Junho: mês do Sagrado Coração de Jesus, Nosso Senhor

JUNHO É O MÊS em que a Igreja celebra o Sagrado Coração de Jesus, com a Solenidade do mesmo Sagrado Coração que, este ano, cai no dia 16. A data muda a cada ano porque é celebrada na sexta-feira após a oitava de Corpus Christi, ou na sexta-feira após o segundo domingo depois de Pentecostes.

    No entanto, existem outras razões pelas quais junho é dedicado ao Sagrado Coração. A festa remonta ao ano 1673, quando uma freira francesa da Ordem da Visitação de Santa Maria (Visitandinas) no leste da França começou a ter do Sagrado Coração. Jesus apareceu à Irmã Margarida Maria Alacoque e revelou formas de venerar o seu Sagrado Coração e revelou-lhe o imenso amor que tem pela humanidade, mostrando-se com o Coração visível, fora do peito, em chamas e rodeado por uma coroa de espinhos.

    Essas diferentes formas de devoção incluem participar de uma hora santa às quintas-feiras e receber a Eucaristia na primeira sexta-feira de cada mês. Essas visões continuaram por 18 meses.

    Em 16 de junho de 1675, Jesus disse à Irmã Margarida Maria que promovesse uma Festa em homenagem ao seu Sagrado Coração. Ele também deu a ela Doze Promessas feitas a todos os que veneram e promovem a devoção ao Sagrado Coração.

    Santa Margarida Maria faleceu em 1690 e foi canonizada pelo Papa Bento XV em 13 de maio de 1920. O Vaticano hesitou em declarar uma Festa ao Sagrado Coração, mas como a devoção se espalhou por toda a França, concedeu-o àquele país em 1765. Em 1856, o Papa Pio IX designou a sexta-feira seguinte à Festa de Corpus Christi como a Festa do Sagrado Coração para a Igreja Universal. Desde então, o mês de junho é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e ao seu imenso amor por todos nós.

    
    No calendário atual, a festa do Sagrado Coração de Jesus é uma Solenidade, a festa mais importante do calendário litúrgico, embora não seja um dia de guarda.

    Estas são as promessas que o Sagrado Coração de Jesus fez a Santa Margarida Maria Alacoque:

    Eu lhes darei todas as graças necessárias ao seu estado de vida.

    Darei paz às suas famílias.

    Eu os consolarei em todos os seus problemas.

    Serei seu refúgio na vida e principalmente na morte.

    Abençoarei abundantemente todos os seus empreendimentos.

    Os pecadores encontrarão em meu coração a fonte e o oceano infinito da misericórdia.

    Almas tépidas se tornarão fervorosas.

    Almas fervorosas ascenderão rapidamente a grande perfeição.

    Abençoarei os lugares onde a imagem do meu Sagrado Coração for exposta e venerada.

    Darei aos sacerdotes o poder de tocar os corações mais endurecidos.

    As pessoas que propagarem esta devoção terão seus nomes gravados eternamente em meu coração.

    No excesso da misericórdia do meu coração, prometo-vos que o meu amor onipotente concederá a todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras, durante nove meses consecutivos, a graça do arrependimento final: não morrerão no meu desagrado, nem sem receber os Sacramentos; e meu Coração será seu refúgio seguro naquela última hora.

    Embora as práticas próprias dessa devoção sejam de caráter facultativo e, por isso, os católicos que não as recitem não cometam pecado, existe algo de mais profundo aqui, que não é opcional, mas faz parte do Dogma da Igreja. O fundamento dessa devoção especialíssima foi descrito por Pio XII na encíclica Haurietis aquas (de 15 de maio de 1956): com esse documento o Papa procurou remediar duas graves tendências que, embora se opusessem uma à outra, tinham afinal o mesmo efeito nocivo. Por um lado, alguns devotos do Coração de Jesus acabavam se perdendo em práticas externas, sem atingir o núcleo da devoção; já outros o desprezavam, considerando essa devoção como um sentimentalismo vazio, desnecessário e sem sentido.

