QUE NESTE DESABAFO nenhuma injustiça seja cometida, mas se alguma passar pelo meu filtro, que Deus tenha misericórdia de mim. Amém!
Não estou desabafando porque sou santo ou porque sou o católico mais exemplar de todos – longe disso! –, nem desabafo por crer que nós, leigos, tenhamos direito aos sacramentos ou à misericórdia de Deus porque tudo de bom que Deus nos dá é graça. Desabafo pura e simplesmente por ser humano, estar cansado de observar imposturas de líderes que impactam minha vida e ficar calado diante de tudo! Preciso encarar a realidade como ela é, sem medo e sem “passar-pano” para quem quer que seja, leigo ou clérigo. Tendo isto bem claro diante de mim e de você, caro leitor, dou início à exposição dos meus pensamentos.
É com assombro que hoje concluo que há mais de três meses estou sem os Sacramentos da santa Igreja Católica. Estou longe do estado de graça – mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa – não somente por ser um pecador imundo e miserável, mas também porque fui abandonado por aqueles que juraram dar suas vidas pela salvação do povo de Deus. Odeio vitimismos e condutas irresponsáveis que jogam as culpas de suas ações nos colos de outras pessoas, porém é impossível não enxergar diante de tudo que estamos passando, que nós ovelhas, estamos sendo vítimas de um abandono espiritual assassino de nossos pastores.
Seja por medo de morrer, seja por medo de que outros morram, seja por preguiça, seja por maldade, seja por ignorância, seja pelo motivo que for, o que vemos é que nossos pastores nos abandonaram e nos deixaram à mercê de todo tipo de lobos – materiais ou espirituais – que queiram nos devorar. Do alto de seus castelos, e sós, alguns bispos assistem num silêncio sepulcral o povo ser proibido de entrar nas igrejas que foram fechadas, proibido de receber os Sacramentos, proibido de trabalhar, e tendo como única opção padecer – a exemplo do homem que foi surrado e abandonado à beira da estrada e depois socorrido por um bom samaritano, como narra o Santo Evangelho.
Note o leitor que estas proibições, por certo tempo, advieram do poder do deus Estado encarnado nas pessoas de governadores de Estado e prefeitos, o que é uma afronta e uma violação crua dos direitos de liberdade da santa Igreja – espero que isso tenha deixado claro para nós que não existe Estado laico, mas sim Estado ateu.
Porém, após certo tempo, mesmo com os “serviços” de Igrejas sendo declarados como essenciais pelo Presidente da República e mesmo com a liberação do culto por parte de alguns governadores de Estado e prefeitos, algumas igrejas católicas permanecem, até hoje, fechadas por vontade de seus bispos e/ou padres e/ou assembleias paroquiais e/ou leigos.
Alguns bons sacerdotes, que possuem uma postura heroica, atendem ao povo sofrido de modo “clandestino” – como se os templos se houvessem convertido em catacumbas, numa blasfema ironia histórica –, administrando-lhe os Sacramentos às escondidas por temerem punições severas de seus superiores. Alguns outros religiosos morrem ao socorrer os mais pobres e os moribundos, contraindo doenças durante o cumprimento do dever que livremente aceitaram.
Contudo, mesmo diante de tais testemunhos santos, a maioria esmagadora de nossos “Pais na Fé” continua atacando os fiéis que, pura e simplesmente, choram ao sentir fome e sede do Pão da Vida, como aquela mulher do poço de Jacó.
Como comentei acima, as razões para tudo isso podem ser várias e não me atrevo aqui a tentar perscrutar os corações de nossos padres, bispos e demais católicos favoráveis ao "lockdown sacramental": esta tarefa é de Deus. Porém, é impossível notar a falta de fé que assola os católicos contemporâneos!
Deixo claro que não desejo que ninguém morra ou seja infectado por esse maldito vírus chinês que paira pelo mundo, nem amenizo os problemas sociais, sanitários e econômicos causados por ele; deixo ainda mais claro que não sou negacionista e nem insinuo que não existam os problemas. Contudo, seja qual for o vírus ou a doença ou a guerra que assole a humanidade, nossa postura de covardia espiritual e falta de Fé é absurda e salta aos olhos.
Tememos mais a morte do corpo do que a morte da alma? Esquecemos que existem a Eternidade, o Céu e o Inferno? Quantas almas se perderam porque ficaram sem os Sacramentos? Quantos morreram abandonados pelos clérigos temerosos de adoecer ao socorrerem um fiel moribundo?
Deus me livre disto, mas se eu morresse hoje, seja por qual causa for, provavelmente estaria em péssimos lençóis e a culpa maior disso seria minha, obviamente, mas também seriam culpados aqueles homens sagrados aos quais Deus confiou o cuidado e a salvação de minha alma e que me deixaram sem os santos remédios que são os Sacramentos.
