Matrimônio e feminismo

Por Karlos Guedes para o Pela Fé Católica

A REFLEXÃO QUE EXPOREI neste texto foi concebida depois que, recentemente, fui a dois casamentos, culminando numa pequena tertúlia que também, por coincidência, teve como temática a mesma perícope de São Paulo aos efésios.


    Evidentemente, como se deverá imaginar, o texto diverge diametralmente do senso comum da sociedade (ou daquilo que querem reformar nela): a ideologia feminista que destrói a distinção no seio familiar entre homem e mulher, distinção essa concretizada no papel de ambos dentro do Matrimônio. Eis o polêmico texto sagrado:


As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor (…) Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim estejam também as mulheres a seus maridos em tudo [o que não é contra a Lei de Deus] (Ef 5,22ss).


    Submissão da mulher ao seu marido: eis o calcanhar de Aquiles da cultura dominante. Como pode ser a mulher submissa ao marido? Em um desses casamentos a que me referi no início, o padre (ao menos o era no sentido da ordenação) assim o explicou: "Paulo (sic) fala de submissão porque era assim no judaísmo da sua época. Mas não é desse modo que entendemos hoje"![1]


    A frase do “padre” coloca as seguintes possibilidades:


    • O Espírito Santo, Deus com o Pai e o Filho, Inspirador das Escrituras, mentiu ou se enganou.

    • Ou o “padre”, reconhecendo que o termo «sejam submissas» é de inspiração divina, mas também percebendo que esse mesmo termo não é bem recebido pelas sensibilidades modernas, escolheu negar a Doutrina como foi relevada e adaptá-la àquilo que é mais conveniente ouvir[2].

    Existem ainda aqueles que aceitam a Palavra revelada, mas questionam a falta de obrigações para o homem e consideram a Revelação anacrônica e démodé. Será que é mesmo assim?


    Como é próprio da subversão, tudo é lido fora do contexto. Para se obter a resposta, bastaria seguir para o próximo versículo:


Mari­dos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja, e por ela Se entregou a Si mesmo (…) Assim tam­bém os maridos devem amar as suas mulheres, como aos seus próprios corpos. O que ama a sua mulher, ama-se a si mesmo (Ef 5,25ss).


    Assim, o Apóstolo manda que as mulheres se sujeitem aos esposos e que os homens amem suas mulheres. Cabe, então, à mulher, um papel inferior, continuarão argumentando. Será mesmo? O que é mais fácil? Obedecer ou amar? O amor ao qual o marido está obrigado não é aquele amor sentimental e barato dos filmes e novelas. Diz o Apóstolo: «Amai como Cristo amou a Igreja, entregando-Se por ela» [Quer dizer que deve chegar a entregar a própria vida por ela, se preciso for]. Basta-nos.


    Obedecemos a um policial, ao nosso chefe ou patrão, ao guarda de trânsito. Obedecemos até mesmo a certas coisas inanimadas, como os semáforos. Cada um investigue-se e responda, uma vez mais: é mais fácil obedecer ou amar?


*


Para que esse texto ultrapasse minha mera opinião, como em tudo que é católico, faz-se necessário que os doutores da Igreja nos ensinem. Por isso, trazemos São João Crisóstomo, Padre e Doutor da Igreja, para nos instruir com as luzes da Sã Doutrina eclesiástica, concluindo e ratificando o que foi dito:


São Paulo lança a caridade e a providência por fundamento, ao marido e à mulher, tributando a cada qual o lugar conveniente; ao marido o domínio e a providência; à mulher, a sujeição (…).

 

    Ouviste o excesso da submissão. Louvaste e admiraste a Paulo, homem extraordinário e espiritual, que estabelece o estilo de vida. Muito bem. Mas ouve o que de ti reclama. Emprega ainda o mesmo exemplo: “E vós, maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja”. Viste a medida da obediência? Escuta a medida do amor. Queres que a mulher te obedeça, conforme a Igreja a Cristo? Tem solicitude por ela bem como Cristo pela Igreja. Mesmo se for preciso dar a vida, até mesmo ser mil vezes ferido, suportar e sofrer seja o que for, não recuses. Nada fizeste ainda à imitação de Cristo. Pois tu procedes após estar unido; Ele, porém, o fez em favor daquela que lhe tinha aversão e ódio. Ele, em sua grande solicitude, sujeitou a seus pés aquela que lhe tinha aversão, odiava, desprezava, enchia de escarros, e insultava pela lascívia, mas não o conseguiu por meio de ameaças, injúrias, medo ou coisa semelhante. De igual forma procede em relação a tua mulher.

 

    Mesmo se a vires com desprezo, injúria com lascívia, menosprezo, poderás submetê-la a teus pés por meio de grande solicitude, amor e amizade. Nada é mais tirânico do que estes vínculos, principalmente relativamente ao marido e à mulher. E possível conter um servo pelo medo, ou melhor, talvez nem mesmo ele; porque pode escapar e ir embora. Quanto à partícipe de tua vida, contudo, a mãe de teus filhos, causa de toda alegria, não deves contê-la por medo e ameaças, mas por amor e afeição. Qual a união, se a mulher tem horror do marido? Que prazer terá o marido, se conviver com a mulher à semelhança de uma escrava, não de uma pessoa livre? E se tiveres de sofrer algo por causa dela, não a ultrajes. Cristo não procedeu desta maneira (Comentário à Carta aos Efésios, destaques nossos).


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[1] Não sei se por adesão à heresia, por ignorância ou respeito humano… talvez uma mistura de tudo isso. 

[2] O que me parece ainda pior porque, por mero respeito humano, deturpa a Fé revelada, combatendo a Verdade como conhecida.

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