Tihamer Toth, uma biografia

Biografia exclusiva por Henrique Sebastião
para a obra 'O Brilho da Mocidade' (Molokai, 2018)


Vê, caro jovem, também entre os homens há os com estômagos e corações de pardais. Quem são? Aqueles que têm um coração vazio, uma alma estéril e deserta, apesar de seus tesouros e riquezas; aqueles alheios aos valores infinitos da alma; aqueles que desfalecem de fome e sede enquanto se afogam na torrente dos gozos materiais. Eles desfalecem e definham porque se desviaram do Sol. (Tihamer Toth) [1]

TIHAMER TOTH NASCEU em Szolnok, Budapeste, capital da Hungria, aos 5 de maio do ano 1889. Filho do advogado Mátyás Toth e de sua esposa, Anna Prisztella, desde cedo manifestava grande interesse nas coisas de Deus e um especial talento para as letras.

Após a conclusão dos estudos fundamental e secundário, atendendo ao chamado divino, que sentia despertar com intensidade cada vez maior em sua alma, decidiu prosseguir com os seus estudos na formação em Teologia, o que se deu parte em Budapeste, depois em Paris, França, e Viena, na Áustria. Formou-se no Seminário Menor de Eger, norte da Hungria. Obteve seu doutorado e foi ordenado presbítero no ano 1911.

Toth foi vigário e, logo de início, destacou-se como um exemplar catequista; era um sacerdote apaixonado pelas coisas de Deus, dedicado ao serviço sagrado, zeloso para com a liturgia e na pregação da Sã Doutrina. Era, em suma, um santo homem, que atraía pelos modos e palavras, e que tinha como interesse – primeiro e maior – a salvação das almas.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Toth atuou nas frentes sérvia e russa como capelão do exército austro-húngaro. Foi nesse período que, ao tomar contato com a profunda miséria moral em que já se encontrava a juventude no seu tempo, assumiu como propósito de vida atrair os jovens para uma vida mais digna, com propósito, em Cristo. Por motivos de saúde, acabou por deixar esse cargo no ano 1915.

Em 1916, apresentou um programa de rádio de grande audiência na Hungria. Em 1924, lecionou Pedagogia na Universidade de Pazmany. Depois foi o coordenador do Seminário de Budapeste, para o qual veio a ser nomeado reitor no ano 1931.

Aos 30 de maio de 1938, foi sagrado Bispo-coadjutor de Veszprém, pelo Papa Pio XI. Pouco depois, após o falecimento do bispo Nándor Rotta, Toth sucedeu-o, na mesma diocese, aos 3 de março de 1939.

Tihamer Toth foi um autor católico de grande destaque. Fez uso excelente dos dons especiais que recebeu –, como o de falar a linguagem dos jovens, exortando-os a uma vida digna e honrada, uma vida de fé e coragem perante o mundo com todos os seus desafios. Foi uma fonte de inspiração para milhões, tanto por suas pregações quanto pelo seu exemplo de vida, especialmente na produção de numerosas obras de orientação cristã, obras eternas e profundamente pedagógicas, dedicadas especialmente à juventude, ainda que não se restrinjam exclusivamente a uma faixa etária.

Seus livros abordam, com grande propriedade e com um estilo que torna a sua leitura profundamente agradável, temas de essencial importância, como a convivência social, a vocação profissional, os esportes, estudos, amizade, leituras, etc. Sua marca registrada é a sua maneira leve de abordar assuntos sérios e um característico bom humor, mesmo quando tratando de coisas sagradas.

Muitos desses livros alcançaram grande êxito, tendo sido traduzidos em diversos idiomas e publicados em muitos países ao redor do mundo. Traduzidos para o idioma português, entre outros, destacam-se os seguintes títulos:

• O jovem de caráter;
• A boa educação;
• O significado do Natal;
• O adolescente por volta da idade ingrata: aviso aos pais e educadores;
• O caminho da vitória;
• A Igreja Católica;
• Creio em Deus;
• O Redentor;
• Pureza e formosura;
• A vida Eterna;
• Os Dez Mandamentos;
• Quem é Cristo?;
• Religião e juventude;
• A casta adolescência.

Depois de muito ajudar às famílias do seu tempo, partiu o bispo amigo dos jovens às moradas eternas, para os braços de Nosso Senhor, aos 5 de maio de 1939, vítima da encefalite, após uma cirurgia mal sucedida. No ano de 1943, iniciou-se seu processo de beatificação.


* * *

Trabalhando incansavelmente, Tihamer Toth lutava para ganhar almas para Cristo, como aquelas que via quando estava no seminário e depois, nas salas de aulas da universidade. Certamente logrou grande êxito, e a juventude confusa dos nossos tempos tem também muito a ganhar com a sua leitura. Todavia suas obras podem e devem ser aproveitadas por jovens de todos os tempos, pois tratam de valores e princípios eternos e estão fundadas na Fé que é eterna. Ele procurou lidar com os anseios mais profundos do ser humano; por essa razão, podemos afirmar que seus escritos são sumamente indicados para pais, pedagogos e para todas as pessoas desejosas de, a qualquer época da vida, crescer no amor a Deus.

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1. Religião e juventude, 2ªed. Taubaté: SCJ. 1951, pp.19-22.
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Referência:
OLEÁR, Robert. Tihamér Tóth, Małżeństwo chrześcijańskie. Varsóvia: Te Deum, 2001.
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Após acordo com o Vaticano, a Igreja Católica da China jura lealdade ao Partido Comunista


O VATICANO ASSINOU no último sábado (22/9/2018) um acordo que dá ao Governo chinês voz decisiva na nomeação dos bispos naquele país; a Igreja Católica da China reafirmou no domingo (23) sua lealdade ao Partido Comunista.

Com a decisão, que seria absolutamente impensável até há poucos anos, muitos (e cada vez mais) fiéis católicos entreolham-se, confusos, tentando entender o que está acontecendo com o mundo. A Igreja de Cristo pactuando com o criminoso partido comunista chinês, que torturou fiéis bispos católicos? – Jurando-lhe lealdade?

Não poucos taxam como vergonhosa essa manobra; chamam-na de venda de almas humanas aos interesses do comunismo.

São cerca de 12 milhões de católicos na China, que estavam divididos entre a Igreja que subsistia clandestinamente, jurando lealdade ao Vaticano, e à inventada "Associação Patriótica Católica", controlada pelo Estado. Agora, a Igreja Católica na China, como um só organismo, declarou em nota que “vai perseverar em seguir um caminho adequado a uma sociedade socialista sob a liderança do Partido Comunista Chinês”.

A nota diz ainda que “ama profundamente a pátria” e “sinceramente endossou” o acordo, esperando que as relações entre China e Vaticano melhorem. O Vaticano disse que o acordo, um avanço depois de anos de negociações, “não é político, mas pastoral”, e espera que isso leve à “plena comunhão de todos os católicos chineses”.

As perspectivas de tal polêmico acordo dividiram comunidades católicas em toda a China, com alguns temendo uma repressão ainda maior com o Vaticano cedendo controle a Beijing ('Pequim'). Outros creem que o esforço é válido para uma reaproximação e para evitar desacordos. Não poucos enxergam em mais esta notícia um novo sinal de que realmente chegou já o tempo da grande apostasia.


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Noticiado por: Veja; Terra; G1.

O conservadorismo explicado – em 5 breves parágrafos


Por Prof. Guilherme Freire

O CONSERVADORISMO NÃO visa a preservação do Status Quo. Esse é o conceito popular de “conservador”. O conservador autêntico preserva o que há de bom de acordo com a ordem da Lei Natural. Por isso Lincoln, ao preservar o movimento abolicionista, foi um autêntico conservador. As novidades boas precisam ser preservadas. 

“Ah mas isso é ideologia...”. Não. Trata-se de uma tentativa de fugir da ideologia. Por isso detesto o termo “direita”; o conservadorismo não é uma reação contra a “esquerda”, mas uma afirmação positiva acerca de uma ordem. 

Para ser conservador não é necessário ser cristão, na medida em que a percepção da Lei Natural se dá pela razão comum (sem a necessidade da Revelação especial), por isso Platão e Aristóteles eram autênticos conservadores. 

Os americanos tentaram aproximar o conservadorismo dos libertários, isso é possível apenas em alguns aspectos não essenciais. Os conservadores autênticos tendem a ser comunitaristas [que nada tem a ver com comunistas] e não individualistas (também não são coletivistas). 

