Traduzido e adaptado por Henrique Sebastião do artigo de Larry Chapp para o Catholic World Report
NA MINHA JUVENTUDE, frequentei um seminário conservador em minha formação de graduação. Eu estava bem com isso, já que, teologicamente, eu era um jovem conservador, cheio do zelo que geralmente vem com o idealismo juvenil. Era a época da insanidade antinomiana (só a fé basta) pós-conciliar, e parecia que a Igreja havia se tornado o refúgio preferido dos clérigos canalhas de todas as convicções teológicas dissidentes. Mas João Paulo II acabara de ser eleito, então também parecia haver esperança de que um jovem católico conservador como eu poderia realmente encontrar um lar e um porto seguro na Igreja.
Mas eu estava errado.
Durante meu último ano no seminário (1980-81), a Diocese de Covington, Kentucky, onde residia o seminário, recebeu um tipo de bispo novo e muito mais liberal; era aquela igreja dos anos 1970... O que se seguiu de imediato foi um verdadeiro expurgo, com muitos bons padres e professores sendo expulsos – sem, é claro, qualquer processo ou “diálogo” (sabemos que todas essas pessoas tão 'tolerantes' só dialogam com quem pensa exatamente igual a eles). Todos foram substituídos por padres muito liberais do tipo “saltitante” que gosta de música e danças animadas durante a Celebração Eucarística. Eles imediatamente instituíram um novo programa de formação, caracterizado pela então fetichização popular da famigerada “abertura”, que por sua vez logo levou a um reinado de terror em que as vocações foram aniquiladas, e o caráter pessoal de muitos seminaristas, assassinados.
A única maneira de sobreviver era me fingir de morto e agir como se não acreditasse em nada (fingir que era um deles). Nada podia ir contra a supremacia do novo regime. Não tinha permissão para expressar abertamente o meu amor pela alta liturgia, que era vista como sinal de uma “rigidez” troglodita e retrógrada. Mas todos eram encorajados a expressar o seu amor por festas e por ficar "chapados", como um sinal de sua abertura para o mundo. Era, portanto, bastante claro que nem todas as rigidezes eram iguais.
Mas o que mais me impressionou, mesmo naquela tenra idade, foi a manipulação da linguagem para promover esse novo gnosticismo sensual como um legítimo “desenvolvimento da Doutrina”. Disseram-nos isso em uma sucessão de palestras de "reeducação" chamada “Days of Recollection”!
Havia também uma eclesiolatria irônica acontecendo. Toda a ênfase estava na Igreja como geradora da verdade que, nesse caso, era um conjunto de novas verdades, mas não na Igreja como preservadora das verdades que lhe foram concedidas por Deus na Revelação divina. E na medida em que eles enfatizavam que somente Deus era a fonte da verdade da Revelação divina, era apenas para reforçar algum conceito voluntarista bizarro de um Deus que poderia simplesmente inventar coisas radicalmente novas e contrárias às antigas, conforme isso convinha a eles. Era claro que realmente não acreditavam em nada disso; tudo era apenas uma mera estratégia para descartar a normatividade da Revelação divina como algo obrigatório.
Os revisionistas mais intelectuais apelaram para um conceito de Deus como uma espécie de vago gás hegeliano, ou um tipo de campo de plasma que permeava os processos históricos e só chegava a si mesmo no fluxo heraclitiano de um “ser subjetivo”. Assim, a Revelação divina era reduzida a um mero processo ou pedagogia em movimento dinâmico “para frente”, em sempre novas permutações históricas.
Portanto, o que era verdade ontem pode ser falso hoje, pois a pedagogia de Deus na Revelação seria caracterizada por um desdobramento histórico, como aquele pelo qual passamos da infância à idade adulta, com muitos erros ao longo do caminho. E esses erros podem incluir o que está contido na Bíblia e nos dogmas da Igreja – erros que foram produto de um estágio adolescente mais ingênuo e pré-científico de nosso desenvolvimento e que somente agora temos o ponto de vista certo para corrigi-los. Porque estamos agora, em nossas próprias mentes, na fase “adulta” da pedagogia.
Isso é o que C. S .Lewis quis dizer com “esnobismo cronológico” , que é uma característica peculiar, mas definidora, da mente especificamente moderna, que se vê como desfrutando de um ponto de vista racional e científico indisponível para as gerações anteriores. Em outras palavras, a História seria como um ônibus que passa por muitos lugares até chegar a um ponto terminal – e esse ponto seríamos nós mesmos. Havia uma curva na História, e ela se curvou direto para a garagem do liberalismo moderno. E agora a porta da garagem está fechada.
