Emocionada carta de uma fiel católica leiga ao Papa Francisco


Caro Sr. Jorge Mario Bergoglio,

Parece estranho enviar uma carta pública ao Sumo Pontífice com esse tratamento, mas esteja certo de que eu não quero desrespeitar ao omitir o "Santo Padre" ou o "Papa Francisco". Pelo contrário, eu me dirijo ao Sr. pelo nome porque me lembra da sua humanidade, e isso me dá um certo alento, inundada como estou em um mar de más notícias, com a minha esperança às vezes dependurada por um fio. Isso me lembra que o Sr. foi criado à imagem de Deus, adotado em Sua família pelo Batismo, redimido pela Morte de Seu único Filho.

Lembra-me que o Sr. nasceu na Argentina, em dezembro de 1936, de pais católicos que certamente o amavam muito. Eu penso no Sr. como um bebê, pequenino e frágil. Eu imagino sua mãe pegando-lhe no colo, abraçando-o, desfrutando daquele suave movimento da respiração, com a retração das costinhas, que há quando os bebês respiram, sob os dedos seguros de uma mãe amorosa. Imagino seu pai olhando-o enquanto dormia, os pequenos cílios sobre as bochechas macias, sussurrando-lhe "Jorge", com orgulho na voz, enquanto ia se acostumando ao som do seu nome. O Sr. era um milagre, então. Uma nova vida. Uma esperança.

Deve parecer estranho que eu pense no Sr. dessa maneira, mas há uma razão para isso. É que é muito difícil para mim tentar entendê-lo da maneira convencional, e eu queria descobrir o que o leva a fazer o que faz. O Sr. viveu o equivalente a toda a minha vida em uma época e lugar completamente incompreensíveis para mim. Há um oceano de diferenças entre eu e o Sr., mas a distância maior entre nós está na fé que deveríamos, ambos, compartilhar. 

Existe o catolicismo em que eu acredito, o dom da Fé que me foi dado inexplicavelmente. E há também um catolicismo diferente, esse em que o Sr. acredita. O Sr. sempre acreditou mesmo nesse evangelho diferente? Ou começou com apenas uma gota de veneno modernista, alimentado por anos e anos, até fazer esquecer a fé genuína e infantil que o Sr. já teve? Não sei, mas suspeito que seja o último. Isso me deixa profundamente triste pelo Sr. 

O Sr. mesmo não é a causa disso; na verdade, não. O Sr. é apenas uma consequência. Mas eu sei de uma coisa: esses "catolicismos" em que acreditamos não são o mesmo. Eles estão a um oceano de distância um do outro. Temos um oceano de distância entre nós.

Tenho certeza de que o Sr. pode imaginar as divergências doutrinárias que temos. Existem tantas diferenças e, ao mesmo tempo, há realmente apenas uma que importa para mim agora, pelo menos nesta carta. Eu acredito que a Igreja não pode se contradizer. O Sr. acredita que ela pode, isso está claro pelos seus atos. E não há como conciliar essas duas compreensões da Igreja. Existe apenas uma que pode estar certa. Eu sei que discutir com o Sr. é inútil; muitos já tentaram, pessoas mais importantes do que eu. Tantos bispos, tantos padres, tantos teólogos, tantos homens brilhantes. Até os cardeais, que chegaram a apresentar-lhe a dubia e outras súplicas. Mas o Sr. simplesmente ignorou todos eles.

Eu não sou ninguém, Jorge, mas acho que também sou todo mundo. Pelo menos, sou muitas pessoas – com esta singela cartinha, represento muitos, muitos católicos simples, gente que vai à Missa aos domingos, rezam o Rosário e tentam seriamente amar o próximo. Pessoas que não querem ser inimigas do Papa, de jeito nenhum; são pessoas que só querem amar o Papa, e não querem se rebelar contra ninguém! Mas nós estamos presos, a maré está subindo e estamos com medo. O Sr. não pode ver isso? Não sente nem um pouquinho de compaixão por nós? O Sr. sempre se preocupa muito com os ateus e com os seguidores das outras religiões. Mas, e nós? E nós, que só queremos ser bons católicos? Nós, que amamos Jesus Cristo e sua Igreja como sempre foi, e queremos um Papa que também os ame?

