Mélanie Calvat e Maximin Giraud, os videntes de La Salette, retratados pouco tempo após a Aparição que colocaria suas vidas de cabeça para baixo. |
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O porquê da polêmica
Afinal, qual era o grande segredo de La Salette? Por que foi tão perseguido pelos revolucionários? O grande Léon Bloy disse, em sua obra referencial[1], que a mensagem de La Salette foi odiada tanto por aqueles que querem destruir a Igreja quanto por aqueles que querem viver uma vida cristã morna e sem compromisso: muito desconcerta e tanto incomoda os que não querem levar Deus a sério.
A versão redigida em 1851, entregue por Mélanie ao Bispo e encaminhada por dois emissários ao Papa Pio IX, ficou lacrada e "misteriosamente" desapareceu no final do século XIX (de modo semelhante, também 'sumira' o Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, escrito por São Luís Montfort). Diz o Padre Wander, nosso consultor para esta série, que o demônio parece ter dado "um jeito de sumir com esse escrito com o objetivo de desmoralizar a pobre Mélanie" [MAIA, 2023, p.37], que já vinha sofrendo perseguições e sendo alvo de absurdas calúnias. A respeito da vidente, escreveu Bloy:
A tudo isso Mélanie só podia opor sua santidade, a imensa beleza de sua alma, universalmente não digo ignorada, mas desconhecida. (...) As lendas fabricadas pelo demônio são tão tenazes que, por muito tempo ainda, pensou-se que a Pastorinha de La Salette tinha acabado muito mal; que depois de uma graça extraordinária, da qual a menos piedosa das crianças do primeiro catecismo teria sido mais digna, ela recaiu, quase imediatamente, na tibieza, na indolência da alma, na vaidade, na infidelidade, na mentira[2]. Quando sabemos a que nos ater, essa velha lama respingada pelo Inferno parece tão baixa e fétida que não há como suportá-la nem por um instante.A vontade expressa de Mélanie era que seus diretores ou confessores não revelassem nada de sua vida íntima. Mas, desde 1852, várias pessoas souberam pelo padre Sibillat, que tinha obtido algumas confidências dessa menina privilegiada, que, muito tempo antes de 1846, o Céu já a tinha visitado, que a grande Aparição de 1846 era na realidade mais um episódio da sua infância; e as religiosas de Corenc, suas companheiras, puderam observar que essas graças não cessaram, havendo provas disso.
Essa humilde jovem de quem as almas, mesmo religiosas, não podem imaginar a alta santidade e a grande missão na Igreja, foi cumulada desde os três anos de idade Instruída pelo Menino Jesus de que devia ocultara essas graças, assim fazia, com grande humildade e habilidade; quando era surpreendida, era visível o quanto isto a fazia sofrer, de tal modo que mesmo seus diretores a respeito só conheceram uma pequena parte. Nas montanhas onde apascentava seus rebanhos antes da Aparição, ela já era chamada de A Santinha e até se atribuíam milagres a ela.
Em 1873, Mélanie escreveu uma brochura, a qual foi aprovada por seu Bispo e confessor, e que foi publicada em 1879. Essa edição foi combatidíssima por todos os modernistas dentro e fora da Igreja, e que depois de muitas disputas chegou a ser proibida pelo Santo Ofício, numa decisão que foi instrumentalizada pelos inimigos de La Salette (como os moleques d'O Catequista'), que não dizem que essa proibição se aplicava à divulgação do segredo ao grande público, e não aos seus conteúdos em si. Seja como for, essa versão se espalhou e se tornou popular, à época, e de todo modo não era possível saber quais seriam as grandes diferenças, muito alardeadas, entre o teor do texto originalmente escrito e aprovado, em 1851, para esse de 1873 (pois diziam que a vidente estava então delirando e que tinha mudado toda a história), já que o primeiro tinha desaparecido. O fato é que Mélanie foi mais uma vez atacada e até acusada de insanidade, uma calúnia terrível que os tais moleques criminosamente fazem questão de repetir [para os interessados, o Dr. Taylor Marshall, em sua obra 'Infiltrados' (Ecclesiae, 2020), elucida didaticamente esse tema].
