JÁ TRATAMOS POR AQUI a respeito deste assunto que assume cada vez maior importância, em uma série específica (veja). Mas com o agravamento da crise e o aumento dos escândalos da “nova igreja”, também chamada “igreja conciliar”, e diante da situação de mais e mais pessoas que vêm perdendo a fé nos últimos tempos, penso que realmente é preciso retomá-lo.
Percebo agora que, mesmo que tenhamos produzido toda uma série de longos artigos a respeito, a questão ainda permanece nebulosa para muitos dos nossos leitores, que não têm tempo ou disposição para estudar o problema mais a fundo, e é da nossa vocação tornar claras as coisas, trazer aquilo que parece mais difícil para a compreensão de todos. Quero, então, falar agora do assunto da maneira mais objetiva e simples, de modo direto e tão fácil de entender quanto possível, para que não sobrem mais dúvidas e, a partir daí, reste apenas um passo da consciência para o julgamento de cada um.
Em primeiríssimo lugar, precisamos saber que no Brasil existe um radicalismo imenso e altamente desnecessário em torno dessa questão: um radicalismo que é contraprodutivo tanto para os que integram o movimento quanto para aqueles que lhe fazem oposição. Explico.
O que temos aqui são reações totalmente radicais sempre que se toca no assunto. De um lado, os que são contra o taxam como um movimento herético ou apóstata, um grupo de leprosos aos quais não podemos dirigir sequer um olhar em suas faces. Do outro lado, os que o defendem (ao menos em maioria) assumem uma postura exclusivista, sectária, condenando de pronto ao Inferno todo e qualquer que pense diferente. Pior ainda, um movimento que por motivos óbvios deveria trabalhar unido, fragmenta-se em muitos subgrupos que continuamente disputam e se atacam uns aos outros, com grande ferocidade.
Cabe citar que essa postura radical de um lado e de outro é coisa típica do nosso Brasil, infelizmente. Segundo o testemunho de sacerdotes de vivência internacional, como o Pe. Gabriel Maria (Seminário Mater Dei), em outros países a convivência é muito mais tranquila e respeitosa, com o diálogo e a serena aceitação de que podem existir diferentes posturas diante de uma crise tão grande e uma situação tão complicada como a atual. Penso que seria muito favorável se tivéssemos a mesma serenidade por aqui, para o bem de todos.
1. O que é sedevacantismo, afinal?
Basicamente, é a tese segundo a qual os papas ditos “conciliares” (do Concílio Vaticano II) não são verdadeiros papas por conta de suas heresias e sua apostasia à verdadeira Fé de Cristo e dos Apóstolos; a Sé ou Sede de São Pedro, portanto, estaria vaga, vacante, o que se expressa em latim pela fórmula sede vacante. Como dito no início, falamos longamente a respeito num estudo específico, e os que tiverem interesse podem acessá-lo usando este link, mas a ideia agora é resumir quanto possível um problema difícil, então começamos dizendo o que é mais importante de ser dito, logo de início: o sedevacantismo não é uma heresia, nem apostasia e nem cisma. Trata-se, apenas e tão somente, de uma conclusão teológica diante da crise que nos assola e que se reflete em uma posição radical. Ponto.
O sedevacantismo não é heresia porque não nega nenhuma verdade da Fé, ao contrário: afirma e adere a todos os dogmas da Igreja e à Sagrada Tradição com vigor admirável. Também não se pode afirmar que os sedevacantistas sejam formalmente cismáticos ou apóstatas, porque não negam o poder de jurisdição do sucessor de Pedro e nem a sagrada instituição do Papado: o que postulam é que pessoas específicas não são legítimos Papas.
Cabe citar, de passagem, que há muitos entre os que adotam essa mesma posição que não assumem o rótulo de “sedevacantista”, preferindo se denominar apenas como católicos tradicionais – o que, penso, é talvez a coisa mais inteligente a se fazer, na medida em que isso evita preconceitos inúteis que os transformam numa caricatura e impedem qualquer diálogo racional para a compreensão do problema todo. Dito isto, avancemos com o próximo passo.
2. Posições moderadas
Como visto, as reações despertadas pelo sedevacantismo – contra e a favor –, são em geral incrivelmente apaixonadas e radicais. O Centro Dom Bosco moveu uma cruzada de orações contra o sedevacantismo, classificando-o como “soberbo, simplista e inconsequente”, e mais recentemente o comparou às bênçãos dadas a pares gays, classificando ambas as coisas como “erros iguais”. O autor Alessandro Lima, diretor do apostolado Veritatis Splendor, já há bom tempo vem se dedicando exclusivamente a produzir artigos e textos que tentam refutar o sedevacantismo com desmedida agressividade, inclusive com uma charge que tentava ridicularizá-lo e que foi depois criativamente alterada, circulando à exaustão na internet e em grupos católicos, como vemos nas imagens abaixo.
