RECENTEMENTE, O ARTICULISTA do portal espanhol Infocatolica, que assina como Bruno M., tendo em vista os apavorantes augúrios do iminente "Sínodo da Sinodalidade", publicou um texto no qual tenta resumir e listar as reações possíveis aos fiéis católicos mediante a crise sem precedentes que vivemos e as ideias contrárias à Fé verdadeira introduzidas na Igreja nas últimas décadas, já que o grupo dos católicos resistentes quase nada foi capaz de fazer para impedir toda essa desgraça. Diante do terror da situação, muitos se apavoram sem saber a quem recorrer ou aonde procurar ajuda, e as iniciativas dos que pretendem resistir à destruição generalizada, mantendo a fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho, são ainda incipentes e desencontradas. Seguem as soluções propostas pelo autor, com tradução de Henrique Sebastião.
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A primeira coisa: deixe Deus fazer, confia n'Ele e tem paz n'Ele, porque hoje, como há dois mil anos e como sempre foi e será, quem conduz, protege e salva a Igreja é Cristo, seu Esposo, e não nós . A solução substancial para os nossos problemas virá, porque não pode vir de nenhum outro lugar, nem para esta crise específica, nem definitivamente, quando chegar o fim dos tempos. Em todo caso, tudo é graça. Quem acredita que o destino da Igreja depende de si (ou dos homens) e não de Jesus Cristo é porque não entendeu nada sobre o que é o Cristianismo. Sem isso em mente, tudo o que fizermos será contraproducente, porque estaremos construindo a Igreja sobre a lama de nossas próprias forças, e qualquer progresso será uma miragem.
Em segundo lugar, Deus quer que nos associemos à sua obra de salvação e, nesse caso específico, à luta pela Igreja e pela Fé . Deus vult! A vida cristã é sempre uma batalha e o cristão, que todos os dias faz o Sinal da Cruz sobre si é sempre um "cruzado", embora não esteja na moda dizer tal coisa. Isso pode parecer romântico ou até infantil, mas somos como crianças que tentam ajudar o papai a realizar um trabalho pesado e difícil: o pai não precisa da ajuda deles, o que será mais um estorvo do que qualquer outra coisa, e ele é suficiente e mais do que suficiente para fazer o trabalho. Porém, o bom filho quer ajudar o pai e o bom pai gosta de ver como o filho se esforça para ajudá-lo, imitando-o em tudo e querendo estar sempre junto com ele. Nós, sozinhos, nada podemos fazer, mas a força d'Ele se manifesta na nossa fraqueza , porque Ele quis assim. Vamos, então, atrás da bandeira "de Cristo, Capitão supremo e Nosso Senhor", como dizia Santo Inácio. Nossa Mãe Igreja está ferida e cercada por seus inimigos, precisando de nossa ajuda. Apressemo-nos para ajudá-la.
Como podemos nós, leigos, colaborar com a solução da crise da Igreja neste momento específico? Na minha opinião podemos usar uma combinação de várias estratégias , de acordo com as circunstâncias de cada um:
a) Estratégia de Maria, irmã de Lázaro: lembrando que a contemplação é superior à ação, devemos redobrar essa contemplação. Quanto mais urgente for fazer as coisas, menos devemos ceder à tentação de colocar a ação sobre a contemplação. Necessitamos da oração, dos sacrifícios, da liturgia das horas, da leitura das Escrituras e das vidas dos Santos, da reza do Rosário e da Missa para fixar o olhar em Deus, na sua sabedoria e na beleza de tudo o que faz. Isso é fundamental, e a esterilidade da maior parte do que fazemos decorre de sua ausência. Além disso, a amargura e o desespero que se percebem em grande parte das reações dos bons católicos vêm do fato de que precisamos olhar mais do que nunca para Deus. Oremos a tempo e fora de tempo. Trabalhar e rezar. Como diz a letrilha de Santa Teresa, “Não durma mais, não durma, porque não há paz na Terra”.