“Com essa palavra e conjunto de ideias você vai afastar e dividir as pessoas...”. Não sou um propagandista, minha finalidade não é simplesmente “atrair”, mas buscar a verdade. Qualquer pessoa que afirme defender algo já aborrece outras tantas. Faz parte. Prefiro, portanto, insistir no uso correto do termo.

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Do amor de Deus


QUANTO NOS AMA DEUS? Considere, num exercício de imaginação, que você pudesse descer, por livre escolha, pelo bem de outro, da sua condição de ser humano para a condição de um verme ou algum outro ser realmente desprezível, como uma barata.

Terrível, não? Você seria capaz disso? Deixar de ser homem para ser verme ou barata, mesmo que isso não lhe fosse necessário, apenas por puro amor?

Pois isso ainda não basta para fazer entender o milagre do Amor de Deus; foi coisa ainda infinitamente maior que fez, por amor de nós, Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele que, sendo Deus infinitamente poderoso, Ser absoluto e autossuficiente, de Natureza infinita e vivendo na plenitude da felicidade celeste, despiu-de de todo seu poder e glória e fez-se carne mortal, e carne de seus traidores – nós, seres humanos decaídos – pelo nosso bem, sem mérito nenhum de nossa parte.

A comparação é de Santo Afonso Maria de Ligório e faz refletir, de modo especial, sobre a dimensão da nossa inacreditável ingratidão para com esse Deus todo amoroso. Reflita sobre isso e procure retribuir a Deus ao menos no amor pelo próximo e na oração, todos os dias.

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Do editorial da revista O FIEL CATÓLICO n.30.

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Homeschooling – ensino domiciliar no Brasil e a decisão do STF


POR 9 VOTOS A 2, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram na última quarta-feira (12/9/2018) não reconhecer o ensino domiciliar de crianças[1], conhecido como homeschooling. Conforme o entendimento dessa maioria, a Constituição prevê apenas o modelo de ensino público ou privado, cuja matricula é obrigatória, e assim não haveria lei que autorizasse a medida. Isso não significa que a prática foi proibida, como se apressaram em dizer alguns, mas simplesmente que carece de regulação (o que já se sabia antes).

O julgamento começou na semana passada, quando o relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, votou a favor do ensino domiciliar. Segundo apontam especialistas, muitos pais preferem comandar a educação de seus filhos em razão das atuais políticas públicas claramente ineficazes na área de educação, dos péssimos resultados na qualidade do ensino, convicções morais e religiosas e o ambiente degradado das escolas para desenvolver o caráter, em oposição aos valores ensinados em casa – além das questões práticas, como dificuldades de deslocamento e falta de vagas em boas escolas.

Barroso lembrou que o modelo homeschooling está presente nos Estados Unidos, Finlândia, Bélgica, França, Reino Unido, Irlanda e Austrália, entre muitos outros países, com excelentes resultados. “Sou mais favorável à autonomia e emancipação das pessoas do que ao paternalismo e às intervenções do Estado, salvo onde eu considero essa intervenção indispensável“, argumentou.

Já na opinião do ministro Ricardo Lewandowski (foto), as “razões religiosas não merecem ser aceitas” pelo Judiciário para que os pais possam educar os filhos em casa. Argumentou este: “Não há razão para tirar das escolas oficiais, públicas ou privadas, em decorrência da insatisfação de 'alguns' (sic) com a qualidade do ensino”.


* * *

“O STF, mais uma vez, decide contra a população e o Brasil”, lamentou por sua vez o deputado estadual Bruno Toledo (PROS), ao repercutir, nas redes sociais, a decisão do Supremo de negar recurso que pedia o reconhecimento do direito a ensino domiciliar, conhecido como "homeschooling".

O parlamentar está entre os que entendem que a educação das crianças é de responsabilidade dos pais. E pontuou: 

É uma ideia revolucionária achar que o Estado deve ter mais tutela sobre nossos filhos que nós mesmos. Entregues a um ensino cada vez mais doutrinário do ponto de vista ideológico desde a tenra infância, o que temos é o resultado que vemos aí, com o alto índice de analfabetismo funcional e escolas servindo de braços políticos.

Toledo argumentou ainda que é favorável ao homescholling por acreditar que os pais preparados para ofertar uma educação de qualidade aos filhos, sem depender do Estado, têm o direito de fazê-lo.



Diante de um quadro cada vez mais desolador, mais e mais famílias decidem que não querem enviar seus filhos às escolas. A qualidade de ensino ruim já vinha sendo criticada, porém tolerada desde há muito tempo; agora, diante de uma situação de doutrinação ideológica que se agravou intensamente nos últimos anos, para muitos a realidade avançou além dos limites do aceitável.

Segundo estimativas da PUC-Campinas[2], aproximadamente 12.000 crianças e adolescentes brasileiros deixam de ir à escola para estudar em casa, e diz a ANED (Associação Nacional de Educação Domiciliar) que o modelo de educação domiciliar vem crescendo mais de 50% ao ano, estimulado pela suspensão dos processos na Justiça.

Os pais que aderem ao movimento buscam ensino de qualidade e personalizado, e são unânimes em defender que as escolas atualmente não são capazes de prover uma educação minimamente satisfatória às suas crianças.

Segundo o procurador Alexandre Magno Fernandes Moreira, "se o Ministério da Educação estivesse submetido às mesmas regras de mercado que uma empresa, já teria falido há décadas". Diz ele: 

Fundado em 1930 e com o orçamento de vários bilhões de reais para 2008, o MEC conseguiu a façanha de produzir um dos piores sistemas educacionais do mundo. Nas avaliações internacionais, o Brasil sempre está entre os últimos lugares, mesmo quando os exames são realizados em alunos de escolas privadas, em tese, os melhores. E as tão badaladas universidades públicas? Em recente ranking mundial, nenhuma delas ficou entre as cem melhores.[3]

É preciso ressaltar que a escola não é apenas um lugar em que se repassam informações, mas também onde são transmitidos todos os tipos de valores. Recente pesquisa indicou que a imensa maioria dos professores, de escolas públicas e privadas, abertamente considera como principal missão da escola a veiculação de suas ideologias particulares (ou, no jargão 'politicamente correto', 'formar cidadãos') e não a educação e transmissão de conhecimento. Esse conjunto de valores é, na quase totalidade das vezes, diverso daqueles professados pelos pais. Com que direito os professores andam formando nossos filhos segundo princípios e valores morais opostos àqueles que queremos dar a eles?

Mais ainda: extensas pesquisas têm demonstrado que, na formação do caráter individual, os companheiros de infância são influências muito mais poderosas do que os pais[3]. Nas escolas, os pais têm pouco ou nenhum controle sobre essas interações, que podem ser bastante desastrosas e traumáticas.

Aqui se faz necessário responder ao argumento utilizado de forma reiterada contra o homeschooling: essa forma de educar provocaria o isolamento social e prejuízos psicológicos. Na verdade, há vasto material demonstrando exatamente o contrário: os educadores norte-americanos Raymond e Dorothy Moore unificaram os dados de mais de 8 mil pesquisas a respeito do assunto e chegaram a conclusões estarrecedoras. Eles apresentaram evidências de que a educação formal antes da faixa dos 8 aos 12 anos não somente é desnecessária, mas também traz prejuízos psicológicos, como maior probabilidade de delinqüência juvenil. De modo consistente, nos exames, os educados em casa tiveram quocientes de inteligência superior que aqueles educados na escola [3].

O desrespeito à dignidade humana é um evento cotidiano nas escolas brasileiras, seja pela submissão dos alunos ao ensino de péssimo nível, seja pela sua instrumentalização, segundo a qual deixam de ser fins em si mesmos e tornam-se instrumentos da ideologia dominante entre os que deveriam ser educadores imparciais e isentos. A educação dos filhos é uma questão eminentemente privada que, como qualquer questão privada, somente pode admitir a interferência do Estado quando esta revelar-se não só benéfica, mas também imprescindível. A atuação estatal em todos os domínios da sociedade, além de prejudicial ao bem-estar individual, é característica marcante dos regimes totalitários e não das democracias. Naqueles regimes, todos os interesses individuais devem estar subordinados ao Estado.

O direito dos pais de educar os próprios filhos é da própria ordem das coisas (Lei Natural), e a noção de “pai” já implica isso. São as famílias que formam a comunidade política, não o contrário.
Não existe algo como um ente abstrato gerando sociedades, e sim mães e pais. (...) Uma pessoa pode gostar ou não do homeschooling, mas achar que ele deveria ser proibido é inverter a ordem da sociedade.
(Prof. Guilherme Freire)

* * *

No final das contas, o que fez o STF foi reafirmar que não existe lei que preveja o homeschooling no Brasil. De fato, a criação de leis é competência do legislativo e não do judiciário, e as leis que existem são para ensino em escolas da rede pública e privada: para o homeschooling não há, ainda, legislação. Assim, elaborar e definir uma lei para o ensino domiciliar fica oficialmente a cargo do legislativo a partir de agora.

* * *

** Se você também entende que a educação das crianças compete aos pais mais do que ao Estado, e não admite que seus filhos sejam doutrinados pelos professores segundo valores e princípios morais contrários aos seus, cadastre-se na Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED);

*** Outra belíssima iniciativa, esta de uma organização católica, é a do Instituto Cidade de Deus, que oferece amplos materiais para a educação em casa com base nos valores morais cristãos fundamentais (indicação de nosso leitor Andræ Gandini). Acesse e inscreva-se em:
https://institutocidadededeus.com.br

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1. Os ministros Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e a presidente, Cármen Lúcia, também votaram no mesmo sentido. Fachin acompanhou em parte o relator.

2.-https://digitais.net.br/2018/07/mesmo-sem-regularizacao-educacao-domiciliar-cresce-no-brasil/

3. Cf . PINKER, Steve. Tábula Rasa, a Negação Contemporânea da Natureza Humana, São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

3.-https://jus.com.br/artigos/11657/homeschooling-uma-alternativa-constitucional-a-falencia-da-educacao-no-brasil

4. Cf. MOORE, Raymond et al. Better Late Than Early, Camas: The Morre Foundation, 1993.
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Fontes:

Cada Minuto, em:
https://www.cadaminuto.com.br/noticia/326417/2018/09/13/deputado-critica-decisao-do-stf-sobre-homeschooling-ensino-doutrinario

'Digitais' – PUC de Campinas, em:
https://digitais.net.br/2018/07/mesmo-sem-regularizacao-educacao-domiciliar-cresce-no-brasil/

Jus.Com.Br., Homeschooling: uma alternativa constitucional à falência da educação no Brasil, por Alexandre Magno Fernandes Moreira Aguiar, em:
https://jus.com.br/artigos/11657/homeschooling-uma-alternativa-constitucional-a-falencia-da-educacao-no-brasil
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Fulton Sheen, uma biografia


Biografia exclusiva por Henrique Sebastião
para a obra 'O Eterno Galileu' (Molokai, 2018)


“Se eu não fosse Católico e estivesse procurando a verdadeira Igreja no mundo de hoje, eu iria em busca da única Igreja que não se dá muito bem com o mundo. Em outras palavras, eu procuraria uma Igreja que o mundo odiasse. Se você tiver que encontrar Cristo hoje, então procure pela Igreja que é acusada de estar desatualizada com os tempos modernos, como Nosso Senhor foi acusado de ser ignorante e nunca ter aprendido. Procure a Igreja que o mundo rejeita porque se proclama infalível, pois foi pela mesma razão que Pilatos rejeitou Cristo: por Ele ter se proclamado a si mesmo A VERDADE. Procure a Igreja que é rejeitada pelo mundo assim como Nosso Senhor foi rejeitado pelos homens. Procure a Igreja que em meio às confusões de opiniões conflitantes, seus membros a amam do mesmo modo como amam a Cristo e respeitem a sua voz como a voz do seu Fundador.”
(Dom Fulton Sheen)[1]

NASCEU PETER JOHN Sheen este poderoso evangelizador, em El Paso, no Illinois, EUA, aos 8 de maio de 1895, filho do fazendeiro Newt Sheen e sua esposa, Delia.

Aos 8 anos de idade já servia à Santa Missa como um coroinha, para o bispo John L. Spalding, da cidade de Peoria. Um dia, Sheen deixou cair um galheteiro no chão e o quebrou. Naquela época havia um rigor muito maior do que há hoje para com as crianças, que dirá naquilo que se relacionava às coisas de Deus, e mais ainda numa cidade do interior. O menino, naturalmente, ficou muito assustado. Depois da Celebração, esperava, trêmulo, por uma dura reprimenda. O Bispo Spalding, de fato, veio falar com ele, mas para a sua surpresa, ao invés de lhe fazer uma advertência, sussurrou-lhe duas previsões inesperadas sobre sua vida. Primeiro, o bispo disse que Sheen um dia estudaria em Louvain, na Bélgica, o que naquele momento soava absurdo; segundo, disse-lhe: "Algum dia, você será exatamente como eu sou".

A criança certamente não entendeu muita coisa, naquele momento. Anos mais tarde, viria a cursar o ensino médio no Instituto Spalding, depois prosseguiu seus estudos no St. Viator College, Illinois, e frequentou o St. Paul Seminary, em Minnesota, antes de ser ordenado sacerdote – aos 20 de setembro de 1919.


Brilho jovem e o início do cumprimento da profecia

Em 1920, Sheen vai à Catholic University of America para continuar seus estudos. Ali permaneceu apenas um ano antes de partir para o estudo avançado de Filosofia na Universidade Católica de Louvain, Bélgica, exatamente conforme predito pelo Spalding. Cinco anos depois, voltou à Universidade Católica para ensinar.

Nos 23 anos seguintes, foi na Universidade Católica que o já destacado Padre Sheen aperfeiçoou suas habilidades como acadêmico, educador, orador e evangelista. Ele trabalhou, primeiro, na School of Theology and Religious Studies (Escola de Teologia e Estudos Religiosos) daquela instituição, depois na Escola de Filosofia, ministrando cursos relacionados a ambas as disciplinas, incluindo "Filosofia da Religião", "Deus e Sociedade" e "Deus e Filosofia Moderna".

Já nessa época, não só muitos estudantes como também uma verdadeira multidão de visitantes lotavam a célebre sala 112 (‘McMahon Hall’) para ouvir suas palestras.

Não havia como o singular talento do querido padre Sheen, como orador e pregador, passar despercebido, mesmo em seus primeiros anos, quando ainda amadurecia. Em janeiro de 1927, aos 30 anos e ainda em seu primeiro ano de ensino na Universidade, ele foi selecionado para pregar na Missa Universitária anual. O tema pedido, complexíssimo, foi a vida e obra do santo padroeiro, Santo Tomás de Aquino, o que fez com brilhantismo.

Aos seus 39 anos de idade, Sheen foi feito Monsenhor pelo papa Pio XI, no ano 1934. Um ano depois, foi o Mons. Sheen, e não um administrador de alto escalão, o principal orador da Celebração do Sesquicentenário da Universidade.

Com firmeza, a reputação do jovem professor da Catholic University cresceu, primeiro no campus, depois em círculos cada vez mais amplos, à medida que sua brilhante oratória e capacidade de comunicação atraía mais atenção da mídia. A primeira experiência do Padre Sheen com a radiodifusão foi no ano 1926, quando foi convidado para gravar uma série de palestras, nas noites de domingo, em uma estação de rádio.

Quatro anos mais tarde, o jovem Padre foi convidado a apresentar, durante duas semanas, o programa de rádio “The Catholic Hour” (A Hora Católica). A resposta do público foi tão positiva que ele foi convidado a permanecer como palestrante semanal no programa.

De 1930 a 1950, as palestras semanais do então Monsenhor Sheen em “A Hora Católica” apresentaram ao grande público o ensinamento católico de uma maneira como nunca antes havia sido feita. A partir do fundo de sua grande fé e sólida erudição, o Prof. Pe. Sheen abordava tópicos que iam desde a devoção à Maria Santíssima (tema sempre polêmico em uma nação de maioria protestante) até os graves perigos do comunismo.

Enraizado em seus profundos conhecimentos do pensamento filosófico do grande Santo Tomás de Aquino, ele pregou o Evangelho e mostrou como se aplica às decisões morais pessoais e às grandes questões sociais da época.

Em resposta às suas transmissões de rádio, o Mons. Sheen passou a receber um grande e constante fluxo de cartas. Em 1937, escreveu numa carta ao reitor da Universidade, Mons. Joseph Corrigan:

“Durante o ano passado, as cartas que exigiam atenção pessoal corriam entre 75 e 100 por dia... E isso juntamente com aulas que nunca eram dadas com menos do que seis horas de preparação cada. Isso me deixava fisicamente exausto, mas o bem a ser feito e uma tão grande oportunidade de apostolado não se deve deixar de lado.”(Fulton Sheen a Mons J. Corrigan)[2]

Muitas dessas cartas deviam falar. Mons. Sheen viajou por todo o país realizando palestras acadêmicas, participando de missões, retiros, fazendo homilias como convidado, formaturas e conferências em diversas organizações católicas.