Curiosamente, em uma palestra dada no próprio Centro Dom Bosco, o prof. Raphael Tonon disse com todas as letras que os sedevacantistas “são católicos iguais a gente” e que a Igreja do Vaticano II dialoga com todos, “budistas, membros da seita ‘Wicca’, do candomblé, etc.”, mas não admitem diálogo com aqueles que “só querem ser católicos”, como os sedevacantistas e os membros da FSSPX:
Também em 2023 o então diretor do Centro Dom Bosco, Pedro Affonseca, disse algo parecido, afirmando que discorda de quem considera os sedevacantistas como "malucos" que não merecem consideração; que reconhece que os sedevacantistas têm "bons argumentos" e que não são hereges, já que a Santa Sé nunca se pronunciou a respeito; conclui dizendo que os sedevacantistas são "católicos que professam a Fé católica". Disse, por fim, que não compactua com aqueles que "têm nojinho" (sic) do Sedevacantismo (o trecho da palestra em que tratou a respeito pode ser visto aqui).
Numa entrevista concedida há pouco tempo ao nosso parceiro Lorenzo Lazzarotto, em dado momento o prof. Sidney Silveira parece dar a entender que também considera o sedevacantismo como uma posição possível e razoável, falando com grande propriedade da “hierarquização da realidade” (assista), o que significa ordenar em nossas vidas as coisas segundo a sua importância.
No artigo intitulado "Breve catecismo sobre o Sedevacantismo", postado na página do Mosteiro da Santa Cruz, consta a seguinte conclusão: "O sedevacantismo é uma teoria que não está comprovada a nível especulativo, e é imprudente submeter-se a ela a nível prático". Veja-se que aí se a reconhece como uma teoria possível, ainda que não recomendada por eles, o que já é um avanço.
3. Conclusão: o que fundamenta o sedevacantismo
Aqui chegamos à simplicidade e objetividade que estou buscando. Basicamente, o que temos é o seguinte:
Os sedevacantistas são apenas católicos que chegaram a uma conclusão teológica radical, que pode estar errada ou certa como qualquer outra. Quem se recusa a sequer aceitar a probabilidade – cada vez mais plausível –, de eles estarem certos, é preconceituoso ou desonesto; simplesmente porque é de fé que o Papa não pode, como Papa, ensinar o erro a toda a Igreja em matéria de fé e de moral, colocando as almas em perigo do Inferno, mesmo que seja pelo seu magistério ordinário[1]. E é exatamente isso o que Francisco-Bergoglio está fazendo (é o que tem sido feito por todos os papas conciliares, mas queremos nos dedicar a um problema por vez).
Quando ele assina documentos oficiais como Papa, ele está ensinando ex cathedra, sim senhor, mesmo que não esteja definindo um dogma solenemente. E quando ele faz isso ensinando heresias e decretando crimes contra a Fé, como tem feito abundantemente[2], isso nos obriga a poucas hipóteses:
1) Mesmo culpado de heresia, sem ter a Fé católica e ensinando o erro a toda a Igreja, ele é o Papa. Problema: sendo assim, então Cristo falhou em sua promessa de que o Inferno não prevaleceria sobre a Igreja, pois se o Papa ensina o erro e contraria o próprio Cristo, pondo as almas em risco do Inferno, este prevaleceu. Não pode haver triunfo maior, numa guerra, do que conquistar o próprio general das tropas inimigas;
[Nota: naturalmente, neste ponto pode-se objetar que a Igreja ter sido reduzida a uma pequena fração do que foi um dia também representaria o triunfo do Inferno sobre ela. Mas é preciso lembrar que Nosso Senhor profetizou a grande apostasia, que haveria uma debandada geral e que viriam tempos terríveis – "Quando voltar o Filho do homem, ainda encontrará a Fé sobre a Terra?" (Lc 18,8) –, que se não fossem abreviados, nem mesmo os eleitos seriam salvos (Mt 24,22). Também é preciso lembrar que fomos alertados sobre isso mesmo diversas outras vezes, por muitos Santos e Místicos, como por exemplo São Francisco de Assis (saiba mais), e em aparições reconhecidas como a de La Salette, que profetizou que Roma perderia a Fé e se tornaria a Sede do Anticristo, e que a verdadeira Igreja seria "eclipsada" (saiba mais).
Faz lembrar o dizer de Santo Atanásio em sua "Carta ao meu rebanho", durante a crise ariana: "Ainda que os católicos fiéis à Tradição se reduzam a um punhado, são estes a verdadeira Igreja de Cristo". Por fim, é preciso lembrar também que a Igreja começou com doze Apóstolos e um pequeno grupo de seguidores, localizados num distrito remoto da Palestina, e não deveríamos nos espantar tanto se ela voltasse a encolher radicalmente, em grupos dispersos pelo mundo.]
