A aparição de Nossa Senhora em La Salette: a verdadeira história – parte 1


HÁ UM SITE/BLOG supostamente católico, administrado por leigos que pretendem catequisar outros leigos, com postagens que infelizmente recebem muitos acessos mensais. Digo infelizmente porque há muita desinformação e desonestidade envolvida no trabalho que essas pessoas fazem: sua suposta "catequese" acaba se prestando, frequentemente, a disseminar falsas informações e até terríveis preconceitos que só servem para atacar e minar ainda mais a fé dos católicos realmente fiéis, nestes nossos tempos já tão difíceis.

    Ocorre que esses, que se intitulam "catequistas", enquadram-se naquela categoria dos chamados católicos “jujubas” (dos quais já tratamos aqui) e são comprometidos com o tal novo projeto de "igreja sinodal" tão apoiado pelos apóstatas da verdadeira Fé cristã e que está em pleno curso. Já ajudaram a difundir calúnias absurdas contra Dom Lefebvre (veja) e agora se põem a falar sobre as aparições de Nossa Senhora de La Salette, mais uma vez prestando um desserviço ao desinformar aqueles que procuram informações confiáveis a respeito desse tema – que é realmente difícil e de complexa pesquisa.

    Queremos então tentar restabelecer a verdade, servindo, como é de nossa vocação, de auxílio àqueles interessados em conhecer os fatos, independente das opiniões particulares deste ou daquele “formador de opinião” de internet. Felizmente, veio em nosso auxílio o querido Revmo. Padre Wander  de Jesus Maia,  um pesquisador sério do assunto, com sua recém-publicada obra sobre as aparições marianas, intitulada justamente “Aparições marianas: Apelos maternos e avisos proféticos da Mãe de Deus" (Ecclesiae, 2023), a qual recomendamos vivamente.


    Com uma abordagem didática e um trabalho de pesquisa honesto. Pe. Wander resume a história das aparições de La Sallete e o sofrimento infligido aos seus videntes, perseguidos desde o início, dentro e fora da Igreja, justamente porque a mensagem que eles receberam não era aquela que tipos como os irresponsáveis que administram o blog “O Catequista” (sim, eles de novo) gostariam de ouvir. A seguir, apresentamos a primeira parte de uma série especial sobre as aparições de La Salette, com o apoio de Padre Wander e que desmascara muitas dessas velhas mentiras tantas vezes difundidas em páginas duvidosas.



    A primeira aparição mariana conhecida em que segredos proféticos foram revelados a videntes ocorreu no ano 1846, no povoado de Salette, nos Alpes franceses. Os videntes de Salette foram dois jovens pastores, Mélanie Calvat, de quatorze anos, e Maximin Giraud, de onze. Os dois contaram que a Virgem lhes apareceu enquanto eles estavam dando de beber ao gado numa fonte, e que ela chorava enquanto lhes dizia que estava sofrendo por causa da humanidade; avisou-lhes que coisas terríveis ocorreriam. Depois disso começaram a ocorrer curas milagrosas naquela fonte, que terminaram por chamar a atenção das autoridades da Igreja.


Atual Basílica de Nossa Senhora de Salette

    La Salette-Fallavaux é uma pequena aldeia situada nos contrafortes dos Alpes Franceses, na diocese de Grenoble. Sua pacata igreja é rodeada por algumas casas. Um pouco acima da montanha há outra aldeia, menor que a anterior. Seu nome é Les Ablandes e, juridicamente, depende de La Salette. 

    Na parte inferior das montanhas a neve se derrete na primavera, o que permite novamente a visão dos seus belos prados naturais. Os habitantes de La Salette, há muito tempo, levam seus rebanhos para ali pastarem, e contratam servidores para vigiar o gado. Foi exatamente essa a razão pela qual Mélanie e Maximin subiram o monte de La Salette, conhecido como Sous-les-Baises, no dia 19 de setembro de 1846. Os dois não eram de La Salette: suas famílias viviam em Corps. Ambos eram de famílias pobres e precisavam trabalhar para ajudar em casa. Por isso, puseram-se a serviço de dois proprietários de gado na condição de pastores. Mélanie e Maximin, até então, não se conheciam.

    O dia 19 de setembro desse ano foi a data em que Nossa Senhora lhes apareceu: primeiro uma luz, "diante da qual a luz do sol parecia pálida", que parece se entreabrir, e então perceberam no seu interior a forma de uma dama ainda mais brilhante. Essa Senhora tinha a atitude de uma pessoa profundamente aflita. Estava assentada sobre uma pedra, os cotovelos apoiados nos joelhos, e cobria o rosto com as mãos. As crianças não faziam ideia da magnitude do que estava ocorrendo naquele momento, e mais tarde relatariam:

    Maximin: "Embora estivéssemos à distância de uns vinte metros, ouvimos uma voz doce, como se próxima dos nossos ouvidos, que dizia: 'Avançai, meus filhos, não tenhais medo. Estou aqui para vos anunciar uma grande notícia'".

