Crise na Igreja: a pior da História? – parte II


EM NOSSOS TEMPOS, quase que diariamente trágicas notícias nos têm chegado. São terríveis e incessantes novidades sobre escândalos na Igreja – que impiedosa e incessantemente atacam e vão minando a fé, a moral e o modo de crer e de viver dos católicos.

• São padres e bispos que rezam diante de imagens de ídolos, como no caso de estátuas de Buda postas diante do Altar sagrado, em mais de uma ocasião;

• É o Papa tratando o heresiarca e apóstata Lutero como uma espécie de herói da fé (retratado pelo próprio Vaticano em selo comemorativo como legítimo sucessor dos Apóstolos!) e, não contente com isso, pedindo perdão aos protestantes, em nome da Igreja Católica, pela suposta "intolerância" do passado (saiba mais);

• É o mesmo Papa que não se ajoelha diante do Santíssimo Sacramento do Altar, mas que se ajoelha e rasteja, de quatro, diante de políticos africanos, enquanto lhes beija os sapatos, numa cena a um só tempo bizarra e aterradora para os corações genuinamente católicos (assista);

• São párocos que retiram de suas igrejas as imagens sacras – especialmente as de Nossa Senhora – para a realização de cultos "ecumênicos", com receito de "ofender" àqueles que desprezam a Mãe de Deus, ao mesmo tempo em que não se preocupam minimamente em ofender aos fiéis católicos que querem ser santos, ao transformar o Santo Sacrifício da Missa em pantomina ou cópia mal feita de algum espetáculo circense;

• São escândalos envolvendo homossexualismo no clero – que se configura também na principal causa dos escândalos de pedofilia. Homossexualismo que já é amplamente defendido até por bispos como "um bem" ou mesmo como "um dom de Deus" (saiba mais);

• É o trevoso prenúncio de um novo Sínodo que (a pedido do Papa!) já reúne "pais de santo", feiticeiros, espiritas e protestantes;

• Etc., etc., etc...

Que a Igreja de hoje passa por uma crise gravíssima e profunda, disso não há mais quem duvide, nem os mais corajosos dentre os chamados "isentões" e nem mesmo a "tropa de choque" que sempre corre a defender Francisco nas redes sociais, com uma multidão de entendidos muito aptos e eternamente dispostos a explicar "o que o Papa quis dizer...".

Dessa crise não escapou nem mesmo a Igreja espanhola, outrora fidelíssima, que em 1936 nos brindara com maravilhosa demonstração do vigor de sua fé em milhares de martírios. O que a estatística nos apresenta sobre a situação atual da Igreja (e da prática do catolicismo) na Espanha espelha a situação geral da nossa civilização ocidental ex-católica: contemplemos o triste cenário de uma nação que já foi modelar na Fé e cujo percentual de católicos era de 95% em 1960 (antes do Vaticano II), e que foi reduzido para apenas 18,5% que vão regularmente à Missa em 2006, segundo estudo do Centro de Investigações Sociológicas[3], apenas quarenta anos após o Concílio! De modo mais ou menos semelhante ocorreu no resto do mundo, com variações.

Em toda a parte vê-se a Igreja, assim como o Senhor Jesus, crucificada. E parece agonizar. E quais são os piores algozes atuais do Corpo Místico de Cristo, a Igreja, que impiedosamente a castigam e flagelam, rindo-se enquanto ela se contorce em dolorosa agonia? Na primeira parte deste artigo vimos o quanto andam furiosos e audaciosos os nossos inimigos externos. Mas onde se encontram estes? Já não nos atiram às feras em arenas, nem nos enviam aos gulags, campos de concentração ou paredões de fuzilamento. Estão agora espalhados por toda parte e promovem principalmente um tipo de perseguição diferente. Dominaram especialmente os meios de comunicação (cite o leitor ao menos uma novela global atual que não promova alguma pauta anticristã), a política e –, talvez o mais grave –, as escolas e universidades, mesmo as ditas "católicas".

Todavia o maior perigo da atual crise ainda não está na ação dos inimigos externos da Igreja. Toda a História, desde o império romano às ditaduras comunistas, prova que vivemos agora um tempo inédito, tanto diverso quanto mais grave e mais perigoso para as almas. Porque as perseguições externas sempre foram claras, abertas, e neste sentido mais honestas, já que se distinguiam nitidamente os perseguidores dos perseguidos. E sempre nessas ocasiões a Igreja, quanto mais perseguida, mais se fortalecia. "Semen est sanguis christianorum", dirá Tertuliano, isto é: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos. Hoje, porém, os cristãos vêm sendo crucificados de um modo diferente, em certo sentido ainda mais cruel que o daquele dos antigos romanos. Crucificam-se as vocações, o puro desejo de ser santo, a inocência dos recém-convertidos. E quem os crucifica são os inimigos internos, os piores, como já alertava o Santo Padre S. Pio X, na Encíclica Pascendi Dominici Gregis (vide a primeira parte deste artigo).