Mudar a Igreja não quebraria sua fé. Para o Sr., o ensino da Igreja é um conjunto de ideias como quaisquer outras. Serei positiva e direi que talvez o Sr. realmente pense que Jesus Cristo quer todas essas grandes mudanças pelas quais está trabalhando tanto, desde que se sentou no Trono de São Pedro. Tenho certeza de que, como padre, como confessor, o Sr. ouviu os problemas e sentiu a dor de muitas pessoas, de um modo que eu não posso imaginar. Talvez isso o tenha afetado, fazendo com que se sentisse na obrigação de aliviar esse sofrimento; talvez o Sr. queira abrir caminho para essas pessoas, as que se divorciam e se casam novamente, ou aquelas estão que sentem atração por pessoas do mesmo sexo e não querem permanecer castas.

Mas o sofrimento que o Sr. está querendo curar do jeito mais fácil – simplesmente aceitando tudo e todos – não vai desaparecer assim, Jorge. Esse sofrimento só será substituído por alguma outra coisa, porque o único sofrimento que deveríamos odiar e temer, verdadeiramente, enquanto cristãos, é o de viver em inimizade com Deus. Ao mudar a Igreja, o Sr. causa um sofrimento maior e inútil. Porque o Sr. causa um sofrimento que não pode ser oferecido a Deus, um sofrimento que não poderia ser posto ao pé da Cruz – um sofrimento que só é útil para o diabo. 

Veja o Sr. que para mim e para muitos,  mudar a Igreja não é solução para nada, porque a doutrina da Igreja não um conjunto de ideias filosóficas; a doutrina da Igreja é divina, foi dada por Deus para o nosso bem e não deve ser mudada por ninguém, nem que seja com as melhores intenções. Se eu acredito que o Sr. pode realmente entender isso? Não, eu não acredito mais. 

Se o Sr. conseguir implementar essas mudanças tão radicais na Igreja – Igreja à qual eu e tantas outras pessoas nos convertemos, pelo exemplo dos santos e dos outros Papas que vieram antes – acho que muitos perderiam a fé em Deus. E eu acho que muitos de nós iriam para o Inferno. Eu rezo, eu imploro ao Senhor Jesus que nos salve desse horror, dessa possibilidade em si, mas sou humana e às vezes tenho medo. Eu tento não pensar muito nisso, e a maioria de nós está fazendo o mesmo. Nós tentamos levar as nossas vidas em paz, rezamos, vamos à Missa... vivemos. Mas à noite, às vezes, tenho que enfrentar isso. Todos nós temos que enfrentar isso.

Todos nós temos que enfrentar esse medo acima de todos os medos: que o Sr., Jorge Mario Bergoglio consiga convencer a Igreja de que o catolicismo esteja todo errado, e que todos os Santos sempre estiveram errados, e todos os mártires, e todos os outros papas estavam errados. E que o Sr. consiga convencer o mundo inteiro de que é o único que está certo, e consiga "provar" isso. Honestamente, parece que está conseguindo: tirando uma pequena parcela de homens muito corajosos, todos os padres, bispos e cardeais concordam com o Sr. em tudo, e o mundo ama o Sr. como eu nunca vi o mundo amar Papa nenhum. A possibilidade de aceitar uma vida desprovida de verdade objetiva e reconhecível, de um código moral imutável, das belezas de nossa Santa Madre Igreja. Isso é tudo o que o mundo sempre quis, e talvez até algumas pessoas que leem esta carta se recusem a admitir que temem essas coisas, mas eu acho que, no fundo, todos nos sentimos assim.

o Sr. sabe o que significaria para nós, simples católicos, perder a fé em Deus, Jorge? o Sr. entende isso? Entende que esse sofrimento seria infinitamente maior do que o sofrimento de uma mulher que não pode voltar a se casar, ou de um jovem com atração pelo mesmo sexo que adormece sozinho, desejando uma conexão carnal que ele não pode ter – por determinação divina? Não quero com isso menosprezar o sofrimento dessas pessoas. Não, de jeito nenhum. É só para lembrar que o sofrimento deles pode ser edificante, e pode até ser vencido; temos muitos exemplos desse tipo na Igreja, ou, pelo menos, sempre tivemos, quando as coisas eram claras na própria Igreja. O sofrimento deles, se forem fiéis, os levará ao Céu – se é que ainda cremos no Céu e no Inferno.

