Às vezes me pergunto se muitos de nós não somos um pouco como os dois discípulos no caminho de Emaús: eles tinham ouvido falar do túmulo vazio; na verdade, era o assunto da conversa. Talvez eles quisessem acreditar que Jesus havia ressuscitado, mas não podiam deixar de se sentir céticos – tanto que isso pode ter influenciado no fato de nem terem reconhecido Jesus quando Ele passou a caminhar ao lado deles. Pois no Evangelho, São Lucas diz que “os olhos deles os impediam de reconhecê-lo”.
Muitas vezes temos olhos que nos impedem de ver. Continuamos correndo como atrás de resolução de nossos problemas temporais, como sempre — e como se a Páscoa nunca tivesse acontecido e nada tivesse realmente mudado. No lugar da Fé, vivemos com aquele velhos sentimento de urgência desesperada, porque o tempo está correndo mais do que nunca, e o tempo está se esgotando. A vida é curta: não queremos perder experiências ou viver lamentando os sonhos que deixamos por realizar.
Mas a verdade da Páscoa quer – e deveria – alterar radicalmente o curso das nossas vidas.
Livres da ansiedade
Aceitar a realidade da Ressurreição significa que a morte e a decadência não têm poder sobre nós. Fomos verdadeiramente libertos, e isso significa que devemos ser libertados também das ansiedades que tantas vezes dominam as nossas vidas. Quantas vezes deixamos de reconhecer Jesus, como aqueles discípulos, porque estamos muito ocupados com outras coisas? Preocupar-nos com as nossas escolhas profissionais, com o futuro dos nossos filhos, com as finanças, com os cuidados materiais da família e outras coisas semelhantes não é ilícito nem imoral nem é pecado. Mas desperdiçar todo o tempo que temos com as preocupações mundanas é um crime! O materialismo e o estresse excessivo por conta das mazelas da política e da economia, ou viver uma preocupação constante pelo que havemos de comer, de beber e de vestir, são sinais de que não conseguimos levar a sério a mensagem da Páscoa. É como se nada tivesse realmente mudado para nós.
Todavia, ao contrário, a primeira Páscoa marcou um novo rumo para a humanidade. Como diz o Livro do Apocalipse: “Eis que faço novas todas as coisas” (21,5).
Quem leva a sério essas palavras, que permite que elas penetrem e mudem a sua vida, tem uma relação com a realidade completamente diferente da que havia antes da Ressurreição de Cristo. “Eis que faço novas todas as coisas”. O que significa que Deus fez novas todas as coisas? E como isso muda a realidade do nosso dia a dia?
Uma descoberta incrível
Já quase completamos o primeiro quarto do Terceiro Século, e a missão que nos foi confiada permanece a mesma dos primeiros anos, dos primeiros anos após a Ressurreição. O espanto das mulheres diante do Santo Sepulcro é também o nosso espanto: o túmulo está aberto e vazio! A partir disso, tudo começa de novo, tudo é feito novo! Um novo caminho conduz através daquele sepulcro vazio: o caminho que nenhum de nós, mas só Deus, poderia abrir; o caminho da vida no meio da morte, o caminho da paz no meio da guerra, o caminho da reconciliação no meio do ódio, o caminho da fraternidade no meio da hostilidade.
Qual é, então, a melhor maneira de entrar na realidade da Ressurreição? Basta seguir as indicações da Igreja. Somos chamados a entrar na vida sacramental da Igreja com os olhos e o coração abertos, sabendo que Jesus caminha verdadeiramente ao nosso lado.
Somos chamados a ser pacificadores, embora não pacifistas, dizendo não à violência em todas as suas dimensões.
Somos chamados a procurar a unidade com os nossos irmãos cristãos católicos, com paciência, humildade e caridade, por mais difícil que isso pareça nestes nossos tempos de confusão extrema e de pastores omissos.
Somos sempre chamados a servir os pobres e esquecidos, os que padecem em hospitais e asilos, à imitação do Senhor. Ele conta conosco para levar a alegria da Páscoa aos que sofrem.
Somos chamados a ser pessoas de esperança, nunca cedendo ao medo ou ao desespero. Especialmente numa época tão ansiosa como esta, é vital que anunciemos continuamente que Deus escolheu habitar entre nós e que verdadeiramente “faz novas todas as coisas”, e ao mesmo tempo respaldar essas palavras com as nossas ações.
Aí estão formas práticas que a Igreja nos deu para reconhecermos Cristo Ressuscitado, permitindo-lhe entrar nas nossas vidas e mudar-nos a partir do nosso interior. Aproveitemos este Tempo notável para que possamos nos tornar verdadeiros instrumentos de amor e de restauração num mundo onde estas coisas são desesperadamente necessárias.
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Baseado em artigo de John Touhey para o Aleteia, "Christ is risen, but has anything really changed for us?", disp. em:
https://aleteia.org/2024/04/14/christ-is-risen-but-has-anything-really-changed-for-us/
Acesso 17/4/2024
Sendo chato mas sem querer ser. Me permita uma correção matemática.
ResponderExcluir"Já completamos quase completamos o primeiro quarto do Terceiro Milénio, e...". De fato, completamos 1/4 do século, não do milênio (isso seria por volta do ano 2250).
Perfeito, isso foi um equívoco. Agradeço pelo aviso.
ExcluirHenrique Sebastião
Fraternidade Laical São Próspero