2) Ele é o Papa e está certo; nunca caiu em heresia nem ensinou o erro. Essa hipótese faz surgir um problema insolúvel: se assim for, então a Igreja ensinou o erro durante quase dois milênios, até o advento do Vaticano II, que afinal trouxe a verdade do Evangelho, até então não compreendida. Esta consequência é inescapável, porque a partir do Concílio a doutrina mudou, e mudou radicalmente;
3) Cristo não falhou, porque não pode falhar, e a Igreja não errou durante 2 mil anos, porque não pode errar. Nesse caso, então, Bergoglio não pode ser Papa e o Vaticano II precisa, forçosamente, ser anulado.
* * *
Aí está o problema, tornado tão simples quanto me foi possível. Devo concluir dizendo que, historicamente, sempre que um papa foi formalmente deposto, o foi por um concílio de bispos (leia o estudo completo a respeito em nossa plataforma exclusiva). E aí é que chegamos ao problema central da coisa toda, porque sabemos que as estruturas da Igreja foram totalmente aparelhadas e hoje se encontram dominadas por inimigos da Fé, e só um milagre faria com que muitos bispos se unissem para declarar Francisco-Bergoglio herege e, pior do que isso, que ele não tem fé católica e, portanto, é incapaz de reinar sobre a Igreja.
Enquanto isso, que faremos? O que todo fiel católico já tem feito: viver a sua vida de Fé, rezar, penitenciar-se, frequentar os Sacramentos quando possível. Suplicar a Deus, diariamente, pela restauração da Igreja e pelo banimento dos maus. Veni Domine Jesu!
________
[1] Em muitíssimos documentos e definições, a Igreja decretou e reafirmou o fato inescapável de que a Igreja deve obedecer ao Papa e sujeitar-se a ele, não somente quando decreta solenemente algum dogma (ex cathedra), mas também pelo seu magistério ordinário. Apenas dois exemplos concretíssimos citamos abaixo.
"Nem podemos passar em silêncio a audácia de quem, não podendo tolerar os princípios da Sã Doutrina, pretendem que aos juízos e decretos da Sé Apostólica, que têm por objeto o bem geral da Igreja, e seus direitos e sua disciplina, enquanto não toquem os dogmas da fé e dos costumes, se pode negar assentimento e obediência, sem pecado e sem nenhuma violação da fé católica. Esta pretensão é tão contrária ao dogma católico do pleno poder divinamente dado pelo próprio Cristo Nosso Senhor ao Romano Pontífice para apascentar, reger e governar a Igreja, que não há quem não o veja e entenda, clara e abertamente. Em meio desta tão grande perversidade de opiniões depravadas, Nós, com plena consciência de Nossa missão apostólica, e com grande solicitude pela Religião, pela Sã Doutrina e pela saúde das almas a Nós divinamente confiadas, assim como até pelo próprio bem da sociedade humana, temos julgado necessário levantar de novo Nossa voz apostólica. Portanto, todas e cada uma das perversas opiniões e doutrinas determinadamente especificadas nesta Carta, com Nossa autoridade apostólica as reprovamos, proscrevemos e condenamos; e queremos e mandamos que todas elas sejam tidas pelos filhos da Igreja como reprovadas, proscritas e condenadas."
(Papa Pio IX, Quanta Cura, 8 dez 1864)
"Ensinamos, pois, e declaramos que a Igreja Romana, por disposição divina, tem o primado do poder ordinário sobre as outras Igrejas, e que este poder de jurisdição do Romano Pontífice, poder verdadeiramente episcopal, é imediato. E a ela devem-se sujeitar, por dever de subordinação hierárquica e verdadeira obediência, os pastores e os fiéis de qualquer rito e dignidade, tanto cada um em particular, como todos em conjunto, não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao regime da Igreja, espalhada por todo o mundo, de tal forma que, guardada a unidade de comunhão e de fé com o Romano Pontífice, a Igreja de Cristo seja um só redil com um só pastor. Esta é a doutrina católica, da qual ninguém pode se desviar, sob pena de perder a fé e a salvação."
(Papa Pio IX, Concílio Vaticano I, Pastor Aeternus, 18 jul 1870; in Denzinger-Hünermann, n. 3060)
[2] De imediato poderíamos citar: 1) o fato de Francisco-Bergoglio considerar pecado tentar converter as pessoas e os povos, chamando de "proselitismo" aquilo que foi mandado diretamente por Cristo e a razão pela qual os Apóstolos e todos os mártires derramaram o seu sangue; 2) o fato de pregar que os hereges, os apóstatas, os blasfemadores e todos os que renegam a Fé fazem parte da Comunhão dos Santos; 3) publicar que a diversidade das religiões é da vontade de Deus; 4) ensinar que judeus, muçulmanos e pagãos não precisam de conversão para ganhar o Céu, tornando sem razão de ser o Sacrifício de Jesus Cristo no Calvário [Heresia introduzida pelo Vaticano II, mas isso não é do escopo deste trabalho]; 5) pregar que basta a Fé para receber a sagrada Comunhão Eucarística (ratificando a heresia do sola fide de Lutero); 6) pregar que o próprio heresiarca e blasfemador Lutero foi "um homem de Deus" e um grande reformador da Igreja.
