castigo mais terrível que Deus pode lançar sobre o mundo é permitir que o seu povo caia nas mãos de padres que o são mais de nome que de coração, de sacerdotes que praticam a crueldade de lobos rapaces em vez da caridade de pastores zelosos. Permitir uma tal coisa é prova evidente de que Deus está irado com o seu povo, sobre o qual faz recair o mais pavoroso efeito de sua ira. É por isso que Ele clama sem cessar aos cristãos: “Voltai, filhos rebeldes, voltai, e dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3, 14-15). Nesse sentido, a imoralidade da vida dos padres constitui um flagelo contra os pecados do povo. 

    Meus irmãos, como nos deviam fazer tremer estas palavras! O triste estado em que vemos hoje a Igreja é consequência também dos nossos pecados. Estamos sendo punidos por Deus. A crise que hoje nos assola é, ao fim e ao cabo, uma crise de santidade. Falta de santidade, em primeiro lugar, no clero; mas falta de santidade também entre os leigos. 

    Por nossa infidelidade, provocamos a ira divina. Eis o ponto a que chegamos hoje. Mas o que podemos fazer, agora, para ajudar a Igreja nestes tempos tão conturbados? A primeira coisa a fazer, meus irmãos, é pedir a Deus por santos sacerdotes. Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Pedi ao Senhor da messe que envie operários à sua messe”. A Igreja sempre viu nessas palavras a obrigação de todos fiéis de rezar e fazer penitência, a fim de que Deus nos envie santos sacerdotes. 

    Há cerca de sessenta anos, a Igreja tinha o costume de dedicar anualmente doze dias de oração e penitência à santificação dos sacerdotes — eram as chamadas “Têmporas”. Doze dias de oração e penitência, que já não existem mais para boa parte dos fiéis, já que o costume se extinguiu com a reforma litúrgica. Com mudanças como esta, não é de espantar o quão baixo tenhamos caído! 

    De fato, quem hoje reza pelos padres? Quem se mortifica por eles? Temo que bem poucos hoje aqui poderiam levantar a mão e dizer: “eu”. Precisamos lembrar que os fiéis têm uma grave responsabilidade na santificação do clero. 

    A segunda [e talvez mais importante] coisa que devemos fazer para ajudar a Igreja é trabalhar em nossa santificação pessoal, pois, como vimos, essa praga de maus padres é um castigo dos nosso próprios pecados. Temos de compreender que formamos um só Corpo, de modo que os pecados de um membro afetam os demais. Nossos pecados têm consequências espirituais, não só para nós, mas para as nossas famílias e para toda a Igreja, e isso de tal maneira que poderíamos dizer que, quando nos degradamos pelo pecado, é a toda a Igreja que envilecemos; mas quando, ao contrário, buscamos elevar-nos por uma vida santa, elevamos conosco toda a Igreja. Dessa forma, queridos irmãos, todos estes escândalos devem ser para nós um apelo pessoal de conversão, uma chamada a rezarmos mais, a fazermos mais penitência, a pedirmos a Deus que se compadeça de nós e conceda à sua Igreja bons padres, santos sacerdotes, segundo o seu próprio Coração. 

    Três coisas, portanto, devemos ter em mente ao depararmos com um escândalo. Primeira: nossa fé não se baseia em homens, mas em Deus. Segunda: mesmo entre os doze Apóstolos havia um traidor. E terceira, os padres precisam das nossa orações. 

    Reclamar e lamentar-se, irmãos, não basta. Se queremos bons e santos sacerdotes, nós todos precisamos rezar. Amém.

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Fonte:

https://padrepauloricardo.org/blog/a-desgracada-descendencia-de-judas
Acesso 27/8/2018

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Movimento pela apostasia em massa na Argentina

COALIZÃO QUE DEFENDE o "Estado laico" – com uma concepção completamente distorcida do termo, já que laico não é sinônimo de ateu, e as convicções morais/espirituais/religiosas da população devem ser levadas em conta em qualquer sociedade de Direito democrático – ganhou destaque em manifestações a favor da legalização do aborto, rejeitada recentemente pelo Senado. 

Lá como cá, os militantes das ideologias anticristãs, mesmo constituindo uma minoria, são exemplarmente persistentes em suas metas e nunca não se dão por derrotados: quando a população pensa que o mal foi vencido, lá ressurgem eles com novas iniciativas. 

Vem ganhando força na Argentina esse movimento claramente satânico, que se opõe a qualquer influência de entidades religiosas na política e encoraja a população a abandonar (claro) a Igreja Católica, especialmente após a recente rejeição pelo Legislativo da legalização do aborto no país. Segundo o grupo, milhares já entregaram seus formulários de renúncia formal à Igreja. 


Vendedor oferece lenço com slogan pró Estado laico durante manifestação de apostasia coletiva em Buenos Aires (Foto: DW / Deutsche Welle)

Em manifesto publicado em seu portal de internet, a organização chamada "Coalizão Argentina por um Estado Laico" (CAEL) condena o que chama de "manobras exercidas por algumas autoridades eclesiásticas para atrasar, obstaculizar e renegar o exercício da liberdade de consciência e religião daquelas pessoas que renunciam sua afiliação à Igreja Católica". O grupo solicita a eliminação dos dados pessoais dos registros da Igreja.

Fundada em 2009, a CAEL se tornou mais conhecida durante as manifestações no início de agosto a favor do projeto de lei que visava legalizar o aborto na Argentina, distribuindo lenços de cor laranja. Após ser aprovada por maioria apertada na Câmara, a proposta acabou sendo rejeitada pelo Senado. A maioria maciça da população argentina comemorou o resultado, mas os inimigos de Cristo não desistem: no último sábado, dia 18 de agosto, centenas de pessoas se reuniram em Buenos Aires para o evento denominado "apostasia coletiva", convocado pela CAEL. A organização distribuiu formulários de renúncia à Igreja Católica, que serão entregues à Conferência Episcopal do país, terra natal do papa Francisco.

Apostasia significa apostasia, o repúdio total e consciente da fé cristã (saiba mais). Segundo a fé cristã, tais pessoas estão, literalmente, pedindo para ser extirpadas do Corpo de Cristo e escolhendo não entrar no Céu. Longas filas se formaram na capital e em outras seis cidades do país. Os organizadores esperam ainda que milhares de pessoas registrem oficialmente o desejo de que a Igreja não interfira na política e de que seus nomes sejam retirados dos registros.

"Estamos recebendo apostasias de todos os que quererem renunciar a seus laços com a Igreja", disse Maria José Albaya, uma das organizadoras do evento. Segundo a coalizão, algumas dioceses se recusaram a iniciar os trâmites da desfiliação. "Este feito constitui uma grave violação das liberdades de consciência e religião", diz o manifesto.

Para se desvincular da Igreja, as pessoas que foram batizadas devem enviar uma carta à instituição informando sua decisão. No texto, deve ser mencionado o ano e o local onde ocorreu a cerimônia, além de uma breve explicação dos motivos da desfiliação.

A primeira "apostasia coletiva" foi organizada em 8 de agosto, dia do debate sobre o aborto legal no Senado. Na ocasião, cerca de 2.500 pessoas apresentaram sua renúncia à Igreja Católica e no último fim de semana o número de desfiliações foi similar, segundo a CAEL.

O movimento considera que a rejeição do projeto de lei que legalizaria o aborto até a 14ª semana de gestação foi influenciada pelas autoridades eclesiásticas. A Igreja Católica, assim como as protestantes/"evangélicas", opuseram-se fortemente à iniciativa, organizando manifestações e atos religiosos. 

