9/2020 | O Conselheiro Papal publica análise sobre as reformas do Papa Francisco

Francisco e Spadaro durante Assembleia do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia

PARA O PAPA Francisco, governar e reformar a Igreja são questões de "discernimento", "esvaziamento" e "conversão", em vez de impor "ideias pré-embaladas". Trata-se de criar as "condições estruturais" para um suposto "diálogo real e aberto", em vez de resolver "quem está certo e quem está errado".

Essa é a análise geral do padre jesuíta Antonio Spadaro, um conselheiro próximo de Francisco, escrevendo na edição de 5 de setembro de "La Civilta Cattolica", o periódico jesuíta que ele edita.

No extenso artigo (leia), intitulado “Governo de Francisco: Qual é a força motriz de seu pontificado?”, padre Spadaro tenta desvendar as motivações por trás do método de governo do Papa em um momento em que há muita especulação, críticas, oposições de diferentes matizes (a ala progressista entende que ele deveria ser mais radical na 'reforma' que esperam dele; outros, conservadores, angustiam-se pelo estrago já feito), uma divisão inegável e confusão generalizada.

O editor jesuíta começa enfatizando que, para o Papa Francisco, o “povo reformador” vem “de dentro”. A reforma radical, continua ele, é um "processo verdadeiramente espiritual" que visa a "conversão", uma abordagem mais "mística" que no seu entendimento é favorecida por Francisco. Baseando-se nas notas pessoais do Papa, bem como em seus escritos e declarações públicas, Spadaro diz que Francisco vê a "verdadeira reforma" como enraizada em um "vazio de si mesmo", caso contrário, é "apenas uma ideia, um projeto ideal, o fruto dos desejos de alguém”. Sem esse "vazio do eu", mesmo as boas ideias seriam simplesmente "outra ideologia de mudança", acrescenta ele.

Tal ideologia “estaria à mercê da desilusão daqueles que têm sua própria agenda em mente”, prossegue Spadaro, acrescentando que a reforma de Francisco “funciona” se for “esvaziada de tal raciocínio mundano”. É o oposto, diz ele, “da ideologia da mudança” e, antes, tenta “discernir os tempos”, para que a “missão faça com que Cristo seja visto mais claramente”. Não há como se negar, todavia, que a ideia ou a concepção de Cristo supostamente acalentada por Francisco e por aqueles que esperam dele fortes ações no sentido de uma grande mudança nos rumos da Igreja seja bastante diversa daquela da Tradição e daquilo que a Igreja sempre pregou até os nossos dias.

O padre Spadaro toca então no apelo familiar de Francisco por uma Igreja que seja "nem estática nem rígida" antes de dedicar uma seção inteira ao "discernimento não ideológico". Francisco “não tem“ ideias pré-embaladas para aplicar à realidade ”, escreve ele, nem tem um plano ideológico de reformas do pronto-a-vestir”, mas sim avança “no diálogo, na consulta” diante de situações humanas vulneráveis. O Papa, ele chega a argumentar, “cria as condições estruturais para um diálogo real e aberto”.

Críticos contestam frontalmente essa visão, observando que Francisco, salvo raras exceções, encerrou o diálogo com todos os clérigos, teólogos e mesmo fiéis de linha mais tradicional e em grande parte se recusa até a se encontrar com aqueles que ele vê como sendo “rígidos” ou simplesmente tendo outra visão da Igreja, mais fiel à Tradição e ortodoxia. Isso o padre Spadaro reconhece, mas procura explicar por que é assim: no seu entender, essa postura se dá porque, no que diz respeito a Francisco, tais “'ideias pré-embaladas' não têm utilidade e a informação pode não ser equilibrada e verdadeira: apenas o encontro e a imersão permitem um governo sábio”.

Padre Spadaro volta à ênfase de Francisco no “discernimento” e na “atitude interior” que insta a abertura ao “diálogo, ao encontro, a encontrar Deus onde quer que Ele se encontre [como por exemplo em outras religiões], e não apenas em perímetros predeterminados, bem definidos e cercados”. Chega a afirmar que o “discernimento espiritual” de Francisco “resgata a ambiguidade necessária da vida”, ajudando a encontrar os meios mais adequados nem sempre identificados com o “grande ou forte”, mas antes através da escuta de “consolações e desolações”.