Os que se interessarem em conferir e aprofundar essas provas podem consultar a monumental obra intitulada "Denzinger-Bergoglio", com mais de 1700 páginas (livro em pdf pode ser baixado gratuitamente) em tópicos detalhados sobre os erros deste pontificado (https://en-denzingerbergoglio.com/).
Fala, Henrique, passando só pra dizer que eu assinei o teu site restrito e está muito legal! Todo dia fico um tempo lendo os posts novos MUITO INTERESSANTES e estudo umas tres vezes por semana a parte da formação tradicional. Achas que 3 x por semana estudando dá pra aprender bem a teologia? Vai demora muito assim?
ResponderExcluirEsse texto aqui é pesado, muita gente não entende isso meu irmão
ResponderExcluirCarlos A.
Por causa dos nossos pecados e para que se cumpram as profecias, Roma apostatou! Deus tenha misericórdia!
ResponderExcluirAderir ao sedevacantismo não significa apenas dizer que Francisco e seus antecessores desde João XXIIII não foram verdadeiros Papas. Significa também sustentar que TODOS os católicos que frequentam a Missa Nova são falsos católicos que frequentam uma missa inválida promulgada por um antipapa. Que além de ser inválida é celebrada por falsos padres que não foram ordenados validamente e que portanto administram sacramentos inválidos. Na prática é sustentar que quem vai na Missa Nova pratica idolatria, pois de acordo com a posição sedevacantista não ocorre verdadeira transubstanciação no Novus Ordo. O Pe. Paulo Ricardo seria apenas um leigo fantasiado de batina. Até os membros da FSSPX são considerados falsos católicos por alguns sedevancantistas porque "estão em comunhão com o herege Francisco e o citam no cânon da Missa".
ResponderExcluirA promessa de Cristo sobre vencer as portas do inferno pode ser interpretada de diversas formas dentro da crise atual da Igreja. Uma posição que sustenta que a Missa, o sacerdócio e os sacramentos foram quase extintos da face da terra e substituídos por cerimônias e ritos inválidos levando centenas de milhões de católicos ao engano e idolatria me parece uma vitória das portas do inferno.
"Quem se recusa a sequer aceitar a probabilidade – cada vez mais plausível –, de eles estarem certos, é preconceituoso ou desonesto".
ExcluirApenas complementando o que disse anteriormente, não recuso essa probabilidade. Inclusive já cogitei diversas vezes aderir ao sedevacantismo. Mas não consigo acreditar que Deus permitiu por décadas e continua permitindo que pessoas que o amam e querem a salvação estejam participando de falsas missas, recebendo falsos sacramentos administrados por falsos padres. Centenas de milhões de católicos em todo o mundo. Idosos que vão na missa todos os dias, pessoas simples, crianças inocentes, pais de família, todos aqueles que recebem os sacramentos reformados por Paulo VI e estariam vivendo uma mentira e praticando idolatria.
Existem relatos de milagres eucarísticos na Missa Nova e isso deve ser analisado com o máximo de prudência e cautela. Infelizmente alguns sedevancantistas agem de forma contrária e simplesmente rejeitam esses relatos de milagres alegando que são falsos prodígios do anticristo somente porque contrariam sua posição sobre a crise.
Felipe, eu havia redigido e achei que tinha postado aqui uma resposta ao seu comentário, mas por alguma falha não está aqui. Pena, porque não tenho tempo agora de rememorar e reescrever tudo de novo. Mas em essência o que eu tinha dito é que gostei muitíssimo do que você disse e, especialmente, da sua postura. Esse tipo de reação me enche de esperança e me dá ânimo. É só dessa honestidade que precisamos para encontrar uma luz no fim deste túnel de trevas em que nos encontramos. Sim, as dificuldades que você coloca são importantes e exigem explicação. Se me permite, prepararei um artigo refletindo esses pontos fundamentais que você elencou aqui.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Caro Henrique, realmente é uma pena que seu comentário não tenha sido publicado. A crise da Igreja me deixa perplexo. Me parece que todas as posições que um católico pode adotar nessa crise (sedevacantismo, reconhecer e resistir, continuísmo, etc) padecem de sérias dificuldades. Apresentei pensamentos que me afastam do sedevacantismo, por ser o tema do artigo em questão, mas poderia fazer o mesmo para qualquer outra posição sobre a crise. São tempos de muita confusão. Felizmente tenho acesso a esse site, um verdadeiro oásis no meio do deserto, onde posso encontrar artigos bem redigidos e com um bom aparato de referências, que conseguem abordar de forma sensata e honesta assuntos tão espinhosos. E tudo isso sem precisar emitir anátemas e certificados de heresia contra quem tem outros pontos de vista, algo infelizmente frequente em outros sites católicos. Aguardo ansiosamente o artigo contendo reflexões sobre meus comentários.
