O perdão de Deus para conosco é incondicional?


SURGIU EM UM GRUPO católico, do qual participamos, a questão apontada no título deste artigo, surgida a partir da leitura de um texto do pastor protestante Ed René Kivitz. Como de costume, todo desvio da verdadeira Fé – bem como toda heresia e todo engano, que muitas vezes nasce de uma boa intenção – apresenta elementos de verdade (às vezes até de santidade). Diga-se de passagem, é exatamente por isso que podemos afirmar sem medo de errar que o Vaticano II introduziu um grande erro ao ensinar que, por esse mesmo motivo (pelo fato de que muitas religiões contenham tais elementos), é possível admitir que exista uma diversidade de caminhos que levem à salvação das almas, mesmo fora da Igreja de Cristo,


    Assim, o tal pastor acerta em alguns pontos, sim, como quando cita a questão da consciência escrupulosa, que faz com que a alma se torne incapaz de se ver perdoada e na Graça, mesmo tendo confessado seus pecados, e isso atravanca a vida de Fé e a busca pela santidade. Também se poderia falar da excelência do "perdão incondicional" de nossa parte, para quem cometeu faltas para conosco, haja vista a própria miséria da condição humana. Mas falar de perdão incondicional da parte de Deus para conosco é um erro grande e grave, além de – curiosamente mas nem tanto, partindo de um protestante, que pensa que observa a Bíblia com o Sola Scriptura – completamente antibíblico. Usam-se premissas verdadeiras para se chegar a uma conclusão falsa. 

    Sim, é verdade que mediante nossos próprios esforços, não temos como saldar as nossas dividas para com Deus. Por isso é que Nosso Senhor precisou entregar-se em Sacrifício de valor infinito e morrer pregado na Cruz em nosso lugar. Mas resta completarmos, em nossa própria carne, o que falta à Paixão do Senhor, como ensina uma passagem bíblica que todo protestante evita ao máximo, aquela de Colossenses 1,24. 

    Resumindo toda a questão, a verdade é que falar em "perdão incondicional" da parte de Deus para conosco é uma doutrina espúria (lamentavelmente pregada com contumácia também por Francisco, que tem ensinado o erro a toda a Igreja desde o primeiro dia do seu pontificado). Seja como for, esse erro pode ser facilmente refutado; sem precisar recorrer aos tomos dos grandes teólogos e/ou aos Doutores da Igreja, basta citar Nosso Senhor diretamente:


"Se não fizerdes penitência, perecereis todos do mesmo modo." (Lc 13,5).


"Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem obterá perdão, mas aquele que tiver blasfemado contra o Espírito Santo não alcançará perdão." (Lc 12,8-12



    Existem muitas outras passagens afirmando a mesma coisa: o perdão divino não é "incondicional". É gratuito e abundante, mas está condicionado ao arrependimento, à contrição e à confissão da parte do fiel. 

    Mais: se o perdão divino fosse incondicional, as palavras do Cristo  ao instituir o Sacramento da Confissão (em João 20,22-23) seriam absolutamente sem sentido. Só faz alguma lógica que os Apóstolos tenham o poder de "reter" o perdão dos pecados se houver condições objetivas não cumpridas para que o perdão seja concedido ao fiel. Se houvesse essa incondicionalidade, tudo isso seria desnecessário e vão.


    *Em  tempo: nem mesmo o nosso perdão ao nosso próximo precisa ser incondicional. É conveniente que o seja, já que suplicamos a Deus que nos perdoe as dívidas assim como nós mesmos perdoamos as nossos devedores, e porque Nosso divino Salvador foi claro quando nos ensinou a perdoar não sete, mas setenta vezes sete (Mt 18,21s). Mas, ainda assim, nenhum católico está obrigado a perdoar alguém que lhe fez o mal e não pediu depois o seu perdão. Apenas se o meu ofensor me pede perdão é que, então sim, eu estou obrigado a perdoá-lo.

    Um bom exemplo que se pode citar a esse respeito é o episódio envolvendo o famoso chef e apresentador de TV Henrique Fogaça, ocorrido há alguns anos, quando postou um vídeo em suas redes ridicularizando algumas freiras, mas logo depois se arrependeu, retirou o material do ar e veio a público pedir desculpas, aos católicos e a toda a Igreja. Num caso como esses, o perdão de nossa parte é, sim, uma obrigação moral.

    Mas, se um agressor continua a me ofender continuamente e não se retrata, nem muda de postura, então eu não tenho obrigação cristã de perdoá-lo. Devo fazê-lo, porque esta é a conduta mais perfeita, e assim será melhor para mim mesmo. Mas não é uma obrigação: portanto, não há essa história de "perdão incondicional" na Sã Doutrina, em nenhum caso.



6 comentários:

  1. Excelente, eu siempre tive essa dúvida !

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  2. O ser humano participa do processo de salvação e se arrepender e pedir perdão é uma dessas participações logo a salvação não é só e somente graça e fé tem sim a participação humana sim.

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    1. Este argumento refuta o pensamento protestante de que só a graça salva.

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  3. Sempre tive esse entendimento, principalmente no que diz respeito ao perdão que concedemos a quem nos fez/faz mal...sofri injúrias e perseguições da parte de pessoas muito próximas que, mesmo sendo alertadas por mim, ensinadas e advertidas diversas vezes apenas pediam perdão da "boca pra fora", como popularmente costumamos dizer, e, no minuto seguinte, já estavam a cometer os mesmos erros e, até mesmo, erros piores que os primeiros. Isso realmente era inaceitável não por orgulho de minha parte, mas porque por suas atitudes demonstravam que não havia a mínima mudança de postura. Resultado: deixei de conviver com tais pessoas, que, além de tudo, eram familiares muito próximos.

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    1. Muitos confundem o preceito do perdão com uma obrigação (ou uma licença) para permanecer entre más companhias. Isto é um grande e perigoso engano! Não temos obrigação alguma de conviver com pessoas que nos fazem mal, a não ser que tenhamos para com elas alguma obrigação do estado. Procuremos, isto sim, as boas e sãs companhias, aquelas que nos edifiquem e possam servir de auxílio para uma vida santa. Para com as companhias que nos são nocivas, nossa obrigação é a de não guardar rancor nem desejar a elas o mal (de fato, devemos rezar até pelos nossos inimigos, como mandou Nosso Senhor), mas não de estar próximo delas.

      Fraternidade Laical São Próspero

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  4. Os protestantistas criticam os evangélicos católicos romanos em relação a confissão auricular, porém o padre segundo o raciocínio católico romano está como Espírito Santo logo está apto para servir de instrumento para que Deus perdoe os pecados do cristão católico.

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