b) Estratégia de São José: como ele, devemos fazer santamente o que sempre fizemos. Sei que parece contraintuitivo, mas os nossos deveres diários são mais importantes do que nunca: criar e manter lares cristãos, que são pequenas igrejas nas quais subsiste a Igreja universal. Naqueles oásis no meio do atual deserto, a Fé verdadeira sobrevive, cresce, se transmite, frutifica e atrai os pagãos. São as brasas da Fé e da civilização que se mantêm vivas nos lares, ainda que o mundo e boa parte da Igreja se afundem na escuridão. São José não participou do ministério público de Cristo, mas a Sagrada Família que formou com Nossa Senhora foi essencial para a obra da Redenção, porque nela nasceu o Salvador do mundo. Deus gosta do pequeno, e quem não é fiel no pouco, também não será fiel no muito.
c) Estratégia de Aarão e Hur: na luta de Israel contra os amalequitas, Moisés rezou com os braços erguidos e Deus ouviu sua oração e deu vitória ao seu povo. No entanto, ele estava ficando cansado e baixou os braços, de modo que Aarão e Hur tiveram que apoiar seus braços para que a bênção de Deus continuasse chegando ao povo. Da mesma forma, temos uma séria obrigação e, nestes tempos, uma necessidade urgente de apoiar os [poucos] bons padres e bispos que restam. Muitos não sabem, mas a situação atual da Igreja é ainda mais angustiante para os sacerdotes (os bons, claro; os outros ficam encantados ou não percebem nada) que estão na linha de frente da batalha, à mercê de seus superiores, que tantas vezes lhes tornam a vida impossível por serem fiéis à fé recebida. Vamos ajudá-los. Não só com as nossas orações, mas também com a nossa proximidade, o nosso carinho e a nossa ajuda material. Assim poderão combater o bom combate da fé , sabendo que não estão sozinhos.
Vamos entrar nessa luta. Convidemo-los para as nossas casas, vamos confortá-los, preocuparmo-nos com as suas necessidades materiais, elogiar publicamente o bem que fazem e ofereçamos-lhes a nossa ajuda e a nossa amizade. Se o fizermos, estaremos colaborando com todo o bem que eles puderem fazer: quem recebe um profeta por ser profeta, terá a recompensa de profeta .
d) Estratégia de Elias: no Monte Carmelo, diante dos 450 profetas de Baal, Elias gritou aos israelitas para envergonhá-los: "Até quando vocês vão andar de muletas? Se o SENHOR é Deus, que o sigam; se for Baal, sigam Baal...". O mesmo devemos dizer aos homens da Igreja nestes tempos de confusão, censurando-os publicamente por se desviarem da Fé e exigindo que nos deem o Pão da Fé e não as pedras de ideologias mundanas. Temos o direito e o dever de o fazer, cada um na medida das suas possibilidades e formação, com humildade e caridade, mas também com firmeza.
Um a um ou em conjunto, como em declarações e súplicas coletivas. Não podemos continuar em silêncio. Como dizia Santa Catarina de Siena, porque você se calou, o mundo está podre. Acordemos os que dormem, fortaleçamos nossos joelhos vacilantes e toquemos os sinos para rebater o mal que nos assola! (...) Aqueles que tentam tornar a Igreja mundana têm medo da luz, porque sabem que seus fins são indescritíveis e suas posições indefensáveis. Vamos esclarecê-los sem descanso, até que o demônio fuja e a verdade brilhe.
e) Estratégia de Matatias: Quando o rei Antíoco IV começou a substituir a religião de Israel pelo paganismo, os judeus o toleraram em silêncio. Um dia, Matatias, vendo um judeu que cedeu às pressões de um oficial de Antíoco e ofereceu sacrifícios a ídolos, irritou-se ao extremo e matou o idólatra e o oficial. Mais tarde, com seus cinco filhos, subiu à montanha e iniciou a revolta dos macabeus. Nós também devemos dizer "basta" e parar de tolerar o mal. A tolerância do intolerável na Igreja é o que nos trouxe até aqui. Se um padre pregar contra a Fé, não deixemos passar, só porque se trata de um padre e nós somos apenas leigos: falemos e gritemos, se preciso for,m que isso é inaceitável, não iremos às suas missas, que reclamaremos com o bispo [mesmo que isso seja inútil], quantas vezes forem necessárias, como a viúva que pedia justiça ao juiz corrupto, dia e noite. Se é o bispo quem diz atrocidades, queixemo-nos a Roma, mesmo que pareça e talvez seja inútil.
