A “PANDEMIA” DA IMORALIDADE levou certo país fictício ao caos. Tanto os poderes políticos quanto o clero – de uma igreja que não existe, por certo – instrumentalizaram o medo orquestrado com o fim de levar a cabo seus projetos distópicos. Obviamente esta situação não se passa no mundo real, é apenas imaginada. Jamais o clero ou os poderes políticos instituídos fariam tal coisa.
Ocorre que, dia desses, recebi acesso a uma conversa estabelecida, em alguma rede social, entre dois fiéis católicos perplexos – trocando ideias sobre esse país imaginário e essa situação de faz-de-conta – que me levaram a certas reflexões importantes, as quais gostaria de compartilhar com os leitores de O FIEL CATÓLICO (não preciso dizer que os nomes atribuídos aos dialogantes também são de mentira). Segue.
* * *
Erick: Sabe, João, algumas coisas são meio doidas na vida e a gente não tem resposta pra tudo. Já tem um tempo que me incomodo com uma questão que vi um dia desses aí: “Pode um bispo ou padre conceder aos fiéis algo que fará mal às almas?”.
Dizem que a Igreja não erra, e nisso eu acredito. Mas há tantos bispos e padres ruins que, pra mim, parece exagero dizer que devemos obedecer em tudo os padres e bispos simplesmente por sua condição eclesiástica. Como não confundir a Igreja Católica, que devo amar, com a hierarquia e seus membros, que muitas vezes são péssimos? Estou errado em buscar ouvir os membros que julgo bons e fiéis à Igreja Católica de sempre?
João: Acho que não entendi.
Erick: Veja que não estou questionando a validade dos Sacramentos celebrados por sacerdotes ruins. Sei que os Sacramentos são válidos se atenderem às condições, mesmo que o celebrante seja um imundo. Minha questão é: como é possível aceitar que não se pode pensar que um padre/bispo conceda algo ruim à alma do fiel? Isso é exagero pra mim. Como não confundir a Santa Igreja Católica com a hierarquia e seus membros? Estou errado em buscar ouvir os membros que julgo bons e fiéis à Igreja Católica de sempre? Esse é o ponto, entendeu? Porque vejo pessoas dizendo: “Você precisa obedecer e ficar quieto porque é a Igreja na pessoa do bispo e do padre, um bispo não pode fazer algo que seja ruim para os fiéis”.
Mas você olha a história e olha a realidade e vê que esse é um pensamento quase idólatra. Pensamento, pra mim, ridículo. Porque muitos bispos e padres fazem, sim, coisas ruins às almas, só que a pessoa vem e me diz: “A Igreja jamais fará isso”, e eu respondo que já temos bispos fazendo m**** em nome da Igreja, e aí? Como é que eu não confundo a Santa Igreja com seus membros lixos? É aí que tenho que pôr o filtro, cara. Quero saber como faço pra ouvir os bispos e padres que seguem a Igreja de sempre, no caminho da verdade e do bem, e os que são ruins eu quero que se lasquem, é isso que eu tô falando.
João: Realmente é exagero e você não tá errado. O problema é qual parâmetro usar para julgar alguém fiel ou não.
Erick: Boa! Exatamente. Entramos naquele problema que você comentou uns tempos atrás: hoje o leigo precisar ser tudo, desgraça! Precisa ser teólogo, filósofo, historiador e um monte de coisa, pra ver se consegue olhar algo e dizer: isso é católico porque sempre foi assim ou isso não é católico porque as coisas não são assim. Complicado...
João: Sim, mas é exatamente este o ponto. Você pensa, por exemplo, num papa Alexandre VI que engravidou a própria filha. Primeiro que ele não devia ter filha, segundo que ele cometeu um pecado gravíssimo engravidando a própria filha. Ele era papa, velho. Mas e daí? Só porque ele fez, a gente tem que institucionalizar o incesto? Claro que não! É óbvio que não! Ou a gente tem que institucionalizar o fim do celibato sacerdotal e episcopal? Não. Foi um papa que fez – foi um papa e não a Igreja. O único problema, conforme eu observei aqui, é qual o parâmetro que você usa para julgar alguém fiel ou não.