Apesar do barulho feito pela CAEL, a Constituição da Argentina já assegura o direito à liberdade religiosa, ainda que o Estado outorgue um status jurídico preferencial à Igreja Católica – o que não é de se estranhar, na medida em que mais de dois terços dos 43 milhões de argentinos declaram-se católicos e, em qualquer regime democrático, a vontade da maioria prevalece.
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Fonte:
Portal Terra, 'Movimento impulsiona desfiliação da Igreja Católica na Argentina', em
terra.com.br/noticias/movimento-impulsiona-desfiliacao-da-igreja-catolica-na-argentina,c9f3fdc8c61a55091777cef4e3f0c1751j31h0m3.html
Acesso 25/8/2018
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Polonesas contra o feminismo: 'Não queremos que nos digam como devemos ser!'


UM VÍDEO PRODUZIDO pela página polonesa idź Pod Prąd (sim...) tem feito sucesso nas redes sociais. Postado em fevereiro deste 2018, a produção muito singela já teve milhões de visualizações e muitos milhares de compartilhamentos (aprox. 700 mil apenas na primeira página que o postou) e traz o depoimento de diversas mulheres polonesas contra o feminismo.

“O feminismo tira do homem a oportunidade de ser forte, guiar a família e proteger a mulher. E tira da mulher as suas características naturais, como graciosidade, beleza, sensibilidade e o direito de ser frágil. O feminismo força a mulher a provar que pode ser igualzinha aos homens”, diz umas das mulheres que aparecem na produção.

Uma outra diz que “é maravilhoso pedir ajuda a meu marido e saber que sempre posso contar com ele (...) Não consigo imaginar uma situação em que eu precise proteger meu esposo”. “Ser esposa e futura mãe faz com que eu me sinta realizada”, diz outra. “Desenvolva suas paixões, respeite a si mesma, respeite o seu corpo e, acima de tudo, comece a pensar” é a frase dita por ainda outra mulher bem resolvida.

Outras mulheres assumidamente satisfeitas com aquilo que são dizem outras grandes frases, como:

“Deus criou você de um jeito lindo. Deixe assim!”

“Uma mulher conservadora não tem que mudar nada. Ela sabe que é uma mulher e não sente falta de nada.”

“O feminismo é idiota. É contra o bom senso.” 

“Acho que hoje em dia as mulheres perderam a sua feminilidade, porque tentam se colocar no lugar dos homens.”

“Gostaríamos de dizer que não estamos interessadas no mundo projetado pelas feministas. Pouco nos importam a ideologia de gênero, as teorias queer, o ecologismo e outras ideias esquerdistas. Não queremos que nos digam o que devemos ser!”

“É hora de mostrar às feministas que a sua ideologia é estúpida e danosa para todas as mulheres. É hora de mostrar às mulheres normais que há milhões de nós!”

O vídeo promove o slogan “Sou uma mulher, #NãoUmaFeminista”. A página "idź Pod Prąd", que significa “Contra a corrente”, diz que oferece “pontos de vista que estão em conflito com as opiniões comumente promovidas”.

Assista ao vídeo, com legendas em inglês:


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Sempre família, 'Vídeo de polonesas contra o feminismo viraliza', disp. em:

https://www.semprefamilia.com.br/video-de-polonesas-contra-o-feminismo-viraliza-nao-queremos-que-nos-digam-o-que-devemos-ser/
Acesso 20/8/2018
www.ofielcatolico.com.br

Carta do Papa Francisco ao povo de Deus

ESCREVEU O SUMO PONTÍFICE da Igreja, papa Francisco, uma belíssima carta dirigida a todo o povo de Deus, a qual fala sobre a ferida e vergonha causada pelos casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero na Pensilvânia. Na carta, pede o Papa aos fiéis católicos que rezem e façam jejum, além de cobrar uma atuação firme das autoridades competentes. Segue a íntegra da carta.



«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele» (1 Co 12, 26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também em suas famílias e na inteira comunidade, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a protecção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.


1. Um membro sofre?

Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a se sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz.

Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, uniu-se ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: «Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!… A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)» (Nona Estação).


2. Todos os outros membros sofrem com ele.

A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse facto de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso, em si, não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual «porque trata-se duma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça em anjo de luz” (2 Cor 11, 14)» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 165). O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4, 9).

Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam a integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.

Juntamente com esses esforços, é necessário que cada batizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária, e nos leva dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor[1], que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso.

É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas[2]. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja – tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência – como é o clericalismo, aquela «atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo»[3]. O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo.

É sempre bom lembrar que o Senhor, «na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso em nossas comunidades, sem a participação activa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a nos colocar diante do Senhor e de nossos irmãos feridos, como pecadores que imploram o perdão e a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos elaborar acções que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque «sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 11).

É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite nos abrir e nos comprometer mais com o presente num caminho de conversão renovada.

Da mesma forma, a penitência e a oração nos ajudarão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar o afã de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade e na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, sexual e de consciência.

Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados a ser «um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 1).

«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele», disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, justiça, prevenção e reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé e ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produz essas chagas eclesiais, com Maria nos fará bem «insistir mais na oração» (cf. S. Inácio de Loiola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer mais no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, nos ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões ou pusilanimidade. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar.

Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem.

Francisco, 266º Sumo Pontífice da Igreja de Cristo

Cidade do Vaticano, 20 de Agosto de 2018.


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1. «Esta espécie de demónios não se expulsa senão à força de oração e de jejum» Mt 17, 21.

2. Cf. Carta do Santo Padre Francisco ao Povo de Deus que peregrina no Chile, 31 de Maio de 2018.

3. Carta do Papa Francisco ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, 19 de Março de 2018.

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Fonte:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2018/documents/papa-francesco_20180820_lettera-popolo-didio.html
Acesso 20/8/2018

Este jovem mandou três padres para a cadeia... mentindo contra eles


...MAS A INOCÊNCIA não costuma ser destacada pela mídia ávida por acusações, ainda que sejam caluniosas

A influente revista norte-americana Newsweek publicou extensa reportagem sobre a série de falsidades do ex-coroinha Daniel Gallagher, que se tornara conhecido no país como “Billy Doe”. As mentiras do jovem redundaram na injusta condenação de três sacerdotes e um professor da arquidiocese da Filadélfia, acusados de abusos sexuais cometidos contra ele.

Em 2011, Daniel Gallagher, então com 22 anos, virou manchete nos Estados Unidos ao afirmar que tinha sido violentado diversas vezes pelos padres Charles Engelhardt e Edward Avery (este último acabaria deixando o ministério sacerdotal) e pelo professor Bernard Sheroe quando cursava a quinta e a sexta séries na escola da paróquia de São Jerônimo, na Filadélfia. Seu testemunho levou à condenação dos três supostos agressores e também do pe. William Lynn, ex-vigário da arquidiocese para assuntos do clero, considerado culpado de acobertamento. Foi o primeiro caso da história em que um administrador católico foi condenado por esse tipo de acusação.

O processo foi estendido contra a arquidiocese da Filadélfia, condenada a pagar a “Billy Doe” uma indenização de aproximadamente 5 milhões de dólares. O valor foi pago em agosto de 2015.

Nesse meio tempo, o pe. Charles Engelhardt morreu na cadeia, em novembro de 2014, após ter um pedido negado pela justiça para se submeter a uma cirurgia cardíaca.

Desde as primeiras acusações lançadas por “Billy Doe” em 2009, o jovem apresentou pelo menos nove versões diferentes dos supostos abusos de que se dizia vítima. Sua história, por mais inconsistente que se revelasse, foi o suficiente para atrair as atenções da jornalista Sabrina Rubin Erdely, da revista Rolling Stone, que, em 2011, deu voz às denúncias do rapaz num longuíssimo artigo intitulado “The Catholic Church’s Secret Sex-Crime Files” (“Os arquivos secretos dos crimes sexuais da Igreja Católica”). O texto descrevia “Billy Doe” como “um doce e amável menino de boa aparência juvenil”.