Fala-se da já conhecida visão de Francisco de que “o tempo é superior ao espaço” no contexto de uma reforma que não “corta cabeças” ou “conquista espaços” de poder, mas trata de um “espírito de discernimento”. É uma “visão interior” que “não se impõe à história” mas sim “dialoga com a realidade”. Termina com a analogia do Papa com a “Igreja como um hospital de campanha” e o objetivo de Francisco de “curar as feridas” dos espiritualmente feridos.

"Ambiguidade necessária"? Essa expressão explica muita coisa. Há uma claríssima confusão de conceitos e muita nebulosidade, especialmente no que concerne à Doutrina, em toda essa visão de mundo e da Igreja que parece confiar mais na bondade humana do que verdadeiramente na condução do Espírito Santo e na Promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo, nessa Fé (imutável e, neste sentido, sim, rígida) que sempre norteou a Igreja no correr dos séculos, até o grande marco denominado Vaticano II – este que permeia e encharca todas as alegações dos que querem uma cisão radical com o passado e as mais profundas mudanças em tudo aquilo que pensa e faz a mesma(?) Igreja, em todos os campos.



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Com o Catholic National Register, em:
www.ncregister.com/blog/papal-adviser-writes-lengthy-analysis-of-pope-s-governance-and-reform
Acesso 7/9/2020

5 comentários:

  1. Puro panteísmo! O Papa se mostrou um fiel observador da Cabala Rabínica e discípulo dos fariseus que negaram Cristo. Voltar-se ao interior de si mesmo para descobrir Deus é Esoterismo. Em outras palavras, temos uma fagulha divina dentro de nós e, além de sermos divinos, Deus é toda a matéria ("onde quer que Eles esteja" num total desconhecimento sobre Deus e nunca afirmação que é todas as coisas)
    A desgraça continua quando se percebe que o santo padre busca o Império do puro relativismo, com a total negação da Verdade. Não se utilizar da Verdade ("conceitos pré embalados..."), que nada mais é do que a própria realidade ensinada pelo próprio Deus encarnado, é pura blasfêmia e uma porta aberta para a total heresia e (buscar a) destruição da Santa Igreja. Até as verdades naturais, que conhecemos devido a esse presente chamado INTELIGÊNCIA, o papa nega, para construir uma nova realidade com base no diálogo, tipo o que Antônio Gramsci falava sobre perverter as nações por meio da semântica e da revolução cultural E ESSA PERVERSÃO É ENSINADA NA CABALA JUDAICA. O diálogo então criaria a realidade e não o contrário. É a pseudo filosofia moderna antropocêntrica, iniciada com Descartes, onde o homem cria a realidade em sua mente, pois é divino.
    O diálogo, por sinal, dar-se-ia com quem? Pessoas criaram seitas heréticas e seitas filosóficas, ensinando errado sobre a Fé, a Moral e sobre a própria realidade e as verdades naturais. 99,9% desses sectários eram de sociedades ocultistas e sempre trabalharam contra a Santa Igreja. A base dessas seitas sempre foi a Cabala Rabínica. Daí nasceu o Protestantismo, a Maçonaria, o Relativismo, o Liberalismo, o Comunismo (finalidade da Revolução), etc. Essas pessoas deturpam a realidade. E É COM ELAS QUER O PAPA QUE DIALOGAR PARA ENCONTRAR A REALIDADE!
    Em contrapartida, pessoas fiéis à Deus buscam a Verdade e, inexoravelmente, aprendem a Tradição da Igreja (ensino do próprio Deus) e o Tomismo (ápice da Filosofia e o estudo correto da realidade). Esses fiéis são chamados Tradicionalistas E O PAPA QUER DISTÂNCIA DELES!
    Para os maçons e demais ocultistas, estamos entrando na Era de Aquário, a 3° Fase (Fraternidade) e, portanto, não há mais erro, mas aceitação dos erros do próximo em nome do Diálogo. É o "multiculturalismo" na sociedade civil. A Maçonaria Eclesiástica, a que opera dentro dos muros da Igreja, tão investigada pelo saudosíssimo DOM LUIGI VILLA, braço direito do PADRE PIO E DO PAPA PIO XII, que nos legou riquíssimas obras (vistas no site www.chiesaviva.com), essa Maçonaria Eclesiástica transformou "multiculturalismo" em "variadas formas de Carisma na Igreja" e a "Era de Aquário" em "Era do Espírito Santo", convertendo toda a agenda da NOVA ERA numa suposta linguagem religiosa.
    Obviamente, a base é a Religião do Homem criada pelo Concílio do Vaticano II.