O erro em tudo isso é que, embora a Revelação seja de fato historicamente fundamentada e envolva um lento desdobramento pedagógico da autorrevelação gradual de Deus, o ponto terminal dessa Revelação não é o liberalismo moderno, mas a particularidade bem mais chocante da singularidade absoluta de um Judeu Galileu do primeiro século. E isso significa que a Igreja não é uma geradora de verdade através do caminho de um reconhecimento curado do tesouro de pensamento do liberalismo, mas através de um gradual confronto com toda a profundidade da vida daquele Judeu Galileu como a personificação do próprio Deus e a própria autoexegese da lógica de Deus, em uma unidade de Pessoas .
Esses gnósticos católicos revisionistas continuaram a usar palavras como “Revelação”, mas as revestiram de novos significados sutis. Os herdeiros de Rahner apelaram para o “cristianismo anônimo” e “a estrutura transcendental da experiência espiritual não tematizada” como o novo local privilegiado para discernir a Revelação divina de Deus – uma “revelação” que aparentemente, agora, só pode ser compreendida pelos alemães! E havia referência constante a alguma noção vaga e essencializada de “homem moderno” e no que essa construção não podia mais acreditar – mas tudo o que realmente significava era o que os eurocratas burgueses secularizados do final do século 20 consideravam cultural e politicamente intragável.
Acho que estamos vendo o ressurgimento de uma nova versão dessa velha dinâmica, especialmente em todas as reviravoltas e agitações atuais em torno da “sinodalidade”. Na realidade, o gnosticismo doceticista e marcionita pós-conciliar nunca desapareceu, pois continuou a viver em quase todos os lugares do grêmio acadêmico católico. E, apesar do surgimento de vozes teológicas significativas contra essa hegemonia, continua sendo verdade que a agulha teológica eclesial está agora se movendo mais uma vez para a esquerda e de maneiras que são notavelmente semelhantes ao antigo gnosticismo, que nunca realmente morreu, mas simplesmente atuou mais discretamente durante os dois pontificados anteriores.
Portanto, minha reivindicação é simples. A saber, que embora haja novos elementos no neoprogressismo de hoje, é uma recorrência da narrativa mais antiga, mas agora enfeitada na verborragia do “discernimento”, “acompanhamento”, “inclusão”, “escuta” e “sensibilidade a situações complexas”. Mas o que eles realmente querem é justamente reacender o fogo dessa revolução pós-conciliar e reabrir os debates sobre ordenação de mulheres, contracepção, intercomunhão com protestantes, comunhão para divorciados recasados, coabitação e luz verde para todo o mundo LGBTQ+IA++ de infinitas siglas de identidade sexual.
Isso pode ser facilmente discernido lendo o que foi escrito por pessoas como os cardeais McElroy e Hollerich, bem como muitos outros eclesiásticos menores associados ao planejamento do caminho sinodal – em direção ao entendimento sinodal do povo sinodal em suas circunstâncias sinodais enquanto olham para o Jesus sinodal. Sim, a absoluta vacuidade do termo “sinodal”, conforme é lançado no Instrumentum Laboris como um encantamento e um mantra, é uma pista clara de que é uma chave para outra coisa. A “coisa” que o termo “sinodal” denota não é a que eles dizem que é. Portanto, o caminho sinodal a priori parece, para todos os efeitos, um conjunto de conclusões teológicas prestabelecidas em busca de um processo de legitimação. E esse “processo” que nos levará às conclusões desejadas é chamado de “sinodalidade”, não importa o que esse processo venha a ser.
Seu interesse não reside em uma verdadeira reforma das estruturas jurídicas da Igreja. Não é isso que eles estão realmente procurando, e as ações de Francisco e seus aliados episcopais o comprovam, pois há pouquíssima sinodalidade colaborativa em jogo no estilo de governo deste papa, que manda e desmanda, sempre dando ouvidos apenas ao lado situado mais à esquerda em qualquer demanda, e pronto. Se eles tivessem respeito por sua própria retórica sobre uma Igreja mais sinodal, eles respeitariam o processo sinodal, o que não acontece.