A mesma jornalista escreveu mais tarde sobre o caso de “Jackie”, estudante da Universidade de Virginia que declarava ter sido estuprada por 7 homens durante uma festa de acadêmicos. Pouco tempo depois, descobriu-se que a história de 2014, garrafalmente estampada nas capas da mídia americana e mundial durante semanas, não passava de pura mentira de “Jackie”.

A revista Rolling Stone teve de se retratar publicamente – e agora enfrenta dois processos por difamação.

Voltando ao caso dos padres acusados por mentiras semelhantes: a congregação religiosa do pe. Engelhardt, os Oblatos de São Francisco de Sales, contratou os serviços do psiquiatra forense Stephen Mechanik para avaliar “Billy Doe”, com ordem judicial. No relatório de 40 páginas, divulgado pela revista Newsweek, o psiquiatra mostra os resultados dos exames de MMPI-2 (Inventário de Personalidade Multifásico de Minnesota), aplicados ao jovem acusador: nos exames, “Billy Doe” admite que mentiu e que forneceu “informações pouco confiáveis” sobre o caso.



Para demonstrar que o jovem “nem sempre foi honesto com seus prestadores de serviços médicos”, o psiquiatra fez uma revisão minuciosa da trajetória clínica de Daniel Gallagher, o “Billy Doe”: nada menos que 28 instituições entre clínicas de reabilitação por uso de drogas, hospitais, médicos e conselheiros sanitários.

Em uma das mentiras de Daniel Gallagher, contada em 2007 e repetida em 2011, ele se dizia “paramédico e surfista profissional” e alegava ter tido que abandonar o esporte devido ao vício em drogas. Diante do Dr. Mechanik, porém, ele admitiu que não era paramédico e que nunca foi surfista profissional. O rapaz também tinha afirmado que sofria de hérnia de disco, mas o Dr. Mechanik constatou que nenhum dos registros médicos indicava qualquer diagnóstico desse alegado quadro. Da mesma forma, nas acusações de abuso sexual, o rapaz apresentou, segundo o perito, “informações contraditórias e pouco fiáveis” quanto aos detalhes dos supostos ataques, o que implica que “não é possível concluir com grau razoável de certeza psiquiátrica ou psicológica que o Sr. Daniel Gallagher tenha sido abusado sexualmente”.

A trajetória de Daniel Gallagher inclui fatos verificados como o consumo e tráfico de heroína, além da expulsão de duas escolas secundárias e da passagem por 23 centros de reabilitação por uso de drogas num período de 10 anos. Ele ainda foi detido 6 vezes por roubo e por tráfico de drogas, incluindo um caso de posse e tentativa de distribuição de 56 pacotes de heroína.

“Curiosamente”, nada disso parece ter levantado as suspeitas da justiça norte-americana, que deu crédito ao jovem apesar da falta de provas e, com base apenas em acusações contraditórias, condenou à cadeia, injustamente, os três sacerdotes católicos e o professor apontados como estupradores.

E não foi por falta de alertas: em declaração confidencial obtida e divulgada pela Newsweek, o detetive Joseph Walsh foi consultado, em 29 de janeiro de 2015, sobre nove contradições importantes na história de Daniel Gallagher. O investigador testemunhou que, quando interrogara o rapaz sobre as suas contradições, Daniel adotava três atitudes: ou permanecia sentado sem dizer nada, ou se limitava a alegar que estava drogado, ou contava mais uma história diferente.

A própria revista Newsweek afirma que há um conjunto de razões para se acreditar que Daniel Gallagher mente reiteradamente. A publicação cita, como exemplo adicional aos já mencionados, registros escolares de numerosas denúncias de lesões físicas e psíquicas supostamente sofridas pelo rapaz – todas refutadas.

A quantidade de absurdos no julgamento dos acusados levou o Tribunal Superior do Estado da Pensilvânia, em 22 de dezembro de 2015, a anular pela segunda vez a condenação do pe. William Lynn e a ordenar um novo julgamento. Três juízes concluíram que a magistrada da primeira instância, M. Teresa Sarmina, tinha admitido como provas 21 acusações adicionais de abuso sexual contra o sacerdote – mas as acusações remontavam a 1948, três anos antes do nascimento do padre.

No funeral do pe. Engelhardt, o superior provincial dos Oblatos de São Francisco de Sales, pe. James Greenfield, revelou que, na véspera do julgamento, o falecido sacerdote tinha recebido a proposta de “negociar um acordo para sair da prisão e realizar serviços comunitários”. O sacerdote preferiu ficar na cadeia “porque não pretendia perjurar contra si mesmo ao se declarar culpado de um crime que simplesmente não tinha cometido”.

Justiça e verdade
O escândalo de sacerdotes, religiosos e freiras da Igreja católica responsáveis por abusos morais, econômicos e sexuais é um fato dolorosamente real e comprovado em dezenas de países de todos os continentes.

E é dever de justiça denunciar e punir com rigor cada um desses crimes, tanto por parte das autoridades civis quanto das eclesiásticas – nem sempre, porém, as autoridades eclesiásticas envolvidas tiveram mão firme para cumprir este dever, envolvendo-se, algumas delas, no escândalo adicional do acobertamento dos abusadores.

Os Papas Bento XVI e Francisco impulsionaram medidas rígidas de combate tanto a esses crimes quanto ao seu encobrimento por parte de autoridades cúmplices, embora a rede de facilitação de abusos fosse ampla o suficiente para continuar interpondo obstáculos às novas medidas de transparência, punição dos criminosos e indenização às vítimas.

Apesar dessas sabotagens, as medidas adotadas pela Igreja têm sido firmes e efetivas, conforme pode ser conferido nas matérias recomendadas abaixo(ou em muitíssimas outras):

As medidas da Igreja católica para enfrentar e solucionar o problema têm lhe dado lugar de destaque positivo entre as muitas outras instituições que, com bem menos sensacionalismo midiático, também vêm sendo acusadas de crimes idênticos – e isso envolve políticos, juízes, autoridades policiais e do exército, figurões do mundo das finanças internacionais e dos impérios da mídia, astros do cinema e da televisão e craques do universo esportivo, além de outras religiões e seitas, para citar apenas uma parte dos setores já comprovadamente manchados. Mas a mídia, assim como a ONU e sua agenda ideológica nem sempre interessada na verdade dos fatos, prefere evidenciar e até amplificar os casos ligados a clérigos.

Além de se esforçar para ampliar ao máximo toda acusação contra a Igreja, coisa que não costuma fazer com o mesmo empenho no caso de outras instituições, a mídia também parece esforçar-se para dar o mínimo possível de destaque às notícias sobre a inocência de padres caluniados e até presos injustamente por crimes que não cometeram.

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Com o portal parceiro Aleteia, em:
https://pt.aleteia.org/2017/05/17/este-jovem-levou-3-padres-para-a-cadeia-mentindo-contra-eles/
Acesso 17/9/2018
www.ofielcatolico.com.br

Rezar com constância o santo Rosário: um depoimento



ANTES DE SER CATÓLICO, e mesmo algum tempo depois de convertido, sempre achava exagerado o que se dizia a respeito do Rosário. Como poderia, pensava eu, um suporte para oração repetitiva ser causa de tanta transformação, sustento, consolação, incentivo, força? 