Se coisas anticatólicas são ensinadas em uma escola católica, ou livros nocivos à formação moral dos nossos filhos são dados, vamos protestar e incomodar, mesmo que isso nos dê uma reputação de encrenqueiros. Se uma diocese ou uma escola católica colocar anúncios em um portal heterodoxo, vamos enviar cartas para parar de apoiar a heterodoxia. "Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada", disse Burke, com razão.
f) Estratégia de Priscila e Áquila: Em sua primeira Carta aos Coríntios, São Paulo envia saudações deste casal de judeus convertidos ao Cristianismo e daqueles que "se reúnem em suas casas". A criação de lares cristãos é fundamental, assim como esses pequenos grupos informais em torno da verdadeira Fé católica que têm se formado aqui e ali, ainda timidamente, com amigos e conhecidos que se reúnem nos lares, seja para falar de Deus e da Igreja ou sobre bons livros, rezar o Terço ou qualquer outra coisa que ajude na boa formação, ou mesmo apenas para um lanche. Esses grupos podem funcionar como refúgio, conforto e alívio mútuo nestes dias de sofrimento, como lugares em que as crianças encontrem outros jovens católicos (algo cada vez mais difícil de acontecer) e como semente para possíveis ações em defesa da Fé católica autêntica. Idealmente, é muito importante que isso seja feito presencialmente, mas para aqueles que estão sozinhos, a internet pode ajudar.
g) A estratégia de São Pedro: numa das suas Cartas, o primeiro Papa nos diz que cada um, segundo o dom que recebeu, se ponha a serviço dos outros, como bons despenseiros da multifacetada Graça de Deus. Ou seja, cada um contribua com os talentos que recebeu do Céu, pois saberá fazê-lo melhor do que ninguém. Quem sabe argumentar deve argumentar contra os sofismas que entraram na Igreja. Se alguém souber organizar, que organize atos de oração, enviando cartas ou petições coletivas ao Papa e aos bispos. Quem tem dinheiro só deve doar a bons padres e às iniciativas realmente fiéis à Fé da Igreja, deixando claro aos clérigos infiéis por que não lhes dão o seu dinheiro. Quem tem forças, organize e faça peregrinações. Quem estiver doente ou velho, ofereça a Deus suas dores. Quem não conhece bem a Fé para defendê-la, deve procurar educar-se. Quem é ativo em redes sociais, coloque-se a serviço da purificação da Igreja. Quem é próximo de um bispo, busque aconselhá-lo e até repreendê-lo, com respeito e caridade. Quem puder, seja catequista em sua paróquia e ensine a verdadeira Fé a quem, dentro de alguns anos, será pai ou mãe, sacerdote ou religioso... A lista é interminável e os leitores certamente poderão contribuir com uma infinidade de ideias .
Agir? Claro, podemos fazer mil coisas, mas que tudo seja feito confiando em Deus e sem amargura ou desespero, com a alegria de saber que Cristo já venceu e não deixará sua Esposa desamparada. Se nos colocarmos nas mãos de Deus e lhe oferecermos nossos pobres "pães e peixes", Ele fará, literalmente, milagres através de nós. Tudo posso naquele que me consola! O Céu é o limite, dizem os ingleses, e, nesse caso, o fim é literalmente o Céu, porque, antes de alcançá-lo, o Senhor perguntará a cada um de nós: "O que fizeste para ajudar minha Esposa em sua aflição"?
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Fonte:
¿Qué podemos hacer los laicos en concreto?, disp. em:
https://www.infocatolica.com/blog/espadadedoblefilo.php/2307170906-ique-podemos-hacer-los-laicos?fbclid=IwAR3OmYMTl56lC9zgUgbyP9GEB-UTxlQJH_6PZUI-dShMf-oq_4Jo4Gt7j70#more44377
Acesso 20/7/2023
Excelente artigo, assim como os demais aqui publicados.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho do Apostolado. Deus lhe pague sempre!
Deus o ilumine e guarde, meu caro.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero