O corpo incorrupto da Ir. Wilhelmina Lancaster, OSB, na Abadia de Nossa Senhora de Éfeso, em imagem de 20 de maio de 2023 (Crédito: Kelsey Wicks/CNA). |
QUATRO ANOS APÓS a sua morte, a irmã Wilhelmina Lancaster fez pasmar o mundo. Como poderia o corpo de uma freira beneditina falecida permanecer intacto depois de anos deixado em um caixão furado? Afinal , o agente funerário que providenciara o enterro verificou que o corpo dela não fora embalsamado. Ele também afirmou que foi simplesmente colocado em um caixão de madeira, sem nenhum recipiente funerário adicional.
Surpreendentemente, o corpo da irmã Wilhelmina não apresenta sinais de decomposição nem exala qualquer odor. Milhares de visitantes já foram a uma abadia do Missouri (EUA) para ver esse aparente milagre público. Mas, claro, há os que não creem na hipótese de intervenção sobrenatural e propõem explicações naturalistas. Neste ensaio, esse fato incomum será descrito da forma mais neutra e clínica possível.
O que é incorruptibilidade?
Como aponta a autora Joan Carroll Cruz em seu livro "The Incorruptibles" (Os Incorruptíveis), os corpos humanos que permanecem preservados após a morte podem ser basicamente agrupados em uma de três categorias: 1) corpos que foram preservados deliberadamente (por processos artificiais, geralmente químicos); 2) corpos acidentalmente preservados (por condições naturais raríssimas); e 3) corpos que alguns cristãos chamam de incorruptíveis.
As múmias egípcias, por exemplo, enquadram-se na primeira categoria, embora outras culturas também tenham tentado preservar corpos de outros mortos. Restos deliberadamente preservados são normalmente fáceis de identificar: são múmias e se parecem com múmias.
Certas condições naturais também podem, às vezes, produzir corpos preservados. Por exemplo, alguns restos humanos antigos e quase intactos foram encontrados em lugares de climas quente e seco, como Egito e México. Pode-se dizer que tais restos estão em uma espécie de estado de mumificação acidental.
E há também o misterioso grupo dos corpos preservados de modo ainda inexplicado, como descrito por Cruz em seu livro. Fato é que desde a Ressurreição de Cristo, têm havido muitos casos documentados de corpos de santos homens e mulheres que permanecem incorruptos após a morte. Nessas situações, seus corpos não se decompõem de acordo com o padrão normal de decomposição, mas também não se assemelham a múmias.
Esses corpos incorruptos de Santos, claro, são incomuns, mas não chegam a ser raros. Por milênios, a Igreja investigou relatórios de incorruptibilidade para determinar se algum tipo de preservação intencional ou acidental poderia estar envolvida. Embora as pessoas do mundo antigo não tivessem a compreensão científica da decomposição dos organismos vivos que temos hoje, elas tinham muita experiência pessoal com a morte: sabiam exatamente como os corpos em decomposição normalmente se pareciam e cheiravam.
É por isso que Santa Cecília de Roma é uma maravilha. Existem registros antigos que descrevem a fidelidade heroica da virgem mártir Cecília na época de seu martírio, por volta do ano 177. Ninguém esperava encontrar seu corpo incorrupto em seu túmulo quando o abriram no ano 822, ou novamente no ano de 1599. Mas isso aconteceu.
Da mesma forma, ninguém esperava que o corpo de Santa Rita de Cássia permanecesse intacto desde sua morte em 1457 até os dias atuais. E ninguém esperava que seu corpo parecesse se mover de vez em quando na caixa de vidro em que está atualmente localizado. O "Compendium of the Miraculous", do diácono Albert E. Graham, descreve vários casos de incorruptibilidade, bem como um evento relacionado envolvendo Santa Lydwina de Schiedam. Santa Lydwina sofria de inúmeras doenças debilitantes e desfigurantes antes de sua morte em 1433, na Holanda. Após sua morte, muitas pessoas testemunharam que seu corpo parecia sereno e belo. Embora o corpo de Santa Lydwina não tenha permanecido incorrupto, não há razão científica para explicar como uma adolescente com úlceras e feridas no rosto ficaria melhor em seu funeral do que durante sua vida.