Então eu resolvi me dar a chance e rezar ao menos um terço por dia. Durante semanas, nada parecia ter acontecido, mas mesmo assim segui o intento, porque, se por um lado desconfiava da eficácia dessa oração, por outro cria sobrenaturalmente nas mensagens de Nossa Senhora em Fátima e em outros momentos da História. 

Porém, a partir de um determinado ponto, por falta de disciplina e constância, fui espaçando os dias em que pegava no terço, chegando a ficar semanas inteiras sem recorrer às contas de Aves-Maria. Foi então que senti o baque: caí num estado espiritual «piorado» (que nada mais era que o estado anterior), e, olhando retroativamente, percebi que não era tanto que nada havia acontecido desde que começara a rezar o terço, mas que eu havia estado desatento demais para percebê-lo. 

Comecei a olhar em retrocesso: fato é que todas as minhas relações interpessoais haviam melhorado; minha vida profissional começou a organizar-se (porque eu comecei a organizar-me); a ansiedade com que lutei durante anos se dissipava a cada dia; uma paz inexplicável e nunca antes experimentada havia aparecido diante de mim e lá ficado; pequenas coisas, mas muito significantes, deram-me sinal de que teria de ter havido intervenção externa no rumo das coisas; passei a sentir um amor que jamais havia sentido pelas pessoas; passei a estar tranquilo, mesmo em meio a algumas adversidades até um pouco sérias, e foi aí que eu percebi que havia sido ela.

Isto é algo que os protestantes, que é de onde eu vim, jamais poderão entender. Deus «quis» nos dar uma mãe, a Sua mãe, que nos ama e zela por nós, que quer que sejamos perfeitos e todos do seu filho. Que está ansiosa por conceder-nos as graças que lhe foram confiadas. Uma mãe boa, muito melhor do que mereceríamos, que nos aguarda com seus braços abertos enquanto andamos extraviados pelo mundo. Soubera eu disso antes, e muita dor teria evitado, mas a verdade é que, às vezes, a corrupção é tão enorme, que não se chega à luz (da verdade) e ao calor (do amor) senão depois de uma amarga via purgativa.

Hoje eu entendo por experiência o que só sabia pela teoria, e a amo sobremaneira, porque ela me amou primeiro, e quero ser dela. Ontem fez 31 anos que fui batizado em uma igreja que a ela lhe foi dedicada, sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, e desde então ela estivera comigo, suportando a minha rebeldia, me esperando. Que não seja mais assim.

Oh, Tota Pulchra! Amo-vos como a uma mãe, respeito-vos e submeto-me a vós, como a uma senhora! Levai-me a vosso Filho e concedei-me as graças de que preciso até o fim dos meus dias. Amém.
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Objeções contra a Inspiração Bíblica

Por Daniel Iglesias Grèzes
Tradução de Carlos Martins Nabeto
Adaptação de Henrique Sebastião


Apresentaremos e refutaremos, a seguir, 4 objeções atuais contra a doutrina da inspiração bíblica divina (Deus inspirou os autores sagrados na produção das Sagradas Escrituras, bem como sua posterior canonização):



1. A objeção sobre a veracidade da Bíblia

Os críticos anticristãos manipulam uma grande quantidade de objeções contra a veracidade da Bíblia. Responder detalhadamente cada uma de suas objeções seria quase impossível porque requereria muito tempo e espaço. No entanto, é possível refutar globalmente a grande maioria destas objeções, em especial as objeções que não consideram a finalidade religiosa da Bíblia, nem os seus gêneros literários e nem o seu contexto histórico-cultural.

As objeções acima mencionadas se inscrevem tipicamente dentro de um conjunto de problemas bem conhecido, que se costuma chamar “a questão bíblica” e foi muito debatido entre os estudiosos da Bíblia desde o séc. XVII até meados do séc. XX. Depois de um tempo de maturação, os princípios gerais da solução da questão bíblica foram aceitos oficialmente pela Igreja Católica em 1943, através da Encíclica Divino Afflante Spiritu, do Papa Pio XII, de modo que o mínimo que se pode dizer dessas objeções antricristãs é que já passaram da moda. Bastante.

A grande maioria dos argumentos contrários à veracidade da Bíblia podem ser esquematizados em forma de silogismo:

– Premissa maior: Se a Bíblia é Palavra de Deus, então não pode ensinar erro nenhum;
– Premissa menor: Mas a Bíblia contém muitos textos que ensinam coisas contraditórias entre si ou com as verdades demonstradas pelas ciências naturais ou históricas;
– Conclusão: Logo, a Bíblia não é Palavra de Deus.

A premissa maior é verdadeira, mas a premissa menor é falsa; logo, a conclusão é inválida.

Analisemos mais de perto a premissa menor: ela supõe implicitamente uma interpretação fundamentalista da Bíblia, isto é, algo bem diferente do ensino católico sobre a Bíblia. O Fundamentalismo (próprio de muitas comunidades eclesiais de origem protestante e de alguns grupos semicristãos) rejeita o estudo histórico-crítico da Bíblia e dá à Sagrada Escritura uma interpretação simplista e superficial, ligada ao sentido aparente dos textos. A exegese católica, ao contrário, emprega a fé e a razão, os resultados do estudo científico da Bíblia iluminados pela fé cristã.

Ilustremos isto com um exemplo: o capítulo 1 do Gênesis relata a criação do Universo como obra de Deus. Segundo este relato, Deus empregou 6 dias para criar tudo o que é visível e invisível; no sexto dia, Deus criou o ser humano e, no sétimo dia, descansou. Uma interpretação fundamentalista deste capítulo rejeita todas as descobertas científicas que supõem uma evolução cósmica e biológica de bilhões de anos antes do surgimento do homem sobre a Terra. A interpretação católica, ao contrário, se baseia nestes dois princípios:

Como tudo o que afirmam os hagiógrafos ou autores inspirados é afirmado pelo Espírito Santo, se segue que os Livros Sagrados ensinam solidamente, fielmente e sem erro a verdade que Deus fez consignar nesses livros para a nossa salvação.
(Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, nº 11)

O intérprete indagará o que o autor sagrado diz e tenta dizer, segundo seu tempo e cultura, através dos gêneros literários próprios de sua época.
(Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, nº 12)

Vale dizer que a interpretação católica da Bíblia diferencia a verdade salvífica transmitida pela Bíblia da “roupagem literária” empregada como meio de transmissão da referida verdade. No exemplo citado, é claro que as verdades salvíficas que Deus nos transmite através de Gênesis 1 são coisas muito diferentes de uma cosmologia antiga, ou seja, Gênesis 1 nos transmite verdades como:

– Tudo o que existe foi criado por Deus;
– Tudo o que Deus criou é bom;
– O ser humano é o topo do universo material;
– O homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus;
– etc.

A necessidade de se levar em conta o gênero literário de um texto para dar-lhe uma interpretação racional é bastante clara. Não se pode interpretar uma narração épica da mesma maneira que um poema, um drama ou um ensaio filosófico. É óbvio que seria absurdo rejeitar a verdade da parábola do filho pródigo com base na inexistência histórica daquele “pai que tinha dois filhos”. Este erro é semelhante ao cometido na classe de argumentos críticos que estamos comentando.

É muito importante compreender bem o sentido da doutrina católica sobre a inerrância da Bíblia: a Igreja Católica crê que a Bíblia ensina sem erro a verdade que Deus quis nos transmitir (a nós, os homens) para a nossa salvação. Portanto, estamos tratando em princípio sobre verdades religioso-salvíficas e não de verdades científicas. A leitura da Bíblia permite conhecer a cosmologia dos antigos hebreus, mas também permite conhecer algo infinitamente mais importante: a verdade sobre Deus e a verdade última sobre o homem, sobre a sua origem, o seu fundamento, a sua vocação e o seu destino.