O problema é o parâmetro. Porque, se você falar que fiel é quem reza em latim, bom, Sua Santidade o Papa Alexandre VI, por exemplo, rezava em latim e falava normalmente em latim. O cara era fiel? O cara era um bom papa? Não. O problema é esse, qual parâmetro você vai usar? Então, se você usar a fidelidade à Doutrina, mesmo que a pessoa cometa um ou outro deslize na vida, se ela for fiel à Doutrina, de maneira geral ela é uma pessoa boa e que é realmente fiel.
E aí que tá o problema, por isso o padre Javier, que escreveu aquele livro sobre Lutero, diz que hoje em dia o fiel tem que ser doutor, biblista, liturgista, cada fiel precisa ser toda sorte de especialista teólogo, porque ele precisa comparar a Doutrina com a fidelidade e a ação dos padres, porque ele não pode mais confiar numa batina, ele não pode mais confiar num padre e nem mesmo num anel episcopal. Porque toda hora ele tem que comparar o que o clérigo está falando com o que a Igreja sempre falou, por isso ele precisa ser doutor; é um jogo de palavras que ele põe, mas que infelizmente é verdade. A todo momento você terá que comparar o que a Igreja sempre ensinou a respeito e o que o cara tá falando.
Ou isso, ou ele precisará ter uma fé completamente sobrenatural e ser assistido pelos anjos, não tem outra alternativa. Ou Deus intervém de maneira muito forte na vida daquela pessoa ou ela precisa ser filósofa, teóloga, liturgista etc. etc. etc. Infelizmente.
Erick: Esse exemplo que você deu é muito bom pra fazer a gente pensar em qual parâmetro usar. Mesmo que não seja conclusivo, você falou muitas verdades.
João: Mas também, irmão, tem aquele parâmetro básico que o próprio Jesus deu: “Pelos frutos os conhecereis”. Então você olha os frutos. Se, sei lá, você tá em dúvida sobre um padre, vai na paróquia dele e vê o que ele faz, porque “pelos frutos os conhecereis”.
Qual o fruto? Você entra na paróquia de um padre e vê um povo santo ou um povo cagado? É bem simples, na verdade. Mais simples do que eu mesmo falei, e agora que me toquei desse “pelos frutos os conhecereis”, você vai ver os frutos das obras. O problema é que, na maior parte das vezes, para a população em geral, a mentalidade é tão distorcida que as pessoas veem um fruto ruim e acham que é bom, de maneira geral é assim.
Erick: Ou seja, vamos estudar mesmo, se não lascou-se tudo mesmo, porque a gente não merece ajuda divina.
João: Exatamente isto!
Erick: Faz todo sentido, mano. Faz todo sentido. Nunca me debrucei pra estudar cem por cento sobre o Vaticano II e tal, mas é bem isso que você comentou: quais os frutos disso? Meu Deus, é só miséria, só piorou a coisa toda. Dizem: “Ahhhh, mas a culpa não é só do Concílio, antes não era tudo perfeito e tal... Ok, Ok, sei disso. Mas depois, tudo piorou. Tudo".
João: É, mano, sobre o Concílio Vaticano II também não estudei, não posso opinar a respeito. De fato, após ele o problema aumentou. Mas, por outro lado, talvez, não tenha sido culpa só do Concílio como um todo. Até porque haviam santos no Concílio. Por exemplo, São João Paulo II que o apoiava, o Arcebispo Fulton Sheen, Bento XVI, o próprio monsenhor Lefebvre, e tantos outros que apoiaram o Concílio. Então não creio que seja certo simplesmente virar e falar: "É culpa do Concílio!".
