CARÍSSIMOS LEITORES, VENHO compartilhar convosco a resposta que dei a um aluno de nossa Formação Teológica que nos perguntou sobre a terrível frase de Nosso Senhor dita na Cruz: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?". Queria saber ele se isso significa que o Cristo experimentou a dor do Inferno nesse momento de treva. Segue.
Há aí algumas questões dignas de nota. A primeira é que esta passagem em especial, como algumas outras muito específicas, representam uma prova da veracidade factual (histórica) das narrações evangélicas. Obviamente, qualquer um que pensasse em criar uma narrativa apologética e fictícia, sem se preocupar com a fidelidade aos fatos — especialmente se pretendesse convencer ao seu público-alvo de que esse Jesus era o Filho de Deus e Deus Ele mesmo —, não haveria de citar algo assim, que aparentasse tão temerariamente, à nossa humanidade, um sinal de fraqueza e mesmo de derrota. Essa simples frase parece, por um instante de treva, contrariar radicalmente toda a poderosa convicção sempre demonstrada pelo Cristo, antes, em todo o seu ministério e em suas pregações, quando dizia que ressuscitaria, mas que já sabia que antes haveria de sofrer, ser humilhado, provar a morte, como expiação pelo nosso pecado.
A outra questão fundamental implicada pela passagem está na prova de que Jesus quis verdadeiramente provar e viver a nossa fraqueza humana em todas as suas facetas. Vemos pela leitura dos Evangelhos que Ele estava sujeito à fadiga e ao cansaço físico, como qualquer homem comum ao se esforçar; sentia fome quando ficava sem alimento; sem água, sentia sede. De igual modo, na hora final, experimentou até mesmo a angustiante dor psicológica da ausência de Deus, que é comum a todos nós em algum momento da vida. Quem nunca? Ali, no instante em que se consumava o Sacrifício final, ele não foi amparado, não teve nenhum Anjo ao seu lado que o consolasse, nenhum sustento sobrenatural que o ajudasse, que o fortalecesse, que aliviasse a dor extrema, porque tinha que ser assim, a Justiça divina o exigia, e Ele quis que assim fosse. Poderia ter sido de outro jeito? Sim, porque Deus pode tudo. Mas o mesmo Deus Uno e Trino escolheu esta via. É um mistério admirável!
Em sentido largo, poderíamos considerar que Jesus experimentou a "dor do Inferno" nesse momento, já que o Inferno é, em última análise, a privação da Presença de Deus. Mas isso vai se desdobrar numa elucubração teológica ampla, com uma inevitável disputa, se é que me entende.
Por fim, é importante saber que a passagem em questão é também um cumprimento profético da Messianidade de Jesus, pois é uma citação do Salmo 22(21):
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
As palavras do meu clamor não são por Vós ouvidas.
Meu Deus, clamo de dia e não me respondeis;
imploro durante a noite, sem conseguir sossego."
O gigante Santo Afonso de Ligório nos lembra que Nosso Senhor, por puro amor, bebeu o cálice amargo da integralidade dos pecados dos homens em todos os tempos. e com isso ficou sujeito à mais terrível de todas as penas: perder a visão do Pai. E ajunta: Como não desfalecer de amor pelo nosso Redentor?
Parabéns pelo texto!
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