O professor vivia eternamente muito ocupado, mas não apenas manteve seu cronograma completo de ensino, como também encontrou tempo para escrever muitos livros. Publicou 34 obras durante seus 23 anos de carreira docente na Universidade Católica, e outros 32 depois que deixou a Universidade.

Todos esses livros viriam a se tornar obras de referência para o estudo do Catolicismo em todo o mundo, traduzidos para os mais diversos idiomas. Além disso, transcrições de suas palestras de rádio semanais foram publicadas (por iniciativa do patrocinador do Conselho Nacional dos Homens Católicos) em dezenas de folhetos, impressos e reimpressos milhares de vezes. Muitas de suas outras palestras e sermões foram também publicados. Sheen foi ainda um colunista de destaque também na imprensa secular.


Transmissão de televisão de 1940

Nas décadas de 1930 e 40, um evento televisivo era um grande acontecimento. No domingo de Páscoa, dia 24 de março de 1940, o Mons. Sheen apareceu na primeira transmissão mundial de TV de um serviço religioso católico – e no maior país protestante do mundo. Ele falou então sobre o simbolismo espiritual da televisão. O programa foi transmitido pela W2XBS, o predecessor da atual WNBC de Nova York. Foi patrocinado pelo Conselho Nacional dos Homens Católicos, em comemoração do seu vigésimo aniversário como organização e pelo décimo aniversário de seu patrocínio da transmissão de rádio "A Hora Católica".

Em 1950, Mons. Sheen deixou a Universidade Católica para se tornar diretor nacional da Sociedade para a Propagação da Fé. A essa época, ele já era um dos católicos mais conhecidos de sua época. O próximo capítulo de sua missão o levaria a ganhar fama e influência sem precedentes para um membro da Igreja.

Fulton Sheen foi consagrado bispo aos 11 de junho de 1951. Terminava de cumprir-se a profecia, nunca esquecida, do bispo Spalding.

No outono daquele mesmo ano, Sheen começa sua famosa série de televisão, “Life is Worth Living” (‘vale a pena viver’). Foi um tremendo e impressionante sucesso, chegando a cerca de 30 milhões de espectadores a cada semana, o que a tornaria a série religiosa mais amplamente vista na história da televisão(!). Ele ganha um prêmio “Emmy” como “Melhor Personalidade de TV”, é destaque na capa da revista “Time” e torna-se um dos católicos mais influentes do século XX.

Acredita-se que o bispo Sheen tenha levantado muitos milhões de dólares para apoiar as missões católicas através da Sociedade para a Propagação da Fé. Por 16 anos, ele liderou esse esforço em 129 dioceses nos Estados Unidos e influenciou a vida de dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Ele também era conhecido por ter levado inúmeras almas a se converterem à Igreja Católica, desde os nova-iorquinos da classe trabalhadora que ele encontrou em sua vida cotidiana até as celebridades, que o procuravam para instrução.

Entre aqueles cujas conversões Sheen influenciou estão o escritor agnóstico Heywood Broun, o político Clare Boothe Luce, o fabricante de automóveis Henry Ford II, o escritor comunista Louis F. Budenz, o designer teatral Jo Mielziner, o violinista e compositor Fritz Kreisler e a atriz Virginia Mayo.

Entre 1962 e 1965, o Bispo Sheen participou de todas as sessões do Concílio Vaticano II. Trabalhou em estreita colaboração com o então Padre Joseph Ratzinger e futuro Papa Bento XVI, que era um especialista em Teologia na Comissão Missionária. Em uma entrevista de 2012 para a Rádio Vaticano, o já Papa Bento XVI relembrou, ao vivo, como "Fulton Sheen nos fascinava às noites com suas palestras"[3].

Em 1966, Sheen foi nomeado bispo da diocese de Rochester. Ele renunciou a essa posição em 1969. Em sua carta de renúncia, escreveu: "Não estou me aposentando, apenas recapitulando". O Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo da sede de Newport, no País de Gales.

O arcebispo Sheen permaneceu sempre ativo, passando os últimos anos de sua vida escrevendo e pregando.

Um tema consistente nas pregações do Arcebispo Sheen ao longo de sua vida, e especialmente em seus últimos anos, foi sobre os benefícios de se realizar com frequência uma “Hora Santa” em frente ao Santíssimo Sacramento, isto é, colocar-se em silêncio diante de Nosso Senhor Sacramentado para adorar e falar com Ele em íntima oração. O autor Michael Dubruiel disse: "Não há ninguém na igreja moderna que tenha feito mais para popularizar a prática de rezar e meditar na Presença de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento"[4].

Praticar regularmente a Hora Santa não foi um conselho que Fulton Sheen tenha dado sem o praticar. Ao longo de seus anos na Universidade Católica, ele manteve sempre sua hora santa diária, rezando na Capela Caldwell e na capela particular de sua residência. Muitas pessoas que trabalharam perto dele, ao longo dos anos, atestam que ele nunca deixou de guardar essa Hora Santa, desde o dia de sua ordenação sacerdotal até sua morte, no chão de sua capela privada, na Presença de Cristo.

Aos 2002, a Causa do Arcebispo Sheen para a Canonização foi oficialmente aberta sob a liderança da Diocese de Peoria, e desde então ele é reconhecido como "Servo de Deus".

Aos 28 de junho de 2012, o Papa Bento XVI anunciou que a Congregação para as Causas dos Santos havia reconhecido a vida do arcebispo Sheen como uma vida de "virtude heroica" e o proclamou "Venerável Servo de Deus Fulton J. Sheen".

Aos 6 de março de 2014, o conselho de especialistas médicos que assessorou a Congregação para as Causas dos Santos aprovou unanimemente um milagre relatado, atribuído à sua intercessão. Aos 17 de junho de 2014, a Comissão teológica (de sete membros) que aconselha a Congregação concordou unanimemente com a descoberta da equipe médica.

O próximo grande passo no processo de canonização da Igreja seria a beatificação deste grande trabalhador do Reino de Deus.

Coisas partidas são preciosas. Nós comemos o Pão partido porque partilhamos da morte de Nosso Senhor. Flores partidas dão perfume. Incenso partido é usado em adoração. Um navio partido salvou Paulo e muitos outros passageiros na sua ida para Roma. Às vezes, a única maneira que Deus tem para entrar em alguns corações é partindo-os.”
(Fulton Sheen)[5]
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1. SHEEN, Fulton J. Radio Replies, vol. 1, p.9, ‘Rumble & Carty’, Tan Publishing (tradução de Gercione Lima).

2. Biographical Profile of Fulton J. Sheen do The Catholic University of America, disp. em fulton-sheen.cua.edu/bio/index.cfm

3. Idem.

4. Ibidem.

5. ‘The precious broke bottle’, em DIETERICH, Henry. Through the Year with Fulton Sheen: Inspirational readings for each day of the year. San Francisco: Ignatius Press, 1985, p. 58

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Ref.:
Biographical Profile of Fulton J. Sheen, do The Catholic University of America, disp. em: http://fulton-sheen.cua.edu/bio/index.cfm
Acesso 29/5/2018
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Negação do atentado contra Bolsonaro: alucinação coletiva

No ponto cego ideológico, a maneira mais confortável de julgar um atentado à moralidade de 'nossa tribo' é assumir a negação da realidade. Assim agiram os que negaram a veracidade do atentado a Jair Bolsonaro.



SEGUNDO A FUNDAÇÃO Getúlio Vargas, numa análise de 1.702.949 retuítes coletados entre as 18h30 de quinta-feira, dia 6(9/2018/), e as 9h de sexta, um dia após o atentado sofrido por Jair Bolsonaro, 40,5% das pessoas que escreveram sobre o incidente na rede social questionavam a veracidade do ataque(!). Foi o maior grupo comentando sobre o assunto no Twitter nesse intervalo de tempo.

Esse é um nítido experimento sobre o funcionamento do viés de confirmação nas discussões políticas – e de como ele pode criar uma ilusão coletiva à qual, por mais absurda que seja, muitos optam por aderir.