A Bíblia não é um manual de ciências e nem sequer, falando estritamente, um livro de história, mas sim um livro que nos transmite verdades religiosas importantes para a nossa salvação mediante gêneros literários próprios de uma cultura da Antiguidade. Muitas vezes a Bíblia nos transmite sua mensagem de salvação através da narração de uma história, mas trata-se então de uma “história teológica” ou, melhor, de uma “teologia histórica”, uma descoberta profética da Palavra de Deus através dos eventos históricos.

Como escreveu Santo Agostinho no início do séc. V, “a Bíblia não ensina como vai o céu, mas como se vai para o céu”. Se os críticos querem emitir um juízo sobre a veracidade da Bíblia, devem elevar o seu olhar e apontar para o verdadeiro objetivo do ensino bíblico: uma verdade propriamente religiosa.

Veja também O problema da Autoridade na Sola Scriptura
Ao ler a Bíblia a partir desta perspectiva (a única correta) se desvanece a falsa impressão de que a Bíblia ensina coisas contraditórias. As afirmações aparentemente contraditórias (referentes a questões científicas, históricas etc.) são meios literários que os autores sagrados usaram para transmitir verdades religiosas que são sempre verdadeiras e coerentes entre si.


2. A objeção sobre a autoria humana da Bíblia

Esta objeção tem a seguinte forma:

– Premissa maior: Se a Bíblia é Palavra de Deus, então não pode ter autores humanos;
– Premissa menor: Mas a Bíblia tem autores humanos (como se demonstra, p.ex., pelas influências dos mitos babilônicos nos relatos bíblicos da Criação e do Dilúvio);
– Conclusão: Logo, a Bíblia não é Palavra de Deus.

A premissa maior é falsa; logo, apesar de a premissa menor ser verdadeira, a conclusão é inválida.

A Bíblia é um conjunto de livros escritos por autores humanos inspirados por Deus. Deus é o autor principal da Bíblia; não obstante, os hagiógrafos ou escritores sagrados, ainda que tenham escrito tudo e apenas o que Deus quis que escrevessem, são também verdadeiros autores.

Os cristãos não creem que a Sagrada Escritura tenha sido escrita no céu, como creem os muçulmanos em relação ao Corão e os mórmons em relação ao Livro de Mórmon; tampouco imaginamos a inspiração bíblica como uma espécie de transe espírita. Ainda que Deus seja a causa principal da Bíblia e os hagiógrafos sejam suas causas instrumentais, estes não foram usados por Deus da mesma maneira que um músico usa seu instrumento musical. Os hagiógrafos agiram como instrumentos de Deus, porém conscientes e livres. Cada autor sagrado escreveu seguindo um plano determinado, conforme seu próprio estilo de pensamento e escrita, empregando alguns gêneros escolhidos por ele dentro do marco da cultura de sua época e do seu ambiente. A inspiração bíblica consiste no fato de o Espírito Santo ter iluminado as mentes dos hagiógrafos e os tenha assistido para que transmitissem por escrito e sem erro a Divina Revelação. Nem sequer é necessário que os autores sagrados fossem sempre conscientes desta inspiração divina enquanto redigiam a Bíblia.


3. A objeção sobre a santidade da Bíblia

Esta objeção tem a seguinte forma:

– Premissa maior: Se a Bíblia é Palavra de Deus, então não pode aprovar o pecado;
– Premissa menor: Mas a Bíblia aprova o pecado (p.ex., no relato do incesto das filhas de Lot, em Gênesis 19);
– Conclusão: Logo, a Bíblia não é Palavra de Deus.

Veja também Quais as práticas contra o respeito à integridade corpórea da pessoa humana?
A premissa maior é verdadeira, mas a premissa menor é falsa; logo, a conclusão é inválida.

A falsidade da premissa menor é evidente: o fato de a Bíblia narrar um pecado não implica que o aprove. Ao longo de toda a Bíblia se adverte claramente uma rejeição radical do pecado. Isto não é obstáculo para se reconhecer que a revelação bíblica foi gradual, particularmente no que se refere à doutrina moral do Antigo Testamento.


4. A objeção sobre a historicidade dos Evangelhos

Esta objeção tem a seguinte forma:

– Premissa maior: Se a Bíblia é Palavra de Deus, então os Evangelhos devem ser biografias exatas de Jesus;
– Premissa menor: Mas os Evangelhos não são biografias exatas de Jesus (como se demonstra, p.ex., através das diferenças entre os relatos evangélicos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus);
– Conclusão: Logo, a Bíblia não é Palavra de Deus.

A premissa maior é falsa; logo, apesar de a premissa menor ser verdadeira, a conclusão é inválida.

A Igreja Católica sempre afirmou com firmeza a historicidade dos Evangelhos. No entanto, isto não equivale a afirmar que os Evangelhos são biografias exatas sobre Jesus no sentido moderno desta expressão. Conhecer a crônica jornalística completa e exata da vida e das obras de Jesus de Nazaré não é necessário para a nossa salvação. Por isso, não devemos nos preocupar com o fato de os Evangelhos não nos permitirem reconstituir com total exatidão a cronologia e topografia das andanças de Jesus.

Os Evangelhos narram a história de uma determinada Pessoa num lugar e época determinados. A concordância das narrações evangélicas com a geografia, história, língua e cultura da Palestina do início do séc. I é tão perfeita e completa que situa os Evangelhos numa distância abismal de qualquer mitologia. Ainda que às vezes não possamos saber com total segurança se certas palavras são as mesmíssimas ditas por Jesus, os Evangelhos nos transmitem a doutrina de Jesus sem deformações. A imagem que [os Evangelhos] nos oferecem de Jesus é a de um personagem sem igual, reconhecível imediatamente.

Os Evangelhos nos oferecem um testemunho de fé sobre Jesus de Nazaré. Foram escritos por cristãos com a intenção de transmitir a outros o Evangelho ou a Boa Nova de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Porém, isto não retira o valor histórico do referido testemunho. Os Evangelhos em geral e os relatos da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo em particular devem ser considerados testemunhos substancialmente fidedignos a partir do ponto de vista histórico. Isto se demonstra aplicando-se-lhes os mesmos critérios de historicidade que são empregados para julgar os documentos da história profana.

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Fonte:

Revista Fe y Razón nº 8 – set/2006
Com 'Católico porque'

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Projeto quer tornar crime de responsabilidade dos ministros do STF a usurpação de competência do Legislativo

Sóstenes Cavalcante acredita que a comunidade jurídica não deve aceitar
o ativismo judiciário, utilizado recentemente (Reprodução/TV Câmara)

O OBJETIVO DA PROPOSTA, que já tem mais de dois anos e leva a assinatura de 24 deputados, é evitar que as decisões do Supremo Tribunal Federal esvaziem as atribuições do Congresso Nacional

O deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de lei que considera crime de responsabilidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a usurpação de competência do Poder Legislativo (PL 4754/16). A proposta leva a assinatura de outros 23 deputados, que apoiaram a iniciativa de Cavalcante.

A doutrina jurídica recente tem realizado diversas tentativas para justificar o ativismo judiciário. Este ativismo, se aceito pela comunidade jurídica, fará com que o Poder Judiciário possa usurpar a competência legislativa do Congresso.
(Sóstenes Cavalcante)

A Lei define seis hipóteses para crime de responsabilidade de ministro do STF: descumprir normas orçamentárias; alterar, exceto por via de recurso, decisão já proferida em sessão do tribunal; proferir julgamento, quando, por lei, é suspeito na causa; exercer atividade político-partidária; proceder de modo incompatível com a honra, dignidade e decoro de suas funções e ser negligente no cumprimento dos deveres.