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  2. Eu penso que atribuir todos os males atuais da Igreja ao papa Francisco, ou mesmo ao Vaticano II, seja algo simplista. A grosso modo, sem entrar em detalhes, os grandes problemas da Igreja já explodem no fim do primeiro milênio com o grande cisma e a divisão da cristandade, até o momento unida, entre católicos e ortodoxos. Nos 500 anos seguintes (metade desse período) outro grande cisma, a reforma protestante, e mais uma vez a Igreja se divide. O Concílio Vaticano II vem apenas em 1961, algo muito recente na história, mas fracassou, não conseguiu apaziguar a Igreja e hoje vemos pedidos de renúncia ao papa, outros saem em defesa, alguns falam em ruptura. E o interessante é justamente (mais uma vez, a grosso modo), o discurso que se repete: No grande cisma se alegou que a Igreja havia se desviado da doutrina, tanto que a nova igreja se intitulou ortodoxa, que significa doutrina reta. Na reforma, se alegou que a Igreja se afastou das raízes evangélicas e que os reformadores queriam trazê-la de volta. Hoje mais uma vez vemos a Igreja dividida entre aqueles que supõe serem fiéis a tradição, a fé da Igreja e ao Evangelho e aqueles que supõe modernizar a Igreja a ser mais próxima ao ensinamento de Cristo, ao amor evangélico, por meio da inclusão e aceitação das novas realidades sociais, como o homossexualismo por exemplo. Não vou fazer juízo de quem está certo ou errado, todo mundo aqui é católico e se o é, é porque acredita na Igreja.

    Interessante como essa busca pela fidelidade a Deus e a incapacidade de consenso gerou e gera grandes divisões. Assim como nós, o protestante e o ortodoxo, acreditam sinceramente que estão sendo fiéis a Deus. Portanto, o problema, não faço a menor ideia qual seja, não pode ser reduzido a um momento na história, são vários e talvez muito mais profundos do que sequer imaginamos.

    A paz de Cristo!

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    1. Creio ter ficado claro no texto em questão que não estamos atribuindo ao CVII toda a responsabilidade pelos males da Igreja, e menos ainda ao Papa atual, mas apenas refletindo sobre o peso de cada coisa no quadro geral.

      Claro que reduzir o problema dessa maneira, procurando os "bodes expiatórios" de maneira tão ingênua seria cair num simplismo absurdo; o problema todo é complexíssimo, e parece mesmo inerente à própria incapacidade humana de lidar com os Mistérios do Alto. Claro, as crises vêm de muito tempo (de fato, existiram desde o início), embora haja muito de inédito na crise atual.

      Por outro lado, também é igualmente simplista, e seria na verdade a pior atitude concluir que nada se pode fazer ou dizer a respeito de tudo o que vem acontecendo, afinal, "sempre foi assim". Se os grandes santos da Igreja tivessem sido assim conformistas, hoje nós nem saberíamos que um dia Deus se fez homem e veio ao mundo para a nossa salvação.

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Apostolado Fiel Católico

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    2. Não este texto em si, mas há uma postura geral negativa em relação ao CVII na corrente tradicionalista e não estou dizendo que esta é a posição do apostolado. Já li expressões como: fonte de todos os males, tragédia, o grande erro, dadas como sinônimos do CVII. Outros acham que a simples renúncia do papa vai consertar a Igreja, sem nem saber o que vem depois dele, pode ser alguém até "pior", dependendo do ponto de vista A ou B. Por outro lado, o relato destes fatos históricos não é conformismo. Na verdade considero um alerta, estamos repetindo erros, essas posturas já foram observadas no passado e os resultados foram desastrosos. Acho que os responsáveis deveriam se debruçar nestes problemas para que não se incorra nos mesmos erros. E a crítica, o senso critico é fundamental, desde que feita com fé, clareza e sem paixões ideológicas.

      A paz de Cristo!

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  3. O Papa, ele chega a argumentar, “cria as condições estruturais para um diálogo real e aberto”.
    Que o digam os 4 cardeais que propuseram as "dubia" há tantos anos ( dos quais dois já faleceram aguardando ) e os demais sequer são recebidos , quanto mais respondidos.
    Fica a pergunta... para que serve o papado?

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