Há quatro casos de corpos incorruptos descritos no livro "The Leaven of the Saints" (O Fermento dos Santos), de Dawn Beutner ( Ignatius Press, 2023), e um dos mais inexplicáveis envolve Santo André Bobola. Esse padre jesuíta do século XVII morreu como mártir na moderna Bielo-Rússia depois que soldados cossacos o torturaram até a morte. O corpo mutilado de Santo André permaneceu intacto por quase quatro séculos.
Além da católica, as igrejas ortodoxas também reconhecem esses casos há séculos: na igreja russa, a incorruptibilidade parcial ou total do corpo após a morte tornou-se geralmente um requisito[1] para que essa pessoa seja reconhecida como santa, exceto no caso de martírio.
Em contraste, embora a Igreja Católica possa observar que o corpo de uma pessoa permaneceu incorrupto após a morte, esse fato por si só não é considerado essencial para a beatificação ou canonização. Isso ocorre porque a Igreja reconhece que, embora corpos de alguns Santos tenham permanecido incorruptos após a morte, isso não aconteceu com os corpos de outros grandes Santos canonizados. Se admitirmos o simples fato de que os corpos de alguns cristãos permaneceram misteriosamente incorruptos após a morte, que conclusões devemos tirar desse fato? Ou melhor, que lição Deus está tentando nos ensinar através desse fenômeno?
Levará tempo para a Igreja tomar uma decisão sobre a santidade da Irmã Wilhelmina. Mas não precisamos esperar para entender a mensagem mais óbvia oferecida por todo Santo cujo corpo está incorrupto. Afinal, quando olhamos para corpos incorruptos de Santas como Catarina Labouré e Bernadette Soubirous , eles nos parecem estar dormindo, esperando que o Senhor volte, assim como Ele prometeu que faria. Quando esse grande e terrível dia chegar, todos os Santos ressurgirão para encontrá-lo. Eles estão prontos. E nós?
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Dawn Beutner, Incorruptibility and Holiness, para o Catholic World Report, disp. em:
www.catholicworldreport.com/2023/06/04/incorruptibility-and-holiness/
Acesso 5/6/2023
É um grande mistério, e essa parte final do texto me faz tremer. Faz a gente pensar
ResponderExcluirSurgiu uma dúvida: Se as almas dos cristãos evangélicos já estão no Céu e a alma representa o ser em si com sua personalidade intacta pra que ressuscitar o corpo?
ResponderExcluir"Cristãos evangélicos"? Bem, a ressurreição dos corpos é desígnio de Deus, algo reafirmado diversas vezes na Bíblia Sagrada.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Bem, até onde eu sei os católicos apostólicos romanos são sim cristãos pois seguem a Jesus Cristo e evangélicos pois seguem o Evangelho do próprio Jesus Cristo é que geralmente se refere aos protestantes como evangélicos como se só eles(protestantes) fossem evangélicos mas sem dúvida os católicos apostólicos romanos são sim evangélicos. Mas veja: se a alma (ser em si) já está com Deus no melhor dos lugares ( Santo Céu) com as melhores pessoas ( Santissima Trindade, almas dos santos e os santos anjos) pra que precisa do corpo?
ResponderExcluirEntendi. Você tem toda razão, inclusive poucos sabem que os católicos já eram chamados de "povo evangélico" séculos antes do surgimento do protestantismo. Apenas se tornou unusual esse termo para se referir aos católicos em nossos tempos.
ExcluirSobre a ressurreição dos corpos, é um mistério insondável e particularmente complexo. É da vontade de Deus que habitemos o Céu integralmente, corpo e alma unidos, mas o nosso corpo será transformado e glorificado. Muitos teólogos consideram que esse corpo glorioso, na verdade, é mais espírito do que corpo, já que Nosso Senhor ensinou que, na Ressurreição, nossos corpos serão semelhantes aos dos santos Anjos (cf. Mt 22,30).
"Assim será com a ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual."
(1 Coríntios 15,42-44)
Fraternidade Laical São Próspero
Ressuscitaremos pois nossa natureza, como criada originalmente por Deus, não é puramente espiritual como a dos anjos: Deus quis que tivéssemos um corpo material e alma! Se não fosse assim, também Cristo não ia se encarnar afim de redimir os eleitos na sua plenitude humana: material e espiritual.
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