Há dezenas de vídeos do atentado sofrido por Bolsonaro, há a captura e confissão de culpa do agressor, há fichas e boletins médicos, há boletins oficiais de instituições públicas, há relatos policiais e milhares de testemunhas, há a participação direta na divulgação de todos os maiores veículos de comunicação, emissoras de TV, jornais, rádios, etc., etc... – mas nenhum desses elementos é satisfatório para uma parcela de eleitores que não comungam dos valores ideológicos da vítima. Para esse grupo, toda cena não passou de uma grande conspiração para eleger Bolsonaro. E acredite: essas pessoas realmente entendem que representam o lado mais racional dessa discussão.

Como diz o americano Scott Adams:

A maioria das pessoas sabe o que é viés de confirmação, senão pelo nome, certamente por experiência pessoal. Todos sabemos quanto é difícil mudar a opinião de alguém sobre algo importante, mesmo quando todos os fatos estão do nosso lado.

Para Adams, é mais provável buscarmos a razão como uma justificativa para as nossas emoções do que o contrário. E não é difícil entender o motivo. Nós nos identificamos como liberais, conservadores ou progressistas em parte porque tentamos construir uma imagem social, em nossa busca desenfreada por uma identidade de grupo, seja para repelir a estética de determinados candidatos ou partidos, seja para sinalizar virtudes. No fundo, no apagar dos votos, pesa mais a fórmula do discurso do que (o que seria mais racional) os programas de governo.

Alguns indivíduos, é verdade, são honestos o bastante para se inteirar sobre os assuntos políticos e econômicos e eventualmente mudar de posição. Mas isso carrega um grande custo social, a julgar que o ser humano médio têm uma imensa dificuldade em admitir seus erros.

É exatamente nesse ponto que assumimos lutas em nome de um grupo ou ideal. Terceirizar nossas opiniões políticas, delegando-as a uma mente coletiva, é a forma mais fácil de abrir mão do trabalho de estudar, compreender e formular uma posição independente – algo que toma tempo e exige o abandono de atividades (e vícios) que não estamos dispostos a deixar de lado.

Como afirma a "Teoria da Ignorância Racional", formulada ainda na década de cinquenta pelo economista americano Anthony Downs, as pessoas frequentemente escolhem permanecer ignorantes sobre determinados assuntos porque os custos de coletar as informações necessárias para obter conhecimento sobre eles são maiores que as recompensas dadas pela compreensão adquirida.

Pare e pense. A política inegavelmente exerce uma influência direta na vida das pessoas. Se tivéssemos a chance, certamente escolheríamos que todos os nossos conhecidos nutrissem consciência disso. Mas tempo é um bem escasso. Acompanhar os processos políticos de um Estado com tantas atribuições, seguindo as propostas e o trabalho de novos candidatos, vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores, prefeitos e presidentes da República, construindo uma base sólida de conhecimentos ligados a diferentes áreas – da ciência política à econômica– para embasar críticas ou elogios, e escolher as melhores opções para o país, pode ser algo perfeitamente plausível para você, que está lendo este texto e que se importa (e tem tempo para gastar) com o noticiário político, mas é uma tarefa inviável à imensa maioria dos eleitores, que entendem intuitivamente que cada voto tem um peso irrisório numa eleição e que, justamente por isso, sobram razões para gastar as suas horas em outras atividades. Para esses eleitores há incentivos maiores em permanecer ignorante em matéria de política do que abrir mão de exercícios com grandes recompensas diárias, como descansar com a família, trabalhar ou navegar sem propósito na internet.

Na prática, nós alimentamos a imagem pública de que nos importamos com um assunto tão relevante à sociedade, como a política, mas não queremos o custo que isso gera, nem assumir sozinhos o risco de estarmos errados. Por isso esperamos a posição de uma tribo ideológica minimamente solidária com nossa estética intelectual para nos darmos ao luxo de apenas replicar opiniões.

É aí que impera o viés de confirmação. O que acontece no mundo real passa a ser mero capricho – e o que poderia ser apenas um problema de discurso, atua diretamente como um agregador de pobreza: quase metade da riqueza nacional, entregue às decisões políticas através do pagamento de impostos, tem seu destino selado à irracionalidade das guerras de narrativas travadas pelas tribos ideológicas de quatro em quatro anos. Nosso viés de confirmação torna o país refém das alucinações.

Acredite, é pior do que você imagina.

No ano 2015, a Folha de São Paulo (com o Datafolha) "viu" na Avenida Paulista, durante as maiores manifestações populares da história do Brasil,  apenas e tão somente 210 mil participantes contra o governo do PT, contrariando radicalmente a estimativa da PM, que apontou um número superior a um milhão de pessoas, levando em conta que a cada dois minutos chegavam 4 mil para o protesto naquele local no meio da tarde. Na ocasião, o instituto de pesquisas foi criticado e a polêmica em torno dos números foi grande. Ainda que tenha se esforçado em justificar a sua estimativa com base em dados técnicos, outras fontes apontavam dados escandalosamente diferentes. Dado o já tradicional posicionamento ideológico da Folha, denunciado até por 61% dos seus próprios leitores[1], a apuração ultrapassou o limite daquilo que se poderia considerar apenas suspeito.

Mais curioso, porém, foi que a mesma Folha enxergou 220 mil na "parada gay" daquele mesmo ano. À ocasião, muitas imagens postas lado a lado, comparando os dois eventos nos seus respectivos momentos de lotação máxima, foram publicadas por alguns veículos de mídia e em redes sociais, mostrando com grande clareza que no ato político a lotação foi realmente, no mínimo, maior. Mesmo estando flagrantemente equivocada, a Folha permaneceu firme em seu posicionamento. Eis um bom exemplo de dissonância cognitiva.




Como afirma Adams:

Quando você experimenta dissonância cognitiva, espontaneamente gera uma alucinação que se torna a sua realidade particular. Para observadores externos, a alucinação pode parecer ridícula. Mas, para aquele que a experimenta, ela faz todo sentido. Assim, a primeira coisa que você precisa saber sobre dissonância cognitiva é que é possível reconhecê-la com frequência nos outros, mas é raro reconhecê-la em si mesmo.

Esse é um fenômeno sem preconceitos partidários, mas que se acentua no populismo e em períodos de crise econômica e grande polarização. Ancorados em "cherry picking" (colher cerejas em inglês, expressão para significar a supressão proposital de evidências), nós não nos satisfazemos apenas em ignorar os elementos que condenam a moralidade da nossa tribo – mas também criamos teorias conspiratórias para imputar imoralidades imperdoáveis aos nossos adversários, no caso políticos, em acessos de esquizofrenia retórica. E fazemos tudo isso genuinamente crentes de que estamos lidando com o mundo real.

Como escreveu o economista austríaco Friedrich Hayek, vencedor do Nobel, em sua magnum opus "O Caminho da Servidão":

Quase por uma lei da natureza humana, parece ser mais fácil aos homens concordarem sobre um programa negativo – o ódio a um inimigo ou a inveja aos que estão em melhor situação – do que sobre qualquer plano positivo. A antítese ‘nós’ e ‘eles’, a luta comum contra os que se acham fora do grupo, parece um ingrediente essencial a qualquer ideologia capaz de unir solidamente um grupo visando à ação comum. Por essa razão, é sempre utilizada por aqueles que procuram não só o apoio a um programa político mas também a fidelidade irrestrita de grandes massas.

Na dissonância cognitiva ideológica, o stress ocorre quando personagens políticos não correspondem às expectativas de nossos estereótipos. Se Jair Bolsonaro foi habilmente etiquetado como um instrumento de violência no conjunto de valores que listamos em nossa tribo, a alucinação atua para nos impedir de interpretá-lo como uma vítima, mesmo que ele tenha sido abatido pela violência, como foi – especialmente se a culpa for de algum membro assumido do nosso grupo. No ponto cego ideológico, a maneira mais confortável de julgar um atentado à moralidade de nossa tribo é simplesmente negar a realidade.

Fenômenos dessa natureza são expostos a cada momento nas redes sociais, mas raramente de modo tão claro e explícito como o apresentado no último final de semana. Ao fim do dia, quem nega o atentado contra Bolsonaro assume viver uma alucinação coletiva. E o pior: provavelmente jamais saberá disso.