A crise de hoje é tão real quanto é duramente sentida por uma multidão de católicos devotos que já não se vê representada nem mesmo nas celebrações da Santa Missa (assistir à Missa, ou à caricatura que dela se faz em milhares das nossas paróquias, e cumprir o preceito dominical, para muitos tornou-se um castigo, uma dor, uma pena), e é tão profunda e tão grave quanto é a sua causa, pois o efeito é sempre proporcional à causa. Já há décadas desde antes do Concílio Vaticano II (CVII), havia um movimento insidioso que procurava, por toda força, introduzir o modernismo na Igreja, a partir de dentro. Há muitas tentativas de o explicar, e muitos consideram mesmo o CVII como a sua grande vitória. É um fato inegável que o Concílio, através de um linguajar "pastoral", introduziu tão profundas mudanças na Igreja que a deformou quase que por completo; A partir daí, conforme registram e demonstram as estatísticas, verificou-se um declínio acentuado da Religião católica em todo o mundo. Queda nas vocações, nas comunhões, nas confissões, abandono das igrejas... a exemplo do que houve na Espanha. E consequente degradação moral, descambando para os funestas consequências que nos assolam hoje, com a promiscuidade, o adultério, o homossexualismo em suas mais bizarras variações, o igualitarismo posto como verdade inatacável, a demolição da família dita "tradicional", etc., etc.

Difícil negar que o CVII está na raiz dessa crise tremenda, mesmo que não tenha sido sua causa única ou primária. Sem dúvida, “o Vaticano II introduziu na Igreja o método e a doutrina do modernismo, que havia sido condenado pelo Papa S. Pio X, em 1907”, como disse Jean Guitton[2].

Como pôde o modernismo ter causado crise tão profunda e devastadora? Isso aconteceu porque o "vírus" da heresia mesma do modernismo – que, segundo S. Pio X, reúne em si todas as heresias – quis adaptar ou conformar a Verdade e santidade da Igreja, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, às falsidades e vaidades do mundo moderno. Quis fazer da Igreja uma amiga do mundo. Incrivelmente, nossos pastores esqueceram-se da claríssima advertência do Apóstolo:

“Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (S. Tiago 4,4)

Os adeptos do modernismo se aproveitaram do CVII para transformar a Igreja, fazendo-a passar de agente modelador da sociedade para uma instituição que por esta é moldada. Deixou de transformar o mundo e passou a ser transformada pelo mundo. De portadora e anunciadora da Revelação eterna, imutável, transcendente e santa, dobrou-se às futilidades, modas e sensibilidades do mundo moderno, mutável, finito e de crenças imanentes-ateístas.

O papa João XXIII, autor da encíclica “Mater et Magistra” (Mãe e Mestra, a Igreja), já no discurso de abertura do Concílio, além de indicar a necessidade do “aggiornamento” (atualização) da Igreja ao mundo moderno, salientou ainda que aquele Concílio não iria condenar nada e a ninguém! Como explicar que uma Mãe zelosa indicaria e aconselharia aos seus filhos uma "atualização" a um mundo perverso, laico e ateu, sem lhes mostrar, condenar e advertir contra os perigos e as armadilhas que esse mesmo mundo, incessantemente e desde sempre, lhes prepara?

Pois foi exatamente o que os modernistas, que se apoderaram do CVII, fizeram: introduziram na Igreja o método e a doutrina do modernismo, resumido nas “opiniones” (opiniões particulares) da "Nova Teologia", condenada por Pio XII na encíclica “Humani Generis”. E as “opiniones” heterodoxas, como as de Adam, Chenus, de Lubac, Congar, Kungs, Rhaner e outros, triunfaram naquele Concílio, voltado, como afirmou Paulo VI, não para Deus, mas para o homem.

...Continua...

** Assine a revista O FIEL CATÓLICO e tenha acesso a muito mais! **

_________
[1] Mensagem de Bento XVI para a JMJ Rio 2013, disp. em:
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/youth/documents/hf_ben-xvi_mes_20121018_youth.html
Acesso 19//2019

[2] Portrait du père Lagrange, Éd. Robert Laffont, Paris, 1992, p.55-56).

[3] Disp. em:
http://cis.es/cis/opencms/EN/NoticiasNovedades/InfoCIS/2013/Publicacion_ConstruccionPolitica.html
Acesso 19//2019
___
Ref.:
"'Por que me persegues?' Um comentário sobre a crise na Igreja", em:
http://montfort.org.br/bra/veritas/igreja/crise_na_igreja/
Acesso 19/8/2019

6 comentários:

  1. Paz e bem ... Sei que é muito ingênuo da minha parte esta pergunta e presunção para responder em poucas linhas. Mas o que os fiéis podem fazer diante deste fato? Serem exemplos vivos assim como todos outros santos fizeram em tempos de crises? Que Deus abençoe sempre esse lindo apostolado que acompanhamos diariamente.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Respondendo à sua pergunta em uma palavra: sim. É isso mesmo, Jones, que deveremos e precisaremos nos tornar, cumprindo em nós as palavras proféticas do Venerável Arcebispo Fulton Sheen:

      "Quem salvará a nossa Igreja? Não serão os bispos nem os padres nem os consagrados. Cabe-vos a vós, o povo. Vós tendes as mentes, os olhos, os ouvidos para salvar a Igreja. A vossa missão é zelar para que os padres vivam como padres, os bispos como bispos e os consagrados como consagrados".