ExcluirA paz de Cristo.
ExcluirCaro Felipe, gostei muito dos seus comentários aqui, particularmente o primeiro, que me motivou a te responder:
Tenho um perfil no Twitter e lá, já tive conversas com irmãos católicos espalhados pelo mundo, que dizem não ir mais na Novus Ordo pq. é uma Missa "protestante", logo, não válida e tb., uma vez me perguntaram se o fiel católico deve participar da Novus Ordo se não tiver uma paróquia com Celebração da Missa no Rito Tridentino.
Eu respondi e respondo sempre que Jesus não deixaria os fieis da Sua Igreja sem a presença Dele nas paróquia pós CVII. Por que eu respondo isso? Porque, dentro do que vc. escreveu, Jesus sabe que a grande maioria dos fieis não acompanham por vários motivos, principalmente a impossibilidade de conhecer os meandros do CVII; se a Celebração no Rito Novo, está incorreta ou não, se apenas a Celebração no Rito Tridentino é válida ou não, logo, Jesus que é Deus, não irá punir esse pessoal, Ele se ausentando da Missa Nova ou Novus Ordo. Sim, Jesus está presente na Missa, seja no Rito Tridentino, seja no Novus Ordo. Então, eu digo sempre: sim, vão à Missa e Receba a Sagrada Eucaristia, não fique sem recebê-la pq. o padre fala de política, conta uma piada, tem grupo musical no estilo Protestante, etc.
Eu sempre insisto neste ponto: vá a Santa Missa, esqueça os "modernos" e receba a Sagrada Eucaristia, além de ouvir as Leituras da Santa Missa, incluindo o Evangelho do Dia.
Eu tenho a certeza que Jesus não vai punir o povo que Ele chamou para segui-lo só pq. a Igreja ficou moderna demais, pregando a comunhão com outras religiões, etc.
Gostei muito das suas colocações, pois não se pode dizer, sendo RedTrad, por exemplo; que o Arcebispo Carlo Viganò, Cardeal Burke, Athanasius, Bispo Robert Sarah, católicos reais; preocupados com o rebanho de Cristo, não são legítimos membros do Clero e que todos os Sacramentos celebrados por eles são falsos, inválidos. Seria o mesmo que dizer que Jesus Cristo abandonou a sua Igreja, o que não pode ser verdade pelo que sabemos da vida de Cristo aqui na terra, o que ele fez e disse.
Parabéns pela excelente abordagem! Abraços.
Salve Maria!
os protestantes alegam que na religião deles também ocorrem milagres e aí entra uma questionamento a saber: os cristãos acreditam que só existe um Deus ( em três Pessoas) e este mesmo Deus opera milagres no catolicismo sedevacantista, catolicismo da Missa Nova e no protestantismo? Isso eu realmente não consigo entender partindo da ideia que Deus só fundou só e somente uma religião e por consequência só agiria nela.
ResponderExcluirÉ evidente que Deus instituiu somente uma religião, conforme ensina o Papa Leão XII com uma lógica irrefutável: "É impossível ao autêntico Deus, o qual é a própria Verdade, o melhor e mais sábio Provedor, e o Recompensador dos homens bons, aprovar todas as seitas que professam falsos ensinamentos que são frequentemente inconsistentes uns com os outros e contraditórios, e conferir recompensa eterna aos seus membros." (Encíclica Ubi Primum de 1824).
ExcluirSobre os milagres, ensina Santo Tomás de Aquino: "Os verdadeiros milagres não se podem realizar senão por virtude divina, pois, Deus os faz para a utilidade do homem. E isto de dois modos. Primeiro, para confirmação da verdade anunciada. Segundo, para manifestar a santidade de alguém, que Deus quer propor aos homens como exemplo de virtude".
E continua Santo Tomás: "Os milagres sempre são testemunhos verdadeiros daquilo em favor do que são feitos. Por isso, os maus, anunciadores de uma falsa doutrina, nunca operam verdadeiros milagres para a confirmação da sua doutrina".