    Assim o Papa nos advertiu de que a fonte principal do culto ao Coração de Jesus é o dogma católico, que professa a fé no mesmo Jesus como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em razão disso, podemos “haurir águas das fontes da salvação” — haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris (Is 12,3) — sendo a principal a humanidade de Cristo, Deus que tem um coração que pulsa de santo amor, porque sua humanidade está intrínseca e pessoalmente unida à sua divindade, como a Igreja definiu dogmaticamente, na união hipostática.

    Naturalmente, se consideramos que Deus Todo-Poderoso é eterno e é puro espírito, temos que considerar que n'Ele não há movimento: ainda que o Antigo Testamento esteja repleto de citações do amor de Deus em termos humanos, como em comparação com o amor de mãe (cf. Is 49, 15), essas comparações não são absolutas. Porque da natureza divina de Deus, também o seu amor é divino. Mas, ao assumir um corpo humano, num mistério insondável, a Segunda Pessoa da Trindade assumiu também integralmente a condição da natureza humana, exceto o pecado. Desse modo, Deus passou a experimentar as emoções humanas: vemos nas páginas evangélicas como Jesus se emocionou diante da multidão que errava como rebanho sem pastor; como chorou pela morte de um amigo; como se angustiou até transpirar sangue nas trevas do Horto das Oliveiras; como irritou-se com a hipocrisia dos fariseus, etc. Este é o Deus Conosco, o Deus próximo que se fez nosso Amigo, algo até então impensável na concepção do divino que se fazia até o Evento da Encarnação, a partir do seio da Virgem Maria (e é por isso que tanto a honramos, também).

    A partir da União hipostática, o Papa Pio XII então distingue três tipos de amores em Deus: o divino, o espiritual e o sensível. E, estando esses três amores perfeitamente unidos e ordenados, uma vez que entre eles “jamais se interpôs a mínima oposição e discórdia” (Haurietis aquas, n.22), não só podemos como devemos prestar-lhes toda reverência e adoração. Por isso, o Papa vai citar São Basílio Magno, que diz acerca dos sentimentos de Jesus: “É manifesto que o Senhor possuiu os afetos naturais em confirmação da sua verdadeira, e não fantástica, encarnação; manifesto é também que ele repeliu como indignos da divindade os afetos viciosos, que mancham a pureza da nossa vida” (Epist. 261, 3: PG 32, 972).

    Não resta, então, dúvida a respeito da qualidade dos afetos de Jesus: são sentimentos puros e santos que, por estarem associados a uma Pessoa Divina, são merecedores da nossa adoração. Com frequência, somos iludidos pelas nossas paixões desordenadas e, movidos por atrações malditas que nos arrastam para a perdição, tornamo-nos reféns do maligno em troca de pequenos prazeres, tolos e muitas vezes humilhantes. Quantas pessoas se deixam enganar por paixões que, no final, revelam-se verdadeiros pesadelos! Jesus revela então o seu Coração “manso e humilde” (Mt  11,29) — saturado de Amor divino por cada um de nós,  — e nos convida a encontrar n'Ele o repouso das nossas almas. Os afetos de Jesus vão sempre ao lugar certo, e é uma grande consolação para nós saber que Ele sentiu nossos sentimentos, redimindo assim nossas lágrimas e decepções.

    Contra todo o grande indiferentismo e apatia mortal que reina nos dias de hoje, devemos fazer valer para o Brasil a Consagração de nosso país ao Coração de Jesus, que nossos representantes políticos fizeram durante o Congresso Eucarístico Internacional, no Rio de Janeiro, em 1955. Poucos sabem ou ainda se lembram disso, mas nessa ocasião, aos pés do Cristo Redentor – que é uma imagem do Sagrado Coração –, o senador Nereu Ramos proclamou, em nome de todo o parlamento, a solene fórmula: “Nós, como legítimos representantes do povo brasileiro, aqui vimos entregar-vos os destinos de nossa Pátria, que Vos foi consagrada pelo Episcopado Nacional, em presença do Chefe do Governo, no alto do Corcovado…” Essa consagração deve ser honrada por nós hoje, como legítimos herdeiros da fé de nossos antepassados e fiéis cujo coração se assemelha ao “manso e humilde” Coração de Jesus. Seja  Ele adorado e seja amado nesta Terra de Santa Cruz!

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