    Mélanie: "O vestido da Santíssima Virgem era branco prateado e todo brilhante. Não tinha nada de material, estava composto de luz e de glória variante e cintilante. Na Terra não há expressões nem comparação para usar, (...) tinha uma belíssima Cruz pendurada ao pescoço, com a imagem de Nosso Senhor Crucificado. Quase nas duas extremidades da Cruz, de um lado havia um martelo e do outro um torquês".



    O martelo era o símbolo daqueles que, pela má vida, pelo menosprezo da Lei divina e pelo ódio, continuam sempre como que a pregar Jesus na Cruz. A torquês representa aqueles que, por suas boas ações, diminuem as dores de Nosso Senhor e, dentro de suas possibilidades, como que tentam retirar os cravos que o prendem à Cruz. Em seu depoimento, Mélanie disse ainda:

"A Santa Virgem chorava quase o tempo todo enquanto falava. Suas lágrimas corriam lentamente, até os joelhos, e então desapareciam como faíscas de luz. Eram brilhantes e cheias de amor. Eu desejava consolá-la, para que não chorasse mais. Mas me parecia que ela tinha necessidade de mostrar suas lágrimas, para melhor evidenciar o seu amor esquecido pelos homens. Eu quis me jogar nos seus braços e dizer-lhe: 'minha mãe querida, não choreis! Quero vos amar por todos os homens da Terra!'; mas parece que ela dizia: 'Há tantos que não me conhecem...'"

    As palavras de Nossa Senhora tinham um efeito incompreensível: produziam o que significavam. As crianças viam com os olhos o que elas queriam dizer. Era como se o magnífico cenário natural do local tivesse se desvanecido, e em seu lugar houvesse agora uma imensa "tela" onde os pequenos pastores viam acontecer o que Nossa Senhora dizia. Aí contemplavam desde as menores coisas até a própria manifestação da Glória de Deus.

    A Santíssima Virgem estava coroada de flores; embora merecendo todos os tronos da Terra, parecia só ter encontrado aquele improvisado e florido banco de pedra para se assentar. Quando a viram, as crianças tiveram medo de se aproximar mais. Nesse momento, a majestosa Senhora pôs-se suavemente de pé, mas a planta de seus pés apenas roçava levemente o gramado, ela suspensa no ar. Cruzando suavemente seus braços, chamou as crianças. 


Concepção artística de Nossa Senhora de La Salette

    A expressão "meus filhos" expressa a maternidade de Nossa Senhora. O "não tenhais  medo" revela sua sensibilidade para com o compreensível medo dos videntes, diante da tensão provocada pela cena sobrenatural. Assim como aconteceu com outros videntes (Santa Bernadette, Santa Catarina Labouré, os Três Pastorinhos de Fátima), Mélanie e Maximim sentiam um misto de amor e imensa alegria, além do assombro por estarem diante da Mãe de Deus.

    As crianças se aproximaram então, mediante a ternura da Virgem, querendo averiguar porque ela não parava de chorar. De fato, o pranto de Maria Santíssima é a grande marca dessa aparição. Uma década e meia antes, em Paris em 1830, de seus olhos já corriam algumas lágrimas pelos males que assolariam a França. Mas em La Salette ela chorava profundamente. 

    Cabe notar que em cada aparição, Nossa Senhora surge com a aparência das mulheres locais. No México, a Virgem de Guadalupe apareceu com os caracteres físicos do povo local: uma asteca puríssima e celestial; assim também em Paris, como Nossa Senhora das Graças e, novamente, em La Salette. Ela se vestia conforme e tinha a aparência das mulheres daquela região: ainda que "toda de luz", era alta, usava um vestido longo com um grande avental à frente, um lenço cruzado amarrado às costas, usava uma touca própria das camponesas locais, com rosas coroando sua cabeça e ornando seus calçados. Em sua fronte, a luz brilhava como um diadema luminoso, pela glória de Deus. As lágrimas desciam por sua faces como as que derramara no Gólgota. Sobre os ombros carregava uma grande e pesada corrente, além da outra mais leve, que lhe pendia sobre o peito, com o crucifixo.

    Ler a continuação

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Fontes e bibliografia:
MAIA, Pe. Wander de Jesus. Aparições marianas: Apelos maternos e avisos proféticos da Mãe de Deus, Campinas: Ecclesiae, 2023, pp. 25-28.
DUFAUR, Luís Eduardo, A aparição de La Salette e suas profecias. São Paulo: Petrus, 2011.
BLOY, Leon, Aquela que chora. Campinas: Ecclesiae, 2016
SULLIVAN, Randall. Detetive de Milagres. São Paulo: Objetiva, 2005.

2 comentários:

  1. Os hereges modernistas e seus defensores não suportam essa profecia porque ela fala da crise criada pelos falsos apóstolos!

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