As eleições e o (obrigatório) critério do mal menor

Nestas vésperas das eleições, os esclarecimentos do Revmo. Padre Marcelo Tenório, contidos em seu texto que reproduzimos abaixo, parecem-nos mais do que oportunos: vemos que esses esclarecimentos são realmente necessários, quando vemos uma multidão de católicos – e também de pessoas de outras confissões cristãs ou simplesmente cidadãos de boa vontade –, perdidos em um dilema moral, por considerar que não há candidatos realmente bons e confiáveis em quem possam votar, e que assim a omissão seria a melhor saída. Outros ainda ponderam que o voto em qualquer dos candidatos seria um pecado, já que nenhum se enquadra naquilo que a Igreja ensina e manda. Nada mais distante da realidade e um engano terrível, que pode ajudar nosso país a mergulhar definitivamente no caos e num tempo de trevas nunca visto por aqui. Segue o texto.


A DOUTRINA DO MAL menor envolve questões delicadas e muito importantes, que precisam ser vistas e entendidas com cautela. Faz-se necessário sabê-la nos momentos em que todas as opções de que dispomos nos parecem imorais. Aqui é que entra esse princípio conhecido como o do “mal menor”. Quando um fiel católico precisa tomar uma decisão, mas todas as escolhas possíveis lhe parecem más, é um dever escolher aquilo que provocará um mal menor. 

    Todavia, a regra para esse princípio só pode ser assumida se há extrema necessidade de ação. Se não houver urgência e nem dever urgente, pode-se então aguardar os acontecimentos e esperar. No caso das eleições, obviamente não é possível essa espera para ver o que acontecerá depois, para só então tomar uma decisão. A escolha é urgente e precisa ser feita em tempo hábil, ou então será tarde demais. 

    Assim ensina Santo Afonso Maria de Ligório,  Bispo e Doutor da Igreja:

Consciência perplexa é a de quem, diante de dois preceitos estabelecidos, acredita que pecará se escolher um ou outro, caso possa suspender a ação, é obrigado a adiá-la enquanto consulta pessoas competentes. Se não puder suspendê-la, é obrigado a escolher o mal menor, evitando transgredir o direito natural mais do que o direito humano. Se não é capaz de discernir qual seja o mal menor, faça o que fizer, não peca, porque nesse caso falta a liberdade necessária para que exista pecado formal.[1]

    Ora, encontramo-nos hoje em uma encruzilhada: ou votamos no Bolsonaro ou ajudaremos a eleger candidatos socialistas declaradamente contra a Igreja, a família e todos os valores da sociedade cristã.

    Muitos argumentam que outros, com menores chances, têm planos melhores, ou que Bolsonaro também é ruim porque seria liberal, relativista, maçom, católico de fachada, separado da primeira esposa e outras coisas mais....

    Ora, esse pensamento carece de uma reta hierarquia de danos. Uma coisa é assassinar um feto, outra é ser a favor, por exemplo, da esterilização química [aqui assumo as colocações do Padre Lodi (vídeo mais abaixo)]: com ambos não concordo, mas aqui há uma hierarquia de danos a ser assumida.

    Bolsonaro sempre se declarou contra o aborto. É o único candidato que disse claramente que, se (re)eleito, continuará vetando qualquer lei sobre o tema, e isso para nós já deveria ser um sério motivo de reflexão e de escolha. Mas há também outros posicionamentos muito bons em relação à família, o combate à doutrinação marxista nas escolas, para as nossas crianças, as posições claramente assumidas contra a apologia do homossexualismo, contra as pautas o Foro de S, Paulo, a desburocratrização do sistema, etc, etc.

    Mesmo que haja lacunas em seu discurso, e há; mesmo que haja algumas posições suas condenáveis à luz da Fé e da moral, mesmo que privadamente ele seja um pecador, deve ser claro para todos que pior do que isso é a agenda vermelha que já avança em todo mundo, quanto mais aparelhada pelo Estado socialista.

    Vimos, pouco tempo atrás, igrejas sendo invadidas na Nicarágua, altares sendo jogados ao meio das ruas, padres, bispos e até o núncio apostólico agredidos por uma população enfurecida contra os cristãos. Isso veio do nada? Aconteceu do nada? Não! É o resultado de anos de uma doutrinação esquerdista contra a Fé, segundo a qual Deus deve ser arrancado da sociedade. Podemos fazer a nossa parte para impedir o avanço disso? A resposta é sim.

    Só podemos fazer uso da regra do mal menor quando se torna extremamente necessária uma ação de nossa parte. “Se não puder suspender a ação, é obrigado a escolher o mal menor” [Santo Afonso Maria de Ligório, Tratado de Teologia Moral (1755)].

    Ora, quem dentre nós é capaz de negar, em sã consciência, a extrema urgência de nosso voto contra os mais perigosos inimigos de Deus? Alguém precisa dizê-lo, hoje o que temos é isto: ou Bolsonaro – e os candidatos aos outros cargos que o apoiem –, ou a derrocada de tudo o que temos por sagrado.