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Adaptado do artigo de Rodrigo da Silva, 'Quem nega o atentado contra Bolsonaro assume viver uma alucinação coletiva', jornalista, editor do portal 'Spotniks' e autor do 'Guia Politicamente Incorreto da Política Brasileira' (LeYa, 2018).
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1. O próprio Datafolha reconhece a insatisfação de seus leitores devido ao contumaz posicionamento ideológico, em www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs090305.htm
Ref.:
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/129260/junho87%20-%200549.pdf?sequence=1
• tercalivre.com.br/fake-news-jornal-folha-de-sao-paulo-infla-gastos-do-aborto-pelo-sus/
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São João Bosco ao papa Pio IX: 'Um Papa deixará Roma em ruínas'

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EM LA SALETTE, anunciou e preveniu-nos a Santíssima Virgem quanto a um castigo divino que cairia sobre a cidade de Roma, com sanguinária perseguição do clero, apostasias inclusive de bispos e a destruição de igrejas e conventos. Estaria tal castigo cada vez mais próximo, e é difícil não perceber que seus sinais já se insinuam em nossos tempos. Essa, porém, não foi a única profecia dada por santos místicos e videntes católicos na História recente[1].

Entre os dias 24 de maio e 24 junho de 1873, São João Bosco escreveu uma carta profética, a qual endereçou ao bem-aventurado Papa Pio IX, então felizmente reinante em meio a tempestades temíveis suscitadas pelos inimigos da Igreja, tanto externos quanto internos – inimigos cujas fileiras, desde então, só fizeram engrossar mais e mais.

A semelhança de certos aspectos da profecia do grande santo italiano com a previsão de Nossa Senhora em La Salette se patenteia nos termos em que foi redigida a carta, que reproduzimos a seguir, em fonte de tom mais claro:

Era uma noite escura, os homens já não podiam distinguir qual fosse o caminho a ser seguido para voltar sobre os próprios passos, quando apareceu no céu uma luz fortíssima, que iluminava as passadas dos viajantes como se fosse pleno dia.

Naquele momento, viu-se uma multidão de homens, mulheres, velhos, crianças, monges, monjas e sacerdotes, tendo à frente o Santo Padre, sair do Vaticano, ordenando-se como se fosse uma procissão.

Mas sobreveio um temporal furioso que, obscurecendo um pouco essa claridade, parecia travar uma batalha entre luz e trevas.

Nesse meio tempo, chegou-se a uma pequena praça coberta de mortos e feridos, vários dos quais pediam conforto com fortes gritos. A fila da procissão foi rareando bastante.

Depois de ter caminhado por um tempo correspondente a duzentos nasceres do sol, cada um percebeu que não estava mais em Roma. O desconcerto tomou conta de todos e se reuniram todos em volta do Santo Padre para protegê-lo e assisti-lo em suas necessidades.

Naquele momento, apareceram dois anjos portando um estandarte que foram apresentar ao Santo Padre, dizendo:

– Recebe a bandeira d'Aquele que combate e dispersa os exércitos mais fortes da Terra. Os teus inimigos desapareceram, os teus filhos invocam teu retorno com lágrimas e suspiros.

Levantando-se o olhar para o estandarte, via-se escrito, de um lado, 'Regina sine labe concepta' (Rainha sem Pecado concebida) e, do outro, 'Auxilium Christianorum' (Auxílio dos Cristãos).

O Pontífice pegou com alegria o estandarte, mas, vendo o pequeno número de pessoas que haviam sobrado à sua volta, mostrou-se muito aflito. Os dois anjos acrescentaram:

– Vai logo consolar os teus filhos. Escreve aos teus irmãos dispersos nas várias partes do mundo que é necessário fazer uma reforma dos costumes dos homens. Isso não poderá ser alcançado se-
não distribuindo aos povos o Pão da Palavra Divina.

'Catequizai as crianças, pregai o desapego das coisas terrenas. Chegou o momento em que os pobres evangelizarão os povos, concluíram os dois anjos. Os levitas serão procurados entre a enxada, a pá e o martelo, para que se cumpram as palavras de Davi: “Deus levantou o pobre da terra para colocá-lo no trono dos príncipes de teu povo”.'

Após ouvir tudo isso, o Santo Padre moveu-se e as fileiras da procissão começaram a engrossar. Quando, por fim, pôs os pés na Cidade Santa, começou a chorar pela desolação em que estavam os habitantes, muitos dos quais haviam morrido.

Retornando a São Pedro, cantou o Te Deum, e lhe respondeu um coro de Anjos cantando 'Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis'.

Concluído o cântico, cessou totalmente a escuridão e abriu-se um sol claríssimo.

As cidades, vilas e campos tinham sua população bastante diminuída. A terra estava pisada como se tivesse passado um furacão, um temporal, granizo, e as pessoas iam umas ao encontro das outras dizendo com a alma comovida: Est Deus in Israel (Há Deus em Israel).

Do início do exílio até o Te Deum, o sol levantou-se duzentas vezes. Todo o tempo que passou durante a realização desses fatos corresponde a quatrocentos amanheceres.


* * *

O terceiro segredo de Fátima, as visões do Beato Francisco Palau e o sonho das duas colunas do próprio São João Bosco, acenam perspectivas semelhantes e desfechos análogos.
1. Como é o caso da mística francesa Marie Julie Jahenny (1850-1941), que estudamos em O FIEL CATÓLICO n.20.

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• Publicado na revista O FIEL CATÓLICO n.29, pp.23-26.


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Fontes e bibliografia
• Archivio Salesiano Centrale, Roma, (AS S132 Sogni 1). Fotocopia del manoscritto di Don Gioacchino Berto segretario, con postille marginali autografe di San Giovanni Bosco, descritto e trascritto da Don Angelo Amadei nel vol. X delle Memorie Biografiche.
• P. Giovanni Battista Lemoyne S.D.B., 'Memorie Biografiche del Venerabile Don Giovanni Bosco', Tipografia S.A.I.D. 'Buona Stampa', Torino, 1917, volume IX. (Appendice 'B', pp. 999-1000).
• Cecilia Romero, 'I sogni di Don Bosco – edizione critica', Elle Di Ci, Leumann (Torino), 1978, pp. 27-32).
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Ref.:
Apostolado O Segredo do Rosário, 'São João Bosco anuncia a Pio IX: um Papa abandonará Roma em ruínas, mas voltará', disp. em:
osegredodorosario.blogspot.com/2018/06/sao-joao-bosco-anuncia-pio-ix-um-papa.html
Acesso 20/6/2018.
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O Rei dos reis: sempre acessível, mesmo ao servo mais humilde


Por Teresa Castel-Branco Power,
professora portuguesa de inglês em Anadia, Portugal

ÀS QUINTAS-FEIRAS, os meus quinze minutos de oração são passados em uma igrejinha muito humilde, perto da escola em que leciono, onde o Santíssimo está exposto o dia inteiro.

Ontem cheguei à igreja cansada, com uma mala cheia de testes por corrigir, no intervalo entre uma aula e uma reunião. Cheia de pressa, mas queria aproveitar bem esse tempo privilegiado diante do meu Senhor.

No banco da frente, duas pessoas passavam o turno: uma senhora de cabelos brancos levantou-se, benzeu-se e saiu da igreja, enquanto que um senhor também idoso se ajoelhou no seu lugar, apoiou a cabeça entre as mãos e ficou imóvel, a rezar.

“Que bonito”, pensei...

Fez-me lembrar a passagem de turno das guardas de honra dos monumentos nacionais. Com solenidade os militares executam sua tarefa. Mas haverá maior honra do que guardar o Senhor Sacramentado? Haverá monumento nacional que iguale em honra o mais tosco dos Altares do Senhor?

Sorri diante daquela "guarda de honra" humilde e pobre, na simplicidade da igrejinha. Senti-me também como um "soldado de Cristo", por breves momentos, assumindo esse cargo maravilhoso de vigilante. No íntimo do meu coração assomaram as palavras do salmo 131: “Minh'alma anseia pelo Senhor, mais do que a sentinela pela aurora...”

Olhei o relógio: só me restava um minuto de oração, ou corria o risco de chegar atrasada à reunião.

Benzi-me com a água benta, fiz uma genuflexão profunda voltei para o mundo, sempre cheio de afazeres.

Mas levei na mente a grandeza do milagre que acabava de acontecer: eu, simples mortal, com acesso direto e ilimitado à mais alta Realeza do Universo, com direito a dizer tudo o que quisesse ao Rei dos reis, sem necessidade de marcação de audiências ou qualquer burocracia.

Ah, fazemos tão pouco uso dos nossos privilégios de Filhos de Deus...

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Publicado como editorial na revista O FIEL CATÓLICO n.28
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O Cristo – mais que um sacerdote


Pelo Venerável Servo de Deus Fulton Sheen, Arcebispo

O SACERDÓCIO DE CRISTO foi diferente do de todos os sacerdotes pagãos e do sacerdócio levítico da família de Aarão. No Velho Testamento e nas religiões pagãs, o sacerdote e a vítima eram distintos e separados. Em Nosso Senhor, estavam inseparavelmente unidos.