Algumas práticas foram adotadas até mesmo contra o "espírito" do Concílio, por assim dizer, mas usando o Concílio como desculpa, e ocorre que os papas não barraram. Comunhão na mão é uma dessas coisas, abuso litúrgico é outra. Quando veio a Reforma Litúrgica de Paulo VI (depois do Concílio), não foi um fruto direto do Concílio. Ela em si mesma foi um absurdo, não deveria ter ocorrido, e ela não é um fruto direto do Concílio; ela veio por outro motivo, entendeu? Mesmo porque, durante o próprio Concílio já havia sido feita uma outra Reforma Litúrgica que foi o Missal de 65, se não me engano, ou de 62.
A Reforma Litúrgica de Paulo VI eu não diria que é fruto do Concílio, mas ela, na minha opinião, é o que mais estragou e colaborou no estrago da situação da Igreja hoje em dia. Acho que ela é mais culpada do que o próprio Concílio, mas aí é uma opinião minha, como fiel católico que olha de fora, não posso opinar de maneira assertiva porque não estudei o assunto.
Assim, dentre as coisas que foram discutidas no Concílio, a parte pastoral é realmente importante (porque antes não tinha), após a queda das monarquias no século XIX e a instauração dos chamados "Estados democráticos de direitos", ou seja, Estados ateus. Naquele meio século, a Igreja perdeu muito no mundo todo e não tinha nenhum tipo de zelo pastoral. A Igreja era fechada: “Se você quer ouvir, bem, senão, vai pro Inferno”. – E digamos que essa não era a melhor coisa a se fazer. Realmente era necessário ver a parte pastoral, mas não "pastoralizar" tudo.
Creio que distorceram isso, entendeu? E o maior problema nem foi esse, o maior problema foi, na minha opinião de leigo que não estudou muito, a mudança no espírito eclesiástico de não falar para o povo, então por um lado eles falam muito de pastoralidade e “ação do leigo”, mas de outro eles não falam realmente para o povo.
Se você pegar as encíclicas a partir de João XXIII e outros documentos eclesiásticos, vai ver que não são escritos para o povo, nem o Catecismo é escrito para o povo. Para ler o Catecismo você precisa estudar Filosofia e Teologia antes; ao passo que para poder entender e o Catecismo de Pio X não é assim. Você lê e entende e acabou. O Catecismo de São João Paulo II não, você lê e precisa ter conhecimento de Filosofia, algo de fenomenologia e conhecimento em Teologia pra entender, porque a linguagem é completamente obscura para o leigo comum. É uma linguagem excessivamente culta, o Catecismo mesmo é gigante. O catecismo de Pio X não é tão grande, é bem pequeno, tranquilo de ler, mas o de João Paulo II não, entendeu?
Você pega as encíclicas e os documentos sinodais e vê que são gigantes, imensos, cansativos e chatos de ler, em linguagem obscura; você precisa fazer um trabalho hermenêutico muito grande e isso é contraproducente, ou seja, claramente não é para o povo. Então, por um lado, falam do povo, e por outro não escrevem para o povo, é uma contradição bem estranha.
Erick: Sim, faz sentido, mano. Os padres e bispos eram ruins, modernistas, e usaram o Concílio de desculpa, faz sentido. Concordo com esse lance da reforma litúrgica, é algo que não deveria existir, e o Missal é de 62 reformado pelo papa João XXIII, se não me engano.
Faz sentido isso de a liturgia ser a grande culpada, já vi opiniões parecidas. Tem toda a questão da Lex orandi, Lex credendi. A reforma litúrgica bagunçou até o jeito de as pessoas crerem, os clérigos dizem "pastoralidade", "ação do leigo", "protagonismo leigo"... Porém, só até a página dois. Só permitem ações desde que sejam dentro daquilo que agrada aos bispos. E o que agrada os bispos não é o que o povo espera da Igreja. Não é o que o povo santo espera da Igreja... Sobre o Catecismo, concordo perfeitamente e ia falar do de São Pio X.
Você falou tudo, existe uma baita contradição e o que você falou é verdade. É como você sempre fala: "O clero é muito prolixo". E é engraçado e triste, por exemplo, se você pega documentos antigos de Pio IX, Pio XI, Pio XII, Leão XIII etc., você vai ler e não tem tanta dificuldade quanto ler uma carta encíclica do papa João Paulo II, o Catecismo... Do Papa Francisco eu nem tenho estômago pra ler o que ele escreve. Nem o jeito da escrita dos documentos dele me é palatável, não consigo mais, é horrível.
