Por Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa
– Capela Santa Maria das Vitorias
NORMALMENTE, DURANTE O MÊS de março, a piedade católica se concentra em duas grandes devoções: a Quaresma e a solenidade do glorioso patriarca São José, celebrada dia 19.
Hoje em dia, apesar de toda a secularização, os exercícios espirituais da Quaresma continuam em alta, haja vista ao rito penitencial da quarta-feira de cinzas, que ainda atrai multidões de fiéis.
Como se sabe, a Quaresma é um tempo privilegiado de reflexão, de reconciliação e conversão que nenhum pecador pode desprezar. Parece que na Quaresma Deus nos repete as palavras dirigidas ao nosso pai Adão, depois da desobediência: “Adão, onde estás?” A única coisa diferente deve ser nossa atitude. Podemos (e devemos) ter vergonha dos nossos pecados; devemos ter, sobretudo, contrição dos nossos pecados, mas não devemos esconder-nos de Deus como nossos primeiros pais.
Com efeito, depois que o Verbo se fez carne e morreu por nós na cruz, devemos ouvir o Pai do Céu que nos chama amorosamente e comparecer diante d'Ele, para com Ele nos reconciliarmos por meio do Sacramento da Confissão, de maneira que não venhamos a perder o Paraíso.
A outra grande devoção do mês de março, como disse, é a festa de São José. Esta, infelizmente, parece que vem perdendo seu brilho e o lugar de honra que em outros tempos ocupou no coração dos católicos.
Entretanto, São José continua sendo o maior dos Santos. Os bons teólogos esmeraram-se em explanar as glórias do Santo Patriarca.
Para entender a grandeza de São José, convém recordar o que diz Santo Tomás de Aquino. Ensina o Doutor Angélico que uma missão ou tarefa excepcional confiada por Deus a uma pessoa requer desta uma santidade ou dignidade proporcionada (Cf. S. T. III, q. 7. ar. 9). Ora, a missão de São José em relação ao Menino Divino foi a mais alta, abaixo apenas a de Maria Santíssima. Portanto, a dignidade e a santidade de José é a mais alta depois da de Nossa Senhora.
É verdade que há uma controvérsia sobre se a primazia de dignidade e santidade depois da Virgem Maria compete a São José ou ao Santo Precursor São João Batista, que teve o privilégio de ser purificado da nódoa do pecado original ainda no ventre materno. O ilustre cardeal Próspero Lambertini, futuro Papa Bento XIV (um dos papas mais respeitados da história da Igreja por sua vastíssima cultura), diz em sua obra sobre a canonização dos santos que é só provável, mas não certo, que São José seja superior a São João Batista. A questão é saber o que é mais digno: ser pai nutrício ou adotivo de Jesus Cristo ou ser seu precursor, santificado no ventre materno pelas palavras de Maria Santíssima.
A favor da superioridade de São José milita uma razão (mal compreendida, infelizmente, por muitos católicos): São José é verdadeiro esposo da Virgem Maria. É de Fé e quem o nega é herege.
Não procede absolutamente a objeção que diz que, havendo Nossa Senhora feito voto de virgindade, não poderia haver contratado verdadeiro matrimônio com São José. Seu casamento seria um casamento aparente. A citada objeção não procede porque no matrimônio se pode distinguir o contrato que dá um direito sobre os corpos dos cônjuges e o uso de tal direito. E o objeto principal do contrato matrimonial é só o direito aos corpos e não uso desse direito. Ora, nada impede que os cônjuges, depois do consentimento matrimonial, que dá direito aos corpos, decidam não fazer uso de tal direito, por um fim mais alto. A Igreja sempre admitiu, em certas circunstâncias e por motivos justos, o chamado casamento josefino.
Ademais, cumpre recordar que é um dogma de fé católica, definido pelo Concílio Lateranense de 649, a perpétua virgindade de Maria Santíssima: Nossa Senhora foi virgem antes, durante e depois do parto.
Em consequência, resulta natural perguntar em que consistiu a paternidade de São José. A Igreja ensina que a paternidade de São José em relação a Jesus não é uma paternidade fictícia, embora não seja carnal. É uma paternidade real (ainda que não física) porque São José é verdadeiro esposo de Maria Virgem.
Como se sabe, o Messias, de acordo com as Sagradas Escrituras, devia ser descendente do Rei Davi. Ora, os evangelistas São Mateus e São Lucas atestam que São José pertencia à casa real de Davi e silenciam sobre a ascendência de Maria, porque não era costume entre os hebreus mencionar a genealogia das mulheres, mas, como a lei prescrevia que os casamentos se realizassem dentro da mesma parentela, a genealogia de São José indicada pelos evangelistas vale para Maria Santíssima.
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Por derradeiro, é preciso dizer que a missão de São José é tão sublime que nenhum dos epítetos que se lhe atribuem habitualmente expressa perfeitamente sua dignidade. Pai nutrício, pai adotivo, pai putativo, nenhum desses títulos se adéqua plenamente a São José. Como vimos, é pai real de Jesus, ainda que não biológico.
A Sagrada Escritura, ao referir-se a São José, diz que ele era um varão justo. Na linguagem bíblica, justo é o homem que pratica todas as virtudes. E São Paulo diz que o justo vive da fé.
Qual não seria a fé do Santo Patriarca? Conformou seu proceder, durante toda a sua vida, à Lei de Deus. Confiou em Deus nos momentos mais difíceis: a concepção de Nossa Senhora por obra do Espírito Santo, a noite de natal, a fuga para o Egito etc.
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Que São José nos ajude a guardar íntegra a fé católica nos dias dolorosos por que passa a Santa Igreja.
Que São José seja para todos nós modelo de paternidade. Aos chefes de família, ajude-os a entender que ser pai não é apenas pôr um homem no mundo e assegurar-lhe bem-estar material, mas exercer uma responsabilidade, uma autoridade amorosa, sobre o filho que Deus lhes confiou, para que um dia alcance o céu. Aos sacerdotes, aos párocos, ajude-os também a estar bem convencidos de que não são simples administradores de uma paróquia, que não são simples amigos e companheiros dos seus paroquianos nas iniciativas e eventos sociais da paróquia, mas são sobretudo pais dos seus fiéis.
José justíssimo, terror dos demônios, rogai por nós!
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