Finalmente, 78 anos depois, foi possível comparar as duas versões, a de 181 e a de 1873, lado a lado. Qual a diferença entre as duas? Essencialmente, nenhuma: a mensagem é a mesma, sendo apenas que a segunda versão contém mais detalhes (tanto assim que é maior). Tudo o que está na versão de 1851 também está na versão publicada em 1879. Essa descoberta fez despertar a ira dos inimigos de La Salette e da Igreja. Por quê? Ora Nossa Senhora, na mensagem, avisa que Roma se tornará o assento do Anticristo. Interessante notar, como lembra Pe. Wander, que também a profecia da última semana – revelada pelo Profeta Daniel –, afirma que Roma, a cidade, será o assento do Anticristo, assim como o próprio Livro do Apocalipse. Vários Santos tiveram visões sobre essa mesma matéria, como a Beata Anna Maria Taigi e São Vicente Ferrer.
Mélanie, assim, recebeu de Nossa Senhora a mensagem de que a cidade de Roma seria totalmente descristianizada, e que seria daí expulsa a Sé de São Pedro; assim, se tornará novamente a Roma pagã anterior à chegada de São Pedro e São Paulo para convertê-la. O Anticristo, o servo entre todos os servos do demônio, será filho de uma religiosa hebreia, fruto de adultério com um bispo: uma revelação dolorosa e fortíssima, sem dúvida, que não pode agradar aos adeptos do "Quem sou eu para julgar?". Olhemos a questão com os olhos da Fé, todavia, e veremos o mais claro e direto ataque possível do demônio à santa Igreja.
Nossa Senhora ainda disse, segundo a pena de Mélanie: "Mélanie, o que estou prestes a lhe dizer agora não ficará sempre em segredo. Poderá ser publicado a partir de 1858" – o ano da Aparição a Santa Bernadette em Lourdes.
Em seguida, a Virgem lhe revelou a primeira parte do segredo, dizendo que a Igreja seria atacada por dentro, profanando-se o que tem de mais sagrado depois do Santíssimo Sacramento, que é o Ministério Sacerdotal; pois é através das mãos do sacerdote, em cada Sacrifício da Missa, que Nosso Senhor vem à humanidade. Na Eucaristia, o Cristo quer estar nas mãos consagradas de um sacerdote legitimamente ordenado. Pensemos, então, como agora a Comunhão é ministrada pelas mãos dos fiéis, leigos comuns, porque foi aumentada de forma esdrúxula a função dos tais "ministros extraordinários", que deveriam atuar apenas em casos muito raros, como, por exemplo, numa Missa com a presença de milhares de fiéis diante de um único sacerdote, ou outras situações em que a necessidade o exija.
Nas fortíssimas palavras de Nossa Senhora a Mélanie:
Os sacerdotes, os ministros de meu Filho, por suas vidas perversas, por suas irreverências, por sua impiedade ao celebrar os Santos Mistérios, por seu amor ao dinheiro, seu amor à honra e aos prazeres, os sacerdotes se transformaram em latrinas de impurezas. Sim, os sacerdotes pedem vingança, e as vinganças estão suspensas sobre suas cabeças. Infelizes dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus que, por suas infidelidades e suas vidas perversas, estão crucificando novamente meu Filho.
Ler a continuação
[1] BLOY, Leon, Aquela que chora. Campinas: Ecclesiae, 2016.
[2] Foi processado, à época, por falsificação de documentos(!), um eclesiástico avesso à Aparição(!!) que havia acusado Mélanie de ser uma falsária(!!!) (Cf. op. cit. p.121, nota 68).
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Qualquer uma das fontes bibliográficas apontadas contém o texto original do segredo? Qual a melhor destas?
ResponderExcluirAo final desta série postaremos o texto original do segredo, na íntegra, Fábio, traduzido diretamente do francês.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Quando serão liberadas as continuações a respeito das aparições de Nossa Senhora em Lá Salette?
ResponderExcluirCaríssima Carol, a continuação já foi publicada, está no link ao final da postagem. Pode acessar por aqui: A aparição de Nossa Senhora em La Salette: a verdadeira história – parte 5
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