Os sacerdotes judaicos ofereciam touros, bodes e cordeiros, vítimas que estavam mais distantes deles do que as roupas que vestiam. É fácil derramar o sangue de outra pessoa, como é fácil gastar o dinheiro de outrem. O animal perdia a vida, mas o sacerdote que o oferecia não perdia nada. Muitas vezes, não tinha sequer de matar a vítima. Salvo no caso das oferendas nacionais, quando eram mortas pelo sacerdote, aquele que oferecia a vítima era quem a matava (Lv 1,5). Tal disposição prefigurava o papel que o mesmo Israel mesmo mais tarde desempenharia mais tarde, como executor da Vítima Divina. Mas também se aplica a nós; num sentido mais profundo, cada pecador deve considerar-se como aquele que leva o Salvador à morte.

Os povos pagãos, sem o saber explicitamente, intuíram a verdade de que “sem derramamento de sangue, não pode haver remissão dos pecados” (Heb 9,22). Desde o início, por meio dos reis e dos sacerdotes, eles ofereceram animais e, por vezes, até seres humanos, para desviar a cólera dos deuses. Como no sacerdócio levítico, porém, a vítima era sempre separada do sacerdote. O sacrifício era vicário, o animal representava e ocupava o lugar dos seres humanos culpados, que assim procuravam expiar a própria culpa com derramamento de sangue.

Mas por que, pode-se perguntar, os pagãos, sem o auxílio da revelação, chegaram à conclusão exprimida por São Paulo, sob inspiração divina, de que “sem derramamento de sangue não havia remissão de pecados”? A resposta é que não é difícil reconhecer, para quem reflita sobre o pecado e a culpa, primeiro, que o pecado está no sangue; e segundo, que a vida está no sangue, de modo que o derramamento do sangue exprime adequadamente a verdade de que a vida humana não é digna de estar ante a face de Deus.

O pecado está no sangue. Pode ser lido no rosto do libertino, do alcoólatra, do criminoso e do assassino. O derramamento de sangue, portanto, representava o esvaziamento do pecado. A Agonia do Jardim e o suor de sangue estavam relacionados aos nossos pecados, que o Senhor tomou para Sisi, pois 

Cristo jamais conheceu o pecado, e Deus O o fez pecado por nós. 
(2 Cor 5,21)

Que nenhuma criatura seja digna de apresentar-se diante de Deus é algo que foi revelado ao homem muito precocemente. Adão e Eva descobriram-no, quando tentaram encobrir sua nudez com folhas de figueira, depois de pecarem.

Então, os olhos de ambos se abriram e se aperceberam da própria nudez; então, costuraram folhas de figueira e fizeram cintas.
(Gn 3,7)

As folhas de figueira, porém, não puderam cobrir sua nudez, tanto física como quanto espiritual, pois logo se secaram. O que era preciso, então? O sacrifício de um animal, o derramamento de sangue. Antes de poderem cobrir-se com a pele de animais, era preciso haver uma vítima. E quem fez as peles que cobriram suas vergonhas? Deus!

E então o Senhor forneceu a Adão e à sua mulher roupas feitas de pele, para vesti-los. 
(Gn 3,21)

Esta é a primeira alusão, nas Escrituras, de que a nudez espiritual do homem fosse deveria ser coberta pelo derramamento do sangue de uma vítima. Assim que os nossos Primeiros Pais perderam a graça interior da alma, era necessária uma glória externa para pagar por ela. É bem sempre verdade que quanto mais rica for a alma, interiormente, menos necessidade ela tem de luxo exterior. O adorno excessivo e o amor desordenado dos confortos são prova de nossa nudez interior.



A Bíblia contém muitos casos que sugerem que fosse seria necessário, para a nossa salvação, um Sacrifício vicário. São típicas as narrativas da cura do leproso e da expulsão do bode expiatório no Levítico. Em ambos os casos, há uma vítima sacrificial, embora (em todos os sacrifícios anteriores à Encarnação) a vítima fosse independente do sacerdote.

O ritual relacionado com a cura do leproso prefigura claramente a nossa purificação da lepra do pecado.

São eles dois pássaros vivos. [...] Um dos pássaros dever ter seu sangue derramado sobre água corrente num pote de argila; o que permanecer vivo deve ser mergulhado (juntamente com madeira de cedro, com a escarlata e o hissopo) no sangue do pássaro morto, e com isso o sacerdote deve aspergir sete vezes o homem infectado, para efetuar a devida purificação.
(Lv 14,4-7)

O pássaro vivo era solto nos campos, para simbolizar a libertação da lepra; mas essa liberdade e soltura tinham de ser compradas com o poder purificador do sangue e da água do pássaro morto. O sacerdote oferecia um sacrifício, mas a oblação era distinta dele mesmo.

Aqui temos uma alusão à redenção vicária por meio do sangue. Nosso Senhor, ao contrário, curava a lepra do pecado sem nenhum holocausto, senão Sua sua própria vontade obediente, por meio da qual conquistamos a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

A cerimônia do bode expiatório, outro exemplo de sacerdócio e condição de vítima, é descrita no Capítulo 16 do Levítico. O sacerdote tinha de lavar-se completamente – e não apenas os pés – antes da cerimônia, predizendo que o grande Sumo Sacerdote, Cristo, seria “imaculado” (Heb 7,26); o sacerdote também tinha de vestir trajes de linho branco e ouro. Assim cComo eram usados dois pássaros na primeira cerimônia, agora eram escolhidos dois bodes, um para ser morto, outro para ser solto. O ritual que precedia a soltura parece quase uma antecipação do Hanc igitur da Missa, pois o sacerdote estende as mãos sobre o bode.

Deve pôr ambas as mãos sobre a cabeça do bode, confessando todos os pecados e transgressões e crimes cometidos por Israel, e passando para a cabeça a culpa por eles. E haverá um homem pronto para levá-lo ao deserto; assim, o bode levará consigo todos os pecados deles, para uma terra erma, longe, em meio ao deserto. 
(Lv 16, 21,22)

Assim como os pecados dos israelitas eram levados pelo bode expiatório, assim também os nossos pecados não são lavados por nenhum esforço nosso, mas apenas por nossa incorporação em Cristo.
O bode expiatório era mandado para uma terra isolada ou selvagem, para nos ensinar com quanta eficácia os nossos pecados foram lançados ao esquecimento por Cristo.

Eu lhes perdoarei as iniquidades; não mais me lembrarei de seus pecados.
(Heb 8,12)

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Fonte:

SHEEN. Fulton J. O sacerdote não se pertence, São Paulo: Molokai, 2018, cap. I: 'Mais que um sacerdote'.
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Sobre o incêndio no Palácio Imperial do Brasil


Por Igor Andrade
– Frat. Laical São Próspero


A DATA DE 2 DE SETEMBRO é – ou aos menos deveria ser – uma das maiores datas comemorativas para o povo brasileiro: foi neste dia, em 1822, que Dona Leopoldina assinou o Decreto de Independência do Brasil, que seria reconhecido por Dom Pedro de Alcântara no próximo dia 7, dando início, com isso, à guerra de brasileiros contra portugueses pela independência nacional. Nasceu, neste dia, o Brasil como gigante independente e sublime.

Esta data, porém, em 2018, tomaria um outro significado: em 2 de setembro do presente ano vimos o símbolo da morte de uma nação.

O prédio onde residira a Família Imperial, localizado na Quinta da Boa Vista, zona norte da capital do Rio de Janeiro, após esta ter sido expulsa numa quartelada, converteu-se no Museu Nacional. Ali estavam expostos os pertences da Família Imperial, bandeiras, obras de arte, trabalhos científicos, fósseis e até uma múmia em seu sarcófago (comprada por Sua Majestade Dom Pedro II, amante das ciências). Além do prédio, muitos dos objetos expostos foram destruídos pelo fogo assassino do Nero moderno: o Estado.

É difícil crer que um fóssil humano de 13 mil anos de idade (o mais antigo encontrado na América, e carinhosamente chamado de Luzia) resistiu ao tempo, a diferentes eras geológicas, a intempéries dos mais variados tipos, mas não resistiu à incompetência assassina do Estado Brasileiro. É difícil crer que uma múmia egípcia (junto com muitíssimas outras peças inestimáveis) resistiu ao fim de sua civilização, a guerras, saques, desgraças incontáveis, mas não ao descaso dos nossos péssimos administradores públicos. Talvez nem mesmo o próprio Antonio Gramsci creria num assassinato cultural e científico de tais proporções.