À frente saíram os bispos alemães, incluindo o cardeal Marx, bem como o chefe da conferência episcopal alemã, que afirmaram que, embora seu próprio processo sinodal não tenha alcançado a maioria necessária de dois terços em apoio à revolução, eles ainda vão seguir em frente e implementá-lo em suas dioceses. Então, por que eles simplesmente não fizeram isso em primeiro lugar? Porque eles realmente pensaram que a falsa democracia da via sinodal produziria os resultados desejados, o que lhes daria o pretexto para fazer o que já iam fazer de todo modo, mas então com a folha de figueira da respeitabilidade jurídica cobrindo seus lombos apóstatas.
Já os belgas estão avançando com rituais para abençoar uniões do mesmo sexo, sem nenhum pio emanado pelo Vaticano que os impeça. Bem, talvez, se o novo ritual fosse em latim, o Papa pudesse intervir contra tal “atraso”, mas a sua mentalidade de “não há inimigos à minha esquerda” até agora o manteve em silêncio quanto a toda sorte de profanações da fé e dos templos sagrados.
Parece, então, que o trem de carga do diálogo segue por trilhos que só se movem em uma direção – a laica liberal – e está decidido que o Sínodo privilegiará apenas essas vozes para chegar a conclusões já antes determinadas. A “sinodalidade” surge assim como um jogo cínico e um ardil estratégico para trazer pela porta dos fundos o que não poderia simplesmente ser trazido diretamente pela porta da frente. É a destruição do próprio conceito de “Verdade” na Teologia e sua substituição por um cálculo puramente sociológico e político. Assim, você é um “inimigo” político ou um “amigo” do Papa Francisco, e esta é a única regra que importa.
Mais uma vez, não se trata de novidade. Já vimos tudo isso antes. Haverá apelos ao "diálogo", "inclusão", "diversidade", "abertura", "parresia" e "democracia", até que os resultados desejados sejam alcançados: nesse ponto, todo o "diálogo" cessará. A porta será fechada, e qualquer um que discordar da afirmação neomontanista de que “Deus está fazendo uma coisa nova” será descartado como fanático, reacionário, retrógrado, rígido e dissidente. Será punido de todas as formas como alguém que ousa "falar mal do Vigário de Cristo". Carreiras teológicas serão arruinadas, pastores bem sucedidos serão transferidos para a Conchinchina [ou para a diocese de Frederico Westphalen], ou encarregados dos cemitérios diocesanos, e seminários serão instruídos a eliminar os inimigos, os obstrucionistas recalcitrantes.
Então, por favor, fique atento. Preste atenção, por exemplo, ao estilo da arte associada ao Sínodo. Tudo se parece com a arte eclesiástica caricatural dos anos 1970, e não acho que seja um acidente. É apenas mais uma evidência do mundo do pensamento que essas pessoas habitam. Tudo está acontecendo de novo, agora com mais força, porque o Papa está abertamente envolvido; mais que isso, é ele mesmo o grande líder da revolução.
Os (ainda) defensores mais conservadores de Francisco, assim como os esquizofrênicos que dizem por um lado "Sua Santidade" e por outro que as suas heresias são como "uma manada de elefantes irrompendo pela sala de estar", estão desesperados para manter uma narrativa ultramontanista de reconhecimento da legitimidade de tudo, não importa – realmente não importa – o que aconteça, seja o que for, até mesmo se ele disser que Jesus não é Deus ou que Satanás estava certo o tempo todo. Surgem dizendo que o Papa Francisco disse muitas coisas maravilhosas sobre os objetivos do Sínodo e que ele advertiu contra esse tipo de teologização neomodernista... A culpa não é dele, ele não sabia... Mas os seus amigos e aliados mais próximos, em seus vários escritos sobre o Sínodo próximo e suas muitas nomeações episcopais, afirmam o contrário; todos os atos de Bergoglio gritam o contrário; os homens que ele está tornando cardeais nos lançam em face o contrário.
Constante e consistentemente, as ações de Francisco minam as palavras dos que tentam defendê-lo, e de forma alguma transmitem confiança de que seu governo evitará entregar as chaves do Palácio aos vândalos teológicos que estão acampados do lado de fora dos seus portões há sessenta anos.
