FRANCISCO FOI SUBMETIDO a uma tomografia computadorizada pulmonar na manhã do último sábado (25) no Hospital da Ilha Tiberina, Roma. Seus compromissos de sábado foram cancelados por causa de uma alegada “gripe ligeira”. Segundo o Catholic World Report, o Papa mantinha o que parecia ser um acesso intravenoso no domingo e disse a pessoas próximas que tinha “uma inflamação nos pulmões” que o impediria de ler ele próprio o seu discurso do Angelus.
Quão doente está o Papa? A resposta para essa pergunta continua a ser: “Não sabemos”. A tentativa da assessoria de imprensa da Santa Sé de se antecipar às especulações desta vez não funcionou muito bem e, possivelmente, até as estimulou. Os órgãos de imprensa oficiais do Vaticano, como de costume, não se distinguiram pela franqueza a esse respeito.
O que sabemos é que restam três semanas para Francisco completar seus 87 anos e que ele sofre de doenças crónicas de vários tipos, foi submetido a múltiplas cirurgias abdominais nos últimos três anos e fez várias visitas não programadas a médicos recentemente. Não podemos ter certeza de nada: diz um velho ditado romano que "o papa não fica doente até morrer", uma clara alusão à fata de transparência com que se costuma tratar desses assuntos perante o grande público: embora isso não seja exatamente válido nos dias de hoje, o estado da saúde papal é sempre mais adivinhado do que propriamente conhecido.
Mesmo que Francisco se recupere do que parecem ser sintomas persistentes semelhantes aos de uma forte gripe, já há algum tempo que se especula sobre quanto tempo durará este pontificado – já que o próprio Papa declarou ter o documento de renúncia do Pontificado já assinado caso seu estado de saúde piore (saiba mais) – e especialmente em relação ao que será da Igreja depois dele.
Apesar do verdadeiro terremoto que este pontificado – desde sempre questionado e mesmo posto em cheque por não poucos –, provocou, com um comportamento inédito que dá a entender que o Papa seja o senhor absoluto da Igreja, com poderes ilimitados para mudar inclusive a doutrina e a moral católicas, contrariando assim todos os seus antecessores e até o próprio Cristo, em muitos casos (como ao ensinar que é pecado tentar converter os povos, quando Nosso Senhor ordenou fazer o contrário, ou classificando como 'clericalismo' a manutenção da estrutura hierárquica da Igreja, instaurada pelo mesmo Cristo), a verdade inquestionável é que ele passará, assim como todos os outros. E talvez antes do que se imagina.
Ainda assim, a verdade é que a Igreja universal se encontra hoje presa de várias crises diferentes: são crises multifacetadas, por vezes sobrepostas e por vezes divergindo entre si, além de se encontrar comprometida com ideologias mundanas, pautas globalistas e disputas geopolíticas, mas nunca adotando uma via clara de abordagem para as questões difíceis do nosso tempo. Esse trabalho necessário ficou, assim, ao encargo de poucos bispos que ainda se atrevem a se posicionar a favor da heterodoxia, como Dom Athanasius Schneider, que chegou a lançar um catecismo próprio(!) em defesa da integridade da verdadeira Doutrina católica (saiba mais) e algumas declarações com poucas ações de escassos bravos combatentes como Viganò, Müller, Brandmüller, Sarah, Burke, Zen e alguns outros.
O atual Colégio dos Cardeais é fraco em toda medida – seja na capacidade intelectual, na competência administrativa, na perspicácia política ou mesmo na simpatia geral dos fiéis – ao mesmo tempo em que os seus membros são praticamente estranhos uns aos outros.
A verdade irrecusável é que Francisco, desde o início, dedicou-se ao máximo, de um modo nunca visto na história recente da Igreja, a refazer o Colégio Cardinalício à sua imagem e semelhança. Seja como for, esses cardeais terão que considerar, quando eventualmente se reunirem, que o novo Papa herdará uma bagunça substancial: os problemas que a Igreja enfrenta são demasiados e profundamente enraizados para admitirem uma solução fácil.
Isso não quer dizer que o escolhido, quem quer que seja, não terá que botar alguma ordem na casa. Esta é uma das muitas coisas que Bento XVI poderia e, sem dúvida, deveria ter feito, mas não fez. Agora, será preciso romper radicalmente com esse compromisso com a continuidade – porque a continuidade do que aí está levará a Igreja a um mal nunca imaginado, sequer nos piores pesadelos dos pobres fiéis católicos.