Leia o artigo completa da Suma Teológica de onde tirei essas citações: https://santamariadasvitorias.org/suma-teologica/iia-iiae-parte/tratado-sobre-os-atos-especificos-de-certos-homens/questao-178-da-graca-dos-milagres/art-2-se-os-maus-podem-fazer-milagres/
"os protestantes alegam que na religião deles também ocorrem milagres" essas alegações ocorrem em praticamente todas as religiões. Se o protestantismo é verdadeiro então os reformadores deveriam ter realizado milagres espantosos como confirmação de que a pretensa reforma protestante surgiu por vontade de Deus. Eu pergunto, com base na argumentação de Santo Tomás: que milagres Lutero, Calvino e os outros reformadores fizeram?
"Deus opera milagres no catolicismo sedevacantista" O sedevantismo é uma posição teológica sobre a crise na Igreja, não um outro tipo de religião. Não conheço relatos de milagres que ocorreram em igrejas sedevacantistas.
"Deus opera milagres na Missa Nova" Pode ser que sim, ou talvez sejam falsos. Eu não sei. Apenas não concordo com a forma imprudente que alguns sedevacantistas tratam a questão, eles simplesmente rechaçam esses supostos milagres os tratando como falsos prodígios do anticristo, porque vai contra a posição teológica deles de que a Missa Nova é inválida. Podem estar cometendo o mesmo erro gravíssimo dos judeus que atribuíam os milagres de Cristo à ação do demônio.
Disse bem. A Fé católica nunca dependeu e nunca poderá depender de milagres que não temos como autenticar ou comprovar, mas são aceitos somente quando definidos pela Igreja como críveis de fé.
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Achei seu comentário muito bom mas veja mesmo o sedevacantismo sendo uma posição teológica pelo que eu entendi a visão sedevacantista entende que a Sé está vacante e que portanto o ideal seria Deus colocar um Papa fiel a Cristo neste caso seria diferente dos Papas da Igreja conciliar então seriam duas religiões com visões diferentes e partindo do raciocínio sedevacantista a Igreja antes de ser conciliar tinham verdadeiros Papas e naquele período não existiram milagres? Desconheço milagres de Lutero e Calvino mas o protestantismo não se resume só a Lutero e Calvino.
ResponderExcluirVeja bem. A Igreja Católica passa pela pior crise de sua história, tudo isso foi permitido pela providência divina que garantiu que as portas do inferno não vão prevalecer. São tempos de confusão e com isso surgiram diversas correntes dentro do Catolicismo sobre qual posição os fiéis devem aderir. Uma dessas é a posição do sedevacantismo. Então sim, para eles a Igreja atual seria uma religião diferente, comandada por um antipapa.
ExcluirPara mim um sedevacantista que não reconhece Francisco como Papa é tão católico quanto uma senhora que comunga todos os dias na Missa Nova, ou um fiel que vai na Missa tridentina da FSSPX, eles apenas possuem posições divergentes sobre a crise da Igreja e cada um está seguindo o que dita sua consciência nesses tempos terríveis. Durante o grande Cisma do Ocidente os católicos estavam divididos, cada um seguia um papa diferente, nem por isso deixavam de ser católicos. Agora a situação é ainda mais grave do que naquela época. Evidentemente o sedevacantista não vai pensar como eu. Entende a complexidade da situação?
"a Igreja antes de ser conciliar tinham verdadeiros Papas e naquele período não existiram milagres?" Não entendi seu raciocínio. Milagres sempre existiram na história da Igreja. Meu comentário tratava da possibilidade de milagres na Missa Nova, que é um rito muito recente, do final da década de 60, e teria sido promulgada por um antipapa (segundo a posição sedevacante). E essa posição sobre a sede estar vacante só se popularizou nas últimas décadas com a crise pós Concílio Vaticano II, embora já tivesse sido discutida pelos teólogos há muitos séculos. A maioria dos sedevacantistas consideram que o último Papa válido foi Pio XII, que faleceu em 1958.
"o protestantismo não se resume só a Lutero e Calvino" O protestantismo surgiu graças à rebelião desses homens. Se a Reforma fosse inspirada por Deus o mínimo que se esperaria é que os reformadores fossem homens de vida santa e realizassem milagres confirmando a origem divina do protestantismo.
A possibilidade de verdadeiros milagres fora do Catolicismo não é negada pelos teólogos católicos, conforme ensina o Cardeal Lepicier: "Tais milagres, supondo-os autênticos, seriam fatos isolados, cumpridos aparentemente fora da Igreja Católica, mas lhe pertenceriam de direito, porque não tinham por objeto a confirmação de uma falsa doutrina, mas antes a recompensa de uma santidade em harmonia com os princípios proclamados precisamente pela Igreja Católica. Tais milagres teriam tido pois por fim fornecer novas provas da existência da ordem sobrenatural."
Leia o artigo completo: https://www.estudostomistas.com.br/2015/12/como-e-possivel-milagre-fora-da-igreja.html
É por isso que Lutero e Calvino não realizaram milagres, porque se o fizessem seria a confirmação das falsas doutrinas do protestantismo, coisa que Deus não permitiria, pois não é autor do erro, da mentira e da confusão.