    Tanto existe urgência quanto dever; logo, devemos fazer uso do critério do mal menor, como ensina a moral católica: se não puder suspender a ação, é obrigado a escolher o mal menor

    Há teólogos – impávidos em suas mesas, como se não estivessem inclusos nisso tudo, como se habitassem em igrejas espaciais, protegidos em seus castelos – que, diante da realidade, ainda defendem a mera abstenção ou a simples anulação do voto, acreditando que não há urgência, que se pode esperar, que há tempo. E “enquanto Roma pega fogo, Nero toca harpa”.

    Omitir-se, agora, pela abstenção ou anulação do voto, constitui, sim, um grave pecado de omissão. Uma ação confortável, digna de Pilatos com sua bacia de prata e todo o resto.


Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz,
um dos maiores defensores da vida no Brasil






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[1] Cit. pelo Conselho Pontifício para a Família, Lexicon, Verbete Princípio e Argumento do mal menor. Roma, 2002, p.783

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3 comentários:

  1. Jefferson De Sousa Leite Oliveira27 de setembro de 2022 às 15:35

    Realmente há uma confusão incrível sobre o papel do católico em época de eleição e parte dessa confusão se deve às pessoas que vendem a ideia de que não podemos exaltar um homem falho e repleto de problemas, mas que, ainda assim, é, DE LONGE, a melhor alternativa. Aos "católicos limpinhos" que reclamam da cegueira de quem não vê os erros de Bolsonaro, que levantem as escamas de seus olhos para enxergarem o óbvio ciclo de miséria e desolação que estamos prestes a adentrar caso Lula seja eleito.

    Bater continência para um homem que é limitado e cheio de erros não é bater palmas para essas limitações e erros, mas para os bons pontos que o tornam a melhor opção nesse momento.

    Aos pseudo-limpinhos, lembrem-se que não há como fugir do lamaçal que espera encontrar TODO o Brasil, em virtude da sua omissão e covardia, soberba e hipocrisia, escrúpulos e rebeldia.

    Não haverá "católico limpinho" no lamaçal de corrupção do governo petista e no mar de sangue que se derramará após as medidas que serão tomadas por um futuro governo vingativo e sem escrúpulo ou limite moral. Todos estarão sujos no mesmo lugar, mas alguns terão as mãos sujas desde o começo.

    Por: Jefferson De Sousa Leite Oliveira

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    1. Um Católico de verdade não participa de eleições maçônicas, que é isso que a Democracia Liberal é de fato.

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    2. Foi muito bom você ter dito isso aqui, Marcelo O. C., porque esse seu pensamento deturpado é uma das principais razões de estarmos correndo o seríssimo risco de ver o nosso país voltando às garras de uma verdadeira hoste satânica. Que parte de "OS CATÓLICOS, EM CASOS DE GRAVE CRISE E RISCO PARA A RELIGIÃO, TÊM A OBRIGAÇÃO DE OPTAR PELO CRITÉRIO DO MAL MENOR" você não consegue entender?

      Sim, pessoas como você estão entre as grandes responsáveis por estarmos nessa situação. Quando a igreja por aqui estiver sofrendo numa perseguição sangrenta semelhante a que está acontecendo agora na Nicarágua do amigo de Lula, talvez vocês acordem, mas aí já será tarde demais.

      Diga-se de passagem que, se a hoste demoníaca conseguir voltar ao poder, será quase impossível tirá-la de lá novamente. Mas vocês encasquetaram na cabeça que tanto faz Lula ou Bolsonaro, porque um é comunista e outro liberal, então os dois são ruins. Sim, é verdade que nenhum dos dois representa o modelo do candidato católico ideal, mas a simples e evidente verdade é que não temos um um Carlos Magno, um São Luís de França, um São Fernando de Castela ou Garcia Moreno, então precisamos usar as armas que temos à mão e escolher aquele que, mesmo estando muito longe do ideal, ao menos nos garante a liberdade de praticar a Religião publicamente, sem contar a sua oposição à doutrinação marxista nas escolas e à ideologia de gênero, e ainda sem mencionar a questão do aborto.

      Não se engane: se Lula voltar ao poder e o aborto for irrestritamente legalizado em nosso país, cada alma inocente assassinada no ventre de sua mãe vai clamar ao Céu contra os omissos que deixaram de fazer a sua parte para evitar esse verdadeiro massacre.

      Lula nem sequer apresentou plano de governo, para não se comprometer agora, tente imaginar então o que ele tem em mente! Vou então repetir mais uma vez a verdadeira doutrina da Igreja Católica defendida por Santos como Afonso Maria de Ligório, suplicando aos Céus que aqueles que pensam como você sejam capazes de remover as escamas dos olhos!

      OS VERDADEIROS CATÓLICOS, EM CASOS DE GRAVE CRISE E RISCO PARA A RELIGIÃO, TÊM A OBRIGAÇÃO DE OPTAR PELO CRITÉRIO DO MAL MENOR.

      OS VERDADEIROS CATÓLICOS, EM CASOS DE GRAVE CRISE E RISCO PARA A RELIGIÃO, TÊM A OBRIGAÇÃO DE OPTAR PELO CRITÉRIO DO MAL MENOR.

      OS VERDADEIROS CATÓLICOS, EM CASOS DE GRAVE CRISE E RISCO PARA A RELIGIÃO, TÊM A OBRIGAÇÃO DE OPTAR PELO CRITÉRIO DO MAL MENOR.

      Terá ficado claro, ou será que terei que desenhar em 3d?

      Fraternidade Laical São Próspero

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