O recebimento da denúncia e o julgamento dos ministros do Supremo são feitos pelo Senado.

• Íntegra da Proposta do PL-4754/2016

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Fonte:
Agência Câmara Notícias
Acesso 15/8/2018


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Otimismo e fé cristã


No mundo tereis aflições, mas tende
bom ânimo, eu venci o mundo!
(Jo 16,33)

VAI AQUI, COM ESTA breve reflexão, uma dica preciosa, um pequeno diamante do grande Tesouro que recebemos, um dom daqueles que Deus nos dá nas pequenas coisas desta vida difícil, quando menos esperamos, a nós que por nossos méritos nada merecemos, mas que Ele, por sua misericórdia infinita, faz questão de nos dar e que se poderá tornar uma ferramenta utilíssima em nossa vida de fé, ajudando-nos a caminhar melhor e mais rápido.

A dica é esta: saber que há um sinal claro e infalível de que a sua fé em Deus anda bem, que é legítima e verdadeira e que será proveitosa em todas as instâncias da sua vida. Mais do que isso, um sinal que demonstra que sua fé é mais do que uma mera confissão ou adesão formal, mas lhe proporciona uma íntima comunhão com Deus. O sinal é um ânimo constante para se manter de pé e prosseguir, avançar com firmeza e avançar adiante rumo a novas metas que trarão o bem para todos. O mundo pode nos dar (e é mestre nisso) milhões de motivos para que desanimemos, mas basta ser Deus o Ânimo e a motivação, a razão do otimismo e da alegria, para que as forças se renovem sempre, infinitamente.

Nosso Senhor disse ao paralítico, entrevado numa maca, o que nos diz todos os dias e a todo instante: "Coragem, filho! Tende bom ânimo!" (Mateus 9, 2). E logo concluiu: "Os teus pecados estão perdoados!”. A nós diz o mesmo, e nos perdoa sem fim, se reconhecermos e confessarmos nossos próprios pecados. Aquele paralítico era movido por uma grande fé e confiança em que o Senhor poderia fazê-lo se levantar e andar, apesar de tantos motivos para desanimar. E a primeira palavra que o Cristo lhe disse não foi: “Levanta”, mas sim: “Coragem, filho!” – anima-te, alegra-te, ressuscita a tua alma, retoma o gosto pela vida, porque não adianta ter duas pernas ótimas se o coração e a alma estiverem paralisados.

Se alguém diz que tem fé mas vive desanimado, algo está muito errado. A fé verdadeira dá coragem, bom ânimo, levanta os paralíticos de corpo e de alma. Aos que creem verdadeiramente, não há decepção nem amargura, dor ou frustração que os derrube. Eis um sinal da fé verdadeira: Coragem, ânimo, alegria, boa disposição, otimismo. E o otimismo é o combustível para uma vida de frutuosa e cheia de êxitos.

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Discurso católico censurado na audiência do STF sobre o aborto?


O PADRE JOSÉ Eduardo de Oliveira, da Paróquia São Domingos, diocese de Osasco, foi destaque na audiência sobre a despenalização do aborto promovida em agosto de 2018, denunciando com grande propriedade e objetividade –, apresentando fatos inescapáveis –, o escandaloso ativismo jurídico no STF, que compromete a isenção e a seriedade do próprio STF na análise da suposta inconstitucionalidade da proibição do aborto no Brasil. Juntamente com o bispo dom Ricardo Hoepers, da diocese de Rio Grande (RS), ele defendeu a posição católica em favor da vida desde a concepção.

    Após a sua participação na audiência, porém, o pe. José Eduardo precisou lançar mais uma denúncia via redes sociais: o STF cortara seu vídeo(!).

    O vídeo tendenciosamente editado tinha sido postado pelo canal do STF no YouTube. Seu título era “Audiência Pública – Descriminalização do aborto (4/4)“. No entanto, após a firme denúncia do pe. José Eduardo, mesmo esse vídeo, já truncado, foi retirado do site. 

    O link do vídeo do STF na íntegra está (ou estava) em https://youtu.be/nqH5GjABdRk. Hoje, porém, "curiosamente" esse link leva a uma mensagem de que o vídeo foi removido do YouTube. Totalmente conveniente para os grupos pró-aborto é que, a partir do corte, a impactante apresentação do Padre, com todos os fortíssimos argumentos que contém (e que deveriam ser definitivos) foram substituídos pelos vídeos com as falas da sexta-feira(!) Na segunda-feira de manhã estavam, justamente, os participantes pró-vidas, e justamente (exclusivamente) estes é que foram cortados. Um absurdo inadmissível.


Manipulação pró-aborto, desonestidade e censura?

Mais um caso flagrante da censura promovida pela verdadeira ditadura ideológica que nos assola? Comenta o Pe. José Eduardo a propósito do corte:

Para a minha surpresa, eles simplesmente cortaram a parte final do meu discurso, justamente aquela em que eu começava falando sobre a Romênia, que foi muito citada na audiência e é apresentada como exemplo de diminuição dos números de aborto após a aprovação; eu mostrava que, muito pelo contrário, o aborto na Romênia é nove vezes maior do que no Brasil. Mostrando esses números, chegava à conclusão de que, exatamente ao contrário do que tinha sido sustentado na audiência de sexta-feira, quando se legaliza o aborto, o número de práticas aumenta. Então, eu terminava dizendo: ‘Não mintam para o povo brasileiro, não subestimem a democracia. Democracia não é somente voto’. 

    No trecho cortado, o padre afirmava também: “Os brasileiros estão vendo o que está acontecendo aqui. Sabem o teatro que está sendo armado e sabem fazer valer o seu papel no regime democrático”.

    Sobre a censura deslavada, o pe. José Eduardo é igualmente incisivo: “É um absurdo que justamente o STF não queira nos dar a voz completa e agora corte o vídeo da nossa apresentação. Eles disseram que estavam lá para ouvir, mas, como vocês podem perceber, não é bem assim”.


A íntegra dos dois discursos

Já que o vídeo com o impactante discurso está, ao que tudo faz crer, sendo inconstitucionalmente censurado pelo STF – que vem se configurando hoje no grande inimigo dos anseios da população do nosso país – reproduzimos abaixo, na íntegra, os discursos do bispo de Rio Grande (RS), dom Ricardo Hoepers, e o do Pe. José Eduardo de Oliveira. Porque aos verdadeiros fiéis católicos, só calarão com a morte.



Discurso I – Dom Ricardo Hoepers

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ARGUIÇÃO
DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 442

DISTRITO FEDERAL PELA VIDA, CONTRA O ABORTO

“Não matarás, mediante o aborto, o fruto do teu seio” (Didaquê, século I)

Exma. Sra. Ministra Carmen Lúcia, Presidente deste Supremo Tribunal Federal, Exma. Sra. Ministra Rosa Weber, relatora da ADPF 442, Sres. Ministros, Senhoras e Senhores,

1. Razões de ordem ética, moral e religiosa

Eu quero iniciar com um ato de agradecimento à Sra. Exma. Ministra Rosa Weber, que no primeiro dia dessa Audiência a Sra. reconheceu que “trata-se de um tema jurídico delicado, sensível, altamente polêmico enquanto envolvem razões de ordem ética, moral e religiosa”. Diante disso é estranho, mas querem nos desqualificar como fanáticos e fundamentalistas religiosos impondo sobre Estado Laico uma visão religiosa.

Onde está o "fundamentalismo religioso" em aderir aos dados da ciência que comprovam o início da vida desde a concepção?

Onde está o "fanatismo religioso" em acreditar que todo atentado contra a vida humana é crime?