Talvez o leitor argumente que a preocupação dos nossos ilibados pastores é com a saúde do povo de Deus e que eles estão sendo prudentes; ou, ainda, que os leigos não têm "direito" à Eucaristia e aos demais Sacramentos, por isso devem calar e obedecer cegamente quaisquer ordens do alto clero. Você pode usar quaisquer outros argumentos favoráveis ao lockdown sacramental que sofremos, não importa. Veja que não estou aqui argumentando “cientificamente” e nem estou tentando convencer alguém a mudar de ideia – porque cada um pensa o que quer e deve arcar com as consequências de suas escolhas, além disso, diante da confusão demoníaca que reina tanto em assuntos temporais quanto espirituais, quem sou eu para “bater de frente” contra as autoridades eclesiais ou contra quaisquer pessoas?
Sou ninguém, sou apenas um fiel católico (embora mais católico que fiel). O fato é que nós católicos leigos ou membros do clero perdemos a fé! Este é o ponto.
Estudando textos de grandes escritores católicos que admiro, como Tolkien e Gustavo Corção, creio que não foi hoje que perdemos a fé, mas há muitas e muitas décadas. Algumas situações de crise escancaram problemas e vícios que antes estavam acortinados, um pouco velados – e diante da atual crise pela qual passamos, esses problemas e vícios estão escancarados a todos que possam e queiram vê-los. Estamos abandonados à nossa própria sorte e sem fé, há anos. Só mesmo Deus pode ter misericórdia de nós.
Outra observação que preciso fazer para evitar confusões: estou fazendo generalizações neste desabafo e é assim que se apresentam ideias. Com isso não quero dizer pura e simplesmente que “todos padres e bispos existentes no mundo perderam a fé” ou “abandonaram os leigos católicos”. Sei que há bons padres e bispos ainda, mas estes são a minoria.
Retomando, creio que nunca mais seremos os mesmos depois que esta crise passar, pois, o “novo normal” que forças globais tentam impor a nós é estranho à raça humana e isso gerará muitos problemas de ordem social e psicológica. Pensar nisso causa medo, porém, o que mais causa espanto é ver que os representantes e líderes da Igreja Católica, aqueles que deveriam sempre ter em mente que “convém antes obedecer a Deus do que aos homens” estão calados e não lutam contra o mundo e suas insanidades.
Insanidades... eis um dos maiores desafios que todo católico leigo deve enfrentar: manter sua sanidade em meio aos desvarios demoníacos do mundo moderno. Outro absurdo que vejo com o coração partido é que algumas igrejas católicas continuam abertas somente para receber o dízimo dos fiéis, mas sem administrar-lhes os Sacramentos. As contas não param de chegar para todos, mas como pode um padre esperar receber o dízimo para sua paróquia sendo que, este mesmo sacerdote, sequer ouve uma confissão? Mesmo com todas medidas sanitárias e cuidados de higiene que poderíamos tomar, os Sacramentos continuam enclausurados. Onde está a “criatividade pastoral” de que tanto falavam nossos líderes para justificar toda espécie de abusos e sacrilégios que ocorriam nos templos de Deus? Por que não se iniciou uma campanha de celebração dos Sacramentos nas casas dos fiéis, acompanhando-se uma família por vez, para evitar aglomerações nas Igrejas? POR QUE NOS ABANDONARAM?
Dói muito ver que, para muitos católicos, há mais preocupação com o pagamento de contas devidas às autoridades temporais do que com a preparação para a prestação de contas a Deus que toda alma terá que fazer no momento da morte – sim, assuntos temporais são importantes, mas não são o único necessário. Diante de tudo, é impossível não concordar com o Padre Yoannis Lahzi Gadi em seus dizeres:
(...)Cristo, no Evangelho de João, ao falar do 'Bom Pastor' e do mercenário, chama a Si mesmo 'Bom Pastor', que não apenas cuida das ovelhas, mas conhece-as pessoalmente e se preciso dá até a própria vida por elas. Jesus é o ‘guia’ seguro das pessoas que procuram o caminho que conduz a Deus e aos irmãos. Na epidemia do medo que todos estamos enfrentando – causada pela pandemia do Corona Vírus, todos corremos o risco de nos comportarmos como mercenários e não como pastores.
(...)Pensamos como homens e não segundo Deus, colocamo-nos entre os assustados e não entre os médicos, os enfermeiros, os voluntários, os corajosos trabalhadores e pais da família que estão na linha de frente.
(...)Penso nas almas que precisam de conforto espiritual e de se confessar. Penso nas pessoas que certamente abandonarão a Igreja quando esse pesadelo acabar, porque a Igreja as abandonou quando precisavam.
O demônio conseguirá fazer com que muitas pessoas abandonem a Santa Igreja devido à covardia e ao péssimo exemplo de nós católicos nestes tempos de crise. Espero que, pela graça de Deus, você e eu não sejamos derrotados nesta batalha contra o leão que ruge e que a todos quer devorar . Afinal de contas, não podemos esquecer da advertência de Cristo que deixou clara a supremacia e prevalência da vida espiritual sobre a material, quando disse: “Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida (alma)? ” (Mc 8, 36).
Encerro por aqui, lembrando que este não é um artigo científico ou um tratado de Teologia ou um texto argumentativo para convencer o leitor de alguma coisa. É só um desabafo de um leigo católico, pecador e miserável. Que Deus tenha misericórdia de todos nós.
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