O mestre Ariano Suassuna, autor da peça Auto da Compadecida, disse certa vez que “a universidade brasileira ensina de costas para o país e para o povo”, mas se sua memória me permite, faço o seguinte acréscimo: e o Estado Brasileiro governa de costas para o povo, sua história e sua cultura.

Em 2004, o secretário estadual de Energia, Industria Naval e Petróleo, Wagner Victer, já denunciara o deplorável estado de conservação do Museu à Agência Brasil (veja), mas tardaria ainda 14 anos para realizar-se sua "profecia" nada profética. De lá para cá, que fez o governo? Pelo Museu Nacional (ou seja, pela cultura brasileira) nada: “não há verba...” – mas para financiar exposições ofensivas ao povo, havia; para financiar grupos pró-governo, havia; para superfaturar obras públicas, havia; para desviar verba, havia verba.

Que significa tal coisa, senão a simbólica morte de uma cultura, senão o genocídio cultural de todo um povo? Qualquer destruição ou perda de objetos, documentos ou resultados científicos e históricos é a destruição de uma cultura e é profundamente danoso ao futuro do próprio povo. Não é preciso ser um amante da ciência ou da história para perceber tal coisa, basta querer ter um futuro – como ensinou Monteiro Lobato, dizendo que “a História é um processo contínuo do que se fez no passado, com o objetivo utilitário de nortear o futuro”.

A triste imagem do Palácio em chamas é símbolo da atual situação do Brasil. Que virá em seguida? Mais desculpas do governo, mais promessas e mais um nada que será feito – e o prédio retornará às cinzas de onde veio, assim como o povo brasileiro, se não lutar para manter-se vivo ante tal calamidade e recuperar ao menos parte do que foi perdido.
Embora eu pareça pessimista com nosso futuro por conta deste símbolo da morte de nosso passado, dou o braço a torcer ao argentino Manoel Galvez e afirmo com ele que creio na fertilidade espiritual do meu país, e não compreendo que ela não corresponda à prodigiosa fertilidade da terra.


Bernardo Küster comenta


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No meio da tempestade, Arcebispo pede ao Papa que cancele Sínodo dos bispos e promova outro, para a reflexão dos próprios bispos


A SITUAÇÃO DA IGREJA e do mundo está muito, muito longe do que poderíamos chamar "fácil", não é de hoje; mas também é cada vez mais difícil negar que tudo veio a se complicar ainda mais nestes tempos do reinado de Francisco. Com isso não estamos afirmando que tal aconteça necessariamente por culpa direta ou exclusiva do Papa, mas é fato que uma divisão que já existe há décadas vem se tornando cada vez mais difícil de disfarçar – entre os católicos ditos conservadores ou tradicionais e os modernistas.

De fato, por algum tempo a divisão foi atenuada, mas nos últimos tempos a convivência fraterna entre esses dois lados antagônicos vem se tornando nada menos que insuportável. Uma reconciliação parece cada vez mais improvável e, no meu entender, com o passar do tempo vai se tornando evidente que, se nada mudar, a situação deverá culminar e um novo cisma na Igreja. 

É triste e profundamente lamentável, mas já não se pode negar que esses dois grupos de católicos já adotam religiões diferentes (sim!), não só com praxis religiosas diferentes (nos valores morais, no modo de rezar, na maneira de entender e celebrar a própria Missa) mas até mesmo no modo de crer naquilo que a Igreja ensina(!). 

São dois lados, duas frentes, duas correntes que divergem, e vai ficando impossível não notar ou fingir que tal não ocorre. Também não é difícil encontrar radicalismos, falta de caridade e muitas falhas humanas em ambos os lados, mas é nítido que um desses grandes grupos vem aprendendo uma espécie de "novo catolicismo": uma nova religião que tem muito pouco a ver com aquilo que constituía a religião dos santos e até dos nossos avós.

Não só entre os fiéis católicos, mas também entre os membros do clero essa divisão vem se intensificando; ainda que a maioria integre uma massa mais ou menos coesa – favorável às ideias modernistas – há também um grupo de sacerdotes, padres e bispos conservadores, que vêm tomando posição cada vez mais marcada nos últimos tempos, e que sente que é preciso tomar coragem para lutar pelo resgate da sagrada Tradição. Um movimento que vem sendo chamado por alguns de "resistência" e que abriga desde membros realmente radicais (alguns dos quais já cindiram com Roma) até outros que ainda buscam uma conciliação, um meio termo, a reivindicação de suas razões por meio do diálogo e não do protesto – ainda que venham estes últimos, como dissemos, manifestando-se com cada vez maior clareza e ousadia.


Dom Charles Chaput

Depois das "Dubia", da "Carta de Correção Filial", das várias declarações de Dom Athanasius, do Cardeal Burke e do Cardeal Sarah sobre a Magnum Principium, do pedido de renúncia do Papa pelo Cardeal Veganò, etc, etc, o caso mais recente é o do Arcebispo da Filadélfia, EUA, Dom Charles Chaput, que pediu ao papa Francisco que cancele o Sínodo dos Jovens, programado para outubro deste ano, e em vez disso ordene um encontro parecido para os bispos – para fazer com que estes reflitam sobre sua obrigação sagrada e sobre o que é preciso para que a Igreja retome o seu caminho no seguimento do Evangelho[1].

Em uma coletiva realizada no Seminário São Carlos Borromeu, em 30 de agosto, segundo informa o ‘Catholic Philly’ (publicação oficial da Arquidiocese de Filadélfia), Dom Chaput disse: "Eu escrevi ao Santo Padre e pedi para que cancele o próximo Sínodo dos Jovens (...) Neste momento, os bispos não teriam absolutamente nenhuma credibilidade ao se referir a este tema". O Prelado também pediu ao Papa Francisco que comece “a fazer planos para um Sínodo sobre a vida dos bispos".

De acordo com ‘Catholic Philly’, o porta-voz da Arquidiocese, Kevin Gavin, confirmou que o prelado enviou a carta ao Papa Francisco, mas não fez comentários adicionais.

Francisco, como já se tornou praxe nesses casos, parece que preferirá não comentar o caso. Dom Chaput, presidente da Comissão sobre os Leigos, Matrimônio, Vida, Família e Jovens da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB), já foi confirmado recentemente pelo Papa como um dos cinco prelados norte-americanos que participarão do Sínodo dos Jovens, a ser realizado de 3 a 28 de outubro no Vaticano.

Também participarão do Sínodo o Arcebispo de Galveston-Houston e presidente da USCCB, Cardeal Daniel DiNardo, o Arcebispo de Los Angeles e vice-presidente da UCCB, Dom José Gomez, o Bispo de Bridgeport e membro do Comitê dos Leigos, Matrimônio, Vida, Família e Jovens, Dom Frank Caggiano, e o Bispo Auxiliar de Los Angeles e presidente do Comitê sobre Evangelização e Catequese da USCCB, Dom Robert Barron.

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1. A Igreja dos Estados Unidos está passando por uma crise profunda, em meio às acusações de diversos bispos e sacerdotes de cumplicidade com os abusos sexuais dos quais é acusado o ex-cardeal Theodore McCarrick, Arcebispo emérito de Washington. No último dia 25 de agosto, o ex-núncio dos Estados Unidos, Dom Carlo Maria Viganò, acusou cardeais, bispos e sacerdotes de encobrir McCarrick. O ex-diplomata do Vaticano também responsabilizou o Papa Francisco de não agir diante das denúncias contra o Arcebispo Emérito de Washington e retirar as sanções que haviam sido impostas por Bento XVI. Diversos bispos dos Estados Unidos, incluindo o Cardeal DiNardo, presidente da USCCB (sigla em inglês para a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos), encorajaram uma investigação profunda sobre o caso McCarrick e as denúncias de Viganò: "Sem oferecer respostas concretas a estas acusações", disse DiNardo numa clara crítica à decisão de Francisco de não se manifestar, "homens inocentes poderiam ser manchados por falsas acusações e os culpados poderiam ser libertados para repetir os pecados cometidos no passado".

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Ref.:
ACI Digital, 'Arcebispo pede ao Papa que cancele Sínodo dos Bispos', em:
https://acidigital.com/noticias/arcebispo-pede-ao-papa-que-cancele-sinodo-dos-bispos-94634
Acesso 3/9/2018
www.ofielcatolico.com.br
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