Em relação à Encíclica Ubi Primum de 1824 do Papa Leão XII sobre a verdade ser única ele está corretíssimo e coerente o problema é se o protestantismo for a religião verdadeira de Cristo pois se assim for então os católicos romanos assim como todos os não-protestantes terão que se converter ao protestantismo para serem salvos.
ResponderExcluirNão entendo sua insistência com o assunto protestantismo. Nesse excelente blog há dezenas ou até mesmo centenas de artigos refutando os erros do protestantismo. Só o fato do protestantismo ter surgido apenas no século XVI e estar fragmentado em milhares e milhares de seitas contraditórias já é o suficiente para não ser levado a sério.
ExcluirA inerrãncia da fé ainda deve ser considerada a baliza principal. Ninguém promoveu a ideia de sedevacantismo quando Honório I (que foi, inclusive, excomungado após a morte) defendeu e espalhou aos quatro ventos a heresia do monotelismo. Os papas vem e vão. A sã doutrina permanece, mas acessa altura, necessita de algum modo ser reiterada com veemência.
ResponderExcluirO caso do papa Honório é um único e exclusivo caso, totalmente extraordinário, em dois milênios de história da Igreja, e não pode ser comparado – nem de muito longe –, com o que está acontecendo hoje, meu caro. Isso não prova de maneira nenhuma que um herege possa ser o Papa, e nem poderia, simplesmente porque isso contraria uma definição formal e dogmática da Igreja, de que todo herege deixa de ser membro da Igreja Católica. São muitas as citações formais nesse sentido, destaco aqui a do Concílio de Florença, que definiu ex cathedra por SS. o Papa Eugénio IV: “A Santa Igreja Romana crê firmemente, professa e prega que nenhum dos que estão fora da Igreja Católica, não só pagãos como também judeus, heréticos e cismáticos…” (Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 1, pág. 578; Denzinger 714).
ExcluirNa condenação do Papa Honório como herege depois de sua morte, o Concílio de Constantinopla III não fez nenhuma declaração (e em nenhum outro momento a Igreja fez qualquer declaração neste sentido) de que ele permaneceu sendo Papa mesmo como herege, até o dia da sua morte. Ao contrário, o próprio documento de condenação posterior dá a entender o contrário, colocando que ele "havia sido Papa" (no passado: ibidem, pp. 125-126).
Honório foi um papa eleito validamente e é por isso que o seu nome consta da lista dos Papas, mas apostatou durante o seu reinado, por isso perdeu o ofício papal. Ele havia falecido havia mais de quatro décadas quando foi condenado, e não promulgou nenhum decreto dogmático, sendo que reinou por apenas três anos depois do crime de heresia. Claramente não havia a necessidade de uma uma declaração formal da sua perda do ofício. Mais ainda, como atesta a Enciclopédia Católica de 1907, persiste uma certa confusão quanto ao Papa Honório ter realmente incorrido em heresia ou se foi meramente culpável por não reprimir a heresia, ou ainda se o caso todo foi simplesmente mal entendido (é preciso considerar que havia um rigor extremo nessa época).
Ainda mais do que isso, estudiosos destacados questionam que Honório tenha realmente sido condenado como herege pelo Concílio de Constantinopla III. O caso é bem mais complicado do que parece e eu não tenho como esgotá-lo aqui, mas, insisto, não pode ser comparado nem de longe com a verdadeira aberração que é o papado de Francisco ou com as claríssimas heresias introduzidas pelo Conc. Vaticano II e levadas às suas mais extremas consequências por Bergoglio.
Fraternidade Laical São Próspero
Só preciso completar o meu comentário com um dado realmente muito importante que eu não citei antes: as famosas cartas disputadas (escritas no ano 634) que vieram a comprometer Honório com a heresia monotelita não eram documentos públicos; eram meras cartas dirigidas a Sérgio, Patriarca de Constantinopla. Esse dado é realmente fundamental, porque somente a heresia pública é que impede o herege de obter ou manter juridicamente o ofício e a autoridade do Papa. De fato, essas cartas de Honório eram ignoradas até a sua morte (Medulla Theologiae Dogmaticae, 360).
ExcluirDe modo algum se pode dizer, portanto, que Honório "defendeu e espalhou aos quatro ventos a heresia do monotelismo"... Isso é completamente falso. São assuntos difíceis e muito amplos, que requerem muita dedicação e estudo sério. Evitemos repetir o que lemos por aí em alguma página duvidosa na internet.
Fraternidade Laical São Próspero
Olha aqui é um dos pocuos sites que eu encontro que tem tudo fundamentado, os artigos com citação de fontes, os links para tudo que o texto vai dizendo, e´ uma delícia de leitura!