Onde está o "fundamentalismo religioso" em dizer que queremos políticas publicas que atendam saúde das mães e os filhos?

Por isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reitera sua posição em defesa da vida humana com toda a sua INTEGRALIDADE (dado científico), DIGNIDADE (Art. 1º da Const.) e INVIOLABILIDADE (Art. 5º da Const.), desde a sua concepção até a morte natural (Nota CNBB, 11/04/2017).

Isso é o mínimo de razoabilidade aceitável que nos permite estar aqui para discutirmos este tema com a recta ratio.

2. Considerar os reais sujeitos a serem tutelados

Não podemos tratar o assunto negando, deletando, ignorando a existência do bebê. Parece que estamos falando de uma vesícula biliar, de um rim, ou um adendo que precisamos extirpar, que está causando a morte das mulheres. O foco está errado!!! Se é um problema de saúde publica, deve ser tratado e solucionado como tal. Mas não foram poucas vezes que ouvi nesta Audiência a ideia de que é necessário que a mulher supere e transcenda a imposição do papel materno. A ideia do "desengravidar" as mulheres… isso Exma. Ministra, não tem nada a ver com os artigos 124 e 126 do Código Penal.

Mas a questão jurídica dos números 124 e 126 do Código Penal foi recepcionada sim, por todas as mães que, pensaram em abortar, mas não o fizeram lembrando que é um atentado contra a vida. Se negarmos isso, negaremos a capacidade de discernimento de todas as mulheres que optaram por não abortar para salvaguardar seus filhos. O desacordo não é jurídico. Desabilitando os já referidos números do código penal, este STF estaria desacreditando na consciência reta que tutela a vida mais frágil e inocente que é a do bebê.

O problema que ninguém quer nominar esse inocente. Ele foi apagado, deletado dos nossos discursos para justificar esse intento em nome da autonomia e liberdade da mulher. Mas, a criança em desenvolvimento na 12º semana é uma pessoa, uma existência, um indivíduo real, único e irrepetível e, provavelmente, neste momento, a mãe já escolheu um nome para seu filho.

Nós, brasileiros e brasileiras vamos esperar ansiosamente essa resposta da Suprema Corte: afinal, atentar contra a vida de um ser humano inocente é crime ou não?

Se a questão é de saúde, (Salus – salvar), a lei teria que proteger a mãe e o filho proporcionalmente. Como este STF vai explicar a permissão da pena capital a um ser humano inocente e indefeso para justificar nossa incapacidade de políticas publicas de proteção à sua saúde reprodutiva da mulher?

É assim que o Supremo Tribunal Federal vai garantir a inviolabilidade do direito à vida? Dando uma arma chamada “autonomia” para que homens e mulheres ao seu bel prazer interrompam a vida das crianças até a 12º semana sem precisar dar nenhuma satisfação de seu ato predatório? Esperamos que não, pois,

“O direito à vida é o mais fundamental dos direitos e, por isso, mais do que qualquer outro, deve ser protegido. Ele é um direito intrínseco à condição humana e não uma concessão do Estado. Os Poderes da República têm obrigação de garanti-lo e defendê-lo.

“Não compete a nenhuma autoridade pública reconhecer seletivamente o direito à vida, assegurando-o a alguns e negando-o a outros. Essa discriminação é iníqua e excludente. (Nota CNBB, 11/04/2017).

3. Propostas alternativas

Então poderíamos nos perguntar: o que fazer?

Urge combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres, nos campos da saúde, segurança, educação sexual, entre outros, especialmente nas localidades mais pobres do Brasil” (Nota da CNBB 17/04/2017), e isto não é matéria para ser discutida nesta Suprema Corte e, sim no Legislativo.

Mas, em todo caso, eu convido a Sra., Exma. Ministra Rosa Weber, que antes de tomar sua decisão, conheça pessoalmente ao menos uma, das casas Pró-vida que começam a se espalhar pelo Brasil. Nelas, a Sra. não vai encontrar só mulheres que recepcionaram os números 124 e 126 do Código Penal, não atentando contra a vida inocente, mas também encontrará os filhos que elas não abortaram dizendo: “obrigado porque me deixaram viver!”.

A Sra. poderá mostrar ao mundo que nenhuma sociedade democrática está condenada e obrigada a legalizar o aborto por pressões externas. Poderá mostrar que nosso país não se rebaixa para interesses estrangeiros sobre nossa soberania.

Nós também somos capazes de construir projetos sociais alternativos para ajudar as mães a gerar e cuidarem de seus filhos. Essas iniciativas já estão demonstrando que é muito mais eficaz, menos oneroso ao Estado e altamente salutar às mães (mulher), salvaguardar a criança (nascituro), do que dar a essas mulheres mais um trauma e um drama pelo resto de suas vidas. É uma pena que o Estado e muitas Instituições ficaram tão obcecados e limitados com a estreita visão do aborto e da sua legalização que, se pensássemos o uso dessas verbas para projetos alternativos de cuidado e acompanhamento das casas de acolhida, hoje estaríamos com uma visão diferenciada.

Cito apenas algumas delas:

Casa Pró-vida Mãe Imaculada (Curitiba – PR)
Casa Luz (Fortaleza – CE)
Casa mater Rainha da Paz (Canoinhas – SC)
Associação Guadalupe (São José dos Campos – SP)
Casa da Gestante Pró-Vida S Frei Galvão (Nilópolis – RJ)
Pró-Vida de Anápolis (Anápolis – GO)
Comunidade Santos Inocentes (Brasília – DF)
Estamos aqui, porque fazemos parte da maioria dos brasileiros que são movidos pela fé em Deus, mas também pelo cuidado e defesa da vida. Por essa fé, não medimos esforços nos gestos de verdadeira solidariedade, de justiça e de fraternidade.

Tem algo que Deus nos deu e ninguém pode nos roubar que é a esperança. Nossas comunidades, lá nas periferias do nosso país conhecem muito bem quem são as mulheres pobres, negras, sofridas… O que fazemos é mostrar outras saídas, outras alternativas para as mães desesperadas. São milhares de voluntários que, nas diversas pastorais, (gostaria de lembrar de quantas crianças nesse país Pastoral da Criança já salvou) acolhem, atendem, amam o que fazem e, isso não é fundamentalismo religioso, mas o fundamento da VIDA que é o AMOR, e quem ama cuida até o fim.

Pedimos, como CNBB, que esta Suprema Corte não permita a descriminalização do atentado contra a vida nascente.

O nome de muitas mulheres que infelizmente morreram por causa do aborto, aqui, foram lembrados… são perdas irreparáveis. Mas, nesse momento, a minha homenagem é para as crianças que morreram com suas mães, e que não sabemos seus nomes, mas com certeza, suas mães já o sabiam…

Essas crianças anônimas que a sociedade não tem a coragem de nominá-las e as esconde nos seus discursos e retóricas como se não existissem… ELAS EXISTIRAM E EXISTEM, nenhuma sã consciência pode negar isso.

Exma. Ministra Rosa Weber, um dia o grito silencioso desses inocentes calará fundo, pois a nossa nação, Pátria amada, mãe gentil, sentirá falta da alegria e do sorriso desses filhos que ela não deixou nascer. Permita-nos continuar cantando: “Dos filhos deste solo, és mãe gentil, Pátria amada Brasil”

Dom Ricardo Hoepers – Bispo de Rio Grande – RS


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Discurso II – Pe. José Eduardo de Oliveira

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ARGUIÇÃO
DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 442

DISTRITO FEDERAL PELA VIDA, CONTRA O ABORTO

Acerca do aborto, a CNBB pronunciou-se de maneira absolutamente inequívoca por diversas ocasiões, reiterando “sua posição em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural” e condenando, assim, “todas e quaisquer iniciativas que pretendam legalizar o aborto no Brasil”.