É a igreja profunda como afirma Dom. Viganò, a Deep Church a todo vapor. Muita pena porque a maioria dos 'católicos' não estão enxergando ou não querem enxergar a revolução. Pessoas queridas que não conseguem acordar para a realidade do que está acontecendo bem na frente delas. Ninguém consegue parar mais essa revolução, somente Nosso Senhor quando Ele achar que é o momento. Penso que vai piorar muito ainda. La Salette e Fátima tão presentes nestes dias. Graças ao Bom Deus temos a Santa Missa de Sempre aqui na minha cidade quando o padre vem; isso nos alimenta a Fé; Rosário todos os dias. Vamos sobrevivendo assim nesses dias maus. Nosso Senhor disse que será preciso abreviar essa tribulação, senão ninguém se salva, nem os eleitos. Nos apeguemos também a isso que Ele disse. Parabéns pelo excelente artigo muito necessário.
ResponderExcluirDeus a fortaleça e guarde, minha cara Ana Maria. De fato é quase inacreditável o modo como tantos se recusam a enxergar aquilo que se passa bem diante dos seus olhos, e continuam preferindo viver em seus mundinhos particulares de faz-de-conta. Por favor, reze pelo nosso apostolado, se possível como intenção da santa Missa e do Rosário.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
O tema do Sinodo e da sinodalidade deve ser mais aprofundado para ser combatido.
ResponderExcluirMuitos não entendem o problema disso, bem como as heresias envolvidas, pois acreditam nas falas de uma parte do clero que foi educada nos conceitos do CVII, consequentemente a fé ja vem sendo corrompida.
Outras pessoas recebem tudo isso, pois é coerente com sua forma de vida desregrada e por sua ideologia moderna.
A falsa democracia da sinodalidade é fruto do CVII.
Com a sinodalidade, as autoridades se eximem de culpa, jogando o erro para fiéis, que na verdade não definiram nada, mas foram usados como bodes expiatórios das ideias nefastas dos lobos ideologicos e dos poderes globalistas, os quais são tidos como propostas superiores e principais dos interesses na cupula da Nova Igreja Conciliar Sinodal.
É um erro achar que se está falando da Igreja Catolica tradicional. Não, isso é um erro que muitos não querem entender ou não conseguem compreender e aceitar.
Estamos tratando da Nova Igreja, como dizia Gustavo Corção.
A pergunta a fazer é: onde está a verdadeira Igreja Católica dentro do Vaticano?
Vcs ficam de mi-mi-mi mas essa revolução modernista vem desde o herético modernista e liberal Vaticano II com seus falsos apóstolos. Estudo essa profunda crise desde 2014, e cheguei a conclusão que ela só tem toda essa força porque a maioria esmagadora dos católicos deixam, por covardia e respeito humano acima do respeito à Cristo.
ResponderExcluirBergoglio é um herege público e escandaloso um falso apóstolo, a sede está vacante. ACORDEM CATÓLICOS PELA AMOR DE DEUS!
Particularmente, considero o sedevacantismo uma posição teológica válida. Mas essa sua postura arrogante tipicamente protestante também não ajuda em nada.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Quando uma pessoa coloca o pé em uma lagoa de piche, em principio tem a impressão de que aquilo tem alguma solidez, já que o pé não afunda de imediato. Então, ela não vê problema em colocar o outro pé. Daí em diante... é inevitável que enterre os tornozelos, cintura, pescoço e, por fim, a própria cabeça, a menos que alguém a tire de lá. Mas, para tanto, ela também precisa querer ser tirada do poço. E, obviamente, seria bem mais fácil de se tirá-la enquanto o afundamento estava apenas nos pés. Assim é com a Igreja. Há princípios que não podem ser negociados, sob nenhum pretexto. As lideranças deveriam estar pensando no fardo que jogam às costas de Jesus, como se o sacrifício dele já não tivesse sido o bastante. Sim, para quem sobrará a tarefa de tirar a Igreja do piche?
ResponderExcluirMas qual é a posição oficial da Igreja Católica Apostólica Romana sobre essa questão? A Santa Sé está vacante ou não?
ResponderExcluirUma pergunta que deveria ser muito simples, hoje não é. Justamente essa "oficialidade" da Igreja está em questão, porque há um choque direto entre a Autoridade anterior ao Concílio e a atual.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Não é arrogância, e nem muito menos arrogância de hereges protestantes. Aliás, prezado Henrique, pra "igreja" conciliar nascida do herético modernista e liberal Vaticano II não existe mais heresia protestante, os falsos apóstolos comemoraram os 500 anos da heresia protestante e até fizeram acordos teológicos com. Os hereges luteranos que o Concílio infalível de Trento condenou e excomungou.
ResponderExcluirRepito, não é arrogância é desespero em ver como milhões de almas vão se perder por de deixarem guiar por esses falsos apóstolos.