Segue abaixo a íntegra do documento público, assinado pelos referidos Cardeais e endereçado aos líderes católicos de todo o mundo, reunidos esta semana (17-23/2/2019) no Vaticano para discutir o escândalo dos abusos sexuais na Igreja.
Caros irmãos, Presidentes das Conferências Episcopais,
É com profunda aflição que nos dirigimos a todos vós! O mundo católico está desorientado e levanta uma pergunta angustiante: para onde está indo a Igreja?
Diante desta deriva, hoje em curso, pode parecer que o problema se reduz ao problema dos abusos de menores, um crime horrível, especialmente se perpetrado por um sacerdote, que, todavia, não é senão uma parte de uma crise bem mais ampla.
A chaga da agenda homossexual difunde-se no seio da Igreja, promovida por redes organizadas e protegida por um clima de cumplicidade e de conspiração de silêncio (“omertà”). Como é evidente, as raízes deste fenómeno encontram-se nessa atmosfera de materialismo, relativismo e hedonismo, em que se põe abertamente em discussão a existência de uma lei moral absoluta, ou seja, sem excepções.
Acusa-se o clericalismo de ser responsável pelos abusos sexuais, mas a primeira e a principal responsabilidade do clero não recai sobre o abuso de poder, mas em se ter afastado da verdade do Evangelho. A negação, até mesmo em público, por palavras e nos factos, da lei divina e natural, está na raiz do mal que corrompe certos ambientes da Igreja.
Diante de tal situação, cardeais e bispos calam. Também vós vos calareis aquando da reunião convocada para o próximo dia 21 de Fevereiro, no Vaticano?
Em 2016, estivemos entre os que interpelaram o Santo Padre acerca dos dubia que dividiam a Igreja após a conclusão do Sínodo sobre a família. Hoje, esses dubia não só continuam sem receber qualquer resposta, mas são apenas parte de uma crise da fé mais geral. Por isso, vimos encorajar-vos a que levanteis a vossa voz para salvaguardar e proclamar a integridade da doutrina da Igreja.
Rezamos e pedimos ao Espírito Santo para que assista a Igreja e ilumine os pastores que a guiam. Neste momento, é urgente e necessário um acto resolutório. Confiamos no Senhor que nos prometeu: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).
Walter Card. Brandmüller
Raymond Leo Card. Burke
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