Pela limitação do tempo, quero fazer apenas quatro breves colocações em meu pronunciamento.

Primeira colocação:

Esta audiência não se presta para o fim a que foi convocada. Presta-se apenas para legitimar o ativismo desta Corte. Está-se fingindo ouvir as partes, mas na realidade está-se apenas legitimando o ativismo que virá em seguida. A prova é que os que defendem o reconhecimento do aborto como direito tiveram bem mais do que o dobro do tempo e bem mais do que o dobro de representantes dos que defendem a posição contrária. Isto não respeita o princípio do contraditório que está expresso na Constituição. O artigo quinto inciso 55 da Magna Carta estabelece que aos litigantes em processo judicial ou administrativo são assegurados o contraditório, – a igualdade das partes no processo -, e ampla defesa. Esta audiência, ao contrário, é parcial. A própria maneira pela qual esta audiência pública está sendo conduzida viola a Constituição Federal.

Segunda colocação.

A ADPF 442 sequer deveria estar sendo processada. Deveria ter sido indeferida de plano e imediatamente. A petição inicial é inepta porque a Lei 9882/99, que é a lei que rege as ADPFs, estabelece como requisito essencial para o processamento que a petição inicial venha instruída por controvérsia.

O artigo primeiro da Lei 9882 estabelece que “caberá arguição de descumprimento de preceito fundamental quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo”.

O artigo terceiro estabelece que “a petição inicial deverá conter a comprovação de existência de controvérsia relevante sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera violado”.

Ora, é fato evidente que desde 1988 nunca houve controvérsia sobre a constitucionalidade da norma impugnada. A controvérsia foi artificialmente fabricada no voto do Habeas Corpus 124.306 redigido pelo Ministro Barroso, ex advogado de organizações que defendem a despenalização do aborto. Até o voto não havia, em qualquer obra de direito constitucional ou penal, nenhum registro de suspeita de inconstitucionalidade da norma.

Terceira colocação.

O Supremo Tribunal Federal não pode legislar. Mas no nosso caso já não estamos nem mais falando de legislar, mas de usurpar o Poder Constituinte Originário. O artigo quinto da Constituição estabelece que a inviolabilidade do direito à vida é cláusula pétrea, e seu parágrafo segundo estabelece que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou seja, proíbe qualquer interpretação restritiva dos direitos consignados neste artigo, inclusive o direito à vida. A únicas restrições ao direito à vida são aquelas estabelecidas no próprio texto da Constituição. Portanto, nem o Congresso poderia diminuir estes direitos. Muito menos o Supremo Tribunal Federal.

Por estes motivos, tanto esta audiência pública quanto este processo não são legítimos.

Quarta colocação.

A Comissão Episcopal da Pastoral Familiar da CNBB, em artigo publicado na última sexta feira analisou os discordantes números aqui apresentados sobre as estatísticas do aborto. Estes números acabaram se tornando a base de quase todas as apresentações da audiência da sexta feira. Dezenas de representantes de organizações falaram de um milhão de abortos por ano e de quinhentos mil abortos por ano. A professora Débora Diniz disse explicitamente que o número anual de abortos calculados no Brasil é de 503 mil por ano. Disse também que as pesquisas constataram que metade destes abortos passam por internações na rede hospitalar. Isto daria cerca de 250 mil internações, o que conferiria com os dados do SUS. Ora, os dados do SUS são que há 200.000 internações por aborto por ano. A estimativa dos médicos experientes é que destes, no máximo 25% seriam por abortos provocados. Numerosas pesquisas apontam valores entre 12% e 25%. Em 2013 o IBGE estimou que o número de abortos naturais corresponde a 7 vezes o número de provocados.

Tomando o valor mais conservador de 25%, deveríamos concluir que se houvesse no Brasil 250 mil internações por abortos provocados, deveria haver entre um milhão e um milhão e meio de internações totais de abortos, e não apenas 200 mil. Além disso, os livros de obstetrícia e patologia afirmam que o número de abortos naturais, ocorridos em sua maioria no final do primeiro trimestre, é cerca de 10% do números de gestações, a maioria dos quais passam pelo SUS. Se as internações por abortos fossem um milhão ou um milhão e meio, o número de nascimentos no Brasil deveria ser 10 vezes maior. Nasceriam no Brasil entre 10 a 15 milhões de crianças por ano. Mas só nascem 2.800.000.

A realidade é que dos 200 mil abortos atendidos pelo SUS, no máximo 50 mil são abortos provocados. Provavelmente bem menos. Então no máximo há 100 mil abortos provocados por ano no Brasil. Os números que foram aqui apresentados são 10 ou mais vezes maiores do que a realidade. Toda esta inflação é para poder concluir
que onde se legalizou a prática, realizam-se menos abortos do que no Brasil.

Mas na Alemanha se praticam 120.000 abortos por ano. A Alemanha possui apenas 80 milhões de habitantes. Se a Alemanha tivesse 200 milhões como o Brasil, ali haveria 300 mil abortos por ano, três vezes os do Brasil.

Na Espanha se praticam 100 mil abortos por ano. A Espanha tem apenas 45 milhões de habitantes. Se possuísse duzentos milhões, ali se praticariam 400 mil abortos por ano, quatro vezes mais que o Brasil.

Os Estados Unidos tem 320 milhões habitantes, e 900 mil abortos por ano. Se tivessem 200 milhões de habitantes, praticariam 600 mil abortos por ano, seis vezes o Brasil.

O Reino Unido tem 60 milhões de habitantes e 200 mil abortos por ano. Se tivesse 200 milhões de habitantes, praticaria 700 mil abortos por ano, sete vezes o número do Brasil.

A Suécia tem 10 milhões de habitantes e pratica 40 mil abortos por ano. Se tivesse 200 milhões de habitantes, praticaria 800 mil abortos, oito vezes mais que o Brasil.

A Romênia, de que tanto se falou aqui, possui 20 milhões habitantes e pratica 90 mil abortos por ano. Se tivesse 200 milhões, faria 900 mil abortos por ano, nove vezes os do Brasil.

A China, com 1 bilhão e 300 milhões de habitantes e sete milhões e 400 mil abortos. Se tivesse a população do Brasil, faria um milhão e duzentos mil abortos por ano, mas isto é doze vezes o número do Brasil.

A Rússia possui 140 milhões de habitantes e um milhão e meio de abortos por ano. Isto é 23 vezes mais do que no Brasil.

Em todos estes países o aborto foi legalizado. Praticam entre três a 23 vezes mais abortos que o Brasil. Se examinarmos as estatísticas de outros países de que temos dados confiáveis e onde o aborto está legalizado, como Georgia, Casaquistão, Cuba, Estonia, Hungria, Ucrania, Islândia, Dinamarca, Noruega, Turcomenistão, Nova Zelândia, Coréia do Sul, França, Israel, Grécia, Portugal, Finlândia, África do Sul, Bélgica, Lituânia, Japão, Itália, Taiwan, Suiça, Uzbequistão, Canadá, Austrália, Holanda e outros, obteremos dados em tudo semelhantes.

A conclusão é que, exatamente ao contrário do que foi sustentado aqui pelos que estão interessados em promover o aborto, quando se legaliza o aborto o número de abortos aumenta, e não diminui. É no primeiro mundo onde se praticam mais abortos, e não no Brasil.

Por favor, não mintam para o povo brasileiro. Nós somos uma democracia.

Como disse o Ministro Barroso, democracia não é somente voto.

Pe. José Eduardo de Oliveira – Diocese de Osasco (SP)



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Com o portal Aleteia
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