Mai/2023 | Católicos alemães são obrigados a escolher: financiar Caminho Sinodal ou ficar sem Sacramentos

"O que será de nós?"... Crianças vestidas tradicionalmente assistem à Missa de Corpus Christi na matriz de Crostwitz, Alemanha.

Com informações de ACI Digital

CADA VEZ MAIS católicos alemães vem se manifestando contrários ao Caminho Sinodal Alemão – bispos e uma organização de leigos católicos que já aprovou a proposta de abençoar uniões homossexuais, ordenar mulheres e acabar com o celibato sacerdotal (saiba mais) –, e não querem financiá-lo. A única maneira de boicotar a heresia, porém, é desfiliando-se oficialmente da Igreja, uma vez que, na Alemanha, a Igreja é financiada com parte dos impostos de quem se declara católico, repassada pelo Governo.

    Quem se desfilia, no entanto, perde o acesso aos Sacramentos.

    David Rodriguez, católico com cidadania espanhola e alemã, vive na Alemanha há 30 anos. Paroquiano da igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Berlim, diz que “os Sacramentos são como água que preciso para a vida espiritual”. Alarmado com os caminhos que o tal "Caminho" vem tomando, e desesperado para parar de contribuir financeiramente com tal descalabro, Rodriguez está considerando desfiliar-se legalmente da Igreja Católica na Alemanha.

    É um passo dramático, que envolve renunciar publicamente a ser membro da Igreja perante um funcionário do Governo. A mudança é amplamente considerada na Alemanha como uma “auto-excomunhão” de fato, já que aqueles que a seguem são tecnicamente impedidos de receber a Eucaristia, a penitência e os outros Sacramentos, e até mesmo um enterro cristão(!). A participação eclesial também é restrita, pois também é proibido exercer cargo ou emprego na Igreja, participar de conselhos diocesanos ou paroquiais e até mesmo servir como padrinho de Batismo, Casamento ou Crisma.

    Segundo Birgit Kelle, porta-voz do grupo leigo alemão Neuer Anfang, crítico do Caminho Sinodal, “não se passa um dia” sem que a organização seja contatada por católicos alemães horrorizados com o rumo tomado e questionando se deveriam deixar a estrutura da Igreja alemã para parar de financiá-lo.

    Kelle disse ao jornal National Catholic Register, da EWTN, grupo de comunicação católico a que pertence a ACI Digital, que o Kirchensteuer, o imposto que financia as igrejas alemãs, sempre foi uma fonte de frustração para os fiéis católicos alemães, mas as ações do Caminho Sinodal elevaram essa angústia a níveis inconcebíveis.

    O custo do Caminho Sinodal nunca foi divulgado oficialmente pelos responsáveis, mas a CNA, agência do grupo ACI em inglês, estimou em maio de 2022 que o custo desde o início do processo em 2019 até aquele momento totalizava 5,7 milhões de euros (cerca de 31.15 milhões de reais!).

    Essa quantia não inclui as duas assembleias finais do Caminho Sinodal Alemão, nem as despesas para o próximo Comitê Sinodal de três anos. Segundo Kelle, representantes da Igreja indicaram ter um orçamento de 2,5 milhões de euros por ano para o financiamento do Comitê.

    “Para muitos, é a gota d 'água. Muitos fiéis estão realmente abalados e não conseguem mais conciliar sua consciência com dar dinheiro a uma instituição que está rompendo a unidade da Igreja”, disse Kelle ao Register. Ele descreve uma situação em que muitos católicos estão divididos entre manter sua filiação à estrutura da Igreja publicamente reconhecida e trabalhar, de fora dela, pelo seu bem, sem contribuir com um projeto que eles creem estar levando a Igreja alemã ao cisma com Roma. A luta é complicada pelo fato de que paróquias e padres ortodoxos ainda podem ser encontrados em muitas dioceses alemãs.

    Esse cabo de guerra está se desenrolando no coração de católicos alemães como Axel Müllers, que vive na diocese de Aachen. O empresário católico e pai de três filhos é um opositor declarado do Caminho Sinodal Alemão, que considera inaceitável. “Eles te insultam e depois te fazem pagar por isso”, disse ao Register.

    Por mais que Müllers se oponha ao Caminho Sinodal e ao fato de que o imposto que paga ajuda a financiá-lo, a perspectiva de renunciar formalmente à sua filiação à Igreja Católica na Alemanha ainda lhe parece dolorosa demais.

    O papa Bento XVI, alemão, foi um duro crítico do sistema Kirchensteuer. Durante seu papado, a Santa Sé emitiu uma decisão (2006) amplamente interpretada como esclarecendo que os católicos alemães que optam por não ser membros da entidade católica legal sobre o imposto da Igreja não estão necessariamente cometendo um “ato formal” de deixar a Igreja. Em uma entrevista publicada em formato de livro em 2016, o então Papa emérito disse que tinha “sérias dúvidas sobre se o sistema está sendo aplicado de forma correta” e declarou: “A excomunhão automática de quem não paga, a meu ver, não é sustentável”.