      Se tantos padres andam fazendo o trabalho dos lobos, façamos nós o papel dos pastores. Um bom exemplo já nos dá o jovem que se apresenta como "Pedro de Maria" e que é o tema do vídeo que postamos ainda hoje e que pode ser assistido acessando-se o link abaixo:

      https://www.ofielcatolico.com.br/2019/08/evento-pro-aborto-em-sao-miguel.html

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Apostolado Fiel Católico

      Excluir
  2. A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Bom dia, caros irmãos! Lamentável tudo quem vem acontecendo dentro da nossa Igreja, fundada por São Pedro, conforme recebeu de Jesus Cristo a incumbência de fazê-lo. Me preocupa e muito o que vem fazendo O Papa Francisco. Noutro dia, vi uma reprodução de postagem feita em uma rede social popular ( onde não tenho nenhum perfil), do Leonardo Boff, onde havia uma foto dos anos 60, com o Boff e o atual Papa reunidos em uma cidade argentina. O fato do Papa Francisco inaugurar uma estátua de Martinho Lutero, nos 500 anos da infeliz "Reforma", iniciada por um presbítero revoltado pela falta de atenção aos seus apelos revolucionários ( eis o Orgulho falando alto), estátua esta, dentro do Vaticano! E sim, as viagens bajuladoras ao líderes islamitas, tudo estranho para qualquer cristão católico que conheça o mínimo sobre a nossa Igreja. Tudo isto me preocupa, e muito! Verei o vídeo sobre o que aconteceu em São Miguel Paulista, depois opinarei aqui.

    Um adendo: o texto está ótimo, como sempre, mas o primeiro item "São padres e bispos que rezam diante de imagens de ídolos;", para nós católicos e este é um site católico, fica claro que os padres não estão rezando diante das imagens de Santos, Jesus Cristo, Maria Santíssima, nesta citação, mas sim, diante de falsos ídolos, já que as imagens citadas por mim, são imagens que representam os Santos, Jesus Cristo e Santa Maria, respectivamente, e todo o católico, leigo ou do clero; pode e deve rezar diante das respectivas imagens citadas, Porém, como este site também é frequentado por reformistas e outros, estes podem aproveitar para "trollar" aqui.

    Salve Maria! Paz e Bem.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Só uma observação, caríssimo:a Igreja foi fundada diretamente por Jesus Cristo, Nosso Senhor, sobre S. Pedro Apóstolo.

      Agradeço também pela sua observação, o texto foi revisto.

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Apostolado Fiel Católico

      Excluir
  3. Estamos vivendo em ato o fim dos tempos. Assistam ao vídeo onde o Dr. Pe. Paulo Renato Dornelles, da Comunidade Escatológica Kyria, acusa o antipapa Francisco. https://www.youtube.com/watch?v=oOelQ5k7x_M&list=PLdRfeoK5ZORUarms0jQvxOaeAL7HcerfH&index=3

    ResponderExcluir
  4. A paz de Jesus Cristo. Obrigado, Henrique Sebastião, pela pronta correção. Sim, vc. está corretíssimo:Jesus Cristo, Ele mesmo, fundou a única Igreja real, pois Ele não falou em "várias igrejas". Jesus Cristo e não Pedro Apóstolo. Este, foi o escolhido para fincar, solidificar a Santa Igreja de Jesus. Erro de escrita meu. Na ânsia de escrever sobre heresias, às vezes nos perdemos aqui. Abraço! Salve Maria! Paz e Bem.

    ResponderExcluir

** Inscreva-se para a Formação Teológica da FLSP e além das aulas mensais (com as 4 disciplinas fundamentais da Teologia: Dogmática, História da Igreja, Bíblia e Ascética & Mística) receba acesso aos doze volumes digitais (material completo) do nosso Curso de Sagradas Escrituras, mais a coleção completa em PDF da revista O Fiel Católico (43 edições), mais materiais exclusivos e novas atualizações diárias. Para assinar agora por só R$13,90, use este link. Ajude-nos a continuar trabalhando pelo esclarecimento da fé cristã e católica!

AVISO aos comentaristas:
Este não é um espaço de "debates" e nem para disputas religiosas que têm como motivação e resultado a insuflação das vaidades. Ao contrário, conscientes das nossas limitações, buscamos com humildade oferecer respostas católicas àqueles sinceramente interessados em aprender. Para tanto, somos associação leiga assistida por santos sacerdotes e composta por profissionais de comunicação, professores, autores e pesquisadores. Aos interessados em batalhas de egos, advertimos: não percam precioso tempo (que pode ser investido nos estudos, na oração e na prática da caridade) redigindo provocações e desafios infantis, pois não serão publicados.

Subir