O papa Bento XVI dos documentos que li até hoje, tranquilo, tem a questão mais filosófica e rebuscada que não é pro povão, mas pelo menos dá pra entender melhor.
João: Isso mesmo, se você parar pra ver aquele bispo brasileiro, Dom Helder Câmara, era um bispo que rezava em latim, andava de batina e era completamente comunista, entendeu? É como disse Nelson Rodrigues: "Ele só olhava para o céu para saber se ia chover", então era esse o clero que tinha, era essa a situação.
Obviamente não era todo o clero, não era a maioria do clero como a gente vê hoje em dia, mas era uma parte importante. Se você olhar, na década de 60, Dom Arns estava estudando na Sorbonne, na mesma faculdade e no mesmo período que o Michel Foucault fazia doutorado. Inclusive, o Foucault foi palestrar na PUC-SP. Então, se você parar para ver, o alto clero foi formado nessa época, e o Dom Arns, quando voltou já como bispo durante o Concílio, a mudança que foi feita na Arquidiocese de São Paulo foi absurda.
Dez anos antes do Concílio, as crianças tinham aula de latim na paróquia, dez anos depois as pessoas aprendiam a fazer revolução armada, entendeu? Na mesma paróquia que antes tinha aula de latim!
Então é uma mudança bem radical, só que ela só aconteceu porque foi permitido.
João: Um fato curioso post Concilium é que todos os documentos do Concílio foram publicados em latim, mas depois os documentos pararam de ser publicados em latim primeiro e começaram a ser publicados primeiro em francês e depois em latim.
Isso aconteceu porque os bispos que sabiam latim estavam morrendo, e os que estavam entrando não sabiam latim. Hoje em dia, os documentos da Igreja primeiro são publicados em italiano e depois publicados em latim, só por “perfumaria”, por assim dizer, porque o original sempre é italiano ou francês, porque os bispos não conhecem a língua que, teoricamente, seria a língua sagrada da Igreja.
E aí você vai ver, e quem escolheu esses bispos? Foram os papas pré e pós conciliares. Quem escolheu João XXIII para virar bispo foi Pio XI ou Pio XII, que eram em certo sentido ótimos papas; quem escolheu Helder Câmara para virar bispo foi Pio XI ou Pio XII. Quem escolheu Dom Arns para virar bispo foi Paulo VI, o mesmo que escolheu o Cardeal Sarah para virar bispo.
É uma situação complicada, porque para o cara virar bispo, das duas uma: ou ele é muito santo ou ele faz um tráfico de influência muito grande – é um dos dois caminhos, não tem outro. Só que uma boa parte a gente vê que é tráfico de influência e não porque ele é santo; é porque ele fez faculdade e doutorado e porque conhece um monte de gente. Em contrapartida, há bispos como Dom Athanasius e tantos outros – que são minoria, infelizmente.
Erick: Helder Câmara, comunistaço até o osso, até o talo; o famoso "bispo vermelho". E teve o cara maldito que enganou a galera lá em Roma pra vir uma tradução do missal em português bem lixo de um texto que havia sido rejeitado na França. Ainda tem esse que você comentou: Arns...
É complicado...
João: Esse é que é o problema, eu queria estar errado, mas creio que não. Essas observações não são só minhas. São adaptadas de um outro grande católico que admiro.
Erick: Então, e aí dentro de tudo isso que você falou tem o lance que mais me deixa ferrado: os caras se infiltraram no alto clero. E tudo que tá acontecendo tem gente querendo dar legitimidade pra isso, só porque os caras que fazem m**** são do alto clero.
Por exemplo: tem as desgraças do Concílio, e ao invés de revogarem tudo e assumirem que deu ruim, não: ficaram tentando remendar as coisas fazendo um Frankenstein todo remendado. Tipo: "Ah, os padres estão interpretando errado e sendo abusivos e fazendo o que não deveriam fazer". Ok, então imponham limites, imponham barreiras para os erros, porque não aceitam revogar tudo e ficam tentando colocar remendo nas rachaduras por onde entra Satanás. Isso não dá certo!
E aí os caras começaram a chegar nos altos postos da hierarquia e, pronto, legitimaram tudo e foram piorando as mudanças, avançando as agendas que queriam, sejam comunistas, globalistas ou o que for. Aparelharam a santa Igreja.
Eu não sou santo, não sou nada, mas como é que eu vou amar e obedecer a um bispo, um padre ou um papa que é claramente contrário a tudo que a Igreja sempre ensinou? Aí dizem: “Ah, mas é só em certos pontos". Independentemente! Não é pra ser em ponto nenhum!
Como é que eu vou amar e obedecer a um cara desses? Como é que eu vou ficar quieto, fechar meu olho e me enganar dizendo: "Não, não, não está acontecendo nada, está tudo bem, quem obedece nunca erra"; digam isso aos soldados nazistas, então, que desgraça!
Outros dizem: “Ah, mas o demônio se veste até do manto da humildade, mas jamais do manto da obediência, nós temos que obedecer", mas e se for o demônio ou um agente dele que estiver te dando ordens? Mesmo assim você vai obedecer?
Eu não aguento, pra mim isso é uma mentalidade fechada de quem não quer enxergar a realidade e só obedecer a qualquer porcaria.
João: É, meu caro, como observou o Mestre Suassuna:
Na França tudo é errado,
Na França tudo anda a esmo.
Na França ‘c*’ é ‘pescoço’,
No Brasil ‘c*’ é ‘c*’ mesmo.
João: A situação é tão complicada que esse pessoal do alto clero obedece ao Papa naquilo que lhes convém, mas àquilo que não lhes convém eles simplesmente não obedecem. Um exemplo prático dado por Dom Athanasius é que João Paulo II escreveu um documento instruindo as igrejas do mundo sobre a forma correta de se traduzir certos termos da liturgia. Aqui já temos um problema: "Será que precisava mesmo traduzir?"; mas ok, traduziram tudo e ao invés do Papa dizer que não era para traduzir mais, porque estavam fazendo coisa errada, não, ele foi lá e escreveu um documento instruindo como traduzir certos pontos para o inglês.
Ao invés de a Congregação para a Doutrina da Fé ou Congregação para o Culto Divino publicarem documentos semelhantes para outros idiomas, eles deixaram a cargo das conferências episcopais traduzirem; e mandavam – mandavam, porque agora já mudou até isso – para ser avaliado e ver se aceitam ou não. Todas as propostas feitas pela CNBB pelo Brasil foram rejeitadas exceto essa péssima que está aí.
Então, agora o Papa vai lá e diz que tudo fica ao encargo das conferências episcopais. Ao fim e ao cabo, a gente pode até entender que isso desburocratiza e agiliza o processo, tanto que nas Igrejas Católicas de rito oriental é o bispo que determina se vai ter tradução, por isso no Brasil não tem um missal oficial de uma tradução portuguesa, porque demora muito e o bispo tem muitos cuidados. Mas vamos confiar na CNBB? Olha as porcarias que os caras fizeram durante a história, não tem como confiar neles. Mas tem o tráfico de influência, e não podemos jogar toda culpa no Papa porque ele não é onisciente, mas, macacos me mordam! Podia ter evitado isso.
Faz uns dez anos que o Bento XVI mandou mudarem o trecho da consagração que estava errado, e os bispos não corrigiram, mas vai o Bolsonaro fazer qualquer coisa e já tem bispo enchendo o saco, quando devia fazer uma boa tradução do missal. Eles não querem uma nova e boa tradução porque, como você comentou: Lex orandi, Lex credendi, a lei da Oração é a lei da Fé, você reza conforme o que você crê; mas como eles querem destruir a Fé, para isso destroem a forma como o povo reza.
