Qual a melhor Bíblia de estudos? – Parte 8: Qual Bíblia NÃO ler


Este artigo é parte de nossa Formação Integral e Permanente em fascículos (conheça)

NÃO SE PODE honestamente encerrar o assunto desta série especial sem denunciar um abuso realmente gravíssimo, já que a famigerada e herética “‘teologia’ da libertação” (TL) tentou apoderar-se também das Sagradas Escrituras para pregar a doutrina de Karl Marx nas entrelinhas da Palavra de Deus. Trata-se da péssima e mesmo criminosa edição intitulada “Bíblia Sagrada, edição pastoral”, da editora Paulus.

    Em outros tempos, tal publicação teria sido impedida pelos senhores bispos. Hoje, desgraçadamente, é exatamente esta a versão mais popular e mais vendida da Bíblia em nosso país (pelo menos o era até há poucos anos, quando me inteirei de uma pesquisa de mercado empreendida por um pool de editora católicas), tanto pelo preço quanto pelo formato convidativo e também pela tradução em linguagem simples e fácil de entender. Na página de vendas da Amazon, é possível encontrar uma verdadeira coleção de elogios feitos por consumidores incautos, ingênuos e satisfeitíssimos a recomendar o produto... Sim, a edição é relativamente bem acabada, a cor da capa é convidativa, o projeto gráfico como um todo é agradável aos olhos, e com o preço baixo, torna-se competente para se configurar naquilo que de fato é – uma armadilha engenhosamente preparada para deturpar a Fé.

    Nesta lamentável versão do Livro Sagrado, todos os livros bíblicos são precedidos de introduções que manifestam claramente o caráter marxista da heresia TL. Na introdução ao Evangelho segundo São Marcos, por exemplo, podemos encontrar esta “pérola”:

Toda a atividade de Jesus é o anúncio e a concretização da vinda do Reino de Deus (Mc 1,15). E isso se manifesta pela transformação radical das relações humanas: o poder é substituído pelo serviço (campo político), o comércio pela partilha (campo econômico), a alienação pela capacidade de ver e ouvir a realidade (campo ideológico). Trata-se de proposta alternativa de sociedade, que leva ao nivelamento fraterno das pessoas. (p. 1221) 

    Já a introdução ao Evangelho segundo S. Lucas traz isto:

O caminho de Jesus inicia o processo de libertação na história, e por isso realiza uma nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações entre os homens. O programa de ação libertadora de Jesus é apresentado no seu discurso na Sinagoga de Nazaré (4,16-22). Por essa razão, o caminho provoca confronto, choque com aqueles que julgam a história como já realizada e querem manter o sistema organizado. Tal sistema, porém, mostra apenas a história tal como é contada pelos ricos e poderosos, que exploram e oprimem o povo, reduzindo-o à miséria e fraqueza. O caminho de Jesus força a revisão dessa história, e começa a contar a história a ser construída pelos pobres (1,46- 55; 1,67-79). (...) O caminho de Jesus é, portanto, a pedagogia que ensina a fazer a história dos pobres que buscam um mundo mais justo e mais humano. Com efeito, Jesus traz o projeto para uma ordem nova, a libertação que leva os homens à relação de partilha e fraternidade, substituindo as relações de exploração e dominação. (p. 1248)

    Não satisfeitos, os editores fazem questão de destacar em negrito palavras como “pobres” e “nova história”... A Palavra de Deus instrumentalizada para se parecer com uma cartilha marxista: nada além da velha e mofada cantilena da luta de classes dos lobos comunistas, pregando a construção de uma “nova história” e de uma “ordem nova” pelos pobres e oprimidos contra os malvados tiranos capitalistas.

    A deturpação e a subjugação do ensinamento cristão à doutrina imanente da pior e mais falida espécie de socialismo é patente em cada nota e em cada introdução. Temos a nítida impressão de que, se pudessem, teriam simplesmente suprimido as passagens em que o Cristo diz: “Dai a César o que é de César” (Mt 22,21), “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36) ou: “Pobres, sempre os tereis” (Jo 12,8), pelas quais fica claro que a Bíblia proclama o exato oposto de tudo o que propõe o ideário marxista. 


    Não, Nosso Senhor Jesus Cristo não veio pregar a luta de classes, nem “a construção do Reino de Deus neste mundo”. A Mensagem de perdão e amor incondicional de todo o Evangelho é a própria antítese do discurso cheio de ódio de Lênin, Marx, Engels, Gramsci e companhia. Essa afinidade absolutamente forçada entre uma coisa e outra simplesmente não existe, e pior do que isso: querer forçar essa interpretação é heresia, porque é a traição do Evangelho. Cristianismo e socialismo marxista são ideias e ideais desde sempre antagônicas, contrárias e opostas, até porque todo o discurso comunista/socialista é intrinsecamente materialista e ateu, limitado às mazelas deste mundo, enquanto que a Palavra do Cristo é transcendente, sublime, divina.