O aparelho governamental central da Igreja em Roma tem agora essa fortíssima tendência de conduzir a Barca de Pedro rumo a um novo grande cisma, que de fato parece iminente, talvez até inevitável, se os rumos adotados atualmente não forem revertidos. Os Cardeais poderiam – por milagre –, escolher um tradicionalista totalmente oposto a tudo o que está sendo feito hoje, ou alguém intermediário, ou ainda alguém (sendo esta, por óbvio, a hipótese mais provável) que continue a severa demolição de todo o edifício que vinha sendo construído desde os Apóstolos. Independente do perfil da escolha nesse sentido, o que não podemos negar é que somente uma intervenção divina radical e poderosa será capaz de livrar a Igreja de um colapso.
A Cúria Romana é uma burocracia, seja como que for. O que fazem é tratar de assuntos de competência específica, para que o chefe não tenha que se ocupar direta e pessoalmente com todos os assuntos que de alguma forma exijam a sua atenção oficial. A recente reforma da Cúria Romana agrava e muito a situação. Ora a alegada ideia principal de Francisco para essa reforma era tornar a Cúria apta a servir ao que ele entende por "missão evangelizadora" da Igreja, e isso pode parecer uma bela coisa a ouvidos desavisados, que ainda não perceberam que a concepção de "evangelização" de Francisco não tem absolutamente nada a ver com aquilo que essa palavra sempre significou. De fato, a evangelização da "nova igrejas" vai na direção exatamente oposta àquela assumida por São Pedro, pelos Apóstolos e por todos os Santos Mártires. Aliás, não existiriam mártires se a Igreja sempre tivesse pensado como pensa Francisco...
Recentemente, Francisco explicou ao chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé que não está apenas ou mesmo principalmente preocupado com questões de congruência doutrinária básica, mas em garantir que a prática da investigação teológica seja dirigida para “aumentar a compreensão e transmissão da fé no serviço da evangelização, para que a sua luz seja um critério para compreender o sentido da existência, especialmente diante das questões colocadas pelo progresso das ciências e pelo desenvolvimento da sociedade”[vide fonte e ref. deste artigo]. Como de costume, palavras dúbias que nada dizem claramente, mas dão ampla margem para uma deturpação completa da missão primária da santa Igreja: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Mc 16,15).
Nosso Senhor deu um mandato claríssimo e categórico, independentemente do que se diga ou se pense sobre ele. Algo impossível de ser reinterpretado como: "Todas as religiões são da vontade de Deus" ou "Todos, até os blasfemadores e apóstatas, fazem parte da Comunhão dos Santos"...
Hoje, muito se fala em "rezar pela conversão do Papa", esta ideia completamente absurda já em si mesma, porque inverte a ordem das coisas e coloca a pirâmide de cabeça para baixo (como declaradamente quer o próprio Francisco): não é difícil imaginar uma pirâmide colocada em posição invertida, com o pico precariamente equilibrado sobre o solo, apoiando-se assim toda a estrutura, com a base muito mais larga suspensa no ar, e constatar que assim ela não se sustentaria por muito tempo. Pois é exatamente isso o que se tenta fazer deste o início deste pontificado catastrófico, e reverter esse estado de coisas exigirá uma força enorme, uma coragem inabalável e uma grande inteligência estratégica. Isso e, claro, o mais importante: a Assistência divina, direta e de modo extraordinário, que dê força aos bons e confunda os maus (que parecem ter se tornado a ampla maioria).
Para salvar a Igreja do caos e do cisma, os cardeais eleitores precisariam escolher alguém disposto a revelar e a reverter tudo o que está agora em curso. Isso será muito, muito difícil para eles, ou, humanamente, até poderíamos dizer impossível, porque significará colocar as suas próprias cabeças a prêmio.
Por fim, não esperemos um próximo conclave breve ou sem derramamento de sangue – metaforicamente falando, ou talvez não –, nestes dias de históricas e tão profundas mudanças.
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Fonte das informações e texto de referência:
ATIERI, Christopher R. "Pondering the future, inevitable papal conclave", para o Catholic World Report, disp. em:
www.catholicworldreport.com/2023/11/26/pondering-the-future-inevitable-papal-conclave/
27/11/2023.
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