    Mas o episcopado alemão resistiu aos esforços para controlar o imposto da igreja, ou pelo menos oferecer uma alternativa. Um decreto geral de 2012 da Conferência Episcopal Alemã reafirmou que a desfiliação representa “um distanciamento intencional e consciente da Igreja” que “viola o dever de manter a comunhão com a Igreja e o dever de fazer uma contribuição financeira para garantir que a Igreja pode cumprir suas tarefas”. O decreto dos bispos também estabeleceu as mencionadas consequências sacramentais e eclesiais da desfiliação. A Santa Sé assinou o acordo.


Roma permanece muda


Kelle e a Neuer Anfang têm aconselhado os católicos alemães a expressar seu descontentamento aos seus aos seus pastores locais, mas muitos já o fizeram em níveis ainda mais altos, enviando apelos diretos a Roma nos últimos anos, com pouco ou nenhum resultado.

    De acordo com uma reportagem de 2020 do jornal católico alemão Tagepost , pedidos de revisão à lei mais ampla da Igreja já foram feitos por católicos alemães ao Dicastério para Textos Legislativos em Roma. O artigo descreveu o assunto na época como “não sendo tratado rapidamente” pela Santa Sé.

    Müllers teve uma experiência semelhante. Ele disse ao Register que, em fevereiro de 2021, escreveu ao cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, sobre sua preocupação com o pagamento do Kirchensteuer, dado o estado da Igreja na Alemanha, e observando sua disposição de direcionar suas finanças a apoiar entidades católicas em sintonia com Roma.

    Em resposta datada de 27 de abril de 2021, que Müllers mostrou ao Register, o arcebispo Luigi Roberto Cona, assessor de assuntos gerais da Secretaria de Estado, agradeceu sua “solidariedade com a Igreja universal”, observou que o direito canônico “não reconhece a saída da Igreja, mas apenas a excomunhão com base em apostasia, heresia ou cisma”, mas afirmou o dever dos católicos alemães de apoiar financeiramente a Igreja local “independentemente de suas deficiências” através do modo designado pelos bispos.

    Müllers diz ainda que uma carta semelhante enviada ao cardeal Mauro Piacenza, chefe da Penitenciária Apostólica, em 15 de junho de 2021, não obteve resposta.

    Já David Rodriguez começou a pedir ajuda ao Núncio papal na Alemanha, o arcebispo Nikola Eterović. Em um e-mail conjunto com sua esposa, Nuria, enviado em 17 de março, Rodriguez explicou como eles não poderiam, em sã consciência, continuar a apoiar financeiramente o aparato da Igreja Católica na Alemanha após a assembleia do Caminho Sinodal Alemão. Os Rodriguez fizeram uma pergunta direta ao núncio: “Ainda seria possível receber os Sacramentos se nos desligássemos da Igreja Católica alemã pública e doássemos o dinheiro para outra igreja fiel?”

    Na resposta por e-mail do núncio em 28 de março, obtida pelo Register, Eterović diz que a desfiliação da Igreja na Alemanha por preocupações de financiar sua trajetória atual “é considerada como deixar o sistema de financiamento da igreja na Alemanha, mas não deve ser entendida como apostasia da fé católica”.

    No entanto, o arcebispo Eterović nunca abordou a preocupação central dos Rodriguez sobre a recepção dos Sacramentos se eles deixassem a Igreja, apenas escrevendo que “como Núncio Apostólico na Alemanha, percebo essas preocupações e necessidades dos fiéis e lidarei com elas de acordo com minha designação e reporte ao papa Francisco e aos respectivos departamentos da Cúria Romana”, antes de oferecer uma reflexão extensa sobre a importância da Igreja Católica na Alemanha e a necessidade da evangelização.

    Rodriguez disse ao Register que está esperando a confirmação oficial de que ainda pode receber os Sacramentos antes de se desfiliar, mas que está chegando a um ponto de ruptura. “Não posso continuar a pagar por todos esses bispos heréticos”.

    Até que Roma responda com soluções concretas, Rodriguez e os católicos alemães como ele terão que continuar a pagar por um establishment da Igreja que promove abertamente o que eles sabem bem que são desvios da Fé católica. Ou arriscar “seguir sozinhos” e potencialmente perder o acesso à vida sacramental que os sustenta.



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Fonte:
ACI Digital, disp, em:
https://www.acidigital.com/noticias/catolicos-tem-que-escolher-financiar-caminho-sinodal-alemao-ou-ficar-sem-sacramentos-79378
Acesso 9/5/2023

2 comentários:

  1. A pergunta deveria ser outra... " será que os sacramentos recebidos de clérigos apóstatas ainda teriam validade"?

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  2. Quando se mistura o que é de Deus com o que é de César.

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