ResponderExcluirProf. Castro
Só uma observação ao amigo Felipe que citou o padre Paulo Ricardo. Olha bem que esse padre não é tão santo maravilhoso assim como muita gente pensa. sobre a crise da igreja ele tem um posicionamento bem errado, ao meu ver, que nem os tradicionalistas RR concordam, muitas vezes, sem contar que ele se esconde nessa hora de crise. Acho que aqui mesmo já li alguma coisa sobre o delírio da hermeneutica da continuidade que ele acredita. Só pra constar mesmo, obrigado.
ResponderExcluirCastro
Olá,
ResponderExcluirSou protestante pentecostal e, desiludido com as inconsistências do movimento como um todo, tenho buscado "o caminho da Verdade" em uma igreja verdadeiramente apostólica.
Além das dificuldades que um protestante enfrenta nesse processo [rejeição familiar, conflitos teológicos, devoção Mariana (sobretudo doutrinas como corredenção e comediação das graças) imagens coroadas, ícones milagrosos etc], as posições papais têm me colocado ainda mais em conflito com a igreja católica, a qual eu desejo, de todo o coração, compreender em verdade.
Acredito que as únicas igrejas fundadas por Cristo foram a católica Romana e a ortodoxa, e me causa profunda tristeza ver Roma entregue nas mãos de um papa tão controverso.
A ortodoxia é difícil de conciliar com nossa cultura Latina, mas é difícil a um protestante conseguir ter fé na Santa Igreja de Roma tendo em vista a crise sedevacantista...
Finalizo ressaltando meu respeito aos católicos e que, se soei crítico, apenas o faço como um coração angustiado que, perdido, busca encontrar a verdade em algum lugar: "et portæ inferi non prævalebunt".
Excelente, João. Por favor, fique atento porque responderei às suas colocações assim que me for possível. Também eu fui protestante. Não mereço nada além de castigo, mas Deus, incompreensivelmente Bom e Misericordioso, faz deste trabalho que me deu um canal de graças!
ExcluirFraternidade Laical São Próspero
Geralmente os protestantes pentecostais são dispensacionalistas pré-tribulacionistas e estudam muito o livro de Apocalipse ligando o mesmo a livros do Antigo Testamento acho que num debate sobre este tema entre um católico e um protestante dispensacionalista o católico perderia o debate. Qual é o entendimento católico sobre o Apocalipse? é amilenista, milenista , preterista completo, preterista parcial, pós-tribulacionista ou pré-tribulcionista?
ExcluirSó um detalhe veja catolicismo romano e catolicismo ortodoxo são duas religiões diferentes se uma está certa a outra está errada.
ResponderExcluirOlá, anônimo
ExcluirDesse detalhe eu estou ciente.
Veja, ao me referir às duas religiões terem sido fundadas por Cristo, me referi ao fato de que ambas se ligam à igreja apostólica, independentemente do Cisma que ocorreu em 1054 ou das heresias em que uma ou outra pode ter incorrido.
Agora, como um protestante "procurando a verdade", que é fundamentalmente diferente de tudo aquilo a que fui exposto durante toda a minha vida no protestantismo, ao buscar uma "Igreja Apostólica" me deparei com duas instituições que podem supostamente fazer essa reivindicação.
Quanto a uma estar certa e outra errada, eis uma das coisas que angustiam um protestante em processo de conversão ao catolicismo. Temos medo de sair de um erro para o outro, se é que me entende.
Como disse em meu primeiro comentário, são muitas as questões a que uma mente vinda desse contexto precisa se acostumar antes de ter paz nesse caminho.
Ao sr. Henrique Sebastião, meus agradecimentos pela solicitude. Ficarei atento, como sugerido.
A bênção de Deus e de Jesus Cristo sobre todos
Olá João agradeço sua resposta. Você acha que um católico romano venceria um debate sobre Apocalipse com um protestantes dispensacionalista pré-tribulacionista? Bem pode até ser que algum ou até mesmo alguns vençam mas eu particularmente desconheço um católico romano que tenha excelente conhecimento sobre o tema a ponto de vencer um debate.
ResponderExcluirOlá, infelizmente meus estudos não chegaram ao Apocalipse e à escatologia, então eu admito que sequer sei o que todos esses termos significam, logo não sei quem levaria a melhor em um debate honesto.
ExcluirO que posso afirmar, com base em minha experiência, é que de forma generalista e extremamente grosseira, pentecostais não tem a preocupação de buscar conhecimentos específicos para manutenção de seu relacionamento com Deus, o que, inclusive, foi um dos fatores que me decepcionaram na instituição que frequento (a qual tenho certeza que os senhores reconheceriam se eu lhes dissesse o nome), e que sequer parece ter uma base teológica bem definida
Graça e Paz