Então o maior problema é que as pessoas correm o risco de ser como Lutero, que é querer o Cristo sem a Igreja (que é Cristo). Não é exatamente o mesmo problema que Lutero passou, mas querendo ou não, é um problema protestante querer Cristo sem Igreja. Você olha e vê o alto clero todo errado e conclui o quê? Vai seguir Cristo sem Igreja? Você periga cair no erro dos “anarco-capitalistas da fé”, os “desigrejados”, como dizem os protestantes.
Erick: A hierarquia deixou de ser uma monarquia e virou uma “república federativa”. As vezes falta essa porrada, tipo um Papa chegar e falar claramente com todos: "Vocês estão fazendo m****, não façam mais isso, vão pro inferno! Vocês estão bagunçando a Igreja!".
João: Exatamente, mas corre risco de cisma e há medo. Não sei se você se lembra que teve um dos presidentes passados do Paraguai que era bispo e se candidatou a vários cargos públicos e desempenhou várias funções públicas sem autorização da Igreja, e Bento XVI, que era papa na época, não fez nada.
O que deveria ter feito? Excomungado. Mas não, Bento XVI o esperou sair da presidência da república do Paraguai e o demitiu do estado clerical, só. O cara fez um monte de bizarrice sucessiva, fora os erros doutrinais que defendia, e foi só demitido do estado clerical. O cara tinha amante e tudo mais, uma desgraça, e foi durante o pontificado de Bento XVI. É complicado.
Erick: Sim, é um problema que paira sobre todos mesmo. Porque ficamos naquela: “não vou dar ouvidos à CNBB e a seus bispos lixos, porque são lixos. Eu sou pecador, mas pelo menos do Catecismo eu manjo mais ou menos, pra ver que nem a isso um bispo ou padre obedece. Aí olho o todo e, de cada cem padres, três são bons. De mil bispos, 5 são bons e nem todos são de rito romano. E agora? Faço o seguinte: vou atrás de onde tem Confissão e Missa bem rezada, e vivo a minha vidinha estudando e trabalhando e dane-se”. Os números aqui são só ilustrativos, claro.
João: Exatamente, é uma situação céptica.
Erick: É como vemos documentado (não extremamente documentado porque comunista é filho da chocadeira mesmo, mas os que se converteram denunciaram tudo que era feito). Você tem a Bella Dodd, o livro do Ion Mihai Pacepa, igual a Bella Dodd que ajudou a infiltrar vários agentes comunistas e homossexuais nos seminários para destruírem a Igreja por dentro.
São problemas muito grandes porque estamos há 60 anos de distância de várias coisas e o tamanho da podridão dos péssimos frutos está aí, só aumentando. Minha questão é realmente de não ter esperança, vendo a realidade eu não tenho otimismo de melhora não, só pessimismo. Talvez o tempo de mudar algo neste sentido para melhor já tenha passado? Não sei. Talvez Nosso Senhora faça um milagre? Não sei.
E se você ver, eu não estou cobrando santidade de ninguém, eu só estou cobrando o mínimo: que o cara ame a Santa Igreja e não a transforme em uma lixeira. Por exemplo: o bispo é um pecador imundo que cometeu um pecado que não deveria. Ok, paciência. Ora, dentro da ordem da realidade e vendo a proporção das coisas, é menos grave um bispo ter uma amante e arrumar filhos do que um bispo trabalhar para destruir a liturgia, a doutrina, a catequese e ir contra tudo que a Igreja sempre ensinou.
João: Exatamente, não estamos cobrando santidade, só queremos o mínimo aceitável. Se você ver, Gregório de Mattos, que é um dos maiores autores pornográficos do Brasil, era padre. Um poeta fantástico, só que em nenhum momento ele defendia aquilo, inclusive ele foi julgado pela inquisição e foi absolvido, ele sempre apontava os erros. O problema maior não é um padre que tem uma amante, ou o bispo que tem uma amante, o problema é o cara falar que ter amantes é certo. Este é o maior problema! Não é questão de ele ser um pecador, isso todos nós somos. O problema é ele querer institucionalizar o erro. E o que poderemos fazer contra isso? Nada.