Mas sofrimento que o Sr. está causando? A confusão, ou mais do que isso, um verdadeiro caos, a falta de clareza em tudo o que diz, a insinuação constante de coisas que são contrárias a Cristo. O Sr não diz diretamente, mas diz com toda a clareza do mundo, nas entrelinhas de tudo quanto afirma, que todas as religiões são iguais. Se o respeito humano, isto é, a vergonha de ser católico, é pecado,o Sr. deve ser o pior exemplo de toda a História! O Sr. é um Papa que nega a benção aos crentes em respeito aos que não têm fé!! Se isso não é respeito humano, não sei mais o que poderia ser. E as almas que estão perdendo Cristo e Céu por sua causa? O sofrimento deles nunca terminará! O sofrimento deles os levará ao inferno, onde não morre o verme, onde enfrentarão a eterna separação de Deus. Com estas o Sr. não se preocupa?

Apesar dos medos que tenho à noite, sei qual é o catolicismo verdadeiro, e não tenho como não saber. Jesus Cristo é o Senhor, e ultimamente, quantas vezes temos que escolher entre amar Jesus ou amor o seu Vigário na Terra... Bem, eu tenho que permanecer forte e preciso ajudar os outros a permanecerem fortes. Eu tenho que me apegar à Fé. É tudo o que importa. Se eu tenho fé, nenhum outro sofrimento será inútil. Mas, por causa dos fatos, tenho que me opor às suas ações, Jorge. É o meu dever moral.

Mas para agarrar a mão de Cristo, eu tenho que chegar, através deste vasto oceano, até você, Jorge. Eu tenho que amá-lo, também. Não acredito que algum dia serei salva se não o fizer. Não sei por que Deus está deixando o Sr. nos machucar assim; não sei por que Deus está deixando tantas almas se perderem. Mas eu sei que isso não acabou. Eu sei que a esperança permanece, e farei coisas que promovam essa esperança. Pensarei no Sr.  de uma maneira humana, mais do que apenas um Papa mau que está destruindo a Igreja. Pensarei no Sr.  como uma criança, como a criança Jorge Mario Bergoglio, porque, por alguma razão, vê-lo dessa maneira em minha imaginação me faz chorar – me dá esse sentimento humano melancólico, onde lembro que até os meus piores inimigos começaram suas vidas na beleza da inocência de uma pura criança. Isso me permite rezar por você com amor, quando por outros motivos o amor humano me parece impossível.

Eu rezarei por você para que, quando morrer, morra como quando era criança, entregue nos braços de Jesus e Maria, livre das ideologias desse mundo que não podem se comparar ao Evangelho. Isso eu posso fazer. Espero que as nossas orações sejam suficientes.

Adaptado para OFC da carta de Stefanie Nicholas publicada em OnePeterFive

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Stefanie Nicholas é uma convertida católica de origem ortodoxa grega. Ela acredita firmemente que o Rosário salvará o mundo. Os leitores podem se conectar com ela no Facebook e segui-la no Twitter:  @StefMNicholas

6 comentários:

  1. Resumindo, o desejo dela é o mesmo que o meu: Queremos a Igreja de sempre, a doutrina de sempre, os ensinamentos de sempre que sempre nos foram dados como certeza de salvação.

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  2. Aproveitando o momento, fico a pensar: O que teria acontecido, caso fosse o Ratzinger que desse uma tapa numa mulher na Praça São Pedro? A imprensa mundial iria caí de "sola", como se diz aqui no NE. Iriam chamá-lo no mínimo de nazista. Ou se fosse até mesmo o Jair Messias...

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  3. Muito forte esta carta.mas é assim que muitos de nós católicos estamos nos sentindo.A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo !

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  4. Fico vendo os católicos tradicionalistas criticarem o Papa Francisco, isso me faz lembrar o que os fariseus faziam com Jesus, se achavam entendidos da lei e eram, e condenavam Jesus, alegando que Ele queria mudar a tradição

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    1. Ainda que certos católicos que se consideram "tradicionais" realmente se comportem como fariseus, a comparação que você faz é muito simplista e não cabe, "eciobelo". São situações e razões completamente diferentes.

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Apostolado Fiel Católico

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  5. Apesar de ser um texto de teor melancólico, fico feliz ao ver o posicionamento da autora. Mais que uma crítica, é um apelo sincero, quase um desabafo, que representa não os católicos altamente doutos e senhores do Magistério e da Tradição, tampouco os direitistas sob o nobre título de "católico", mas aqueles que querem apenas amar mais a Cristo e Sua Igreja. Não é cheia de arrogância, mas preocupação e eu diria até caridade, tanto para com o Santo Padre quanto para os fiéis

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