    O que existe no mundo real, retratado por Cristo em suas parábolas, são pessoas diferentes, que recebem (de Deus) dons diferentes. Alguns têm talento e capacidade natural para comandar, gerenciar, gerar riqueza. Outros são talhados para executar, cumprir, e é assim que deve ser. Se todos recebessem de Deus os mesmos talentos, toda e qualquer sociedade humana seria inviável; iria instantaneamente à completa falência. E é assim não só entre seres humanos, mas em toda a natureza, de modo absoluto. Já os editores dessa Bíblia alegadamente “pastoral” tentam distorcer o princípio da solicitude, do amparo e da caridade para associá-lo à dialética das “relações”, com base no método de Paulo Freire, para construir uma sociedade materialmente “igualitária”.

    Aos que tem ainda alguma dúvida a respeito desses temas, recomendamos fortemente a leitura de um documento definitivo sobre o assunto, produzido pelo Cardeal Ratzinger, intitulado “Eu vos explico a teologia da libertação" (leia). Para encerrar o tópico, reproduzimos abaixo o conteúdo da brilhante alocução de João Paulo II dada em Puebla, em que se refere diretamente ao tipo de compromisso assumido em empreendimentos como a publicação desta nefanda edição pastoral da Paulus:

Circulam hoje, em muito lugares — o fenômeno não é novo — ‘releituras’ do Evangelho, resultado de especulações teóricas mais do que de autêntica meditação da Palavra de Deus e de um verdadeiro compromisso evangélico. Elas causam confusão ao se apartarem dos critérios centrais da Fé da Igreja, caindo-se ademais na temeridade de comunicá-las, à maneira de catequese, às comunidades cristãs. Em alguns casos, ou se silencia a divindade de Cristo, ou se incorre de fato em formas de interpretação conflitantes com a Fé da Igreja. (...) Em certos casos se pretende mostrar a Jesus como comprometido politicamente, como um lutador contra a dominação romana e contra os poderes e, inclusive, como implicado na luta de classes. Esta concepção de Cristo como político, revolucionário, como ‘o subversivo de Nazaré’, não se compagina com a catequese da Igreja. Confundindo o pretexto insidioso dos acusadores de Jesus com a atitude de Jesus mesmo — bem diversa — se aduz como causa de sua morte o desenlace de um conflito político e se silencia a vontade de entrega do Senhor, e ainda a consciência de sua missão redentora.

(Discurso solene na sessão de abertura da III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, Puebla de Los Ángeles (28 de janeiro de 1979)

    *** Ver todos os estudos desta série


10 comentários:

  1. Parabéns pela série de artigos, tratados com clareza e responsabilidade. Fico feliz em colaborar com esta obra.

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  2. isso se aplica só para a versão antiga ou a nova versão da biblia pastoral tem este problema na tradução também ?
    pois meus filhos estudam na biblia pastoral porém na nova versão!

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    1. Caro, eu honestamente não conheço essa nova edição, portanto não sei se esses textos introdutórios e essas notas foram removidas. Seja como for, certamente não é confiável.

      Fraternidade Laical São Próspero

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  3. A Nova Pastoral também é, tudo gira em torno dos pobres. Notei logo de cara, quando abri o Evangelho de São Lucas.

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  4. A Bíblia de Jerusalém também é desse mesmo jeito ! Cheia de comentários de TL ! Os 3 coordenadores de tradução, Gilberto da Silva Gorgulho, Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson são 3 apóstolos da Teologia da Libertação declarados !!!

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  5. A Bíblia de Jerusálem acho que veio da Nova Vulgata e aí Tobias 5:6 é diferente da Vulgata. Qual é a correta?

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    1. A base da tradução da Bíblia de Jerusalém não veio da Neo Vulgata. Falamos sobre ela num artigo específico, que você pode encontrar no link abaixo:

      Qual a melhor Bíblia de estudos? – Parte 3: a Bíblia de Jerusalém

      Fraternidade Laical São Próspero

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  6. Eu tenho essa Bíblia e, sinceramente, não acho que ela seja desprezível; ao contrário, Ela possui linguagem clara e facilita muito a leitura. Cabe ao leitor fazer uma análise crítica.

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    1. creio que se você altera e muda uma placa de sinalização por motivos próprios, você traz o engano,e logo vem o estrago, no caso podendo causar tragedias.Com a Palavra de Deus não se brinca,nem modifica,talvez ai o aviso em Apocalipse.

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  7. Excelente artigo. De extrema importância! Infelizmente a Bilblia Pastoral da Paulus é uma aberração. Descaradamente e desrespeitosamente, absolutamente pautada na TL e, concomitantemente, na doutrinação marxista! Um assombro! É uma afronta à inteligência dos católicos tradicionais e um perigo para os jovens iniciantes na Palavra! 😔

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