Erick: O problema maior não é o pecado em si, que é um problema, mas tentar legitimar o pecado. Faz todo sentido. Aquilo que o Chesterton fala: a galera moderna de outras religiões ou até ateus querem perdoar o pecado dizendo que o pecado não existe. É aquela questão bíblica: “Ai daquele que chamar o mal de bem e o bem de mal”; os caras querem mudar a própria estrutura da realidade. Que o maior problema seja o cara ter adulterado com a mulher do vizinho, tá errado, mas aconteceu, Ok. Mas pelo menos o cara não vai dizer e ensinar que isso é correto! Não, ele vai confessar o pecado e se comprometer diante de Deus a não pecar mais, vai lutar contra isso com todas as forças. Como o padre Javier comenta de Lutero e da Amoris Laetitia, que muitos bispos e padres dizem: “Não tem problema você viver em adultério, pode comungar”. Isso tá errado!
Se o cara quer casar e separar de 20 mulheres durante a vida, que faça e responda a Deus pelos seus pecados, assim como todos responderemos pelos nossos pecados, mas não me venha dizer que isso é correto e que a Igreja ensina isso.
João: Exatamente, a questão é a legitimação do erro. Fazendo um paralelo entre a Igreja e a política aqui no Brasil [país fictício], para muitas pessoas não importa muito o que é certo ou errado, mas a letra da lei, o que a lei diz. A lei manda fazer algo imoral? Sim, mas é a lei e muitos seguem isso. O que acontece na Igreja hoje é uma espécie de positivismo teológico, importando somente o que está escrito nos decretos, e não o que é certo ou errado. É uma situação absurda, completamente absurda e nunca passaria na cabeça de um Chesterton, por exemplo, quando escreveu a Taberna Ambulante.
Erick: Sim, para exemplificar, usarei um exemplo recente. Há teólogos, hoje, que pedem o levantamento da excomunhão de Lutero.
Cara, imagine só católicos e protestantes fazendo um evento para comemorar a excomunhão do heresiarca, e a cereja do bolo do evento é o levantamento das críticas e excomunhões. Aí eu te falo: como é que a gente vai ficar se um absurdo desse acontecer? Muitas pessoas ficarão felizes com isso e celebrarão, mas, na minha cabeça, eu não sei nem o que dizer de tamanha desgraça.
O que eu vou fazer? A vontade é de sair xingando todos, sejam clérigos ou leigos, chamar a todos de filhos de rapariga, justamente por legitimarem o erro, um erro que causou destruições sociais e religiosas absurdas. Depois de 500 anos, querem levantar a excomunhão pra pagar de amiguinhos? Vão pro inferno! É como diz no 1984 de Orwell: “o que esses caras mais querem é controlar a história, reescrever a história e quem controla a história controla o presente e o futuro”.
João: É, o esquema agora é rezar para isso não acontecer. É o tipo de coisa que espero que não aconteça, mas também não duvido. Para quem colocou uma estátua de Lutero no Vaticano, e comemorou a Revolução protestante e ainda chamou Lutero de "grande reformador", não duvido de mais nada. Agora é aquilo, espero que não aconteça, mas se acontecer, vamos ver no que vai dar e teremos que escolher um lado.
Se isso acontecer, vai dar uma treta gigantesca. Bom, espero que dê uma treta, porque ruim vai ser acontecer o negócio e ninguém falar nada e achar isso normal. [Bingo!]
Erick: Estamos na mesma, inclusive eu esqueci de mencionar o lance da estátua e do selo em comemoração ao Lutero que fizeram no Vaticano. Não duvido que aconteça essa m**** toda, espero que não, mas acho bem provável.
E vai ter muita gente celebrando se acontecer, lembro de conversas com amigos, anos atrás, e diziam pra mim que estamos diante de um cisma ou que o cisma já aconteceu, e hoje há católicos que tentam viver o que a Igreja sempre ensinou e há outros que abraçam tudo que fazem de errado, seja papa, padre ou leigo. Não duvido que façam a desgraça do evento e que suspendam a excomunhão, este é o ponto a que chegamos. Meu Deus do Céu!
Felipe Marques e Igor Andrade
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